IMPORTÂNCIA DOS CAMPEONATOS INTER ESCOLARES


IMPORTÂNCIA DOS CAMPEONATOS INTER ESCOLARES





ÍNDICE

 

 

 

 

 

 

 




 




INTRODUÇÃO
O tema competição sempre alimentou grandes discussões, ocasionalmente polarizadas entre os que eram favoráveis e aqueles não-favoráveis. A importância das competições, principalmente no âmbito escolar, por muito tempo esteve polarizada, sendo alimentada à base de contradições e, conseqüentemente, repelindo qualquer possibilidade de diálogo. Os pólos que alimentaram as discussões sobre competições, em diferentes abordagens, viveram, ou vivem reféns da apresentação de seus aspectos positivos de um lado e dos negativos do outro.
Dentre os principais factores que contribuíram para as contradições dessas discussões, temos sua negação pela Educação Física, quando analisamos o número de obras que discutem a competição no espaço escolar. Idêntico modo acontece com a Pedagogia do Esporte que, mesmo reconhecendo o significativo avanço promovido pelas principais abordagens atuais, ainda são poucos os autores e obras que se dedicam efetivamente ao estudo da teoria e prática da competição escolar. A competição é elemento fundamental do esporte, que dá sentido a sua existência, e é nela que a manifestação do esporte se realiza em sua plenitude. Portanto, qualquer ação orientada para o ensino e aprendizagem do esporte não está desvinculada da necessidade de se aprender a competir.
A competição não se encerra apenas nas fronteiras das práticas esportivas corporais, mas assume e transcende à plenitude da própria condição humana e de humanização ao reconhecer os competidores competindo.
Por fim, acreditando que “a competição em si não é boa ou má, ela é o que fazemos dela”, segundo Ferraz (2002, p. 37), propomos, neste trabalho, uma reflexão das competições no interior da escola, sustentadas na ação, e apresentamos uma proposta pedagógica em que acreditamos e defendemos, enquanto referencial para as competições pedagógicas.









