TEORIA HUMANISTA

 

INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO DE ANGOLA

 ISTA

CURSO DE PSICOLOGIA

 

 

 

 

 

 

TEORIA HUMANISTA

 

 

 

 

 

 

 

CAXITO-2021


INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO DE ANGOLA

 

 

 

 

TEORIA HUMANISTA

 

 

 

Trabalho científico apresentado ao professor António Nambala, como requisito necessário para a avaliação na cadeira de  Técnicas Psicoterapeutica.

 

 

 

ESTUDANDE: ISABEL ROSARIA PEDRO PASCOAL

4º ANO

SALA: 05

PERÍODO: TARDE

 

 

 

 

 

 

 

BENGO -2021

SUMÁRIO

 

1. INTRODUÇÃO.. 1

2. ENQUADRAMENTO TEÓRICO.. 2

2.1. Principais Influências e Adesões. 3

2.2. Teorias neo-Psicanalíticas. 3

2.3. Gestaltistas e Holistas. 4

2.4. Psicologias Existenciais. 4

2.5. Escolas Americanas de Psicologia da Personalidade. 5

2.5.1. Outras Afluências. 5

2.6. CARACTERÍSTICAS. 6

2.6.1. Visão de Homem.. 8

2.6.2. Modelo de Ciência. 9

2.6.3. Métodos e Técnicas. 10

3. CONCLUSÃO.. 11

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. 12

 

 


1. INTRODUÇÃO

 

A teoria humanista enfatiza as relações interpessoais, na construção da personalidade do indivíduo, no ensino centrado no aluno, em suas perspectivas de composição e coordenação pessoal da realidade, bem como em sua habilidade de operar como ser integrado. Existe uma apreensão com a vida psicológica e afetiva da pessoa, com a sua direção interna, com o autoconceito, com o crescimento de uma percepção legítima de si, dirigida para a realidade individual e grupal. Sendo assim, a abordagem centrada na pessoa (ACP) de Carl Rogers, compreende que o ato de aprender é individual, singular e peculiar de cada sujeito, de forma que a vivência subjetiva deve ser considerada, pois o aluno retém somente o que lhe convém, o que acredita ser muito importante e que se relaciona com seu contexto.

O presente estudo tem por objetivo compreender as concepções de Carl Rogers sobre a educação. Para tanto, optou-se por uma revisão sistemática de literatura em psicologia, embasada fundamentalmente sobre o assunto abordado, contendo como referenciais artigos publicados em bancos de dados, livros e dissertações de mestrado no período de 1973 a 2016, com o intuito de contribuir para uma reflexão das contribuições da teoria humanista de Rogers para a educação, e do seu modelo de facilitação da aprendizagem (aprendizagem significativa bem como, da perspectiva da educação inclusiva.

 Portanto, Carls Rogers com seus pensamentos humanísticos da personalidade contribuiu grandemente para uma visão mais holística e sistêmica da pessoa, por acreditar que cada ser em si é capaz de se autorregular em busca de saúde e bem-estar, por acreditar na capacidade do estudante em ser o gestor do seu próprio aprendizado.

 

 

 

 

 

2. ENQUADRAMENTO TEÓRICO

 

O movimento que desembocou no estabelecimento da Psicologia Humanista teve seu início no ambiente acadêmico norte-americano do pós-guerra. Os líderes do movimento humanista levantaram suas vozes contra a imagem de homem e de método científico defendidas pelo Behaviorismo - dominante no campo da Psicologia experimental - e contra a imagem de homem e de método terapêutico da Psicanálise - dominantes no campo da psicoterapia.

Como afirma De Carvalho (1990), a oposição ao Behaviorismo foi a posição que, pelo caminho da negação, mais contribuiu para o estabelecimento conceitual da Psicologia Humanista. Os Humanistas caracterizam o Behaviorismo como uma teoria em que o homem é visto como um ser inanimado, um organismo puramente reativo, "uma coisa passiva perdida, sem responsabilidade por seu próprio comportamento" (p. 33).

