SUMÁRIO
A qualidade da assistência em saúde é um elemento diferenciador no
processo de atender às expectativas dos diversos clientes, devendo ser avaliada
por um conjunto de factores que envolvem elementos individuais e coletivos no
estabelecimento de conformidades ou adequações pré-estabelecidas por um grupo
social e não exclusivamente em termos técnicos ou da prática específica da
assistência.
Os factores que intervêm na qualidade e assistência em enfermagemé um
tema relativamente recente, mas que já repercute nos estudos acerca da
organização do trabalho de Enfermagem. Genericamente está associada à
satisfação no trabalho de enfermagem, mas tem implicações no bem-estar
biopsicossocial do trabalhador, determinando, além da qualidade dos serviços
prestados, o aumento da produtividade nas organizações. Diante desse quadro,
este estudo objetiva identificar factores que interferem na qualidade e
assistência em enfermagem. Para tanto, busca conhecer os processos destrutivos
e favoráveis, determinante do processo saúde-doença vivenciado na área de
enfermagem.
O conceito de qualidade deve estar incorporado à filosofia do serviço de
saúde e na vontade política dos que nele atuam. A qualidade está intimamente
ligada à dimensão de otimização dos recursos existentes sem risco para a
clientela interna e externa. É fundamental garantir espaços e meios para que
esta clientela seja efetivamente protagonista do processo de busca da qualidade
nos serviços de saúde (KURCGANT,2010).
A prática profissional de enfermagem compreende a
assistência/cuidado (o que há de mais
expressivo na enfermagem, o seu propósito primordial, o que diferencia os
profissionais de enfermagem de outros profissionais da saúde), a educação e a
pesquisa (o corpo de conhecimento para o desenvolvimento da prática) e a
administração da prática profissional de enfermagem (o gerenciamento, a
planificação e o projeto que envolvem este conjunto). (TRENTINI; PAIM, 2001 apudMARTINS, 2002)
Para Leopardi, Gelbcke e Ramos (2001 apudMARTINS, 2002), a enfermagem é
a combinação de três ações básicas, não dissociadas: a educação em saúde, o
cuidado, e a gerência dos sistemas de enfermagem.
Em saúde, especialmente na área de enfermagem, enfrentam situações
estressantes em seus ambientes de trabalho, já que, entre a equipe de saúde, é
o profissional que mais tem contacto contínuo com o paciente, por prestar
cuidados diretos aos pacientes e muitas vezes aos familiares, sendo responsável
pela administração de medicamentos, higiene, alimentação, entre outras
actividades.
Associado ao lado técnico-profissional, o enfermeiro assume o papel de
gerenciamento das unidades de saúde, seja em unidades de internação hospitalar,
ambulatórios, emergências ou centro de saúde. Convive constantemente com
situações de sofrimento, dor e morte.
A partir da década de 50, houve uma grande expansão dos serviços de
saúde, particularmente a área de enfermagem, devido ao rápido desenvolvimento
tecnológico da prática médica, elevando os custos das novas técnicas, além de
responsabilizar os governos pelo financiamento da atenção à saúde, esta área
tornou-se um campo de estudos e de práticas dentro do movimento que consolidou
os serviços como objecto de um campo científico (HADDAD, 2004).
Segundo Donabedian (1992), no que tange à definição de qualidade na
atenção médica, devido a diversos fatores que intervêm no julgamento do que é
qualidade, dificilmente consegue ter-se uma definição universal. Cita que três
elementos podem ser observados na qualidade na saúde: aspectos técnicos,
interpessoal e conforto/generosidade.
Quanto aos serviços de saúde, em razão do paradigma da Gestão da
Qualidade, nesta década, deverão produzir-se profundas mudanças nas relações
entre a medicina e a sociedade, pois a soberania médica não terá mais espaço
para sustentação própria em razão de “controles administrativos e legais
externos à profissão médica” (MATSUDA; ÉVORA, 2000).
Segundo Cianciarulo (1997), pode-se afirmar que sempre existiu um
controle informal da qualidade da assistência na Enfermagem, representada pela
preocupação secular das enfermeiras em seguir os procedimentos à risca,
considerando que com isso garantir-se-iam os resultados desejados.
