INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO DE ANGOLA
ISTA
POLO – CAXITO
CURSO: PSICOLOGIA
ANÁLISE DO
COMPORTAMENTO SEGUNDO SKINNER
GRUPO
Nº 01
CAXITO - 2021/2022
INSTITUTO
SUPERIOR TÉCNICO DE ANGOLA
ANÁLISE DO
COMPORTAMENTO SEGUNDO SKINNER
Trabalho apresentado ao professor Gaspar Luís Inácio, como requisito
necessário para a avaliação no curso de Psicologia na cadeira de Teoria da
Personalidade.
GRUPO
Nº 01
3º
ANO
PERÍODO:
TARDE
CAXITO - 2021/2022
INSTITUTO
SUPERIOR TÉCNICO DE ANGOLA
ISTA
POLO – CAXITO
CURSO: PSICOLOGIA
ANÁLISE DO
COMPORTAMENTO SEGUNDO SKINNER
GRUPO
Nº 01
CAXITO - 2021/2022
INSTITUTO
SUPERIOR TÉCNICO DE ANGOLA
ANÁLISE DO
COMPORTAMENTO SEGUNDO SKINNER
Trabalho apresentado ao professor Gaspar Luís Inácio, como requisito
necessário para a avaliação no curso de Psicologia na cadeira de Teoria da
Personalidade.
GRUPO
Nº 01
3º
ANO
PERÍODO:
TARDE
CAXITO - 2021/2022
INTEGRANTES DO GRUPO Nº 0
1.
2.
DEDICATÓRIA
AGRADECIMENTOS
EPIGRAFE
RESUMO
Actualmente,
não se pode pensar no estudo do comportamento humano sem considerar a abordagem
científica a este objecto: o campo da Psicologia científica. Esse campo é
disputado por diversos enfoques teóricos que divergem quanto ao modo como
definem ciência e comportamento humano. A abordagem de B. F. Skinner foi
bastante proeminente no século XX, mas ainda continua a ser mal-entendida.
Partindo do desenvolvimento histórico de sua obra, o presente texto visa a
iluminar alguns aspectos relacionados às noções de ciência e comportamento
humano desse autor e ressaltar as transformações por que passaram. Analisam-se
três tópicos da obra de Skinner: seu período inicial (de 1930 a cerca de 1938),
a obra "Ciência e Comportamento Humano" de 1953, e as influências da
Biologia. São enfatizados aspectos relevantes da sua teorização sobre o tema:
busca por relações funcionais, ênfase nos dados empíricos, operacionismo,
externalismo, multideterminada do comportamento, experimentalismo, previsão e
controle, ética.
Palavras-chave:
Skinner, B. F., Comportamentalismo, Ciência, Comportamento.
SUMÁRIO
1.1- As
transformações do pensamento de Skinner
1.2- 1930-1938:
o período inicial e as influências da física
1.4- Percy
Bridgman (1882-1961)
1.5- Os
primeiros trabalhos de Skinner
1.6- 1953:
"ciência e comportamento humano"
1.7- O estudo
científico do comportamento humano
INTRODUÇÃO
O presente trabalho apresenta uma discussão teórica
da análise do comportamento na perspectiva behaviorista radical de Skinner.
Para tal objectivo, serão expostas algumas das possíveis contribuições do
behaviorismo radical no que tange a definição, como esse repertório
comportamental é desenvolvido, sua funcionalidade e importância para o
indivíduo. A consciência em Skinner.
Antes de iniciar qualquer discussão a respeito do
conceito de consciência no behaviorismo radical, é necessário apresentar alguns
princípios dessa filosofia analítico comportamental. Primeiramente, deve-se
esclarecer que o behaviorismo radical tem por objecto de estudo o comportamento
dos organismos e parte de uma perspectiva em que considera o indivíduo um ser
monista, ou seja, o organismo e mente ou qualquer objecto metafísico, como a
alma, encontram-se na mesma esfera de existência na qual não existem divisões
(SKINNER, 1974; 1977).