 Assim, o Behaviorismo veria o homem como um conjunto de respostas a estímulos, ou seja, uma coleção de hábitos independentes. Frick (1973), em sua obra Psicologia Humanística, ainda hoje referência obrigatória para quem estuda o movimento, acusa o Behaviorismo de haver buscado criar uma visão limitada do homem.

Foi sobretudo graças ao trabalho de dois homens, Abraham Maslow e Anthony Sutich, que o Movimento Humanista pode ser articulado, organizado e institucionalmente fundado como a Terceira Força da Psicologia.

No início da década de 50, Maslow era um promissor psicólogo experimental e professor de Psicologia na Universidade de Brandeis, mas seus interesses pouco ortodoxos e pouco afinados à forte predominância do Behaviorismo no ambiente acadêmico de então, apenas confrontado pela influência da Psicanálise nos meios clínicos, tendiam a levá-lo ao isolamento profissional e intelectual. Era-lhe inclusive difícil arranjar veículo adequado para publicar seus artigos, que não encontravam ressonância na linha editorial e teórica adotada pela maior parte das revistas técnicas de Psicologia.

Como forma de contornar o problema, em meados dos anos 50 organizou  uma lista de nomes e endereços de psicólogos e grupos envolvidos em visões menos ortodoxas e mais afinados com suas próprias idéias, para com eles manter intercâmbio de artigos e discussões, na forma de uma rede de correspondência, a que chamou Rede Eupsiquiana, ressaltando no título o interesse pelo tema da saúde psicológica, negligenciado, segundo Maslow, pela Psicanálise e pelo Behaviorismo. Anthony Sutich, psicólogo que conhecera Maslow no final dos anos 40 e que nos anos 50 tornara-se ativo participante da rede e intenso colaborador na discussão das novas idéias, veio a ter fundamental papel na oficialização do novo movimento.

De suas discussões com Maslow nasceu a percepção de que já era a hora, ao final dos anos 50, de fundarem uma revista própria, sendo que Sutich foi encarregado de encabeçar o empreendimento. Portador de paralisia decorrente de artrite progressiva, Sutich dedicou-se intensamente à tarefa de articulação e organização, passando horas ao telefone contatando interessados e colaboradores.

 Após considerável deliberação sobre o nome da nova revista - foram sugeridos Ser e Tornar-se, Crescimento Psicológico, Desenvolvimento da Personalidade, Terceira Força, Psicologia do Self, Existência, e Orto-Psicologia - foi adotado o título Revista de Psicologia Humanista, sugerido por S. Cohen, e que desde então passou a designar o movimento, oficialmente lançado com o primeiro número da revista, em 1961.

 O sucesso da revista acabou levando à organização da Associação Americana de Psicologia Humanista, fundada em 1963, consolidando-se o movimento de forma definitiva em 1964 quando, em uma conferência realizada na cidade de Old Saybrook, compareceram em aberta adesão grandes nomes inspiradores do movimento, inclusive Carl Rogers. Com sua rápida e sólida difusão a Psicologia Humanista se mostra hoje uma Força firmemente estabelecida e respeitada no panorama da Psicologia mundial, generalizadamente reconhecida nos campos teórico, acadêmico e de aplicação.

2.1. Principais Influências e Adesões

Ao contrário das Forças anteriores, a Psicologia Humanista não se identifica ou inicia com o pensamento de um determinado autor ou escola. Tratando-se primariamente de um movimento congregador de diversas tendências, unidas pela oposição ao Behaviorismo e Psicanálise, assim como pela convergência em torno de algumas propostas comuns, várias afluências, adesões e influências podem ser apontadas, destacando-se as que se seguem:

