ANÁLISE DO COMPORTAMENTO SEGUNDO SKINNER

 INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO DE ANGOLA

ISTA

POLO – CAXITO

CURSO: PSICOLOGIA

 

 

 

 

  

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO SEGUNDO SKINNER

 

 

 

GRUPO Nº 01

                          

 

 

 

 

 

CAXITO - 2021/2022










INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO DE ANGOLA

 

 

 

 

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO SEGUNDO SKINNER

 

 

 

Trabalho apresentado ao professor Gaspar Luís Inácio, como requisito necessário para a avaliação no curso de Psicologia na cadeira de Teoria da Personalidade.

 

 

 

 

 

 

GRUPO Nº 01

ANO

PERÍODO: TARDE

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CAXITO - 2021/2022

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INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO DE ANGOLA

ISTA

POLO – CAXITO

CURSO: PSICOLOGIA

 

 

 

 

  

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO SEGUNDO SKINNER

 

 

 

GRUPO Nº 01

                          

 

 

 

 

 

CAXITO - 2021/2022

INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO DE ANGOLA

 

 

 

 

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO SEGUNDO SKINNER

 

 

 

Trabalho apresentado ao professor Gaspar Luís Inácio, como requisito necessário para a avaliação no curso de Psicologia na cadeira de Teoria da Personalidade.

 

 

 

 

 

 

GRUPO Nº 01

ANO

PERÍODO: TARDE

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CAXITO - 2021/2022

INTEGRANTES DO GRUPO Nº 0

 

1.       

2.       

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

DEDICATÓRIA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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EPIGRAFE 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

RESUMO

Actualmente, não se pode pensar no estudo do comportamento humano sem considerar a abordagem científica a este objecto: o campo da Psicologia científica. Esse campo é disputado por diversos enfoques teóricos que divergem quanto ao modo como definem ciência e comportamento humano. A abordagem de B. F. Skinner foi bastante proeminente no século XX, mas ainda continua a ser mal-entendida. Partindo do desenvolvimento histórico de sua obra, o presente texto visa a iluminar alguns aspectos relacionados às noções de ciência e comportamento humano desse autor e ressaltar as transformações por que passaram. Analisam-se três tópicos da obra de Skinner: seu período inicial (de 1930 a cerca de 1938), a obra "Ciência e Comportamento Humano" de 1953, e as influências da Biologia. São enfatizados aspectos relevantes da sua teorização sobre o tema: busca por relações funcionais, ênfase nos dados empíricos, operacionismo, externalismo, multideterminada do comportamento, experimentalismo, previsão e controle, ética.

Palavras-chave: Skinner, B. F., Comportamentalismo, Ciência, Comportamento.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

SUMÁRIO

 

DEDICATÓRIA. 4

AGRADECIMENTOS. 5

EPIGRAFE. 6

RESUMO.. 7

INTRODUÇÃO.. 8

1- ENQUADRAMENTO DO TEMA. 11

1.1- As transformações do pensamento de Skinner. 12

1.2- 1930-1938: o período inicial e as influências da física. 13

1.3- Ernst Mach (1838-1916) 14

1.4- Percy Bridgman (1882-1961) 15

1.5- Os primeiros trabalhos de Skinner. 15

1.6- 1953: "ciência e comportamento humano". 17

1.6.1- Sobre ciência. 17

1.7- O estudo científico do comportamento humano. 19

1.8- As influências da biologia e os pontos fundamentais da proposta skinneriana sobre a ciência e o comportamento. 21

CONSIDERAÇÕES FINAIS. 23

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. 26

 


INTRODUÇÃO

 

O presente trabalho apresenta uma discussão teórica da análise do comportamento na perspectiva behaviorista radical de Skinner. Para tal objectivo, serão expostas algumas das possíveis contribuições do behaviorismo radical no que tange a definição, como esse repertório comportamental é desenvolvido, sua funcionalidade e importância para o indivíduo. A consciência em Skinner.

Antes de iniciar qualquer discussão a respeito do conceito de consciência no behaviorismo radical, é necessário apresentar alguns princípios dessa filosofia analítico comportamental. Primeiramente, deve-se esclarecer que o behaviorismo radical tem por objecto de estudo o comportamento dos organismos e parte de uma perspectiva em que considera o indivíduo um ser monista, ou seja, o organismo e mente ou qualquer objecto metafísico, como a alma, encontram-se na mesma esfera de existência na qual não existem divisões (SKINNER, 1974; 1977).

O comportamento não é algo estático e imutável. Na concepção behaviorista radical, o comportamento é apenas uma parcela da actividade total de um organismo (SKINNER, 1938). Outra definição possível, de acordo com essa ciência, é que o comportamento é a interação do organismo com o meio, modificando-o, e por sua vez, sendo modificado (SKINNER, 2003). Sugere-se, ainda, que o comportamento é fruto da interrelação de três níveis de seleção: filogenético, ontológico e cultural (SKINNER, 1974; 1984).

Assim, para os behavioristas radicais, o comportamento está intimamente ligado ao que a cerca, são passiveis de modificar e serem modificados ao longo de sua história enquanto espécie e depende de múltiplos factores. O primeiro nível de seleção refere-se aos processos evolutivos, no qual alterações das características hereditárias nos grupos de organismos, que favoreceram a adaptação da espécie, são selecionados e transmitidos em nível genético. Em relação ao segundo nível, o ontológico, refere-se ao histórico do repertório comportamental de um indivíduo, estabelecido ou não por seu histórico de reforçamento. Para Skinner (2003), o reforço é apresentado de duas maneiras: positivo, quando o evento sucede a apresentação do estímulo (afago, comida ou água, por exemplo), e negativo, que consiste na retirada de um estímulo aversivo/desagradável (remoção de um choque, luz ou som muito forte, dentre outros). Os comportamentos são selecionados de modo operante, de acordo com sua experiência que, por sua vez, aumenta ou diminui a probabilidade de determinado comportamento voltar a ocorrer. (SKINNER, 1957).

Todo comportamento é, inicialmente, não-racional e inconsciente, ele sendo efetivo ou não, e tem probabilidades em tornar-se consciente sem se tornar racional, considerando que as contingências responsáveis por ele não foram investigadas, como por exemplo: um indivíduo pode saber o que está fazendo sem necessariamente saber o porquê (SKINNER, 1974).

Os comportamentos em geral, são determinados pelas relações entre os eventos, que no behaviorismo radical é compreendido como contingências de reforço. E é influenciado pelos três níveis de seleção pelas consequências (filogenético, ontogenético e cultural), destacando que o comportamento não está na ação e sim na relação entre eventos, como por exemplo: (a) estímulo; (b) resposta; e (c) consequência. O que pode afetar diretamente o modo em que vivenciamos e relatamos determinados eventos. Portanto, Skinner (1974) destaca que a consciência e o autoconhecimento, para o behaviorismo radical, são passíveis de distorção e a natureza do que é sentido ou observado deve ser questionado. (SKINNER, 1974).

Contudo, em grande parte do tempo, o comportamento é inconsciente, porém não menos efetivo, devido a limitações em “nos observar e descrever sempre que nos comportamos, e também porque as contingências de reforço a que estamos submetidos continuam sendo efetivas mesmo quando não temos conhecimento delas’’ (ROSE et al., 2012, p. 205).

 

PROBLEMA

 

 

Objecto de estudo

 

 

JUSTIFICATIVA

 

Objectivos

 

Formulação de Hipóteses

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1- ENQUADRAMENTO DO TEMA

 

"O comportamentalismo, com acentuação no "ismo", não é o estudo científico do comportamento, mas uma filosofia da ciência preocupada com o tema e métodos da psicologia." (Skinner, 1980, p.339).

Similarmente, a análise experimental do comportamento não é uma área da psicologia, mas uma maneira de estudar o objecto da psicologia. Este trabalho é uma tentativa de esclarecer os significados dos termos "behaviorismo", "análise experimental do comportamento" e "psicologia", e uma tentativa baseada principalmente nas contribuições de B.F. Skinner e de Harzem e Miles (1978).

A análise do comportamento, que não se limita à análise experimental do comportamento, como veremos a seguir, origina-se de uma posição behaviorista assumida por Skinner por motivos mais históricos que puramente lógicos. Skinner parte da constatação de que há ordem e regularidade no comportamento. Um vago senso de ordem emerge da simples observação mais cuidadosa do comportamento humano.

O termo "behaviorismo" tem sido utilizado de diversas maneiras e de tal modo que se pode afirmar que há muitas variedades de significado para ele. Desde o manifesto de Watson, muitas características foram atribuídas ao termo. Muitas delas perderam-se no tempo ante críticas irrespondíveis, outras permanecem. Para Harzem e Miles, a palavra behaviorismo tem uma "família de significados", e por isso, além de desnecessário, é um equívoco esperar-se encontrar o seu "verdadeiro" significado. Portanto, a menos que se faça a distinção entre as diversas variedades de significado, não é útil proclamar-se "a favor" ou "contra" o behaviorismo.

As noções de comportamento humano e de ciência, enfim, tornaram-se praticamente indissociáveis, e é justamente a partir desse momento que diversos projectos de conhecer cientificamente o comportamento humano começam a competir e que o que se entende por ciência e/ou como aplicá-la devidamente a esse campo passa a ser alvo de disputas dentro da nascente Psicologia científica.

Um momento fundamental nessa disputa pelo projeto dominante de Psicologia científica é a proposição, por Burrhus Frederic Skinner, do seu Comportamentalismo Radical. Chegando a ser considerado o psicólogo mais eminente do século XX (Haggbloom et al., 2002), Skinner marcou profundamente toda a Psicologia americana (e, em conseqüência, a Psicologia mundial) do século passado e continua ainda hoje a ser amplamente estudado, discutido e a ter suas proposições ampliadas e revisadas (por ex. Glenn, 1988; Malagodi, 1986 e Malott, 1988). Afora sua importância para a construção da Psicologia como a conhecemos hoje, um conhecimento mais aprofundado do discurso de Skinner é também fundamental para evitar (ou buscar remediar) um conjunto de mal-entendidos que cercam seu pensamento. É para os fundamentos filosóficos do comportamentalismo radical, assim, que este trabalho se voltará.

