Literatura na Perspectiva do Leitor



ESCOLA DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES KIMAMUENHO (EFPK)






TRABALHO DE LITERATURA




Literatura na Perspectiva do Leitor
                                                              


        














2017



ÍNDICE


















 

INTRODUÇÃO

           
            O gosto pela leitura não está relacionado apenas aos modelos teóricos que são preestabelecidos pelas instituições de ensino. Muitos alunos leem os títulos indicados pela escola apenas por mera exigência do professor. Entretanto, fora dessa esfera, muitos fazem leituras literárias de forma mais livre e por indicação de amigos, familiares e até mesmo por influência da mídia, embora não se possa negar a função das instituições de ensino como agenciadoras da formação de leitores proficientes.

            Dentre os inúmeros objetivos para a presença da leitura de diferentes textos, inclusive dos textos literários nas escolas, a formação de leitores é, sem dúvida, aquele que mais tem perdurado. Não é ocasional, portanto, que a escola venha se firmando com esse intuito de ensinar a ler e escrever, letrando.

            Somente dessa forma ela converte cada indivíduo num leitor, introduzindo-o no universo único do código da escrita, de sons e de imagens por hábitos, seja pela escrita de um texto ou pela leitura de materiais impressos e ou eletrônicos, sendo esse o terreno no qual se instalam a prática de leitura e a imersão na cultura escrita.
















CAPÍTULO I-A FORMAÇÃO DO LEITOR NO ENSINO DE LITERATURA

            O estatuto do leitor e da leitura no âmbito dos estudos literários leva-nos a dimensionar o papel do professor não só como leitor, mas como mediador, no contexto das práticas escolares de leitura literárias.Observando as escolhas dos jovens fora do ambiente escolar podemos constatar uma desordem própria da construção do repertório de leitura dos adolescentes. Estudos recentes apontam as práticas de leitura dos jovens fundadas numa recusa dos cânones da literatura.

             Cosson (2011) afirma que se quisermos formar leitores capazes de experienciar toda a força humanizadora da Literatura não basta apenas ensinar ler. Até porque segundo o autor, ao contrário do que acreditam os defensores da leitura simples, não existe tal coisa. Lemos da maneira como nos foi ensinadoe a nossa capacidade de leitura depende daquilo que nossa sociedade acredita ser objeto de leitura.
            A leitura simples é apenas a forma mais determinada de esconder na aparência da simplicidade, toda a complexidade e as implicações contida no ato de ler e ser letrado. Justamente para ir além da simples leitura que o letramento literárioé fundamental no processo educativo.

            A experiência literária não só permite saber da vida por meio da experiência do outro,como também vivenciar essa experiência.Ou seja, a ficção feita palavra na narrativae a palavra feita matéria na poesia são processos formativos tanto da linguagem quanto do leitor e do escritor. Uma e outra permitem que se diga o que não sabemos expressar e nos falam de maneira mais precisa o que queremos dizer ao mundo, assim como nos dizer a nós mesmos.

            Dionísio (1998) diz que para ser leitor é preciso que o indivíduo mantenha um repertório vasto de práticas leitoras e culturais que o ajude a se apropriar de saberes de diferentes ordens que serão acionadas e ou evocadas durante a leitura de novos textos, assim, a questão que incide sobre a formação do leitor não está especificamente nos textos, mas nas condições de produções dessas leituras no âmbito escolar e nos objetivos que a escola elege para realizá-las.

            Os objetivos são também importantes para outro aspecto da atividade do leitor que contribuipara a compreensão a formulação de hipóteses. Vários autores consideram que a leitura é medida, uma espécie de jogo de adivinhação, pois o leitor ativo realmente engajado no processo elabora hipóteses testa à medida que vai lendo o texto, o texto não é um produto acabado, que traz tudo pronto para o leitor receber de modo passivo ora, uma atividade das atividades do leitor, fortemente determinada pelos seus objetivos e suas expectativas, é a formulação de hipóteses de leitura.(KLEIMAN,2000).

            Para Kleiman (2000b) é importante o conhecimento prévio do leitor seja ativado via mediação do professor para que haja a compreensão e a interpretação dos textos. È por meio do papel mediador do professor e dos colegas e do próprio texto que pode tornar-se ciente da necessidade de fazer da leitura uma atividade caracterizada pelo engajamento e uso do conhecimento linguístico, textual e de mundo devem ser ativados para poder chegar ao momento da produção de sentidos.