2.2. Teorias neo-Psicanalíticas

A crítica que a Psicologia Humanista faz à Psicanálise, centra-se sobretudo na visão pessimista, determinista e psicopatologizante, que atribui à teoria de Freud, assim como na impessoalidade da técnica transferencial. Já algumas teorias de discípulos dissidentes de Freud são vistas com bons olhos, citadas como coerentes e importantes influências em relação ao trabalho de destacados humanistas. São vistas com simpatia as teorias de Adler, Rank, Jung, Reich e Ferenczi, assim como são bem recebidas contribuições da Psicanálise americana, representada por Horney, Sullivan, Erikson, e toda a corrente de Psicanalistas do Ego e Culturalistas em geral. Psicanalistas não ortodoxos, como Fromm e Nuttin, chegam mesmo a tornar parte ativa no Movimento.

2.3. Gestaltistas e Holistas

A Psicologia Humanista retoma em grande parte as propostas da Psicologia da Forma alemã, em especial a visão holista e organísmica do ser humano e seu envolvimento ambiental. Trazida aos Estados Unidos pelos seus criadores Wertheimer, Koffka e Köhler, e outros psicólogos imigrantes, fugitivos das conturbações políticas européias, a influência da

Psicologia da Gestalt está presente em praticamente todos os psicólogos humanistas. Para citar apenas os principais autores envolvidos no surgimento da Psicologia Humanista e para os quais a formação gestáltica foi decisiva lembremos Goldstein, Angyal e Lewin, sendo que este último, ao lado das propostas do Psicodrama de Moreno, foi também uma das principais influências no extraordinário desenvolvimento e aplicação de técnicas de trabalho grupal, que marcou caracteristicamente o movimento da Psicologia Humanista.

E ainda neste tópico da influência gestáltica, não pode ser esquecido Perls, o polêmico Fritz, que, em suas originais leituras da Psicanálise, da Psicologia da Gestalt e do Existencialismo, foi, com a Gestalt-Terapia por ele criada, uma das presenças mais marcantes no extraordinário sucesso e desenvolvimento da Psicologia Humanista nas décadas de 60 e 70.

2.4. Psicologias Existenciais

As articulações para o lançamento da Psicologia Humanista coincidiram, no final da década de 50, com a maior difusão nos Estados Unidos do trabalho que havia décadas vinha sendo realizado na Europa por diferentes correntes de Psicologia e Psicoterapia inspiradas em filósofos existencialistas e fenomenólogos   . Essa difusão ocorre não só pela tradução para o inglês de obras de psicólogos existenciais, como Boss, Binswanger e Van Den Berg, mas também pelo trabalho de divulgação realizado no meio psicológico pelos escritos de Tillich e Rollo May, sendo que este em 1959 organiza o primeiro simpósio americano sobre Psicologia Existencial, para o qual são convidados expoentes e futuros líderes do Movimento Humanista, como Maslow e Rogers.

Não tardaram a serem encontrados pontos em comum nas respectivas propostas e, sobretudo pela participação ativa de May e outros psicólogos existenciais que aderiram ao Movimento, como Bugental e Bühler, a Psicologia Humanista foi amplamente enriquecida com a perspectiva fenomenológica e existencial, ao ponto de por vezes ser denominada Psicologia Humanista-Existencial (Greening, 1975).

Não cabe aqui uma discussão mais aprofundada do relacionamento nem sempre fácil e pacificamente aceito entre a perspectiva humanista americana em muitos sentidos muito mais essencialista, ligada antes a Rousseau que a Heidegger e Sartre, menos filosoficamente sofisticada, mais otimista e vinculada a interpretações biológicas da natureza humana - e a perspectiva existencial européia. Entre os filósofos existencialistas cujas idéias foram mais abertamente abraçadas pelos humanistas americanos, destacam-se Kierkegaard e Buber, sem esquecer a influência de Nietzche, que sobretudo por via indireta (as idéias de Adler), é notada em algumas propostas da Terceira Força.