De início, "Pode-se dizer que as bases fundamentais que norteiam a obra de Skinner estão vinculadas a sua pretensão de fazer da Psicologia uma ciência e, para compreender essas bases filosóficas, precisamos identificar os modelos de ciência que ele adota." (Micheletto, 2001, p. 31). É assim que, para nos aproximarmos da abordagem comportamentalista radical definida pelo próprio Skinner (1974/1995), inclusive, como a de uma filosofia da ciência  buscaremos empreender uma análise da sua concepção de ciência, pilar essencial para a fundamentação de qualquer modo dito científico de encarar o homem e o seu comportamento. Indissociável desse objetivo, aparece como essencial também a discussão da sua concepção de comportamento humano. Dessa forma, buscaremos assinalar algumas influências e transformações por que passaram tais concepções (e outras relacionadas: causalidade, explicação, etc.) no desenvolvimento da obra de Skinner.

1.1- As transformações do pensamento de Skinner

Desde suas primeiras publicações, em 1930, até "Can Psychology be a science of mind?"2  (Skinner, 1990), artigo completado na véspera de sua morte, Skinner desenvolveu uma verdadeira visão de mundo  (Michael, 1980), que aborda as mais diversas questões (ética, educação, organização social, cultura etc.) de um ponto de vista muito particular. Essa extensa obra, como qualquer outra de seu porte, é perpassada por aspectos unificadores, mas também por transformações.

Por um lado, pode-se afirmar que toda a sua obra é marcada por alguns pontos gerais que parecem permanecer inalterados:

·         O estabelecimento do objecto de estudo - o comportamento; a suposição do comportamento como determinado; a pretensão de fazer uma análise científica do comportamento a partir da noção de ciência proposta pela ciência natural; o estudo realizado a partir do dado empírico; o afastamento de toda metafísica do saber científico; a proposta de previsão e controle (Micheletto, 2001, p. 30).

Essas marcas, por outro lado, além de muito genéricas, tiveram seu sentido alterado ao longo da obra de Skinner. Como esperamos demonstrar no decorrer deste texto, ao menos dois grandes momentos podem ser distinguidos nesse processo. Por um lado, um período inicial englobando aproximadamente os anos de 1930-38, em que o autor, como ele próprio admitiria depois (Skinner, 1989/1995b, p. 176), ainda "estava comprometido em demasia com o `reflexo'" em termos da sua noção de comportamento (apesar de as suas investigações o terem conduzido à formulação do conceito de operante ainda em 1937) e onde a influência de uma concepção de ciência adotada pela Física era proeminente.

 Por outro lado, em um período posterior, em que seu foco de interesse recai mais sobre o comportamento operante, suas concepções vão gradualmente amadurecendo e sua noção de ciência passa a ser mais marcadamente influenciada pelas noções da Biologia. Esses dois momentos, entretanto, se imbricam no desenvolvimento da obra skinneriana: pode-se perceber a presença de certas concepções do período inicial nos escritos posteriores de Skinner e interpretar algumas mudanças de concepção como um desenvolvimento do próprio pensamento do autor. Essas alterações, em alguns dos fundamentos filosóficos da sua visão de mundo, podem ser responsáveis, porém, por parte das interpretações errôneas do comportamentalismo radical. É para uma breve análise dessas transformações no pensamento de Skinner que agora nos voltamos.

1.2- 1930-1938: o período inicial e as influências da física

A adesão de Skinner ao comportamentalismo e seu consequente ingresso na pós-graduação em Psicologia de Harvard (em 1928) podem ser atribuídos, em grande parte, a sua leitura do livro "Behaviorism", de John B. Watson (Skinner, 1989/1995b). De fato, podemos admitir, com o próprio Skinner, que, desde o início, a sua concepção de Psicologia, de estudo do comportamento, era muito semelhante àquela proposta por Watson em seu famoso artigo de 1913: "Segundo o ponto de vista comportamentalista, a Psicologia é um ramo puramente objetivo e experimental da ciência natural. Seu objetivo teórico é a predição e o controle do comportamento" (citada por Skinner, 1989/1995b, p. 165). Foram as aspirações de uma ciência do comportamento voltada para a previsão e o controle que o motivaram a ingressar na Psicologia. Assim, desde o princípio, Skinner pretendia levar a cabo uma análise científica do comportamento a partir de uma noção de ciência fortemente inspirada nas ciências naturais (Micheletto, 2001). Cabe assinalar, entretanto, quais seriam, mais especificamente, as principais influências que convergiram para moldar a forma como ele empreenderia essa aspiração.

O modelo de ciência que inicialmente vai influenciar Skinner é aquele associado às transformações por que a Física passava no final do século XIX e início do século XX e às críticas que, nessa época, se levantavam contra o modelo mecanicista fundado na Física newtoniana (Micheletto, 2001). O modelo mecanicista explicava os eventos do mundo em termos da ação causal de forças diversas, no tempo e no espaço, sobre a matéria. Cada coisa se moveria devido à interação mecânica com outras coisas, todas sujeitas a um conjunto de forças. Nesse modelo, além disso, considerava-se que a realidade possuísse existência independente do sujeito que a experiencia e o princípio de explicação dessa realidade deveria ser sempre baseado em um mecanismo.

1.3- Ernst Mach (1838-1916)

Para Ernst Mach, o avanço da Física dependia do afastamento de concepções metafísicas pressupostas na elaboração de muitos dos conceitos dessa disciplina (Micheletto, 2001). O caminho para tanto seria a construção de um conhecimento firmemente baseado em observações empíricas. Segundo ele, a suposição da existência de um mundo "real", externo ao sujeito, não poderia ser sustentada, já que só teríamos acesso às nossas sensações - seria a partir da análise apenas dessas sensações, assim, que construiríamos nosso conhecimento do mundo. Essas noções colocam a questão da existência real das coisas (tão fundamental para o modelo mecanicista) simplesmente como algo sem significado - já que não passível de ser resolvida em definitivo. "Mach torna sem significado tudo o que não produza resultado que possa referir-se à sensibilidade" (Micheletto, 2001, p. 32).

As concepções de Ernst Mach têm sido analisadas (de ângulos por vezes um pouco distintos) por diversos comportamentalistas contemporâneos. Baum (1999, cap. 2), por exemplo, ao tratar Mach como um pragmatista, ressalta que a amizade desse autor com William James seria a responsável pela influência do pragmatismo sobre o comportamentalismo radical. Segundo Baum (1999, cap. 2), a noção de ciência de Skinner (não só no período inicial de sua obra) e do comportamentalismo radical como um todo seria a mesma de Mach e James: a busca por descrições econômicas, eficientes e as mais abrangentes possíveis da experiência humana com o mundo natural.

Mach, por outro lado, pode ser interpretado como um positivista influenciado pelo pensamento darwinista se ressaltarmos como, para ele, a ciência seria um discurso privilegiado sobre a realidade (Tourinho, 2003). Apesar da continuidade entre o conhecimento comum e o da ciência - que Mach destaca - esta última ainda incorporaria de maneira mais eficiente um princípio de economia, organizando, de modo mais produtivo, a experiência. Sua noção de verdade, entretanto, o distanciaria um pouco da tradição positivista. Para Mach, a "verdade era uma questão de promoção da adaptação de um indivíduo ou da espécie ao ambiente circundante" (Smith, 1989, p. 272, apud Tourinho, 2003, p. 33), o que descarta qualquer concepção de universalidade das afirmações científicas.

1.4- Percy Bridgman (1882-1961)

Bridgman também parte de uma crítica às noções mecanicistas de realidade e de causalidade para desenvolver seus conceitos sobre a prática científica. Esse autor, na obra que será citada por Skinner em seus trabalhos (Bridgman, 1928), critica o modo como Newton definia conceitos como os de tempo, massa e comprimento a partir de propriedades não-naturais, não verificáveis empiricamente (Tourinho, 1987). Para Bridgman, os conceitos deveriam resumir-se à descrição dos tipos de procedimento (operações) que foram utilizados para o estudo do fenômeno a que se referem (Micheleto, 2001). O conceito de comprimento, por exemplo, não deveria ser entendido como uma propriedade intrínseca das coisas, mas como sinônimo do conjunto de acções realizadas para chegar-se ao número que chamamos de comprimento das coisas. Essas noções, associadas ao movimento operacionista, tiveram uma grande influência sobre os psicólogos de Harvard por volta dos anos trinta, aí incluído Skinner - que, já em 1930, na sua tese de doutorado, tentava aplicá-las à análise do conceito de reflexo.

1.5- Os primeiros trabalhos de Skinner

Na sua tese de doutorado, defendida em 19303, e em alguns trabalhos posteriores (ao menos até 1937), Skinner busca realizar uma análise científica do comportamento a partir do conceito de reflexo - um objecto de estudo que lhe permitia observar e controlar as variáveis ambientais que o determinavam e elaborar previsões (Micheletto, 2001). Na sua tese, Skinner empreende uma revisão histórica do conceito (como já haviam feito Mach e Bridgman com os conceitos da Física) e acaba por defini-lo (operacionalmente, como advogado por Bridgman) como uma correlação observada entre um estímulo e uma resposta. O modo como, em sua tese e nesse período inicial, Skinner busca estabelecer sua ciência do comportamento o aproxima bastante das transformações que vinham ocorrendo na Física da época. Como Micheletto (2001) ressalta:

No conceito de reflexo de Skinner: Essa delimitação da correlação a eventos observados nos extremos da série estímulo e resposta afasta a análise do comportamento do interesse pela mediação de estruturas localizadas no sistema nervoso. A crítica de Mach e Bridgman aos supostos mecanicistas de um meio necessário à propagação ou condução de efeitos causais pode ser relacionada à não consideração de estruturas mediadoras na análise do comportamento (p. 33).

Skinner também se aproxima das propostas críticas ao mecanicismo na Física no que tange a: 1) sua definição operacional do conceito de reflexo; 2) uma noção de explicação que a iguala à de descrição, e 3) o abandono da noção de causalidade mecânica e a ênfase sobre o estabelecimento de relações funcionais entre eventos observados. Como o próprio Skinner afirmou, referindo-se ao início de sua carreira: "meu compromisso era com o empiricíssimo de Ernst Mach" (Skinner, 1989/1995c, p.149).