Os jogos interclasses é um evento organizado e promovido no âmbito escolar entre as turmas e séries. Cada escola detém particularidades na organização do evento, o qual varia de acordo com a disponibilidade de espaço físico, recursos humanos, materiais e calendário. De modo geral, é uma época em que as actividades de sala de aula dão lugar às actividades esportivas. Um dos principais problemas relacionados à manifestação do esporte escolar são as dúvidas quanto a sua função educacional, principalmente pelo fato de não se perguntar para quem é o esporte, e pela falta de um enfoque educativo claro.
Essas dúvidas estão geralmente relacionadas ao modelo de competição esportivizada, reproduzido no interior da escola, e resultaram em sérias críticas ao esporte escolar. Segundo Paes (2001, 2002), esse modelo se caracteriza pela repetição fechada de fundamentos e gestos técnicos de diferentes modalidades, descomprometida com as intenções e os respectivos objetivos do cenário em que está acontecendo. Na tentativa de reproduzir, no interior da escola, o modelo de esporte de rendimento, no qual se depara com uma série de fatores que não permite seu inteiro desenvolvimento, acaba se sustentando apenas como uma atividade esportivizada, com um fim em si mesmo.
Factor que sustenta esses problemas é o tratamento que a disciplina de educação física e os eventos, relacionados aos seus conteúdos, recebem da escola, em que quase sempre ficam fora do Projeto Político-pedagógico. Ou também, quando marcada por elementos antipedagógicos, são apenas tratadas como atividades extracurriculares. Dificilmente esses eventos se encontram nesse documento, pelo fato de ter na escola um caráter de importância inferior. Via de regra, os dias ou semana dos jogos interclasses servem apenas como interposto para os professores de outras disciplinas saírem da rotina de sala de aula e colocarem seus afazeres em dia. Também é extremamente útil para fazer os alunos virem à escola, motivados pelo ambiente do jogo, para que sejam cumpridos os dias letivos exigidos.
A ausência de princípios e procedimentos pedagógicos claros e específicos às características do grupo escolar e da escola é outro fator que contribui para esse modelo. Quando os princípios pedagógicos são inexistentes, ou pouco claros, dificilmente será possível antever para onde a ação educativa será conduzida. Por conseguinte, os procedimentos pedagógicos dificilmente serão claros. Ademais, o que nos apresenta é a necessidade urgente de transformação do cenário em que se encontram as competições escolares, especialmente no interior da escola. É preciso uma reflexão sustentada na ação e uma ação sustentada na reflexão, para ser capaz de romper com esse modelo alienante e obsoleto de competição. Portanto, é necessário criar um ambiente facilitador de relações sociais, sustentado por princípios e procedimentos pedagógicos.
Comprometidos com a urgência em romper com esse modelo ideológico e pragmático de competição, nos lançamos ao desafio de apresentar, a seguir, alguns princípios e procedimentos didático-metodológicos, respondendo a alguns conceitos fundamentais para a compreensão do esporte e das competições escolares, comprometidos com seu tratamento educativo.
Ao defender uma proposta pedagógica para as competições escolares, nos posicionamos e apresentamos nossa compreensão em relação a sua manifestação na escola. Para isso, será necessário repensar o sistema de competição atual e prática esportiva, dentro da escola. Todavia, não poderá ser feita de forma periférica, considerando apenas um único foco.
Desse modo, entendemos que mais importante que tentar compreender a competição, é compreender o sujeito que compete, assim como os sujeitos que especificam seus fins (GARCIA, 2002). Para apresentarmos a proposta que defendemos para as competições pedagógicas na escola, sobressai, inicialmente, a necessidade de elucidar um problema conceitual com relação aos eventos esportivos escolares: os jogos interclasses é um evento da escola ou na escola?
Aparentemente essa é uma questão ultrapassada e suficientemente gasta nas discussões em Pedagogia do Esporte. Contudo, temos motivos suficientes para acreditar que a escola (ensino formal) ainda não conseguiu romper com a reprodução do modelo de competição na escola, pelo fato de ainda mantê-la por meio dos estereótipos das competições institucionalizadas, pela ausência de um tratamento pedagógico comprometido com a educabilidade do sujeito e pela falta de compromisso da escola com as competições no ambiente escolar.
Quando a competição apenas acontece na escola, não existe um comprometimento intrínseco aos seus objetivos e função. Nesse caso, ela apenas reproduz um sistema espetacularizado. O compromisso é exterior aos objetivos e à função da escola, atendendo apenas aos anseios do sistema competitivo institucionalizado e suas transgressões, repelindo de si qualquer responsabilidade pedagógica e valorizando a escravidão pelos resultados.
O modelo de competição que defendemos está conceitualmente impregnado com a responsabilidade da educabilidade do sujeito. Por isso, a defendemos como uma competição da escola, integrada ao Projeto Político-Pedagógico curricular; um projeto maior – global e orientado para o processo, enquanto instrumento para o sujeito.
Portanto, as competições ou eventos esportivos estarão integrados no programa curricular, como produto do Projeto Político-Pedagógico da escola, desenvolvido na área de conhecimento e objeto de estudo da disciplina de Educação Física, de forma interdisciplinar ou transdisciplinar, pautado nos ideários filosóficos educacionais da escola. Um projeto contextualizado e referenciado pelo tema central da escola, permitindo ser abordado por diferentes disciplinas e conteúdos. Desse modo, o tratamento pedagógico, para uma educação comprometida com a transformação das competições escolares, tem que partir de um novo olhar sobre as formas de organização, intenções educativas e metodologia, assim como seus conteúdos e critérios de avaliação, priorizando o sujeito no processo.
Partindo dos pressupostos pedagógicos existentes na competição, os quais poderão ser explorados, o objetivo da competição pedagógica na escola deverá ser em torno de maximizar os aspectos positivos e minimizar os efeitos negativos. Os valores de humanização, nas relações interpessoais, a busca pelo equilíbrio entre as relações de prática e resultado, o valor sócio-cultural na coexistência, são aspectos importantes a serem acentuados.
Ao pensar em uma proposta de competição pedagógica, Turpin (2002) nos diz que o elemento fundamental deve ser a colaboração, e que deveremos fazê-la a partir da compreensão de três conceitos: competição, cooperação e valores sociais. Segundo o autor, mais importante que considerar isoladamente cada conceito, o fundamental é identificar suas interlocuções. De tal modo, é necessário que o ensino se concretize de forma competitivo-colaborativa, facilitando uma significativa melhora no grau de cooperação entre companheiros e adversários, para que, assim, todos possam apropriar-se dos benefícios da competição.
Pensando nos princípios que poderiam nortear uma competição pedagógica, Barbieri (2001), Scaglia, Medeiros e Sadi (2006) e De Rose Jr. e Korsakas (2006) sugerem alguns princípios, como: totalidade – do sujeito, cuja emoção, pensamentos e ações, distingue sua identidade, individualidade, limites e diversidade; co-educação – a partir de trocas recíprocas de experiências na aprendizagem; cooperação – favorecendo no ambiente das ações que o individual seja suspenso em função do coletivo, sem negar a individualidade; participação – em todo o processo como agentes responsáveis pela ação; autonomia – reconhecida na dependência de forma inseparável, possam exercê-la com liberdade e formar uma reflexão crítica; e, pluralidade cultural – preservando, valorizando e respeitando as diversas manifestações culturais.
De acordo com Scaglia, Montagner e Souza (2001), Barbieri (2001), Turpin (2002) e Mota (2003), não podemos pensar em competição, principalmente para crianças e jovens, sem que sejam conhecidos seus pressupostos e princípios pedagógicos. É a partir deles que especificaremos aquilo que irá ser valorizado na ação da prática educativa, no delineamento procedimental e didático-metodológico. A organização corresponde a todo o processo de periodização, especificação e execução do cronograma de atividades em cada período, recursos humanos, atividades propostas, materiais necessários, espaços, estruturas a serem modificadas e adaptações, assim como participação direta e indireta dos alunos, demais professores, pais e comunidade na organização e execução, critérios para premiação e avaliação do evento.
A organização da competição não pode ter um fim nela mesma, mas um meio para a educação. Por isso, segundo Scaglia, Medeiros e Sadi (2006), a competição não se inicia apenas quando o árbitro apita para começar, ou encerra quando termina o jogo, mas desde a preparação do evento marcando o sentido de congraçamento e responsabilidade entre os alunos, passando por uma série de manifestações de relações sociais e culturais, garantindo a participação ativa e motivante de todos, em seu desenvolvimento.
A co-participação valoriza a participação ativa dos alunos em todo o processo do evento, garantindo sua interferência como agente construtor e responsável pela co-gestão, co-responsabilidade e integração, de tal modo, que favoreça seu comprometimento, gerenciando situações de interesses individuais e coletivos.  A co-participação deve se estender à comunidade em geral, para que ela também possa conhecer e se inteirar dos princípios que regem esses eventos. Segundo Mota (2003), há um espaço aberto para a comunidade envolvente, comprometida com a troca de experiências educativas e sócio-culturais.
A organização desses eventos deve levar em consideração as necessidades da comunidade, onde a escola está inserida. Deste modo, teremos um empenho maior e uma participação mais efetiva da comunidade em geral e mesmo das outras disciplinas, como por exemplo, levando os jogos interclasses para além dos muros da escola; trazendo a comunidade para dentro da escola; refletindo sobre o objetivo real dos jogos interclasses, que vai além do jogar por jogar.
A organização do sistema de competição precisa privilegiar o máximo de encontros possíveis. Para isso, existe possibilidade no encontro da diversidade e multiplicidade do conjunto de atividades, combinando jogos esportivos tradicionais, jogos modificados e gincanas de jogos da cultura popular e expressivo. Isto é, estabelecer diferentes formatos de jogos, para atender às diversas intenções e motivações, para que todos participem do evento (TURPIN, 2002).
Do mesmo modo, a organização do evento deve apresentar diferentes tipos de tarefas individuais, cooperativas e de oposição. A intenção de se propor vários tipos de tarefas é permitir que o aluno vivencie diferentes situações problemas de caráter aberto, considerando que as características de uma prova individual diferem em muito de uma atividade de cooperação ou oposição. Por exemplo, alguns alunos não suportam, na competição, o fato de suas ações determinarem o resultado do jogo, ou seja, a derrota ou a vitória.