             O mero passar de olhos pela linha ou pelas decodificações das palavrasnão é leitura, pois leitura implica uma atividade complexa de procura por parte do leitor, no seu passado de lembranças e conhecimentos que são relevantes para a sua responsividade Bakhtin (2003), isto é a capacidade de o leitor reagir retrucando, silenciando, acalmando-se, exasperando-se, enfim, ele compreende e reage aos discursos dos textos de diferentes formas.

            A ativação do conhecimento prévio é essencial à compreensão responsiva Bakhtin (2003), pois é o conhecimento que o leitor tem sobre o assunto que lhe permite fazer inferências necessárias para relacionar diferentes partesdiscretas do texto num todocoerente. Esse tipo de inferência, que se dá como decorrência do conhecimento de mundo e que é motivado pelos itens lexicais no texto é um processo inconsciente do leitor proficiente.

1.2-Concepções de Literatura e ensino

            Nosso estudo buscou fazer um recorte para discutir a Literatura no âmbito do Ensino Médio, pois é nessa etapa que a responsabilidade de ensinar Literaturatorna-se premente pela proximidade do vestibular. Esse é outro equívoco da escola, porque no Ensino Médio, esse aluno já deveria ser um aluno-leitor proficiente, gostando ou não das narrativas literárias que lhe são apresentadas.

            MAINGUENAU, 2009, p.197) afirma que uma língua é um conjunto de matéria que está à disposição de todos e a Literatura é um ornamento que se soma a língua que naturalmente volta-se a tarefas de comunicação elementares. Não sendo apenas ornamento, a Literatura participa da própria constituição da língua, contribuindo para lhe conceder qualidade de língua, estatuto de língua.

1.3-A prática docentenas aulas de Literatura do Ensino Médio

            Nessa seção apresentamos as práticas de dois professores de Língua Portuguesa, participantes dessa investigação, que atuam na 3ª série do Ensino Médio há mais de 10 (dez) anos, graduados na área de Letras e Literatura Brasileira.

             A fim de facilitar a leitura desse texto, apresentamos de forma sucinta e em Quadros, os dados coletados por meio da observação de 05 (cinco) aulas dos dois professores de Língua Portuguesa, com foco nos estudos literários desenvolvidos por eles na supracitada escola; trazemos ainda os resultados da entrevista feita com os 07 (sete) estudantes selecionados.

            A faixa etária dos mesmosremete a um tempo bem diferente, do ponto de vista cultural, dos seus alunos-leitores que são sujeitosque nasceram na era dos smartphones e de avanços e novas formas de comunicação e acesso às informações, bem com as produções de saberes. Isso não significa que os mesmos não consigam acompanhar o perfil desses sujeitos, mas todos os professores com mais de 40 anos tem buscado se adaptar, pois as mudanças quanto aos interesses e comportamentos na sala de aula são bem evidentes.

             Há, por parte desses alunos, uma exigência premente que aulassejam mais significativas, lúdicas e produtivas, porque quando eles percebem que são monológicas e centradas apenas no saber do professor, muitos deles ignoram a aula e debruçam sobre seus celulares e smartphones.

CAPÍTULO II-O PERFIL DO ALUNO LEITOR

            Para a efetivação deste estudo aplicamos o questionário semiestruturado com 26 questões abertas e fechadas sobre leitura para alunos da 3ª Série do Ensino Médio do colégio Carlos Drummond de Andradesituado na cidade de Jacobina-BA. As questões foram elaboradas no sentido de identificar os sujeitos leitores dessa unidade de ensino a partir da voz dos próprios estudantes. Apresentamos a seguir alguns quadros que demonstram os resultados que obtivemos com o uso dessa técnica de pesquisa.

2.1-A Importância Da Leitura Para A Formação Social

            A leitura é de fundamental importância para o desenvolvimento das pessoas, para nossa formação social, contemplandoos mais variados aspectos que vão desde a linguagem, passando pela sensibilidade, emoção até a criticidade e exercício da reflexão que são fundamentais paraas diferentes aprendizagens.Através das leituras que realizamos, nos apropriamos de um vasto conhecimento sobre diferentes lugares, descobrimos um novo mundo deculturas e saberes, muitas vezes sem fisicamente sairmos do lugar.

            Leré um processo contínuo, pois envolve uma compreensão que não se esgota na decodificação da palavra escrita, mas que se antecipa e se alonga na inteligência do mundo. Para Orlandi (2003) a produção do sentido está no modo comoa leitura se relaciona entre o dito e o compreendido. O ato de ler implica, segundo Freire (1989), na percepção crítica, na interpretação, na reescrita, na reelaboração do que lemos.