A noção de ciência que parece guiar os primeiros trabalhos de Skinner, assim, deve muito a Mach e a Bridgman. A ênfase sobre o empírico e sobre as experiências concretas vivenciadas pelo cientista, a afirmação da indissociabilidade entre as operações empregadas na investigação e o conhecimento obtido e a sustentação da ciência como discurso mais eficiente: todas essas noções presentes no pensamento skinneriano devem muito à influência dos dois físicos. Nesse período inicial, também devem ser ressaltados ao menos dois aspectos do pensamento skinneriano que viriam a ser bastante modificados (Micheletto, 2001). Em primeiro lugar, Skinner ainda supõe que, na análise do comportamento, deve-se buscar estabelecer uma relação do comportamento com algum evento anterior  que provocaria aquela determinada resposta. Isso parece estar associado, ainda, a um demasiado comprometimento com o conceito de reflexo (reconhecido, mais tarde, pelo próprio Skinner (Skinner, 1989/1995). Em segundo lugar, o pensamento de Skinner aparece, nessa época, ainda fortemente associado a um "suposto atomizador".

É fundamental notar, ainda, que muitas concepções ou foram abandonadas ou sofreram alterações já durante o decorrer desse período. Em 1935, por exemplo, Skinner abandona a hipótese de que o questionamento da relação entre o conhecimento e o real seria sem sentido (o que o afasta de Mach e Bridgman) (Micheletto, 2001). Skinner passa a entender o processo do conhecer como fruto da relação entre uma realidade independente e um sujeito ativo que opera sobre ela a partir dos seus procedimentos de investigação (com seus respectivos limites e possibilidades). Em 1937, além disso, com a elaboração do conceito de operante, ele descarta a necessidade de, para qualquer acção, identificar-se um evento antecedente que a provoque. Como o próprio Skinner coloca:

A acção de um estímulo em `eliciar' uma resposta era um bom exemplo de controlo, e vários comportamentalistas permaneceram comprometidos com alguma versão do esquema estímulo-resposta por muitos anos; mas, de acordo com meus experimentos, o que acontecia depois que um organismo se comportava desempenhava um papel muito mais importante do que o que acontecia antes (Skinner, 1989/1995, p. 176).

Por fim, vale ressaltar que, apesar da influência da Biologia sobre suas concepções de ciência e comportamento só aparecer mais marcadamente no período final de sua obra, desde essa época Skinner se refere à importância dessa disciplina na sua formação intelectual. (p. 164).

1.6- 1953: "ciência e comportamento humano"

Seguindo o desenvolvimento da obra de Skinner, cabe questionar se, em 1953, com a publicação de Ciência e Comportamento Humano, suas concepções de ciência e comportamento humano teriam -se diferenciado das de seu período inicial. Outras influências sobre o seu pensamento podem ser vislumbradas? Que outras concepções próprias podem ser aí destacadas?

Logo nas primeiras páginas do livro, na "Apresentação da edição brasileira", Skinner enfatiza a necessidade de o conhecimento ser útil e ter um significado prático. Para ele, a ciência poderia e deveria ser um "corretivo" para os problemas humanos (Skinner, 1953/1970, cap. I). Esse argumento é uma constante em toda a obra de Skinner.

1.6.1- Sobre ciência

Inicialmente, já no primeiro capítulo da obra, Skinner afirma que a ciência seria uma tentativa de descobrir ordem no mundo, de relacionar ordenadamente alguns acontecimentos com outros. A busca de ordem, porém, não seria apenas o objetivo da ciência, seria também um pressuposto seu. Para se buscar relacionar ordenadamente acontecimentos do mundo, tem-se que, primeiro, supor que esses acontecimentos já sejam, de alguma forma, ordenadamente relacionados entre si. Os objectivos da ciência seriam, assim, a descrição, a previsão e o controle. Note-se que Skinner não menciona a explicação como um dos objetivos da ciência - como muitos autores o fazem. Podemos atribuir essa atitude à noção machiana da equivalência entre descrição e explicação.

No segundo capítulo do livro ("Uma ciência do comportamento"), Skinner passa a discutir, de modo mais prolongado, as características da ciência como ele a entende. Logo no início, por exemplo, o autor comenta: "Como apontou George Sarton, a ciência é única ao mostrar um progresso acumulativo" (Skinner, 1953/1970, p.15, grifo nosso), isto é, para Skinner, os "resultados tangíveis e imediatos" da ciência poderiam ser comparados de modo a se mostrar, por exemplo, que a eficácia da ciência moderna é muito superior à da ciência grega.

Em seguida, Skinner comenta que a ciência produz "acumulações organizadas de informação". O que lemos, quando estudamos física, química ou biologia, seriam bons exemplos de tais "acumulações". Ele ressalta, no entanto, que não podemos tomar a presença desses resultados específicos da ciência (conceitos, leis e teorias da Física, da Química ou da Biologia) em outros campos do saber como indicadores fidedignos de que também aí se utilizou o mesmo processo científico de investigação. "Essas acumulações não são a ciência mesma, mas os produtos da ciência" (Skinner, 1953/1970, p. 15), isto é, se a ciência deve visar, sim, à produção de tais acumulações organizadas de informação - o que também nos remete à noção de economia conceitual de Mach - a importação de conceitos de outras disciplinas científicas não pode ser tomada como garantia de cientificidade.

Logo a seguir, o autor cita alguns outros aspectos comuns a diversas ciências e importantes para a prática científica, mas que não poderiam ser tomados como características definidoras, essenciais, da ciência: a medida exata, o cálculo matemático e uso de instrumentos (aparelhos de pesquisa ou instrumentos matemáticos).

Desses comentários, podemos começar a construir uma imagem da prática científica como um empreendimento singular, acumulativo e capaz de dar conta de todos os fenômenos naturais a partir da mesma abordagem. Essa última ideia - a de que uma mesma abordagem pode dar conta da totalidade dos fenômenos naturais - porém, não deve ser entendida como uma recomendação para o uso dos mesmos métodos - e muito menos dos mesmos conceitos - em todas as disciplinas. As características essenciais da ciência para Skinner, e que deveriam, estas sim, ser adotadas para o estudo de qualquer assunto, não são determinados conceitos, instrumentos ou métodos rígidos, mas, sim, atitudes. Como o próprio Skinner (1953/1970) comenta: "A ciência é, antes de tudo, um conjunto de atitudes" (p. 15). Estas poderiam ser resumidas nas três seguintes:

      A ênfase nos fatos, nos dados, no empírico - o que deveria levar à rejeição da autoridade e dos desejos do pesquisador quando estes interferem no contato com a natureza;

      A honestidade intelectual - ressaltada também por Bridgman (que Skinner cita neste ponto);

      E o afastamento de conclusões prematuras. Mais à frente, em outros capítulos, o autor continua a enumerar outras características da sua concepção de ciência. Skinner cita o abandono do conceito de "relação de causa e efeito" em favor do de "relação funcional". Para ele, a ciência estudaria mudanças nas variáveis independentes e dependentes. Os novos termos, continua, não sugerem como uma causa produz um efeito. Nesse ponto, parece novamente clara a influência de Mach.

1.7- O estudo científico do comportamento humano

Uma compreensão mais clara da noção de ciência desenvolvida por Skinner nessa obra pode ser obtida a partir das suas concepções sobre o estudo (científico) do comportamento humano. Ao tratar do tema, Skinner começa enfatizando a extrema complexidade desse objeto de estudo. Ressalta que essa é uma das objeções normalmente levantadas contra a possibilidade de uma ciência do comportamento e descarta-a por considerar que: 1) "da complexidade não se segue a autodeterminação" 2) nada se pode afirmar sobre os limites das investigações desse objecto até que tenhamos tentado, e, mais importante, 3) pode-se simplificar as condições em laboratório ou através de análises estatísticas. (Skinner, 1953/1970, p. 20).

A importância das técnicas experimentais e matemáticas para o estudo do comportamento (mesmo sem serem consideradas essenciais), aqui novamente ressaltadas pelo autor, deve ser marcada como uma das características do seu pensamento. O estabelecimento de relações quantitativas entre as variáveis em estudo, obtidas após um adequado controle das condições experimentais, parece ser a via privilegiada de descrição científica para Skinner. No estudo das variáveis que controlam o modo como os organismos se comportam, assim, "qualquer condição ou evento que tenha algum efeito demonstrável sobre o comportamento deve ser considerada" Essas condições (ou eventos) deveriam ser descobertas e analisadas, preferencialmente, de forma quantitativa. (Skinner, 1953/1970, p. 21).

Tendo delimitado o tipo de análise que a ciência deveria empreender, o autor passa a especificar mais claramente quais seriam as variáveis das quais o comportamento é função. As variáveis a serem consideradas deveriam ser aquelas ao alcance de uma análise científica, aquelas que estão fora do organismo, em seu ambiente imediato e em sua história ambiental. [Aquelas que] Possuem um status físico para o qual as técnicas usuais da ciência são adequadas e permitem uma explicação do comportamento nos moldes da de outros objetos explicados pelas respectivas ciências (Skinner, 1953/1970, p. 26, grifo do autor).

Em suma, em Ciência e Comportamento Humano, delineia-se uma concepção mais completa de ciência, que apresenta diversas continuidades com as noções do período inicial. A adesão a definições operacionais e a uma concepção de explicação que a iguala à de descrição de relações funcionais entre variáveis permanece como uma herança já daquele período. Skinner também parece manter uma concepção da ciência como um modo de produção de conhecimento que não se restringiria a alguns objetos de estudo, que abarcaria tanto a Física quanto a Biologia e a Psicologia, por exemplo.

Aqui, Skinner também aborda mais especificamente o comportamento humano, e aí podemos ver todo um campo de discussão que, pelo menos, não era explícito no início da sua carreira. Um conjunto de concepções próprias utilizadas na abordagem desse objeto torna-se aqui de grande importância: o conceito de comportamento operante é amplamente utilizado e chega a ser predominante no livro; as análises que utilizam o conceito de comportamento verbal também são abundantes; a importância do comportamento social para as ações humanas é destacada (toda uma seção do livro.