O comportamento não é algo estático e imutável. Na
concepção behaviorista radical, o comportamento é apenas uma parcela da
actividade total de um organismo (SKINNER, 1938). Outra definição possível, de
acordo com essa ciência, é que o comportamento é a interação do organismo com o
meio, modificando-o, e por sua vez, sendo modificado (SKINNER, 2003).
Sugere-se, ainda, que o comportamento é fruto da interrelação de três níveis de
seleção: filogenético, ontológico e cultural (SKINNER, 1974; 1984).
Assim, para os behavioristas radicais, o
comportamento está intimamente ligado ao que a cerca, são passiveis de
modificar e serem modificados ao longo de sua história enquanto espécie e
depende de múltiplos factores. O primeiro nível de seleção refere-se aos
processos evolutivos, no qual alterações das características hereditárias nos
grupos de organismos, que favoreceram a adaptação da espécie, são selecionados
e transmitidos em nível genético. Em relação ao segundo nível, o ontológico,
refere-se ao histórico do repertório comportamental de um indivíduo,
estabelecido ou não por seu histórico de reforçamento. Para Skinner (2003), o
reforço é apresentado de duas maneiras: positivo, quando o evento sucede a
apresentação do estímulo (afago, comida ou água, por exemplo), e negativo, que
consiste na retirada de um estímulo aversivo/desagradável (remoção de um
choque, luz ou som muito forte, dentre outros). Os comportamentos são
selecionados de modo operante, de acordo com sua experiência que, por sua vez,
aumenta ou diminui a probabilidade de determinado comportamento voltar a
ocorrer. (SKINNER, 1957).
Todo comportamento é, inicialmente, não-racional e
inconsciente, ele sendo efetivo ou não, e tem probabilidades em tornar-se
consciente sem se tornar racional, considerando que as contingências
responsáveis por ele não foram investigadas, como por exemplo: um indivíduo
pode saber o que está fazendo sem necessariamente saber o porquê (SKINNER,
1974).
Os comportamentos em geral, são determinados pelas
relações entre os eventos, que no behaviorismo radical é compreendido como
contingências de reforço. E é influenciado pelos três níveis de seleção pelas
consequências (filogenético, ontogenético e cultural), destacando que o
comportamento não está na ação e sim na relação entre eventos, como por
exemplo: (a) estímulo; (b) resposta; e (c) consequência. O que pode afetar
diretamente o modo em que vivenciamos e relatamos determinados eventos. Portanto,
Skinner (1974) destaca que a consciência e o autoconhecimento, para o
behaviorismo radical, são passíveis de distorção e a natureza do que é sentido
ou observado deve ser questionado. (SKINNER, 1974).
Contudo, em grande parte do tempo, o comportamento
é inconsciente, porém não menos efetivo, devido a limitações em “nos observar e
descrever sempre que nos comportamos, e também porque as contingências de
reforço a que estamos submetidos continuam sendo efetivas mesmo quando não
temos conhecimento delas’’ (ROSE et al., 2012, p. 205).
PROBLEMA
Objecto de estudo
JUSTIFICATIVA
Objectivos
Formulação de Hipóteses
1- ENQUADRAMENTO DO TEMA
"O
comportamentalismo, com acentuação no "ismo", não é o estudo
científico do comportamento, mas uma filosofia da ciência preocupada com o tema
e métodos da psicologia." (Skinner, 1980, p.339).
Similarmente,
a análise experimental do comportamento não é uma área da psicologia, mas uma
maneira de estudar o objecto da psicologia. Este trabalho é uma tentativa de
esclarecer os significados dos termos "behaviorismo", "análise
experimental do comportamento" e "psicologia", e uma tentativa
baseada principalmente nas contribuições de B.F. Skinner e de Harzem e Miles
(1978).