A participação do usuário é fundamental para obtenção do real resultado
da qualidade da assistência à saúde disponibilizada, para tal é essencial que
os profissionais estimulem e orientem a participação do usuário, bem como
precisam ter acesso às opiniões e sugestões que nos auxiliem na mensuração do
nível de satisfação, desde que sejam asseguradas a validade e confiabilidade
das informações obtidas, tendo-se cautela na utilização de métodos e
estratégias que não sejam tendenciosas ou induzam a respostas desejáveis.
Alcançar a qualidade nos serviços de enfermagem requer a implementação
de instrumentos para avaliar os programas sob sua responsabilidade, utilizando
estratégias integradoras que garantam a participação do usuário (foco central
do trabalho em saúde) e da equipe envolvida no processo produtivo.
A visão do "humano" pelo enfermeiro enquanto requisito para
assistência com qualidade é destacada nas falas:
·
E ter uma visão mais humanizada
·
Está relacionado principalmente à humanização da
assistência
A humanização como estratégia para a melhoria da qualidade da
assistência foi identificada pelos alunos, corroborando estudo nacional que
aponta que a humanização da assistência é percebida pelos enfermeiros como a
promoção de um cuidado integral aos pacientes, na perspectiva de cuidar do
outro como gostaria de ser cuidado.
A humanização do cuidado está representada na Política Nacional de
Humanização desde 2003. De acordo com a referida política, um dos aspectos que
mais tem chamado a atenção quando da avaliação dos serviços é o despreparo dos
profissionais para lidar com a dimensão subjetiva que toda prática de saúde
supõe. Assim, a valorização dos diferentes sujeitos implicados no processo de
produção de saúde (usuários, trabalhadores e gestores) e o compromisso com a
ambiência, melhoria das condições de trabalho e de atendimento, dentre outros
são estratégias a serem alcançadas. (Padilha KG. 2009).
Visando uma assistência de enfermagem qualificada, faz-se necessário
rigoroso processo de educação / capacitação dos trabalhadores. Tal facto está
intimamente relacionado à categoria exposta acima que aborda a humanização da
assistência. A importância da educação permanente está destacada em políticas
governamentais, indicando que tal política componha o conteúdo
profissionalizante na graduação, pós-graduação e extensão em saúde,
vinculando-a Núcleos de Educação Permanente.
Contudo, há que se ressaltar que ainda há um incipiente investimento
nesse sentido, de modo que, no âmbito de enfermagem, sempre existiram ações
informais para auferir aos factores que intervêm na qualidade e assistência,
representadas pela preocupação das enfermeiras em seguir rigorosamente os
procedimentos executados, acreditando-se com isso que seriam alcançados os resultados
almejados. (Paiva SMA 2006).
Muitos entendem o cuidado de saúde de qualidade como o guarda-chuva
debaixo do qual a segurança do paciente reside. Por exemplo, o Institute of
Medicine (IOM) considera a segurança do paciente "indistinguível da
prestação de cuidados de saúde de qualidade".
A necessidade de preservar a segurança do paciente como diferencial para
prestar assistência de enfermagem com qualidade aparece nas falas, atrelada ao
conceito de diminuição de riscos, contribuindo para a segurança do paciente em
todos os sentidos.
A literatura internacional revela que o termo segurança do paciente
envolve, em geral, a prevenção de erros no cuidado e a eliminação de danos
causados aos pacientes por tais erros. O erro no cuidado em saúde resulta de
ação não intencional causada por algum problema ou falha, durante a realização
da assistência ao paciente, podendo ser cometido por qualquer membro da equipe
e ocorrendo em qualquer momento do processo do cuidado
A função administrativa é essencial para que a assistência seja prestada
e não há como desarticulá-las, devendo ser o gerenciamento realizado com foco
na qualidade por meio do desenvolvimento das pessoas e do trabalho em equipe
O trabalho em equipe representa uma importante estratégia na busca de
uma assistência de enfermagem qualificada. Neste contexto, a literatura aponta
que os modelos de gestão de serviços de saúde que permitam maior participação
das pessoas nos processos de decisão possibilitam maior vínculo com a clientela
e requerem amplo desenvolvimento do processo comunicativo e o compartilhamento
das decisões entre todas as esferas de trabalho
Marques e Mirshawka, conceituam, ainda, qualidade como: “ Aspiração de
contínuo aperfeiçoamento, de realização humana no trabalho, por parte daquele
que o faz, sob a ótica de seus inter-relacionamentos”.