O comportamento de pessoas em grupo" -é dedicada ao assunto), e as questões relativas à descrição, evolução e planejamento de culturas ocupam outra grande parte do livro. Skinner ressalta, além do mais, a extrema complexidade desse objeto de estudo - afirmação tantas vezes omitida por seus críticos - e sugere, para lidar com isso, a simplificação experimental das condições envolvidas. Vale a pena notar que, apesar de a ciência do comportamento a que Skinner se refere durante todo o livro ser a Análise Experimental do Comportamento, suas interpretações e comentários extrapolam grandemente o escopo das investigações produzidas nesse âmbito.

1.8- As influências da biologia e os pontos fundamentais da proposta skinneriana sobre a ciência e o comportamento

Podemos perceber, ao longo do desenvolvimento da obra de Skinner, uma ampliação da sua concepção de objeto de estudo  (Micheletto, 2001). Um primeiro marco importante nesse sentido é a elaboração do conceito de comportamento operante, em 1937. Com este, o sentido da ação dos organismos se amplia para englobar a operação dos organismos sobre o mundo e o efeito das suas consequências sobre as ações futuras.

Um segundo momento que podemos destacar é aquele em que Skinner explicita mais claramente as diferenças entre o seu projeto de ciência e os dos outros comportamentalismos, com a publicação do artigo "The operational analysis of psychological terms",5 em 1945 (Tourinho, 1987). É aí que fica bem marcada sua oposição a uma concepção de verdade por consenso público (acatada pelo comportamentalismo metodológico). A aceitação de um fenômeno ou de um conceito por uma ciência do comportamento não é mais vinculada a sua acessibilidade a pelo menos duas pessoas; o fundamental passa a ser se o cientista pode operar eficazmente com ele - trata-se de um critério mais instrumental, pragmatista (Tourinho, 1987). A interpretação6 é postulada como um método legítimo da ciência. É ainda naquele mesmo artigo (de 1945) que Skinner, como uma derivação dessa sua concepção de verdade, deixa claro que os eventos privados  (conjunto de eventos e comportamentos que ocorrem sob a pele do indivíduo) incluem-se como objetos legítimos de estudo de uma ciência do comportamento.

Um terceiro momento significativo no processo de ampliação do seu objeto de estudo envolve a incorporação do comportamento verbal e da importância do ambiente social para o estudo do fazer humano - que pode ser simbolicamente marcado pelo lançamento do livro "O Comportamento Verbal" (Skinner, 1957/1978), mas que já se encontra presente ao menos desde 1953 (Skinner, 1953/1970). É aí que toda uma ampla gama de aspectos da ação humana vai ser definitivamente abarcada pelo pensamento skinneriano: questões relativas à cultura, à moral, à dinâmica da própria comunidade científica, etc.

Paralelamente à expansão do objeto de estudo, vamos assistir também a uma ampliação das determinações do comportamento alegadas por Skinner. Partindo de uma determinação mais restrita e imediata logo no começo de sua obra (associada à sua ênfase inicial no conceito de reflexo), passando por uma ampliação com a invenção7 do conceito de operante (já presente em 1953), a concepção da determinação ambiental do comportamento vai acabar sendo definida (no período pós-1953) como resultado da interação entre as história filogenética (seleção natural), ontogenética (condicionamentos) e cultural (evolução cultural) do indivíduo.

Tais mudanças no modo de encarar a ação humana - expansão do objeto de estudo pertinente a uma ciência do comportamento e ampliação de suas determinações - podem ser entendidas como resultado de uma influência crescente da Biologia sobre o pensamento de Skinner. Segundo Micheletto (2001):

Esse novo significado dado ao fazer se vincula às influências das ciências biológicas, especificamente a teoria da evolução por seleção natural, que trazem para o comportamento um novo conjunto de pressupostos. As referências aos supostos da teoria da evolução por seleção natural começam a aparecer a partir da distinção entre reflexos respondentes e operantes. A vinculação com a seleção natural vai ficando cada vez mais explícita e abrangente. Se de início Skinner busca na seleção natural os princípios que orientam sua concepção de objeto, gradualmente esses princípios se estendem à própria noção de causalidade (p. 38).

A influência das ciências biológicas também se estende à noção de causalidade adotada por Skinner após a elaboração do conceito de operante (Micheletto, 2001). A noção de seleção pelas consequências implicou, desde o início de seu uso por Skinner, um afastamento ainda maior de uma causalidade mecanicista do comportamento. Pelo menos dois importantes aspectos podem ser enumerados para confirmar tal assertiva: a seleção pelas consequências é uma forma de causalidade muito menos visível do que aquela da Física do século XIX (e muito mais complexa), e é uma forma de combater as noções metafísicas que se infiltraram na mecânica clássica e que orientaram concepções mentalistas de uma mente criadora (Micheletto, 2001). Vale lembrar que essa forma de causalidade foi estendida por Skinner aos três níveis de determinação do comportamento (filogénese, ontogênese e cultura) - todos explicados em termos selecionistas (Tourinho, 2003).

 

 

 

2- METODOLOGIA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Em suma, podemos perceber que, desde o início de sua obra, Skinner se alinha a concepções críticas ao mecanicismo. Isso o leva a abandonar desde cedo a necessidade de referir-se a mecanismos físicos para dar conta da relação entre as operações do ambiente e a ação humana (suas críticas vão dirigir-se especialmente a referências ao sistema nervoso, real ou hipotético). Seguindo as concepções de Mach e Bridgman, a causalidade mecânica é criticada e substituída pela busca de relações funcionais entre variáveis. Também o modo como os conceitos são definidos é proposto de forma a evitar os problemas do mecanicismo e a promover uma ênfase sobre os dados empíricos. O operacionismo de Bridgman leva Skinner a elaborar conceitos tendo sempre como base as operações práticas envolvidas na sua mensuração.

O comportamento não é algo estático e imutável. Na concepção behaviorista radical, o comportamento é apenas uma parcela da actividade total de um organismo. Outra definição possível, de acordo com essa ciência, é que o comportamento é a interação do organismo com o meio, modificando-o, e por sua vez, sendo modificado. Sugere-se, ainda, que o comportamento é fruto da interrelação de três níveis de seleção: filogenético, ontológico e cultural (SKINNER, 1974; 1984).

Além dos princípios da análise funcional e do operacionismo, é também fundamental para o seu recorte básico de abordagem à realidade, desde o início de sua obra, a adoção do externalismo. Para Skinner, as variáveis que deveriam ser consideradas nas relações funcionais envolvidas na ação humana seriam aquelas externas ao organismo em estudo, aquelas relativas a seu ambiente, variáveis essas que também deveriam ser passíveis de descrição pelas ciências naturais.

O objecto de estudo para o qual esse modo de investigação se volta - o comportamento ou a ação humana é visto de modo cada vez mais complexo ao longo da obra de Skinner. Começando com estudos restritos aos reflexos e associados a uma causalidade limitada aos eventos anteriores mais imediatos, Skinner passa a investigar o comportamento operante, o comportamento verbal e social e mesmo práticas culturais mais amplas, baseando-se numa perspectiva selecionista e na multideterminada do humano. Em última instância, o objecto a que Skinner atribui a sua ciência do comportamento pode ser entendido como o resultado da inter-relação de processos seletivos operando em três níveis: filogenético (relativo à espécie), ontogenético (relativo ao indivíduo) e cultural (relativo à sociedade), um objecto que, dessa forma, só pode ser devidamente compreendido na sua singularidade e levando-se em consideração suas diversas relações e níveis de determinação.

Dada a extrema complexidade do comportamento humano, uma ciência que se volte para ele deve, segundo Skinner, valer-se de algumas "ferramentas" que lhe facilite o contato com esse objecto. Nesse sentido, seriam importantes para a sua investigação:

      Uma busca pelo controlo e simplificação das condições envolvidas  (que poderia ser entendida como uma preferência pela experimentação);

      Uma busca por descrições quantitativas das relações funcionais, especialmente em termos de frequência e probabilidade;

      Atitudes de honestidade intelectuais e cautela no estabelecimento de conclusões;

      A adoção da previsão e do controle como critérios últimos de validação do conhecimento.

Um último (e fundamental) ponto no que se refere à ciência do comportamento proposta por Skinner parece estritamente relacionado a um dos dilemas mais prementes de nossos dias: o da ética da investigação e da prática científica. Skinner sempre justificou (e lutou) por uma ciência do comportamento com base na crença de que ela poderia ajudar na resolução da maioria dos grandes problemas com que nossa cultura convive. Para ele, o sentido último do empreendimento de uma análise do comportamento não era teórico, mas prático: o objetivo final dessa ciência seria o de promover a sobrevivência da cultura  (Dittrich, 2004). Os analistas do comportamento, assim, deveriam voltar-se sempre para o desenvolvimento de uma ciência e de uma profissão voltados para tal fim.

Assim, para os behavioristas radicais, o comportamento está intimamente ligado ao que a cerca, são passiveis de modificar e serem modificados ao longo de sua história enquanto espécie e depende de múltiplos fatores.

 

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

·         BAUM, W. Compreender o Behaviorismo: Ciência, Comportamento e Cultura. Porto Alegre: Ed. Artes Médicas Sul, 1999.  

·         BRIDGMAN, P. W. The Logic of Modern Physics. Nova Iorque: The MacMillan Company, 1928.  

·         DITTRICH, A. Behaviorismo Radical, Ética e Política: Aspectos Teóricos do Compromisso Social. Tese de Doutorado em Filosofia. Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2004.  

·         GLENN, S. S. Contingencies and Metacontingencies: toward a Synthesis of Behavior Analysis and Cultural Materialism. The Behavior Analyst, v. 11, n. 2, 1988, pp. 161-179. 

·         HACKENBERG, T. D. Jacques Loeb, B. F. Skinner, and the Legacy of Prediction and Control. The Behavior Analyst, v. 18, n. 2, 1995, pp. 225-236.     