A análise
do comportamento, que não se limita à análise experimental do comportamento,
como veremos a seguir, origina-se de uma posição behaviorista assumida por
Skinner por motivos mais históricos que puramente lógicos. Skinner parte da
constatação de que há ordem e regularidade no comportamento. Um vago senso de
ordem emerge da simples observação mais cuidadosa do comportamento humano.
O termo
"behaviorismo" tem sido utilizado de diversas maneiras e de tal modo
que se pode afirmar que há muitas variedades de significado para ele. Desde o
manifesto de Watson, muitas características foram atribuídas ao termo. Muitas
delas perderam-se no tempo ante críticas irrespondíveis, outras permanecem.
Para Harzem e Miles, a palavra behaviorismo tem uma "família de
significados", e por isso, além de desnecessário, é um equívoco esperar-se
encontrar o seu "verdadeiro" significado. Portanto, a menos que se
faça a distinção entre as diversas variedades de significado, não é útil
proclamar-se "a favor" ou "contra" o behaviorismo.
As noções
de comportamento humano e de ciência, enfim, tornaram-se praticamente
indissociáveis, e é justamente a partir desse momento que diversos projectos de
conhecer cientificamente o
comportamento humano começam a competir e que o que se entende por ciência e/ou
como aplicá-la devidamente a esse campo passa a ser alvo de disputas dentro da
nascente Psicologia científica.
Um
momento fundamental nessa disputa pelo projeto dominante de Psicologia
científica é a proposição, por Burrhus Frederic Skinner, do seu Comportamentalismo Radical. Chegando
a ser considerado o psicólogo mais eminente do século XX (Haggbloom et al.,
2002), Skinner marcou profundamente toda a Psicologia americana (e, em
conseqüência, a Psicologia mundial) do século passado e continua ainda hoje a
ser amplamente estudado, discutido e a ter suas proposições ampliadas e
revisadas (por ex. Glenn, 1988; Malagodi, 1986 e Malott, 1988). Afora sua
importância para a construção da Psicologia como a conhecemos hoje, um
conhecimento mais aprofundado do discurso de Skinner é também fundamental para
evitar (ou buscar remediar) um conjunto de mal-entendidos que cercam seu
pensamento. É para os fundamentos filosóficos do comportamentalismo radical,
assim, que este trabalho se voltará.
De
início, "Pode-se dizer que as bases fundamentais que norteiam a obra de
Skinner estão vinculadas a sua pretensão de fazer da Psicologia uma ciência e,
para compreender essas bases filosóficas, precisamos identificar os modelos de
ciência que ele adota." (Micheletto, 2001, p. 31). É assim que, para nos
aproximarmos da abordagem comportamentalista radical definida pelo próprio
Skinner (1974/1995), inclusive, como a de uma filosofia da ciência buscaremos empreender uma análise da
sua concepção de ciência,
pilar essencial para a fundamentação de qualquer modo dito científico de
encarar o homem e o seu comportamento. Indissociável desse objetivo, aparece
como essencial também a discussão da sua concepção de comportamento humano. Dessa forma, buscaremos
assinalar algumas influências e transformações por que passaram tais concepções
(e outras relacionadas: causalidade, explicação, etc.) no desenvolvimento da
obra de Skinner.
1.1- As transformações do pensamento de Skinner
Desde
suas primeiras publicações, em 1930, até "Can Psychology be a science of
mind?"2 (Skinner, 1990), artigo completado
na véspera de sua morte, Skinner desenvolveu uma verdadeira visão de mundo (Michael, 1980),
que aborda as mais diversas questões (ética, educação, organização social,
cultura etc.) de um ponto de vista muito particular. Essa extensa obra, como qualquer
outra de seu porte, é perpassada por aspectos unificadores, mas também por
transformações.