CONSIDERAÇÕES FINAIS

É na escola que encontramos, se não a maior, uma das maiores manifestações das práticas esportivas. Por isso a escola não pode negá-las. O problema é que a escola ainda não acredita na possibilidade e função educativa do esporte, sobretudo na competição.
Esse fato se confirma quando consideramos o número de obras e autores que aprofundam as discussões sobre as competições escolares. O esporte encontra na escola uma grande representatividade. A competição é um dos conteúdos do esporte, logo a escola não pode negar nem o esporte e nem a competição. Porque ambos emanam e compõem a essenciabilidade complexa de um fenômeno sócio-cultural. Um sem o outro perderiam em essência o que os caracteriza. Concordamos com Scaglia, Montagner e Souza (2001) que se pretendemos ensinar o esporte em sua plenitude, temos de ser capazes de ensinar nossos alunos a competir. E somente se aprende competir, competindo. Entretanto, não se trata de qualquer modelo de competição.
Como pilares dessa proposta de competição pedagógica, destacamos os conceitos de cooperação, os valores sociais e a competição de forma interconectada. Para então, sustentar os princípios de totalidade, co-educação, cooperação, participação, autonomia e pluralidade cultural, na análise da organização, das intenções educativas e sua proposta metodológica.
Portanto, a competição não é boa e nem ruim, ela é aquilo que especificamos para seus fins, tornando-nos responsáveis pelo ambiente pedagógico que satisfaça as necessidades e desejos de crianças e adolescentes. E que, além de fazer diferente, possamos fazer a diferença na escola. Não estamos falando de uma competição impregnada pela ideologia capitalista, a qual reforça a idéia da vitória a qualquer preço, nem mesmo de uma proposição alienada de que precisamos formar competidores para sobreviverem na sociedade capitalista.
Referimos aos comos no sentido de reconhecer que não trazemos verdades estabelecidas ou absolutas, mas uma contribuição para uma abordagem pedagógica às competições no ambiente escolar.






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