·         HAGGBLOOM, S. J.; WARNICK, R.; WARNICK, J. E.; JONES, V. K.; YARBROUGH, G. L.; RUSSELL, T. M.; BORECKY, C. M.; McGAHLEY, R.; POWELL, J. L.,III; BEAVERS, J.; MONTE, E. The most Eminent Twentieth Century Psychologists. Review of General Psychology, v. 6, 2002, pp. 139-152. 

·         MALAGODI, E. F. On Radicalizing Behaviorism: a Call for Cultural Analysis. The Behavior Analyst, v. 9, n. 1, 1986, pp. 1-17.  

·         MALOTT, R. W. Rule-governed Behavior and Behavioral Anthropology. The Behavior Analyst, v. 11, n. 2, 1988, pp. 181-203. 

·         MICHAEL, J. Flight from Behavior Analysis. The Behavior Analyst, v. 3, n. 2, 1980, pp. 1-22.     

·         MICHELETTO, N. Bases Filosóficas do Behaviorismo Radical. In Banaco, R. A. (org.). Sobre Comportamento e Cognição: Aspectos Teóricos, Metodológicos e de Formação em Análise do Comportamento e Terapia Cognitivista. Santo André, SP: ESETec, 2001, pp. 29-44.  

·         SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, S. E. História da Psicologia Moderna. São Paulo: Cultrix, 2000.      

·         SKINNER, B. F. Behaviorism and Logical Positivism de Laurence Smith. In ______. Questões Recentes na Análise Comportamental. Campinas, SP: Papirus, (1989), 1995c, pp. 145- 150.     

·         _____. Ciência e Comportamento Humano. Brasília: Ed. UnB/ FUNBEC, (1953), 1970.

·         __________. O Comportamento Verbal. São Paulo: Cultrix/ EDUSP, (1957), 1974.     

·         _______. Can Psychology Be a Science of Mind? American Psychologist, v. 45, n. 11, 1990, pp. 1206-10.  

·         _____________. Sobre o Behaviorismo. São Paulo: Cultrix, (1974), 1995a.       

·         ______. The Behavior of Organisms aos Cinquenta Anos. In ______. Questões Recentes na Análise Comportamental. Campinas, SP: Papirus, (1989), 1995b, pp. 163- 181.

·         TOURINHO, E. Z. Sobre o Surgimento do Behaviorismo Radical de Skinner. Psicologia, v. 13, n. 3, 1987, pp. 1-11.    

·         __________.Behaviorismo Radical, Representacionismo e Pragmatismo. Temas em Psicologia, n. 2, 1996, pp. 41-56.

·         _________. A Produção de Conhecimento em Psicologia: a Análise do Comportamento. Psicologia: Ciência e Profissão, v. 23, n. 2, 2003, pp.30-41. 



 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

DEDICATÓRIA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

AGRADECIMENTOS

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

EPIGRAFE 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

RESUMO

Actualmente, não se pode pensar no estudo do comportamento humano sem considerar a abordagem científica a este objecto: o campo da Psicologia científica. Esse campo é disputado por diversos enfoques teóricos que divergem quanto ao modo como definem ciência e comportamento humano. A abordagem de B. F. Skinner foi bastante proeminente no século XX, mas ainda continua a ser mal-entendida. Partindo do desenvolvimento histórico de sua obra, o presente texto visa a iluminar alguns aspectos relacionados às noções de ciência e comportamento humano desse autor e ressaltar as transformações por que passaram. Analisam-se três tópicos da obra de Skinner: seu período inicial (de 1930 a cerca de 1938), a obra "Ciência e Comportamento Humano" de 1953, e as influências da Biologia. São enfatizados aspectos relevantes da sua teorização sobre o tema: busca por relações funcionais, ênfase nos dados empíricos, operacionismo, externalismo, multideterminada do comportamento, experimentalismo, previsão e controle, ética.

Palavras-chave: Skinner, B. F., Comportamentalismo, Ciência, Comportamento.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

SUMÁRIO

 

DEDICATÓRIA. 4

AGRADECIMENTOS. 5

EPIGRAFE. 6

RESUMO.. 7

INTRODUÇÃO.. 8

1- ENQUADRAMENTO DO TEMA. 11

1.1- As transformações do pensamento de Skinner. 12

1.2- 1930-1938: o período inicial e as influências da física. 13

1.3- Ernst Mach (1838-1916) 14

1.4- Percy Bridgman (1882-1961) 15

1.5- Os primeiros trabalhos de Skinner. 15

1.6- 1953: "ciência e comportamento humano". 17

1.6.1- Sobre ciência. 17

1.7- O estudo científico do comportamento humano. 19

1.8- As influências da biologia e os pontos fundamentais da proposta skinneriana sobre a ciência e o comportamento. 21

CONSIDERAÇÕES FINAIS. 23

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. 26

 



INTRODUÇÃO

 

O presente trabalho apresenta uma discussão teórica da análise do comportamento na perspectiva behaviorista radical de Skinner. Para tal objectivo, serão expostas algumas das possíveis contribuições do behaviorismo radical no que tange a definição, como esse repertório comportamental é desenvolvido, sua funcionalidade e importância para o indivíduo. A consciência em Skinner.

Antes de iniciar qualquer discussão a respeito do conceito de consciência no behaviorismo radical, é necessário apresentar alguns princípios dessa filosofia analítico comportamental. Primeiramente, deve-se esclarecer que o behaviorismo radical tem por objecto de estudo o comportamento dos organismos e parte de uma perspectiva em que considera o indivíduo um ser monista, ou seja, o organismo e mente ou qualquer objecto metafísico, como a alma, encontram-se na mesma esfera de existência na qual não existem divisões (SKINNER, 1974; 1977).

O comportamento não é algo estático e imutável. Na concepção behaviorista radical, o comportamento é apenas uma parcela da actividade total de um organismo (SKINNER, 1938). Outra definição possível, de acordo com essa ciência, é que o comportamento é a interação do organismo com o meio, modificando-o, e por sua vez, sendo modificado (SKINNER, 2003). Sugere-se, ainda, que o comportamento é fruto da interrelação de três níveis de seleção: filogenético, ontológico e cultural (SKINNER, 1974; 1984).

Assim, para os behavioristas radicais, o comportamento está intimamente ligado ao que a cerca, são passiveis de modificar e serem modificados ao longo de sua história enquanto espécie e depende de múltiplos factores. O primeiro nível de seleção refere-se aos processos evolutivos, no qual alterações das características hereditárias nos grupos de organismos, que favoreceram a adaptação da espécie, são selecionados e transmitidos em nível genético. Em relação ao segundo nível, o ontológico, refere-se ao histórico do repertório comportamental de um indivíduo, estabelecido ou não por seu histórico de reforçamento. Para Skinner (2003), o reforço é apresentado de duas maneiras: positivo, quando o evento sucede a apresentação do estímulo (afago, comida ou água, por exemplo), e negativo, que consiste na retirada de um estímulo aversivo/desagradável (remoção de um choque, luz ou som muito forte, dentre outros). Os comportamentos são selecionados de modo operante, de acordo com sua experiência que, por sua vez, aumenta ou diminui a probabilidade de determinado comportamento voltar a ocorrer. (SKINNER, 1957).

Todo comportamento é, inicialmente, não-racional e inconsciente, ele sendo efetivo ou não, e tem probabilidades em tornar-se consciente sem se tornar racional, considerando que as contingências responsáveis por ele não foram investigadas, como por exemplo: um indivíduo pode saber o que está fazendo sem necessariamente saber o porquê (SKINNER, 1974).

Os comportamentos em geral, são determinados pelas relações entre os eventos, que no behaviorismo radical é compreendido como contingências de reforço. E é influenciado pelos três níveis de seleção pelas consequências (filogenético, ontogenético e cultural), destacando que o comportamento não está na ação e sim na relação entre eventos, como por exemplo: (a) estímulo; (b) resposta; e (c) consequência. O que pode afetar diretamente o modo em que vivenciamos e relatamos determinados eventos. Portanto, Skinner (1974) destaca que a consciência e o autoconhecimento, para o behaviorismo radical, são passíveis de distorção e a natureza do que é sentido ou observado deve ser questionado. (SKINNER, 1974).

Contudo, em grande parte do tempo, o comportamento é inconsciente, porém não menos efetivo, devido a limitações em “nos observar e descrever sempre que nos comportamos, e também porque as contingências de reforço a que estamos submetidos continuam sendo efetivas mesmo quando não temos conhecimento delas’’ (ROSE et al., 2012, p. 205).

 

PROBLEMA

 

 

Objecto de estudo

 

 

JUSTIFICATIVA

 

Objectivos

 

Formulação de Hipóteses

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1- ENQUADRAMENTO DO TEMA

 

"O comportamentalismo, com acentuação no "ismo", não é o estudo científico do comportamento, mas uma filosofia da ciência preocupada com o tema e métodos da psicologia." (Skinner, 1980, p.339).

Similarmente, a análise experimental do comportamento não é uma área da psicologia, mas uma maneira de estudar o objecto da psicologia. Este trabalho é uma tentativa de esclarecer os significados dos termos "behaviorismo", "análise experimental do comportamento" e "psicologia", e uma tentativa baseada principalmente nas contribuições de B.F. Skinner e de Harzem e Miles (1978).

A análise do comportamento, que não se limita à análise experimental do comportamento, como veremos a seguir, origina-se de uma posição behaviorista assumida por Skinner por motivos mais históricos que puramente lógicos. Skinner parte da constatação de que há ordem e regularidade no comportamento. Um vago senso de ordem emerge da simples observação mais cuidadosa do comportamento humano.

O termo "behaviorismo" tem sido utilizado de diversas maneiras e de tal modo que se pode afirmar que há muitas variedades de significado para ele. Desde o manifesto de Watson, muitas características foram atribuídas ao termo. Muitas delas perderam-se no tempo ante críticas irrespondíveis, outras permanecem. Para Harzem e Miles, a palavra behaviorismo tem uma "família de significados", e por isso, além de desnecessário, é um equívoco esperar-se encontrar o seu "verdadeiro" significado. Portanto, a menos que se faça a distinção entre as diversas variedades de significado, não é útil proclamar-se "a favor" ou "contra" o behaviorismo.