Por um
lado, pode-se afirmar que toda a sua obra é marcada por alguns pontos gerais
que parecem permanecer inalterados:
·
O estabelecimento do objecto de estudo - o
comportamento; a suposição do comportamento como determinado; a pretensão de
fazer uma análise científica do comportamento a partir da noção de ciência
proposta pela ciência natural; o estudo realizado a partir do dado empírico; o
afastamento de toda metafísica do saber científico; a proposta de previsão e
controle (Micheletto, 2001, p. 30).
Essas
marcas, por outro lado, além de muito genéricas, tiveram seu sentido alterado
ao longo da obra de Skinner. Como esperamos demonstrar no decorrer deste texto,
ao menos dois grandes momentos podem ser distinguidos nesse processo. Por um
lado, um período inicial englobando aproximadamente os anos de 1930-38, em que
o autor, como ele próprio admitiria depois (Skinner, 1989/1995b, p. 176), ainda
"estava comprometido em demasia com o `reflexo'" em termos da sua
noção de comportamento (apesar de as suas investigações o terem conduzido à
formulação do conceito de operante ainda em 1937) e onde a influência de uma
concepção de ciência adotada pela Física era proeminente.
Por outro lado, em um período posterior, em
que seu foco de interesse recai mais sobre o comportamento operante, suas
concepções vão gradualmente amadurecendo e sua noção de ciência passa a ser
mais marcadamente influenciada pelas noções da Biologia. Esses dois momentos,
entretanto, se imbricam no desenvolvimento da obra skinneriana: pode-se
perceber a presença de certas concepções do período inicial nos escritos
posteriores de Skinner e interpretar algumas mudanças de concepção como um
desenvolvimento do próprio pensamento do autor. Essas alterações, em alguns dos
fundamentos filosóficos da sua visão de mundo, podem ser responsáveis, porém,
por parte das interpretações errôneas do comportamentalismo radical. É para uma
breve análise dessas transformações no pensamento de Skinner que agora nos
voltamos.
1.2- 1930-1938: o período inicial e as influências
da física
A adesão
de Skinner ao comportamentalismo e seu consequente ingresso na pós-graduação em
Psicologia de Harvard (em 1928) podem ser atribuídos, em grande parte, a sua
leitura do livro "Behaviorism", de John B. Watson (Skinner,
1989/1995b). De fato, podemos admitir, com o próprio Skinner, que, desde o
início, a sua concepção de Psicologia, de estudo do comportamento, era muito
semelhante àquela proposta por Watson em seu famoso artigo de 1913:
"Segundo o ponto de vista comportamentalista, a Psicologia é um ramo
puramente objetivo e experimental da ciência natural. Seu objetivo teórico é a
predição e o controle do comportamento" (citada por Skinner, 1989/1995b,
p. 165). Foram as aspirações de uma ciência do comportamento voltada para a
previsão e o controle que o motivaram a ingressar na Psicologia. Assim, desde o
princípio, Skinner pretendia levar a cabo uma análise científica do
comportamento a partir de uma noção de ciência fortemente inspirada nas
ciências naturais (Micheletto, 2001). Cabe assinalar, entretanto, quais seriam,
mais especificamente, as principais influências que convergiram para moldar a
forma como ele empreenderia essa aspiração.
O modelo
de ciência que inicialmente vai influenciar Skinner é aquele associado às
transformações por que a Física passava no final do século XIX e início do
século XX e às críticas que, nessa época, se levantavam contra o modelo
mecanicista fundado na Física newtoniana (Micheletto, 2001). O modelo
mecanicista explicava os eventos do mundo em termos da ação causal de forças
diversas, no tempo e no espaço, sobre a matéria. Cada coisa se moveria devido à
interação mecânica com outras coisas, todas sujeitas a um conjunto de forças.
Nesse modelo, além disso, considerava-se que a realidade possuísse existência
independente do sujeito que a experiencia e o princípio de explicação dessa
realidade deveria ser sempre baseado em um mecanismo.