            Aprendemos a ler a partir do nosso contexto pessoal Martins (1994) e para ir além das linhas e entrelinhas Silva (2003), precisamos valorizar o ato de ler, que apenas começa na decodificação da palavra escrita. Ela se antecipa e perdura na inteligência do mundo. Segundo Paulo Freire no livro A importância do ato ler (1989), a leitura da palavraarticula-se com a leitura de mundo, pois “A leitura da palavra é sempre precedida da leitura do mundo” (FREIRE, 1985, p.9). Isso significa dizer que a leitura do impresso veiculada em livros ou telas de eletrônicos, está intimamente relacionada com as experiências e as vivências dos leitores.

            Orlandi (2003) distingue a leitura em vários sentidos e em sua acepção mais ampla que é “produção de sentidos”, e justifica que ela pode ser utilizada tanto para escrita quanto para oralidade. Diante de um exemplar de linguagem de qualquer natureza, torna-se possível o ato de ler, portanto, pode-se falar de leitura tanto da fala cotidiana da balconista, do feirante e cordelista ao texto de Aristóteles.

             Isso requer do leitor conhecimentos que vem do seu repertório cultural, isto é, os saberes prévios Freire (1985) ou memória discursiva Foucault (1992), que são todas as lembranças esaberes que os leitores recorrem ou evocam a fim de produzir os sentidos para as leituras que fazem.
            Maia (2007), nessa perspectiva, explica que a experiência prévia, a visão de mundo e o conhecimento anterior são significativos para a produção dos significados acerca do que foi lido. Portanto, o ato de ler culmina num ato consciente que não se esgota nele mesmo para resultar em uma atividade que busca compreender o ser e estar no mundo. Sendo assim, não se sustenta apenas em bases psicológicas, mas tambémhistóricas e filosóficas.

            A leitura é essencial em todos os aspectos de nossas vidas, desde a fase escolar, passando pela nossa maturidade e o nosso meio social e profissional,porque nos proporciona conhecimento, enriquece vocabulário, dinamiza o raciocínio, tornando-os sujeitos leitores proficientes, podendo dialogar sobre diversos assuntos, ser crítico com argumentações construtivas e convincentes, além de nos tornar cientes do mundo que nos cerca.

            Para Martins (1989) não aprendemos a ler apenas lendo o material impresso ou apresentado diante das telas dos suportes eletrônicos, mas vivendo e interagindo com as diferentes linguagens que dinamizam a comunicação na atualidade, refletindo e agindo sobre as mesmas.

















CONCLUSÃO

            A Literatura é uma área de conhecimento de suma importância para a formação e desenvolvimento humano, não somente pela gratuidade e entretenimento que a ficção proporciona, mas por possibilitar aos leitores refletirem sobre si e sobre o mundo, porque vivenciam situações que são da ficção, mas que tem inspiração na condição humana. Por isso os textos literários deixam em cada um de nós uma bagagem de experiências que nos define como leitores e que se refletem em nossa formação humana e profissional.

            A leitura de textos literários contribui para o desenvolvimento das pessoas em diferentes aspectos que começam no artístico e cultural e se estendem pelo social, político, cognitivo e sensorial. Nesse sentido, é preciso, pois, compreendermos sobre o que de fato significae a que se propõe o trabalho com a leitura literária na escola. Foi nesse sentido que realizamos um estudo exploratório e de cunho qualitativo que refletisse sobre as contribuições do ensino da Literatura para a formação do leitor no universo do Ensino Médio.

            Compreendemos que aescola, apesar de seus esforços, da criatividade dos professores e de sua formação continuada e da criação de projetos de leitura e de cultura, ainda não tem contribuído de forma eficaz para a formação de leitores proficientes, inclusive de textos literários devido ás práticas que ainda estão muito fundamentadas na periodização das escolas literárias.













REFERÊNCIAS  BIBLIOGRAFICAS

ADLER J.Mortimer; trad. OLIVEIRA, FORTES, Inês, A arte de ler, Agir, Rio de Janeiro, 1954.
AGUIAR, de Vítor Manuel, Silva. Teoria da Literatura. 8ªed.Coimbra: Almedina,2007.
ANJOS, Augusto dos. Obra Completa. Aguilar, Rio de Janeiro 1996.
ASSIS, Machado de, "Várias Histórias" e em “Contos: Uma Antologia”. Companhia das Letras - São Paulo, 1998.
AZEVEDO, Aluísio.O Cortiço. São Paulo: Ática, 2001, p.51-55. (fragmento)



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