As noções de comportamento humano e de ciência, enfim, tornaram-se praticamente indissociáveis, e é justamente a partir desse momento que diversos projectos de conhecer cientificamente o comportamento humano começam a competir e que o que se entende por ciência e/ou como aplicá-la devidamente a esse campo passa a ser alvo de disputas dentro da nascente Psicologia científica.

Um momento fundamental nessa disputa pelo projeto dominante de Psicologia científica é a proposição, por Burrhus Frederic Skinner, do seu Comportamentalismo Radical. Chegando a ser considerado o psicólogo mais eminente do século XX (Haggbloom et al., 2002), Skinner marcou profundamente toda a Psicologia americana (e, em conseqüência, a Psicologia mundial) do século passado e continua ainda hoje a ser amplamente estudado, discutido e a ter suas proposições ampliadas e revisadas (por ex. Glenn, 1988; Malagodi, 1986 e Malott, 1988). Afora sua importância para a construção da Psicologia como a conhecemos hoje, um conhecimento mais aprofundado do discurso de Skinner é também fundamental para evitar (ou buscar remediar) um conjunto de mal-entendidos que cercam seu pensamento. É para os fundamentos filosóficos do comportamentalismo radical, assim, que este trabalho se voltará.

De início, "Pode-se dizer que as bases fundamentais que norteiam a obra de Skinner estão vinculadas a sua pretensão de fazer da Psicologia uma ciência e, para compreender essas bases filosóficas, precisamos identificar os modelos de ciência que ele adota." (Micheletto, 2001, p. 31). É assim que, para nos aproximarmos da abordagem comportamentalista radical definida pelo próprio Skinner (1974/1995), inclusive, como a de uma filosofia da ciência  buscaremos empreender uma análise da sua concepção de ciência, pilar essencial para a fundamentação de qualquer modo dito científico de encarar o homem e o seu comportamento. Indissociável desse objetivo, aparece como essencial também a discussão da sua concepção de comportamento humano. Dessa forma, buscaremos assinalar algumas influências e transformações por que passaram tais concepções (e outras relacionadas: causalidade, explicação, etc.) no desenvolvimento da obra de Skinner.

1.1- As transformações do pensamento de Skinner

Desde suas primeiras publicações, em 1930, até "Can Psychology be a science of mind?"2  (Skinner, 1990), artigo completado na véspera de sua morte, Skinner desenvolveu uma verdadeira visão de mundo  (Michael, 1980), que aborda as mais diversas questões (ética, educação, organização social, cultura etc.) de um ponto de vista muito particular. Essa extensa obra, como qualquer outra de seu porte, é perpassada por aspectos unificadores, mas também por transformações.

Por um lado, pode-se afirmar que toda a sua obra é marcada por alguns pontos gerais que parecem permanecer inalterados:

·         O estabelecimento do objecto de estudo - o comportamento; a suposição do comportamento como determinado; a pretensão de fazer uma análise científica do comportamento a partir da noção de ciência proposta pela ciência natural; o estudo realizado a partir do dado empírico; o afastamento de toda metafísica do saber científico; a proposta de previsão e controle (Micheletto, 2001, p. 30).

Essas marcas, por outro lado, além de muito genéricas, tiveram seu sentido alterado ao longo da obra de Skinner. Como esperamos demonstrar no decorrer deste texto, ao menos dois grandes momentos podem ser distinguidos nesse processo. Por um lado, um período inicial englobando aproximadamente os anos de 1930-38, em que o autor, como ele próprio admitiria depois (Skinner, 1989/1995b, p. 176), ainda "estava comprometido em demasia com o `reflexo'" em termos da sua noção de comportamento (apesar de as suas investigações o terem conduzido à formulação do conceito de operante ainda em 1937) e onde a influência de uma concepção de ciência adotada pela Física era proeminente.

 Por outro lado, em um período posterior, em que seu foco de interesse recai mais sobre o comportamento operante, suas concepções vão gradualmente amadurecendo e sua noção de ciência passa a ser mais marcadamente influenciada pelas noções da Biologia. Esses dois momentos, entretanto, se imbricam no desenvolvimento da obra skinneriana: pode-se perceber a presença de certas concepções do período inicial nos escritos posteriores de Skinner e interpretar algumas mudanças de concepção como um desenvolvimento do próprio pensamento do autor. Essas alterações, em alguns dos fundamentos filosóficos da sua visão de mundo, podem ser responsáveis, porém, por parte das interpretações errôneas do comportamentalismo radical. É para uma breve análise dessas transformações no pensamento de Skinner que agora nos voltamos.

1.2- 1930-1938: o período inicial e as influências da física

A adesão de Skinner ao comportamentalismo e seu consequente ingresso na pós-graduação em Psicologia de Harvard (em 1928) podem ser atribuídos, em grande parte, a sua leitura do livro "Behaviorism", de John B. Watson (Skinner, 1989/1995b). De fato, podemos admitir, com o próprio Skinner, que, desde o início, a sua concepção de Psicologia, de estudo do comportamento, era muito semelhante àquela proposta por Watson em seu famoso artigo de 1913: "Segundo o ponto de vista comportamentalista, a Psicologia é um ramo puramente objetivo e experimental da ciência natural. Seu objetivo teórico é a predição e o controle do comportamento" (citada por Skinner, 1989/1995b, p. 165). Foram as aspirações de uma ciência do comportamento voltada para a previsão e o controle que o motivaram a ingressar na Psicologia. Assim, desde o princípio, Skinner pretendia levar a cabo uma análise científica do comportamento a partir de uma noção de ciência fortemente inspirada nas ciências naturais (Micheletto, 2001). Cabe assinalar, entretanto, quais seriam, mais especificamente, as principais influências que convergiram para moldar a forma como ele empreenderia essa aspiração.

O modelo de ciência que inicialmente vai influenciar Skinner é aquele associado às transformações por que a Física passava no final do século XIX e início do século XX e às críticas que, nessa época, se levantavam contra o modelo mecanicista fundado na Física newtoniana (Micheletto, 2001). O modelo mecanicista explicava os eventos do mundo em termos da ação causal de forças diversas, no tempo e no espaço, sobre a matéria. Cada coisa se moveria devido à interação mecânica com outras coisas, todas sujeitas a um conjunto de forças. Nesse modelo, além disso, considerava-se que a realidade possuísse existência independente do sujeito que a experiencia e o princípio de explicação dessa realidade deveria ser sempre baseado em um mecanismo.

1.3- Ernst Mach (1838-1916)

Para Ernst Mach, o avanço da Física dependia do afastamento de concepções metafísicas pressupostas na elaboração de muitos dos conceitos dessa disciplina (Micheletto, 2001). O caminho para tanto seria a construção de um conhecimento firmemente baseado em observações empíricas. Segundo ele, a suposição da existência de um mundo "real", externo ao sujeito, não poderia ser sustentada, já que só teríamos acesso às nossas sensações - seria a partir da análise apenas dessas sensações, assim, que construiríamos nosso conhecimento do mundo. Essas noções colocam a questão da existência real das coisas (tão fundamental para o modelo mecanicista) simplesmente como algo sem significado - já que não passível de ser resolvida em definitivo. "Mach torna sem significado tudo o que não produza resultado que possa referir-se à sensibilidade" (Micheletto, 2001, p. 32).

As concepções de Ernst Mach têm sido analisadas (de ângulos por vezes um pouco distintos) por diversos comportamentalistas contemporâneos. Baum (1999, cap. 2), por exemplo, ao tratar Mach como um pragmatista, ressalta que a amizade desse autor com William James seria a responsável pela influência do pragmatismo sobre o comportamentalismo radical. Segundo Baum (1999, cap. 2), a noção de ciência de Skinner (não só no período inicial de sua obra) e do comportamentalismo radical como um todo seria a mesma de Mach e James: a busca por descrições econômicas, eficientes e as mais abrangentes possíveis da experiência humana com o mundo natural.

Mach, por outro lado, pode ser interpretado como um positivista influenciado pelo pensamento darwinista se ressaltarmos como, para ele, a ciência seria um discurso privilegiado sobre a realidade (Tourinho, 2003). Apesar da continuidade entre o conhecimento comum e o da ciência - que Mach destaca - esta última ainda incorporaria de maneira mais eficiente um princípio de economia, organizando, de modo mais produtivo, a experiência. Sua noção de verdade, entretanto, o distanciaria um pouco da tradição positivista. Para Mach, a "verdade era uma questão de promoção da adaptação de um indivíduo ou da espécie ao ambiente circundante" (Smith, 1989, p. 272, apud Tourinho, 2003, p. 33), o que descarta qualquer concepção de universalidade das afirmações científicas.

1.4- Percy Bridgman (1882-1961)

Bridgman também parte de uma crítica às noções mecanicistas de realidade e de causalidade para desenvolver seus conceitos sobre a prática científica. Esse autor, na obra que será citada por Skinner em seus trabalhos (Bridgman, 1928), critica o modo como Newton definia conceitos como os de tempo, massa e comprimento a partir de propriedades não-naturais, não verificáveis empiricamente (Tourinho, 1987). Para Bridgman, os conceitos deveriam resumir-se à descrição dos tipos de procedimento (operações) que foram utilizados para o estudo do fenômeno a que se referem (Micheleto, 2001). O conceito de comprimento, por exemplo, não deveria ser entendido como uma propriedade intrínseca das coisas, mas como sinônimo do conjunto de acções realizadas para chegar-se ao número que chamamos de comprimento das coisas. Essas noções, associadas ao movimento operacionista, tiveram uma grande influência sobre os psicólogos de Harvard por volta dos anos trinta, aí incluído Skinner - que, já em 1930, na sua tese de doutorado, tentava aplicá-las à análise do conceito de reflexo.