1.3- Ernst Mach (1838-1916)
Para
Ernst Mach, o avanço da Física dependia do afastamento de concepções
metafísicas pressupostas na elaboração de muitos dos conceitos dessa disciplina
(Micheletto, 2001). O caminho para tanto seria a construção de um conhecimento
firmemente baseado em observações empíricas. Segundo ele, a suposição da
existência de um mundo "real", externo ao sujeito, não poderia ser
sustentada, já que só teríamos acesso às nossas sensações - seria a partir da análise apenas dessas sensações, assim,
que construiríamos nosso conhecimento do mundo. Essas noções colocam a questão
da existência real das coisas (tão fundamental para o modelo mecanicista)
simplesmente como algo sem significado - já que não passível de ser resolvida
em definitivo. "Mach torna sem significado tudo o que não produza
resultado que possa referir-se à sensibilidade" (Micheletto, 2001, p. 32).
As
concepções de Ernst Mach têm sido analisadas (de ângulos por vezes um pouco
distintos) por diversos comportamentalistas contemporâneos. Baum (1999, cap.
2), por exemplo, ao tratar Mach como um pragmatista, ressalta que a amizade desse autor com William
James seria a responsável pela influência do pragmatismo sobre o
comportamentalismo radical. Segundo Baum (1999, cap. 2), a noção de ciência de
Skinner (não só no período inicial de sua obra) e do comportamentalismo radical
como um todo seria a mesma de Mach e James: a busca por descrições econômicas,
eficientes e as mais abrangentes possíveis da experiência humana com o mundo
natural.
Mach, por
outro lado, pode ser interpretado como um positivista influenciado pelo pensamento darwinista se
ressaltarmos como, para ele, a ciência seria um discurso privilegiado sobre a
realidade (Tourinho, 2003). Apesar da continuidade entre o conhecimento comum e
o da ciência - que Mach destaca - esta última ainda incorporaria de maneira
mais eficiente um princípio de economia, organizando, de modo mais produtivo, a
experiência. Sua noção de verdade, entretanto, o distanciaria um pouco da
tradição positivista. Para Mach, a "verdade era uma questão de promoção da
adaptação de um indivíduo ou da espécie ao ambiente circundante" (Smith,
1989, p. 272, apud Tourinho,
2003, p. 33), o que descarta qualquer concepção de universalidade das afirmações
científicas.
1.4- Percy Bridgman (1882-1961)
Bridgman
também parte de uma crítica às noções mecanicistas de realidade e de
causalidade para desenvolver seus conceitos sobre a prática científica. Esse
autor, na obra que será citada por Skinner em seus trabalhos (Bridgman, 1928),
critica o modo como Newton definia conceitos como os de tempo, massa e
comprimento a partir de propriedades não-naturais, não verificáveis
empiricamente (Tourinho, 1987). Para Bridgman, os conceitos deveriam resumir-se à descrição dos tipos de
procedimento (operações) que foram utilizados para o estudo do fenômeno a que
se referem (Micheleto, 2001). O conceito de comprimento, por exemplo, não
deveria ser entendido como uma propriedade intrínseca das coisas, mas como
sinônimo do conjunto de acções realizadas para chegar-se ao número que chamamos
de comprimento das coisas. Essas noções, associadas ao movimento operacionista,
tiveram uma grande influência sobre os psicólogos de Harvard por volta dos anos
trinta, aí incluído Skinner - que, já em 1930, na sua tese de doutorado,
tentava aplicá-las à análise do conceito de reflexo.