Serapioni, no contextodas Ciências Sociais, no que tange a avaliação da
qualidade em saúde, também descreve que a busca por oferecer bens e serviços de
qualidade pelas organizações aparece com o propósito de estarem os enfermeiros
engajadas em um processo competitivo.
Particularmente nas instituições hospitalares, a preocupação com a
qualidade na assistência por parte da enfermagem prestada aos clientes bem como
sua satisfação tem sido um grande desafio. As instituições buscam acompanhar a
evolução do mundo globalizado e procuram
adequar e direcionar seus serviços para um processo competitivo de qualidade.
No entanto, Silva afirma que as acções institucionais ao invés de serem
direccionadas unicamente para o ambiente externo, dentro de uma visão
competitiva, deveriam primeiramente, dirigir suas acções de acordo com a
realidade própria de cada instituição e em sua actualidade e contexto.
O actual contexto da qualidade na assistência nos serviços hospitalares
por parte dos enfermeiros apresenta deficiências na utilização do planejamento
estratégico e no sistema de gestão fundamentado em melhoria de processos,
demonstrando carência de indicadores voltados para a satisfação do cliente.
Na assistência de enfermagem a esse individuo hospitalizado, deve ser levada
em consideração a maneira mais adequada de adaptação dele à nova realidade,
pois esses são clientes que estão cada vez mais conscientes mais informados e
mais críticos. Buscam e querem entender e participar do seu processo de
saúde-doença.
Identificar e atender as necessidades do cliente na assistência pode ser
o grande desafio da enfermagem. Contudo, Lim ressaltou que satisfação tem
várias abordagens conceituais, e que defini-la é complexo e subjetivo.
Portanto, deve ser obtida através da perspectiva do cliente.
A reflexão acerca dos factores que intervêm na qualidade e assistência e
Enfermagem apontou que esta torna-se necessária para que a qualidade de vida
pessoal seja contemplada. Os estudos encontrados na literatura, quase na sua
maioria, apontam que os trabalhadores de enfermagem estão expostos a riscos
ocupacionais, doenças decorrentes do alto nível de estresse a que estão
submetidos. Na área hospitalar, o enfermeiro desenvolve habilidade como gestor,
educador, controlador e executor dos serviços de enfermagem. Dessa forma,
participa no processo da gestão de qualidade.
Os factores que intervêm na qualidade da assistência em enfermagem
resulta das contradições existentes entre os aspectos saudáveis e protetores
que esse grupo desfruta e os aspectos destrutivos de que padece, de acordo com
sua inserção histórica e específica na produção de saúde. Aspectos favoráveis
consideram a possibilidade de integração social, aprendizagem de conhecimentos
e destrezas da respectiva atividade e das relações sociais e desenvolvimento de
capacidades humanas, já o aspecto destrutivo é conformado pela exposição às
sobrecargas e subcargas que geram processos de desgastes físicos e pela falta
de autonomia e criatividade.
ANEXOS
Anexo 1
Anexo 2
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABRANCHES,
S. S. A situação ergonômica do trabalho
de enfermagem em unidade básica de saúde. 2005. 216 f. Tese (Doutorado em
Enfermagem Fundamental)–Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo,
Ribeirão Preto, 2005.
ABRANCHES,
S. S. A situação ergonômica do trabalho
de enfermagem em unidade básica de saúde.2005. 216 f. Tese (Doutorado em
Enfermagem Fundamental)–Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo,
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A. D. de F. et al.Saúde do trabalhador de
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. Acesso em:
10 jun. 2013.
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Ribeirão Preto, 2005.
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http://www.scielo.br/pdf/rlae/v9n5/7804.pdf. [ Links ]
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de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo; 2006. [ Links ]
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