1.5- Os primeiros trabalhos de Skinner

Na sua tese de doutorado, defendida em 19303, e em alguns trabalhos posteriores (ao menos até 1937), Skinner busca realizar uma análise científica do comportamento a partir do conceito de reflexo - um objecto de estudo que lhe permitia observar e controlar as variáveis ambientais que o determinavam e elaborar previsões (Micheletto, 2001). Na sua tese, Skinner empreende uma revisão histórica do conceito (como já haviam feito Mach e Bridgman com os conceitos da Física) e acaba por defini-lo (operacionalmente, como advogado por Bridgman) como uma correlação observada entre um estímulo e uma resposta. O modo como, em sua tese e nesse período inicial, Skinner busca estabelecer sua ciência do comportamento o aproxima bastante das transformações que vinham ocorrendo na Física da época. Como Micheletto (2001) ressalta:

No conceito de reflexo de Skinner: Essa delimitação da correlação a eventos observados nos extremos da série estímulo e resposta afasta a análise do comportamento do interesse pela mediação de estruturas localizadas no sistema nervoso. A crítica de Mach e Bridgman aos supostos mecanicistas de um meio necessário à propagação ou condução de efeitos causais pode ser relacionada à não consideração de estruturas mediadoras na análise do comportamento (p. 33).

Skinner também se aproxima das propostas críticas ao mecanicismo na Física no que tange a: 1) sua definição operacional do conceito de reflexo; 2) uma noção de explicação que a iguala à de descrição, e 3) o abandono da noção de causalidade mecânica e a ênfase sobre o estabelecimento de relações funcionais entre eventos observados. Como o próprio Skinner afirmou, referindo-se ao início de sua carreira: "meu compromisso era com o empiricíssimo de Ernst Mach" (Skinner, 1989/1995c, p.149).

A noção de ciência que parece guiar os primeiros trabalhos de Skinner, assim, deve muito a Mach e a Bridgman. A ênfase sobre o empírico e sobre as experiências concretas vivenciadas pelo cientista, a afirmação da indissociabilidade entre as operações empregadas na investigação e o conhecimento obtido e a sustentação da ciência como discurso mais eficiente: todas essas noções presentes no pensamento skinneriano devem muito à influência dos dois físicos. Nesse período inicial, também devem ser ressaltados ao menos dois aspectos do pensamento skinneriano que viriam a ser bastante modificados (Micheletto, 2001). Em primeiro lugar, Skinner ainda supõe que, na análise do comportamento, deve-se buscar estabelecer uma relação do comportamento com algum evento anterior  que provocaria aquela determinada resposta. Isso parece estar associado, ainda, a um demasiado comprometimento com o conceito de reflexo (reconhecido, mais tarde, pelo próprio Skinner (Skinner, 1989/1995). Em segundo lugar, o pensamento de Skinner aparece, nessa época, ainda fortemente associado a um "suposto atomizador".

É fundamental notar, ainda, que muitas concepções ou foram abandonadas ou sofreram alterações já durante o decorrer desse período. Em 1935, por exemplo, Skinner abandona a hipótese de que o questionamento da relação entre o conhecimento e o real seria sem sentido (o que o afasta de Mach e Bridgman) (Micheletto, 2001). Skinner passa a entender o processo do conhecer como fruto da relação entre uma realidade independente e um sujeito ativo que opera sobre ela a partir dos seus procedimentos de investigação (com seus respectivos limites e possibilidades). Em 1937, além disso, com a elaboração do conceito de operante, ele descarta a necessidade de, para qualquer acção, identificar-se um evento antecedente que a provoque. Como o próprio Skinner coloca:

A acção de um estímulo em `eliciar' uma resposta era um bom exemplo de controlo, e vários comportamentalistas permaneceram comprometidos com alguma versão do esquema estímulo-resposta por muitos anos; mas, de acordo com meus experimentos, o que acontecia depois que um organismo se comportava desempenhava um papel muito mais importante do que o que acontecia antes (Skinner, 1989/1995, p. 176).

Por fim, vale ressaltar que, apesar da influência da Biologia sobre suas concepções de ciência e comportamento só aparecer mais marcadamente no período final de sua obra, desde essa época Skinner se refere à importância dessa disciplina na sua formação intelectual. (p. 164).

1.6- 1953: "ciência e comportamento humano"

Seguindo o desenvolvimento da obra de Skinner, cabe questionar se, em 1953, com a publicação de Ciência e Comportamento Humano, suas concepções de ciência e comportamento humano teriam -se diferenciado das de seu período inicial. Outras influências sobre o seu pensamento podem ser vislumbradas? Que outras concepções próprias podem ser aí destacadas?

Logo nas primeiras páginas do livro, na "Apresentação da edição brasileira", Skinner enfatiza a necessidade de o conhecimento ser útil e ter um significado prático. Para ele, a ciência poderia e deveria ser um "corretivo" para os problemas humanos (Skinner, 1953/1970, cap. I). Esse argumento é uma constante em toda a obra de Skinner.

1.6.1- Sobre ciência

Inicialmente, já no primeiro capítulo da obra, Skinner afirma que a ciência seria uma tentativa de descobrir ordem no mundo, de relacionar ordenadamente alguns acontecimentos com outros. A busca de ordem, porém, não seria apenas o objetivo da ciência, seria também um pressuposto seu. Para se buscar relacionar ordenadamente acontecimentos do mundo, tem-se que, primeiro, supor que esses acontecimentos já sejam, de alguma forma, ordenadamente relacionados entre si. Os objectivos da ciência seriam, assim, a descrição, a previsão e o controle. Note-se que Skinner não menciona a explicação como um dos objetivos da ciência - como muitos autores o fazem. Podemos atribuir essa atitude à noção machiana da equivalência entre descrição e explicação.

No segundo capítulo do livro ("Uma ciência do comportamento"), Skinner passa a discutir, de modo mais prolongado, as características da ciência como ele a entende. Logo no início, por exemplo, o autor comenta: "Como apontou George Sarton, a ciência é única ao mostrar um progresso acumulativo" (Skinner, 1953/1970, p.15, grifo nosso), isto é, para Skinner, os "resultados tangíveis e imediatos" da ciência poderiam ser comparados de modo a se mostrar, por exemplo, que a eficácia da ciência moderna é muito superior à da ciência grega.

Em seguida, Skinner comenta que a ciência produz "acumulações organizadas de informação". O que lemos, quando estudamos física, química ou biologia, seriam bons exemplos de tais "acumulações". Ele ressalta, no entanto, que não podemos tomar a presença desses resultados específicos da ciência (conceitos, leis e teorias da Física, da Química ou da Biologia) em outros campos do saber como indicadores fidedignos de que também aí se utilizou o mesmo processo científico de investigação. "Essas acumulações não são a ciência mesma, mas os produtos da ciência" (Skinner, 1953/1970, p. 15), isto é, se a ciência deve visar, sim, à produção de tais acumulações organizadas de informação - o que também nos remete à noção de economia conceitual de Mach - a importação de conceitos de outras disciplinas científicas não pode ser tomada como garantia de cientificidade.

Logo a seguir, o autor cita alguns outros aspectos comuns a diversas ciências e importantes para a prática científica, mas que não poderiam ser tomados como características definidoras, essenciais, da ciência: a medida exata, o cálculo matemático e uso de instrumentos (aparelhos de pesquisa ou instrumentos matemáticos).

Desses comentários, podemos começar a construir uma imagem da prática científica como um empreendimento singular, acumulativo e capaz de dar conta de todos os fenômenos naturais a partir da mesma abordagem. Essa última ideia - a de que uma mesma abordagem pode dar conta da totalidade dos fenômenos naturais - porém, não deve ser entendida como uma recomendação para o uso dos mesmos métodos - e muito menos dos mesmos conceitos - em todas as disciplinas. As características essenciais da ciência para Skinner, e que deveriam, estas sim, ser adotadas para o estudo de qualquer assunto, não são determinados conceitos, instrumentos ou métodos rígidos, mas, sim, atitudes. Como o próprio Skinner (1953/1970) comenta: "A ciência é, antes de tudo, um conjunto de atitudes" (p. 15). Estas poderiam ser resumidas nas três seguintes:

      A ênfase nos fatos, nos dados, no empírico - o que deveria levar à rejeição da autoridade e dos desejos do pesquisador quando estes interferem no contato com a natureza;

      A honestidade intelectual - ressaltada também por Bridgman (que Skinner cita neste ponto);

      E o afastamento de conclusões prematuras. Mais à frente, em outros capítulos, o autor continua a enumerar outras características da sua concepção de ciência. Skinner cita o abandono do conceito de "relação de causa e efeito" em favor do de "relação funcional". Para ele, a ciência estudaria mudanças nas variáveis independentes e dependentes. Os novos termos, continua, não sugerem como uma causa produz um efeito. Nesse ponto, parece novamente clara a influência de Mach.

1.7- O estudo científico do comportamento humano

Uma compreensão mais clara da noção de ciência desenvolvida por Skinner nessa obra pode ser obtida a partir das suas concepções sobre o estudo (científico) do comportamento humano. Ao tratar do tema, Skinner começa enfatizando a extrema complexidade desse objeto de estudo. Ressalta que essa é uma das objeções normalmente levantadas contra a possibilidade de uma ciência do comportamento e descarta-a por considerar que: 1) "da complexidade não se segue a autodeterminação" 2) nada se pode afirmar sobre os limites das investigações desse objecto até que tenhamos tentado, e, mais importante, 3) pode-se simplificar as condições em laboratório ou através de análises estatísticas. (Skinner, 1953/1970, p. 20).

A importância das técnicas experimentais e matemáticas para o estudo do comportamento (mesmo sem serem consideradas essenciais), aqui novamente ressaltadas pelo autor, deve ser marcada como uma das características do seu pensamento. O estabelecimento de relações quantitativas entre as variáveis em estudo, obtidas após um adequado controle das condições experimentais, parece ser a via privilegiada de descrição científica para Skinner. No estudo das variáveis que controlam o modo como os organismos se comportam, assim, "qualquer condição ou evento que tenha algum efeito demonstrável sobre o comportamento deve ser considerada" Essas condições (ou eventos) deveriam ser descobertas e analisadas, preferencialmente, de forma quantitativa. (Skinner, 1953/1970, p. 21).

Tendo delimitado o tipo de análise que a ciência deveria empreender, o autor passa a especificar mais claramente quais seriam as variáveis das quais o comportamento é função. As variáveis a serem consideradas deveriam ser aquelas ao alcance de uma análise científica, aquelas que estão fora do organismo, em seu ambiente imediato e em sua história ambiental. [Aquelas que] Possuem um status físico para o qual as técnicas usuais da ciência são adequadas e permitem uma explicação do comportamento nos moldes da de outros objetos explicados pelas respectivas ciências (Skinner, 1953/1970, p. 26, grifo do autor).