1.5- Os primeiros trabalhos de Skinner
Na sua
tese de doutorado, defendida em 19303, e em
alguns trabalhos posteriores (ao menos até 1937), Skinner busca realizar uma
análise científica do comportamento a partir do conceito de reflexo - um objecto
de estudo que lhe permitia observar e controlar as variáveis ambientais que o
determinavam e elaborar previsões (Micheletto, 2001). Na sua tese, Skinner
empreende uma revisão histórica do conceito (como já haviam feito Mach e
Bridgman com os conceitos da Física) e acaba por defini-lo (operacionalmente,
como advogado por Bridgman) como uma
correlação observada entre um estímulo e uma resposta. O modo como,
em sua tese e nesse período inicial, Skinner busca estabelecer sua ciência do
comportamento o aproxima bastante das transformações que vinham ocorrendo na
Física da época. Como Micheletto (2001) ressalta:
No conceito de reflexo de Skinner: Essa delimitação da correlação a
eventos observados nos extremos da série estímulo e resposta afasta a análise
do comportamento do interesse pela mediação de estruturas localizadas no
sistema nervoso. A crítica de Mach e Bridgman aos supostos mecanicistas de um
meio necessário à propagação ou condução de efeitos causais pode ser
relacionada à não consideração de estruturas mediadoras na análise do
comportamento (p. 33).
Skinner
também se aproxima das propostas críticas ao mecanicismo na Física no que tange
a: 1) sua definição operacional do conceito de reflexo; 2) uma noção de
explicação que a iguala à de descrição, e 3) o abandono da noção de causalidade mecânica e a ênfase
sobre o estabelecimento de relações
funcionais entre eventos observados. Como o próprio Skinner
afirmou, referindo-se ao início de sua carreira: "meu compromisso era com
o empiricíssimo de Ernst Mach" (Skinner, 1989/1995c, p.149).
A noção
de ciência que parece guiar os primeiros trabalhos de Skinner, assim, deve
muito a Mach e a Bridgman. A ênfase sobre o empírico e sobre as experiências
concretas vivenciadas pelo cientista, a afirmação da indissociabilidade entre
as operações empregadas na investigação e o conhecimento obtido e a sustentação
da ciência como discurso mais eficiente: todas essas noções presentes no
pensamento skinneriano devem muito à influência dos dois físicos. Nesse período
inicial, também devem ser ressaltados ao menos dois aspectos do pensamento
skinneriano que viriam a ser bastante modificados (Micheletto, 2001). Em primeiro
lugar, Skinner ainda supõe que, na análise do comportamento, deve-se buscar
estabelecer uma relação do comportamento com algum evento anterior que provocaria aquela
determinada resposta. Isso parece estar associado, ainda, a um demasiado
comprometimento com o conceito de reflexo (reconhecido, mais tarde, pelo próprio
Skinner (Skinner, 1989/1995). Em segundo lugar, o pensamento de Skinner
aparece, nessa época, ainda fortemente associado a um "suposto
atomizador".
É
fundamental notar, ainda, que muitas concepções ou foram abandonadas ou
sofreram alterações já durante o
decorrer desse período. Em 1935, por exemplo, Skinner abandona a
hipótese de que o questionamento da relação entre o conhecimento e o real seria
sem sentido (o que o afasta de Mach e Bridgman) (Micheletto, 2001). Skinner
passa a entender o processo do conhecer como fruto da relação entre uma
realidade independente e um sujeito ativo que opera sobre ela a partir dos seus
procedimentos de investigação (com seus respectivos limites e possibilidades).
Em 1937, além disso, com a elaboração do conceito de operante, ele descarta a necessidade
de, para qualquer acção, identificar-se um evento antecedente que a provoque. Como o próprio Skinner coloca:
A acção de um estímulo em `eliciar' uma resposta era um bom exemplo de controlo,
e vários comportamentalistas permaneceram comprometidos com alguma versão do
esquema estímulo-resposta por muitos anos; mas, de acordo com meus
experimentos, o que acontecia depois que
um organismo se comportava desempenhava um papel muito mais importante do que o
que acontecia antes (Skinner, 1989/1995, p. 176).
Por fim,
vale ressaltar que, apesar da influência da Biologia sobre suas concepções de
ciência e comportamento só aparecer mais marcadamente no período final de sua
obra, desde essa época Skinner se refere à importância dessa disciplina na sua
formação intelectual. (p. 164).
