A linguagem e o Pensamento
A linguagem faz parte do desenvolvimento da
cultura e das relações pessoais, ligam-se as questões comportamentais
sócio/familiar e aos processos de ensino-aprendizagem. É um processo que vem
sendo desenvolvida desde o período gestacional dando continuidade a toda fase
do desenvolvimento emocional, social e comportamental do sujeito na primeira e
na primeiríssima infância, é por meio das palavras que o pensamento se
materializa subjetivamente. Segundo Vigotski (2010) a linguagem desempenha
algumas funções importantes como: coordenação social, e o mais importante, é um
instrumento do pensamento. Segundo o
citado autor (2010) a linguagem acontece de fora para dentro, isto é, acontece
pelo discurso interior, neste momento o sujeito incorpora o plano simbólico no
aparato psicológico unido a linguagem. E menciona que toda palavra tem imagem,
diante disto percebemos que é no processo de desenvolvimento da linguagem que a
imagem morre e a palavra conserva o sentido e o som. Para ele (2007) a
linguagem simboliza as entidades reais e as relações entre elas.
Ao
pensarmos desenvolvemos uma comunicação interna, isto é, desenvolvemos
equilibração. Num simples ato de pensar reproduzimos inteligências, as
inteligências é um intercambio entre o sujeito e meio. Contudo, para que se
desenvolva o pensamento vai exigir a coordenação de varias funções orgânicas
como: memória declarativa (informação sobre fatos), procedimental (habilidades
e hábitos), semântica (memória geral), episódica (conhecimento pessoal). Estas
funções psíquicas ligam-se a evolução e a maturação cerebral. Contudo, a
complexidade da memória abrange o neurológico, o psíquico e o cognitivo.
Vigotski (2010) quando trata do conceito de inteligência mental ele menciona
que este termo deve ser substituído pelo conceito de aptidão especial.
Devemos
ressaltar que as organizações da linguagem escrita durante as oficinas de arte
e cidadania na L.A , foram desenvolvidas atividades de criação textuais ou
composição de um rap, a leitura e a interpretação de mundo do sujeito devem
estar inseridas no planejamento de oficinas. Este desenvolvimento textual pode
ser associado às atividades diversas. Por exemplo, a criação de imagens como
desenhos (ilustração pedagógica) ou criação de formas geométricas como o jogo
do Tangram ou mosaico geométrico. É licito supor que, a singularidade do
sujeito é definida por fatos históricos, isto é, a relação do homem com o mundo
não é uma relação direta é mediada por instrumentos e signos. Os sujeitos
observados e acompanhados durante as oficinas não obedecem a normas sociais ao
mesmo tempo não compreendem signos sociais. Os signos sociais são formas
posteriores da mediação e da natureza semiótica entre o sujeito e o objeto de
conhecimento de forma simbólica é uma representação mental.
Para direcionarmos os planejamentos das
oficinas pedagógicas de arte e cidadania, necessitamos buscar uma compreensão
sobre a Escola Epistemológica. Essa Escola estuda as duas polaridades do
processo cognitivo e o emocional, junto ao sujeito e o objeto de conhecimento.
Ao mesmo tempo buscamos a sociogenia para compreendermos as relações
interpessoais vivenciadas pelos grupos durante as oficinas. Necessitávamos
conhecer as relações históricas, culturais e as formas que definiriam o
funcionamento psicológico e a linguagem utilizada por pelos sujeitos.
Cabe ressaltar que, o conceito de
adolescência é um conceito cultural, não devemos comparar um adolescente com
outro, isto é, os limites, as possibilidades, as particularidades de cada um.
As particularidades são definidas pelos fatores históricos, vivenciais e
emocionais. Neste pensamento poderíamos incluir as possibilidades de
aprendizagens ou os déficits. É importante refletir sobre a organização da
linguagem escrita como um todo, este processo está ligado diretamente ao
desenvolvimento da psicomotricidade.
A linguagem definida pelo grupo também está
associada aos signos pigmentados na pele do sujeito, estes signos vêm
simbolizar suas entidades reais nas relações sociais. As tatuagens pigmentadas
na pele dos adolescentes definem as imagens ações e as imagens espetaculares,
isto é, muitas vezes são registros hierárquicos na posição social. Isto é, são
formas inconscientes de afirmação social ou um reflexo das imagens e dores
inconscientes. Algumas imagens ligasse a desintegração de outros valores já
constituídos, é importante mencionar que este é um processo interno e doloroso.
Desta forma iniciamos este tópico com a seguinte pergunta. O que é linguagem? E
como se desenvolve a inteligência do sujeito?