Em suma, em Ciência e Comportamento Humano, delineia-se uma concepção mais completa de ciência, que apresenta diversas continuidades com as noções do período inicial. A adesão a definições operacionais e a uma concepção de explicação que a iguala à de descrição de relações funcionais entre variáveis permanece como uma herança já daquele período. Skinner também parece manter uma concepção da ciência como um modo de produção de conhecimento que não se restringiria a alguns objetos de estudo, que abarcaria tanto a Física quanto a Biologia e a Psicologia, por exemplo.

Aqui, Skinner também aborda mais especificamente o comportamento humano, e aí podemos ver todo um campo de discussão que, pelo menos, não era explícito no início da sua carreira. Um conjunto de concepções próprias utilizadas na abordagem desse objeto torna-se aqui de grande importância: o conceito de comportamento operante é amplamente utilizado e chega a ser predominante no livro; as análises que utilizam o conceito de comportamento verbal também são abundantes; a importância do comportamento social para as ações humanas é destacada (toda uma seção do livro.

O comportamento de pessoas em grupo" -é dedicada ao assunto), e as questões relativas à descrição, evolução e planejamento de culturas ocupam outra grande parte do livro. Skinner ressalta, além do mais, a extrema complexidade desse objeto de estudo - afirmação tantas vezes omitida por seus críticos - e sugere, para lidar com isso, a simplificação experimental das condições envolvidas. Vale a pena notar que, apesar de a ciência do comportamento a que Skinner se refere durante todo o livro ser a Análise Experimental do Comportamento, suas interpretações e comentários extrapolam grandemente o escopo das investigações produzidas nesse âmbito.

1.8- As influências da biologia e os pontos fundamentais da proposta skinneriana sobre a ciência e o comportamento

Podemos perceber, ao longo do desenvolvimento da obra de Skinner, uma ampliação da sua concepção de objeto de estudo  (Micheletto, 2001). Um primeiro marco importante nesse sentido é a elaboração do conceito de comportamento operante, em 1937. Com este, o sentido da ação dos organismos se amplia para englobar a operação dos organismos sobre o mundo e o efeito das suas consequências sobre as ações futuras.

Um segundo momento que podemos destacar é aquele em que Skinner explicita mais claramente as diferenças entre o seu projeto de ciência e os dos outros comportamentalismos, com a publicação do artigo "The operational analysis of psychological terms",5 em 1945 (Tourinho, 1987). É aí que fica bem marcada sua oposição a uma concepção de verdade por consenso público (acatada pelo comportamentalismo metodológico). A aceitação de um fenômeno ou de um conceito por uma ciência do comportamento não é mais vinculada a sua acessibilidade a pelo menos duas pessoas; o fundamental passa a ser se o cientista pode operar eficazmente com ele - trata-se de um critério mais instrumental, pragmatista (Tourinho, 1987). A interpretação6 é postulada como um método legítimo da ciência. É ainda naquele mesmo artigo (de 1945) que Skinner, como uma derivação dessa sua concepção de verdade, deixa claro que os eventos privados  (conjunto de eventos e comportamentos que ocorrem sob a pele do indivíduo) incluem-se como objetos legítimos de estudo de uma ciência do comportamento.

Um terceiro momento significativo no processo de ampliação do seu objeto de estudo envolve a incorporação do comportamento verbal e da importância do ambiente social para o estudo do fazer humano - que pode ser simbolicamente marcado pelo lançamento do livro "O Comportamento Verbal" (Skinner, 1957/1978), mas que já se encontra presente ao menos desde 1953 (Skinner, 1953/1970). É aí que toda uma ampla gama de aspectos da ação humana vai ser definitivamente abarcada pelo pensamento skinneriano: questões relativas à cultura, à moral, à dinâmica da própria comunidade científica, etc.

Paralelamente à expansão do objeto de estudo, vamos assistir também a uma ampliação das determinações do comportamento alegadas por Skinner. Partindo de uma determinação mais restrita e imediata logo no começo de sua obra (associada à sua ênfase inicial no conceito de reflexo), passando por uma ampliação com a invenção7 do conceito de operante (já presente em 1953), a concepção da determinação ambiental do comportamento vai acabar sendo definida (no período pós-1953) como resultado da interação entre as história filogenética (seleção natural), ontogenética (condicionamentos) e cultural (evolução cultural) do indivíduo.

Tais mudanças no modo de encarar a ação humana - expansão do objeto de estudo pertinente a uma ciência do comportamento e ampliação de suas determinações - podem ser entendidas como resultado de uma influência crescente da Biologia sobre o pensamento de Skinner. Segundo Micheletto (2001):

Esse novo significado dado ao fazer se vincula às influências das ciências biológicas, especificamente a teoria da evolução por seleção natural, que trazem para o comportamento um novo conjunto de pressupostos. As referências aos supostos da teoria da evolução por seleção natural começam a aparecer a partir da distinção entre reflexos respondentes e operantes. A vinculação com a seleção natural vai ficando cada vez mais explícita e abrangente. Se de início Skinner busca na seleção natural os princípios que orientam sua concepção de objeto, gradualmente esses princípios se estendem à própria noção de causalidade (p. 38).

A influência das ciências biológicas também se estende à noção de causalidade adotada por Skinner após a elaboração do conceito de operante (Micheletto, 2001). A noção de seleção pelas consequências implicou, desde o início de seu uso por Skinner, um afastamento ainda maior de uma causalidade mecanicista do comportamento. Pelo menos dois importantes aspectos podem ser enumerados para confirmar tal assertiva: a seleção pelas consequências é uma forma de causalidade muito menos visível do que aquela da Física do século XIX (e muito mais complexa), e é uma forma de combater as noções metafísicas que se infiltraram na mecânica clássica e que orientaram concepções mentalistas de uma mente criadora (Micheletto, 2001). Vale lembrar que essa forma de causalidade foi estendida por Skinner aos três níveis de determinação do comportamento (filogénese, ontogênese e cultura) - todos explicados em termos selecionistas (Tourinho, 2003).

 

 

 

2- METODOLOGIA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Em suma, podemos perceber que, desde o início de sua obra, Skinner se alinha a concepções críticas ao mecanicismo. Isso o leva a abandonar desde cedo a necessidade de referir-se a mecanismos físicos para dar conta da relação entre as operações do ambiente e a ação humana (suas críticas vão dirigir-se especialmente a referências ao sistema nervoso, real ou hipotético). Seguindo as concepções de Mach e Bridgman, a causalidade mecânica é criticada e substituída pela busca de relações funcionais entre variáveis. Também o modo como os conceitos são definidos é proposto de forma a evitar os problemas do mecanicismo e a promover uma ênfase sobre os dados empíricos. O operacionismo de Bridgman leva Skinner a elaborar conceitos tendo sempre como base as operações práticas envolvidas na sua mensuração.

O comportamento não é algo estático e imutável. Na concepção behaviorista radical, o comportamento é apenas uma parcela da actividade total de um organismo. Outra definição possível, de acordo com essa ciência, é que o comportamento é a interação do organismo com o meio, modificando-o, e por sua vez, sendo modificado. Sugere-se, ainda, que o comportamento é fruto da interrelação de três níveis de seleção: filogenético, ontológico e cultural (SKINNER, 1974; 1984).

Além dos princípios da análise funcional e do operacionismo, é também fundamental para o seu recorte básico de abordagem à realidade, desde o início de sua obra, a adoção do externalismo. Para Skinner, as variáveis que deveriam ser consideradas nas relações funcionais envolvidas na ação humana seriam aquelas externas ao organismo em estudo, aquelas relativas a seu ambiente, variáveis essas que também deveriam ser passíveis de descrição pelas ciências naturais.

O objecto de estudo para o qual esse modo de investigação se volta - o comportamento ou a ação humana é visto de modo cada vez mais complexo ao longo da obra de Skinner. Começando com estudos restritos aos reflexos e associados a uma causalidade limitada aos eventos anteriores mais imediatos, Skinner passa a investigar o comportamento operante, o comportamento verbal e social e mesmo práticas culturais mais amplas, baseando-se numa perspectiva selecionista e na multideterminada do humano. Em última instância, o objecto a que Skinner atribui a sua ciência do comportamento pode ser entendido como o resultado da inter-relação de processos seletivos operando em três níveis: filogenético (relativo à espécie), ontogenético (relativo ao indivíduo) e cultural (relativo à sociedade), um objecto que, dessa forma, só pode ser devidamente compreendido na sua singularidade e levando-se em consideração suas diversas relações e níveis de determinação.

Dada a extrema complexidade do comportamento humano, uma ciência que se volte para ele deve, segundo Skinner, valer-se de algumas "ferramentas" que lhe facilite o contato com esse objecto. Nesse sentido, seriam importantes para a sua investigação:

      Uma busca pelo controlo e simplificação das condições envolvidas  (que poderia ser entendida como uma preferência pela experimentação);

      Uma busca por descrições quantitativas das relações funcionais, especialmente em termos de frequência e probabilidade;

      Atitudes de honestidade intelectuais e cautela no estabelecimento de conclusões;

      A adoção da previsão e do controle como critérios últimos de validação do conhecimento.

Um último (e fundamental) ponto no que se refere à ciência do comportamento proposta por Skinner parece estritamente relacionado a um dos dilemas mais prementes de nossos dias: o da ética da investigação e da prática científica. Skinner sempre justificou (e lutou) por uma ciência do comportamento com base na crença de que ela poderia ajudar na resolução da maioria dos grandes problemas com que nossa cultura convive. Para ele, o sentido último do empreendimento de uma análise do comportamento não era teórico, mas prático: o objetivo final dessa ciência seria o de promover a sobrevivência da cultura  (Dittrich, 2004). Os analistas do comportamento, assim, deveriam voltar-se sempre para o desenvolvimento de uma ciência e de uma profissão voltados para tal fim.

Assim, para os behavioristas radicais, o comportamento está intimamente ligado ao que a cerca, são passiveis de modificar e serem modificados ao longo de sua história enquanto espécie e depende de múltiplos fatores.

 

 

 

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