1.6- 1953: "ciência e comportamento
humano"
Seguindo
o desenvolvimento da obra de Skinner, cabe questionar se, em 1953, com a
publicação de Ciência e
Comportamento Humano, suas concepções de ciência e comportamento humano
teriam -se diferenciado das de seu período inicial. Outras influências sobre o
seu pensamento podem ser vislumbradas? Que outras concepções próprias podem ser
aí destacadas?
Logo nas
primeiras páginas do livro, na "Apresentação da edição brasileira",
Skinner enfatiza a necessidade de o conhecimento ser útil e ter um significado
prático. Para ele, a ciência poderia e deveria ser um "corretivo"
para os problemas humanos (Skinner, 1953/1970, cap. I). Esse argumento é uma
constante em toda a obra de Skinner.
1.6.1- Sobre ciência
Inicialmente,
já no primeiro capítulo da obra, Skinner afirma que a ciência seria uma
tentativa de descobrir ordem no mundo, de relacionar ordenadamente alguns
acontecimentos com outros. A busca de ordem, porém, não seria apenas o objetivo
da ciência, seria também um pressuposto seu. Para se buscar relacionar
ordenadamente acontecimentos do mundo, tem-se que, primeiro, supor que esses
acontecimentos já sejam, de alguma forma, ordenadamente relacionados entre si. Os
objectivos da ciência seriam, assim, a descrição, a previsão e o controle.
Note-se que Skinner não menciona a explicação como um dos objetivos da ciência
- como muitos autores o fazem. Podemos atribuir essa atitude à noção machiana
da equivalência entre descrição e explicação.
No
segundo capítulo do livro ("Uma ciência do comportamento"), Skinner
passa a discutir, de modo mais prolongado, as características da ciência como
ele a entende. Logo no início, por exemplo, o autor comenta: "Como apontou
George Sarton, a ciência é única ao mostrar um progresso acumulativo" (Skinner, 1953/1970, p.15, grifo
nosso), isto é, para Skinner, os "resultados tangíveis e imediatos"
da ciência poderiam ser comparados de modo a se mostrar, por exemplo, que a
eficácia da ciência moderna é muito superior à da ciência grega.
Em
seguida, Skinner comenta que a ciência produz "acumulações organizadas de
informação". O que lemos, quando estudamos física, química ou biologia, seriam
bons exemplos de tais "acumulações". Ele ressalta, no entanto, que
não podemos tomar a presença desses resultados específicos
da ciência (conceitos, leis e teorias da Física, da Química ou da Biologia) em
outros campos do saber como indicadores fidedignos de que também aí se utilizou
o mesmo processo científico
de investigação. "Essas acumulações não são a ciência mesma, mas os
produtos da ciência" (Skinner, 1953/1970, p. 15), isto é, se a ciência
deve visar, sim, à produção de tais acumulações organizadas de informação - o
que também nos remete à noção de economia conceitual de Mach - a importação de
conceitos de outras disciplinas científicas não pode ser tomada como garantia
de cientificidade.
Logo a
seguir, o autor cita alguns outros aspectos comuns a diversas ciências e
importantes para a prática científica, mas que não poderiam ser tomados como
características definidoras,
essenciais, da ciência: a medida exata, o cálculo matemático e uso de
instrumentos (aparelhos de pesquisa ou instrumentos matemáticos).