O ato de comunicar verbalmente está
relacionado a diversos fatores de desenvolvimento emocional e coordenação
social, essa desenvolução começa durante o período gestacional. Neste caso
vamos descrever alguns fatores de desenvolvimento da linguagem: o psicomotor ,
o cognitivo, os fatores sociocultural, afetivo-emocionais e os fatores
relacionais. O contato visceral da
criança com sua mãe são fundamentais para o desenvolvimento do sujeito social e
intelectual. A intenção dos pais em comunicar-se com os filhos em intensões emocionais
quotidianas criam condições emocionais de desenvolvimento normal como: vínculos
afetivos, o encorajamento a curiosidade autônoma, e o brincar controla o mundo
circundante.
Contudo,
é necessário ressaltar que existem outros elementos que podem interferir no
desenvolvimento da linguagem e no estado de equilibração, são os transtornos
nas aprendizagens da lacto escrita e os transtornos do desenvolvimento e
evolução da linguagem ou poderemos chamar de transtornos de comunicação. Estes
transtornos estão vinculados a fatores psicológicos. Seriam eles; atraso na
fala (neste caso a atividade linguística não se encontra dentro de parâmetros
normais), o atraso de linguagem (consiste num atraso homogêneo no surgimento da
linguagem), semântica (o vocabulário é reduzido a objetos do entorno social),
afonia histérica (perda da voz por choque afetivo, bloqueio por estresse ou
medo de falar), disfemia (deterioração da fluidez verbal caracterizada por
repetições do elemento da fala, sílaba, sons, palavras, etc.) e a dislexia
(distúrbio de leitura quase sempre acompanhado com a aquisição da linguagem
escrita).
Este
conhecimento sobre o desenvolvimento da linguagem ao mediador da oficina vem
permitir a compreensão da construção da inteligência, isto é, a equilibração. Lakomy (2003) menciona os estudos
desenvolvidos por Piaget sobre a construção da inteligência da criança. A criança
constrói sua inteligência em um intercambio constante com o meio, com o
objetivo de uma constante equilibração – uma melhor adaptação ao meio. Assim,
quando uma criança se encontra em uma situação nova, instala-se um estado de
equilíbrio. A criança, então, procura novos esquemas ou formas para lidar com
isso (que envolve uma crescente transformação das suas ações) e, assim,
adaptar-se e voltar a um novo estado de equilíbrio (LAKOMY apud PIAGET. 2003.
P. 28).
A ação
de sugar o leite materno é um exercício reflexivo do recém-nascido, este
exercício transforma-se em um dos primeiros esquemas da reflexão funcional da
ação, isto é, o ato de sugar é um processo do estado de equilibração. Segundo
Lakomy (2003) a representação funcional, isto é, a ação de sorver do lactente,
é a primeira condição do ato de troca da criança ao meio. “Dessa maneira, o
indivíduo em contato com o meio, perturba-se e se desequilibra” (LAKOMY. 2003.
p. 29).
Para
equilibrar-se ou adaptar-se a esse meio ele constrói esquemas de ação que levam
à produção de novos conhecimentos complexos. Lakomy (2003) menciona sobre o
método da equilibração majorante desenvolvido por Piaget. Esse processo de
equilibração desempenha um papel importante no desenvolvimento cognitivo e
social do sujeito. E envolve dois mecanismos intermediários, a assimilação e a
acomodação. Ela explica que a assimilação é a incorporação de novos conhecimento
ou um conjunto de conhecimentos reunidos à estrutura intelectual do sujeito. A
acomodação ocorre quando o sujeito reorganiza sua estrutura mental para assim
incorporar novos conhecimentos.
Se
buscarmos o estágio das operações concretas (de 07 a 13 anos), isto é, a
superação do egocentrismo. Vamos perceber que neste estágio o adolescente busca
compreender o pensamento do outro. “, procura transmitir seu próprio
pensamento, de modo que este seja aceito pelos que o rodeiam, apesar de começar
a perceber suas próprias contradições” (LAKOMY. 2003. p. 33). Nesta fase se
instala a comprovação empírica das elevações mentais.
Já no
estágio operatório-formal (13 anos em diante) apresentado por Piaget, mostra
que o adolescente passa ter um raciocínio lógico. Lakomy (2003) observa, é
nesta fase do desenvolvimento que o conteúdo do pensamento do adolescente é
incompatível com a realidade. Os estudos desenvolvidos pelo citado pesquisador
mostram o desenvolvimento do pensamento neste estágio critico e social. Este é
baseado em quatro analises e seriam elas: análise da combinação, da correlação,
da inversão e da reciprocidade. É nestas ações reflexivas sobre o pensamento do
adolescente que ele vem complementar a construção dos mecanismos
cognitivo-relacionais. Nesse caso este mecanismo, continua a ser desenvolvido
ao longo de sua vida. Contudo, para este desenvolvimento acontecer vão depender
da estimulação, sujeito e o meio. Cabe ressaltar que o processo de
ensino-aprendizagem é desenvolvido e estimulado pelo meio, e pelos fatores
familiares, sociais e culturais. “O
professor é um agente mediador entre o aluno e a sociedade e o aluno, por sua
vez, é um agente ativo na construção do seu conhecimento por meio da sua
interação com o mundo físico e social” (LAKOMY. 2003. p. 33).