2.5. Escolas Americanas de Psicologia da Personalidade

Outra importante influência na constelação do Movimento Humanista, diz respeito à afluência de importantes escolas de Psicologia da Personalidade desenvolvidas nos Estados Unidos. Afora a sempre lembrada homenagem póstuma aos pragmatistas John Dewey e William James, destacados teóricos independentes como G. Allport, G. Murphy, Murray, Kelly, Ellis, Maslow e Rogers, assim como toda a escola de Psicologia do Self, se associaram ao movimento, em diferentes graus de apoio e envolvimento.

2.5.1. Outras Afluências

Como movimento aberto e inclusivo de novas tendências, idéias e experimentações pouco ortodoxas, a Psicologia Humanista não tardou a integrar em suas fileiras de simpatizantes e proponentes toda sorte de marginais contestadores do sistema. A espetacular revolução que o movimento propiciou no campo das psicoterapias, entendidas a partir de então na perspectiva ampliada de técnicas de crescimento pessoal ou de desenvolvimento do potencial humano, estimulou o estudo, experimentação e aplicação - infelizmente de modo nem sempre tão sério e criterioso como seria de se desejar - de novas formas de ajuda psicológica.

Entre as tendências que se aproximaram da Psicologia Humanista destacam-se as novas psicoterapias que vinham se desenvolvendo a partir do trabalho mais ou menos independente de seus criadores, como a Terapia Primal de Arthur Janov, a Análise Transacional de Eric Berne e a Psicossíntese de Roberto Assagioli (que posteriormente abraçaria o Movimento Transpessoal); as escolas e técnicas de trabalho não verbal e corporal, com suas propostas de relaxamento, sensibilização e desbloqueio psíquico e energético; as variadas formas de trabalho intensivo com grupos que se associaram ao Movimento dos Grupos de Encontro; e enfim toda sorte de touchy-feelly terapeutas envolvidos na experimentação alternativa de técnicas de desenvolvimento pessoal ou simplesmente navegando em uma superficial e consumista adesão à nova onda.

2.6. CARACTERÍSTICAS

Além da oposição ao Behaviorismo e à Psicanálise, e da absorção de escolas não identificadas com essas correntes, o Movimento Humanista é caracterizado pela congregação de estudiosos em torno de alguns tópicos e interesses que podem ser apontados como temáticas típicas e preferenciais da Psicologia Humanista. Sutich (1991), relembrando o início do Movimento e o lançamento da Revista de Psicologia Humanista, informa como uma definição de Terceira Força, formulada por Maslow em 1957, foi utilizada na introdução da primeira edição, para assim descrever a proposta:

A Revista de Psicologia Humanística foi fundada por um grupo de psicólogos e profissionais de outras áreas, de ambos os sexos, interessados naquelas capacidades e potencialidades humanas que não encontram uma consideração sistemática nem na teoria positivista ou behaviorista, nem na teoria psicanalítica clássica, tais como criatividade, amor, self, crescimento, organismo, necessidades básicas de satisfação, auto-realização, valores superiores, transcendência do ego, objetividade, autonomia, identidade, responsabilidade, saúde psicológica, etc. (p. 24).

Nessa significativa listagem elaborada por Maslow como resumo dos interesses editoriais do veículo oficial do Movimento, pode-se perceber o delineamento das principais tendências e ênfases temáticas que, relacionadas entre si, caracterizam-se como típicas da Psicologia Humanista.

Em primeiro lugar, a Psicologia Humanista destaca-se como a corrente que, afastando-se do tradicional enfoque clínico de privilegiar o estudo das psicopatologias, passa a enfatizar a saúde, o bem estar, e o potencial humano de crescimento e autorealização. Já em seu livro Introdução à Psicologia do Ser, de 1957, Maslow (s. d.) aponta para a necessidade do desenvolvimento de uma Psicologia da Saúde, criticando as teorias, como a Psicanálise, que generalizam suas conclusões sobre o ser humano a partir de dados obtidos quase que exclusivamente no estudo de indivíduos mentalmente perturbados, resultando conseqüentemente em um retrato pessimista e desabonador da natureza humana. Maslow, ao contrário, se propõe o estudo dos melhores exemplares da espécie, por ele chamados personalidades auto-atualizadoras, dando início à tradição humanista de abordar a Psicologia a partir do prisma da saúde e do crescimento psicológico.