Diante
desta realidade apresentada por Lakomy, passamos a perceber que os fatores
sócios e familiares vêm contribuir neste processo de ensino/aprendizagem.
Contudo, percebemos que as operações centrais da inteligência, isto é,
classificar ou ordenar não serão bastante, devemos buscar também os aspectos
emocionais e vivenciais durante a fase de aprendizagem escolar. Durante as
oficinas observamos os desenvolvimentos reais e proximais, promovendo assim uma
intervenção pedagógica, seu desenvolvimento cognitivo e emocional. É pertinente
mencionar que buscávamos sempre o retorno do sujeito à escola.
Com base
nos resultados apresentados em oficinas tentamos compreender a capacidade
cognitiva dos sujeitos. Contudo, para isto ocorrer os sujeitos devem sentir-se
pertencentes ao grupo, devem sentir-se únicos e distintos. Em função destes
dados era de primordial importância conhecer as realidades sócias familiares
dos sujeitos, conhecer os fatores históricos e relacionais. É licito supor que
os desajustes emocionais podem sugerir uma dificuldade de aprendizagem, como
por exemplo: linguagem, leitura e escrita. E estes fatores estabelecem relações
recíprocas como os desajustes sociais. Existem crianças que apresentam
bloqueios totais em relação à lacto escrita .
A lacto
escrita representa forma de crescimento e de maturidade, os sujeitos que
apresentam esta disfunção demonstram uma resistência a este crescimento. E os
sujeitos respondem emocionalmente a diversas situações de vida como, por
exemplo: problemas familiares, superproteção, negação, morte de pessoas
próximas, violência e agressividade. Desta forma devemos estar atentos a estes
casos, mesmo porque estes sujeitos vão responder sobre todos estes aspectos
durante todo o processo de ensino/aprendizagem. Porém, o mais importante é
conceder ao sujeito possibilidades de ser, colocando sempre como sujeito capaz
de pensar e refletir sobre seu aprendizado.
É necessário termos a compreensão do desenvolvimento psicossocial, psicobiológico,
para entender o processo de desenvolvimento sócio escolar. Diante disto
menciona Zabala:
·
Ter um conhecimento
rigoroso de nossa tarefa implica saber identificar os fatores que incidem no
crescimento dos alunos. O segundo passo consistirá em aceitar ou não o papel
que podemos ter neste crescimento e avaliar se nossa intervenção é coerente com
a ideia que temos da função da escola e, portanto, de nossa função social como
educadores (ZABALA. 1998. p. 29).
Durante
o nosso trabalho com adolescentes autores de atos infracionais percebemos que o
processo de ensino-aprendizagem, linguagem, relação social é uma ação social
continuada, podem interferir na vida escolar dos sujeitos. E este processo tem
um caráter ativo e faz parte da construção pessoal de cada um, os problemas de
aprendizagens vão ser levados durante toda a vida. Como já havíamos percebido
antes, a linguagem, o pensamento e o desenvolvimento social andam juntos, isto
é, a comunicação relacional não está ausente do sujeito, pensamos e existimos
socialmente.
Quando pensamos ou
expressamos pensamentos (falar só), expomos nossa dificuldade de compreensão
cognitiva, e ou organizamos nossos pensamentos. Dessa maneira o pensamento
passa a revelar nossa natureza social e ao mesmo tempo nossa dificuldade de
compreensão. Segundo Vigotski (2010) nossa personalidade é organizada pelo
mesmo modelo de organização e convívio social.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
ZABALA, A. A função social do ensino e a concepção sobre
os processos de aprendizagem: instrumentos de análise. Porto Alegre: Artmed,
1998. P. 27 a 52.
VIGOTSKY, L. S. O desenvolvimento da percepção e da
atenção. 7ª ed. – São Paulo: Martins Fontes, 2007, p. 21 a 31.
----------------, Psicologia pedagógica. 3ª Ed. – São
Paulo : Editora WMF. Martins Fontes, 2010.
LAKOMY, Ana Maria. Teorias cognitivas da aprendizagem.
Curitiba: IBPCX, 2003.
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