Tão forte é essa tendência que forneceu o termo Eupsicologia, cunhado nas primeiras tentativas de articulação e caracterização do movimento. Também, em sua proposta de enfatizar o desenvolvimento das melhores capacidades e potencialidades do ser humano, a Psicologia Humanista é muitas vezes identificada como o Movimento do Potencial Humano.

Assim, ao invés de empenhar-se em exaustivas descrições e teorizações sobre os mecanismos das enfermidades psíquicas, reservando à saúde a definição negativa de ausência de doença, é mais típico da Psicologia Humanista buscar definir as características do pleno e saudável exercício da condição humana, em distanciamento do qual as patologias podem então ser entendidas.

Em segundo lugar, outra importante orientação temática geral da Psicologia Humanista diz respeito ao privilegiar das capacidades e potencialidades características e exclusivas da espécie humana. Criticam os humanistas, sobretudo ao Behaviorismo, a tendência a generalizar conclusões obtidas a partir de experimentos realizados quase que exclusivamente em pesquisa animal; assim como a forte tendência da psicologia experimental a, mesmo quando dedicada a trabalhos com pessoas, centrar-se em aspectos fisiológicos, ou muito parcializados, perdendo de vista a própria dimensão psicológica característica do ser humano, que deveria em princípio ser o enfoque prioritário de uma ciência dedicada ao estudo da mente e da psiquê. Como diz Matson (1975), um dos presidentes da Associação de Psicologia Humanista:

Não seria excessiva violação da verdade afirmar que grande parte do que ocorre em Psicologia, nada tem de "psicológico". E isso nos leva à razão que gerou a Terceira Revolução - o renascimento do humanismo em psicologia. (p. 69 ).

Assim, a volta ao humano como objeto de estudo é uma das bandeiras do Movimento, importante a ponto de fornecer-lhe o título designativo. Qualidades e capacidades humanas por excelência, tais como valores, criatividade, sentimentos, identidade, vontade, coragem, liberdade, responsabilidade, auto realização, etc., fornecem temas de estudo típicos das abordagens humanistas.

Essas e outras temáticas, igualmente características (organismo, self, significados, intencionalidade, necessidades básicas, experiência subjetiva, encontro, etc.), estão também associadas à visão de homem, à proposta de Ciência, e aos métodos e técnicas desenvolvidos e assumidos pela Psicologia Humanista, que serão examinados nos próximos itens, e representam as diversas influências recebidas pelo Movimento, que foram sucintamente referidas nos itens anteriores.

2.6.1. Visão de Homem 

De forma bem mais declarada que as Forças anteriores, a Psicologia Humanista, enquanto movimento organizado, reconhece, assume e propõe a inevitabilidade da adoção de um Modelo de Homem, ou seja, uma concepção filosófica da natureza humana, como ponto de partida e princípio norteador de qualquer projecto de construção da Psicologia. Neste tópico, talvez mais que em qualquer outro, destila a Psicologia Humanista suas maiores críticas e discordâncias às escolas a que se opõe, contestando veementemente os modelos de homem que identifica nas formulações psicanalíticas e behavioristas.

            Opõem-se os humanistas à concepção psicanalítica do homem como um animal lúbrico e feroz, movido por necessidades instintivas de prazer e agressão, ao qual só a custa de muitas restrições e sublimações da natureza animalesca básica se pode, na melhor das hipóteses, trazer algum verniz de racional sociabilidade, mas não sem um inevitável ônus de frustração, infelicidade e Mal-Estar da Civilização.

Recusam-se também a conceber o ser humano como uma espécie de máquina, robô ou marionete, cuja natureza passiva e amorfa é absolutamente moldada, manipulada e controlada pelas contingências de estimulação e condicionamento ambiental, a quem na melhor das hipóteses se poderá oferecer a escolha (ela própria condicionada) entre um condicionamento fortuito e um planejado, quer este planejamento se dê por iniciativa do próprio sujeito condicionado, quer se dê por interferência da ideologia ou poder político dominante que as circunstâncias ambientais mais amplas tenham levado as sociedades humanas a adotar.

2.6.2. Modelo de Ciência

O desenvolvimento da Psicologia Humanista é caracteristicamente marcado por uma reflexão e tomada de posições, em questões filosóficas e epistemológicas, sobre a natureza da Psicologia enquanto Ciência. É, sob alguns novos aspectos e nuances, retomada a discussão que envolveu o nascimento e as primeiras décadas da Psicologia Científica contemporânea, em torno da questão do modelo, dos métodos e do objeto dessa nova ciência.

A controvérsia principal referia-se à adequação do Modelo de Ciência, até então bem sucedido nas modernas ciências naturais, estender-se às nascentes ciências humanas, as quais, justificadas pela singularidades de seu objeto de estudo, congregavam arrebatados defensores do desenvolvimento de um modelo próprio e diferenciado.

 Embora na Europa o debate tenha prosseguido e frutificado, principalmente no desenvolvimento de escolas de psicopatologia e psicoterapia inspiradas na Fenomenologia e no Existencialismo, no panorama americano a discussão parecia ter estagnado, com a aparente vitória do dos modelos naturalistas, fosse o modelo positivista de determinismo ambiental adotado pelo Behaviorismo, com sua ênfase na experimentação animal e na observação objetiva; fosse o modelo médico, mecanicista em sua ênfase no determinismo psíquico, de inspiração darwiniana, e igualmente naturalista, da Psicanálise.

Os humanistas, reeditando em novas versões propostas da Psicologia Compreensiva de Dilthey, da perspectiva holista da Psicologia da Gestalt, da primeira Fenomenologia de Husserl, e dos questionamentos existencialistas sobre a singularidade e irracionalidade da existência concreta, tendem a acordar que a Psicologia deve se afirmar em um modelo de ciência do homem, respeitando e se adaptando às especificidades de seu objeto de estudo. Embora a este respeito não se possa encontrar unanimidades indiscutíveis entre as diversas propostas que se articulam no movimento humanista, algumas tendências parecem se destacar, sobretudo em decorrência do Modelo de Homem que, como vimos, esse movimento defende.

2.6.3. Métodos e Técnicas

Mantendo-se fiel às suas opções temáticas, e tendo sempre em vista as dimensões do ser que seu enfoque privilegia, a Psicologia Humanista desenvolve, adapta e renova variadas técnicas e metodologias de abordagem da pessoa, com finalidades de estudo ou intervenção. Os questionamentos e posições assumidas sobre a natureza da Ciência Psicológica e seu objecto próprio de estudo fazem do projeto humanista de construção da Psicologia uma fonte de inspiração e parâmetros no desenvolvimento de abordagens adequadas, sendo sobretudo o compromisso com sua visão de homem que orienta a criação e desenvolvimento de novas formas de estabelecer a saúde psíquica e promover o desenvolvimento dos melhores potenciais humanos.

No campo da pesquisa, a Psicologia Humanista é marcada não só pela  eleição de temas e faixas da experiência humana até então negligenciadas como objeto de investigação, mas também pelo desenvolvimento e utilização de inovações metodológicas.

O instrumental de pesquisa e investigação desenvolvido e utilizado sob a égide da Terceira Força é bastante rico e diversificado. Para um breve apanhado das contribuições mais significativas e características, podem ser brevemente lembradas as variações dos métodos inspirados na Fenomenologia, aí incluídas as chamadas pesquisas qualitativas; a crescente consideração da influência da pessoa do investigador nos experimentos, que em muitos estudos é complementada com a inscrição dos sujeitos da pesquisa como co-investigadores; a larga realização de estudos idiográficos (interessados nas singularidades, ao invés das características generalizáveis do sujeito da investigação); e o eclético e criativo uso com que investigadores humanistas renovam abordagens mais tradicionais de pesquisa, desde os experimentos laboratoriais até o consagrado recurso do estudo de caso.

Portanto, é entretanto no campo das psicoterapias e técnicas de crescimento pessoal, mais do que em qualquer outro, que a contribuição da Psicologia Humanista é especialmente exuberante e espetacular, resultando em uma verdadeira revolução nos conceitos e formas de ajuda psicológica. O espaço aqui seria pequeno, caso eu desejasse fazer a mínima justiça da citação nominal das novas escolas e propostas que foram desenvolvidas na vanguarda ou na esteira do Movimento Humanista. Optei então por me restringir apenas à discriminação comentada de algumas das principais tendências que se associam ao Movimento. 

 

3. CONCLUSÃO

 

O extraordinário desenvolvimento de terapias e técnicas de trabalho com  grupos, especialmente na forma de vivência intensiva, é uma das tendências que marca a Psicologia Humanista. Além das ricas e inovadoras contribuições teóricas e técnicas a essa modalidade de atuação, até então negligenciada, o chamado Movimento dos Grupos de Encontro representou, ao menos nos anos 60 e 70, a faceta de maior impacto da Terceira Força, traduzindo em ações efetivas o compromisso transformação sóciocultural que a Psicologia Humanista se impõe.

Deste modo, os humanistas se rebelam contra o Behaviorismo se opondo a quatro pontos fundamentais. Primeiro, não concordam com a pesquisa com animais como acesso a uma compreensão adequada do ser humano. Como disse Bugental (1963), o ser humano não é um rato branco maior, assim uma Psicologia baseada em dados animais excluiria aquilo que deveria ser o objeto primeiro da Psicologia: os processos e experiências distintamente humanos.

Enfim, é no teste empírico de suas idéias, muitas vezes taxadas de ingênuas  ou utópicas, e no sucesso e aceitação de suas práticas, que a Psicologia Humanista tem se consolidado como uma psicologia afinada ao Zeitgeist de nossa época, em que apesar de toda crise, amargura, cinismo, solidão e desesperança, o anseio mudo e oculto por uma vida mais autentica e humanizada torna-se eloqüente e fulgura ao encontrar quem nele acredite e se disponha a ajudar.

Contudo, a Teoria Humanista, conforme historiado por De Carvalho (1990),  surgiu no final da década de 50 e início dos anos 60 como uma reação ao panorama da Psicologia norte-americana, dominado, na leitura dos psicólogos humanistas, por duas grandes forças: o Behaviorismo e a Psicanálise clássica.

 

 

 

 

 

 

 

 

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

·         DUEK, V.P. Docência e inclusão: reflexões sobre a experiência de ser professor no contexto da escola inclusiva. 2006. 186p. Dissertação (Mestrado em Educação)  Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2006.

·         Bugental, J. (1963). Humanistic Psychology: A new breakthrough. American Psychologist, 18, 563-567.

·         De Carvalho, R. (1990). A History of the Third Force in Psychology. Journal of Humanistic Psychology, 30, 22-44.

·         MOREIRA, V. Revisitando as fases da abordagem centrada na pessoa. Estudos de Psicologia, Campinas, p.537-544, 2010.

·         Goldstein, K. (1940). Human Nature in the light of psychopathology. New York: Schocken Books. 

·         Maslow, A. (1963). Motivacion y Personalidad (J. Garí, Trad.). Barcelona: Sagitário. (Original publicado em 1954). 

·         Maslow, A. (1968). Introdução à Psicologia do Ser (Á. Cabral, Trad.). Rio de Janeiro: Eldorado. (Original publicado em 1962).

·         Frick, W. (1973). Psicologia Humanística. Buenos Aires: Editorial Guadalupe. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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