Desses
comentários, podemos começar a construir uma imagem da prática científica como
um empreendimento singular, acumulativo e capaz de dar conta de todos os
fenômenos naturais a partir da mesma abordagem. Essa última ideia - a de que
uma mesma abordagem pode dar conta da totalidade dos fenômenos naturais -
porém, não deve ser entendida como uma recomendação para o uso dos mesmos
métodos - e muito menos dos mesmos conceitos - em todas as disciplinas. As
características essenciais da ciência para Skinner, e que deveriam, estas sim,
ser adotadas para o estudo de qualquer assunto, não são determinados conceitos,
instrumentos ou métodos rígidos, mas, sim, atitudes. Como o próprio Skinner (1953/1970) comenta: "A
ciência é, antes de tudo, um conjunto de atitudes" (p. 15). Estas poderiam
ser resumidas nas três seguintes:
•
A ênfase nos fatos, nos dados, no empírico - o que
deveria levar à rejeição da autoridade e dos desejos do pesquisador quando
estes interferem no contato com a natureza;
•
A honestidade intelectual - ressaltada também por
Bridgman (que Skinner cita neste ponto);
•
E o afastamento de conclusões prematuras. Mais à
frente, em outros capítulos, o autor continua a enumerar outras características
da sua concepção de ciência. Skinner cita o abandono do conceito de
"relação de causa e efeito" em favor do de "relação
funcional". Para ele, a ciência estudaria mudanças nas variáveis
independentes e dependentes. Os novos termos, continua, não sugerem como uma causa produz um efeito.
Nesse ponto, parece novamente clara a influência de Mach.
1.7- O estudo científico do comportamento humano
Uma
compreensão mais clara da noção de ciência desenvolvida por Skinner nessa obra
pode ser obtida a partir das suas concepções sobre o estudo (científico) do
comportamento humano. Ao tratar do tema, Skinner começa enfatizando a extrema complexidade desse
objeto de estudo. Ressalta que essa é uma das objeções normalmente levantadas
contra a possibilidade de uma ciência do comportamento e descarta-a por
considerar que: 1) "da complexidade não se segue a autodeterminação"
2) nada se pode afirmar sobre os limites das investigações desse objecto até
que tenhamos tentado, e, mais importante, 3) pode-se simplificar as condições
em laboratório ou através de análises estatísticas. (Skinner, 1953/1970, p.
20).
A
importância das técnicas experimentais e matemáticas para o estudo do
comportamento (mesmo sem serem consideradas essenciais), aqui novamente
ressaltadas pelo autor, deve ser marcada como uma das características do seu pensamento.
O estabelecimento de relações quantitativas entre
as variáveis em estudo, obtidas após um adequado controle das condições
experimentais, parece ser a via privilegiada de descrição científica para
Skinner. No estudo das variáveis que controlam o modo como os organismos se
comportam, assim, "qualquer condição ou evento que tenha algum efeito
demonstrável sobre o comportamento deve ser considerada" Essas condições
(ou eventos) deveriam ser descobertas e analisadas, preferencialmente, de forma
quantitativa. (Skinner, 1953/1970, p. 21).
Tendo
delimitado o tipo de análise que a ciência deveria empreender, o autor passa a
especificar mais claramente quais seriam as variáveis das quais o comportamento é função. As variáveis a
serem consideradas deveriam ser aquelas ao alcance de uma análise científica,
aquelas que estão fora do organismo, em seu ambiente imediato e em sua história
ambiental. [Aquelas que] Possuem um status físico
para o qual as técnicas usuais da ciência são adequadas e permitem uma explicação
do comportamento nos moldes da de outros objetos explicados pelas respectivas
ciências (Skinner, 1953/1970, p. 26, grifo do autor).
Em suma,
em Ciência e Comportamento
Humano, delineia-se uma concepção mais completa de ciência, que
apresenta diversas continuidades com as noções do período inicial. A adesão a
definições operacionais e a uma concepção de explicação que a iguala à de
descrição de relações funcionais entre variáveis permanece como uma herança já
daquele período. Skinner também parece manter uma concepção da ciência como um
modo de produção de conhecimento que não se restringiria a alguns objetos de
estudo, que abarcaria tanto a Física quanto a Biologia e a Psicologia, por
exemplo.
Aqui,
Skinner também aborda mais especificamente o comportamento humano, e aí podemos ver todo um
campo de discussão que, pelo menos, não era explícito no início da sua
carreira. Um conjunto de concepções próprias utilizadas na abordagem desse
objeto torna-se aqui de grande importância: o conceito de comportamento operante é
amplamente utilizado e chega a ser predominante no livro; as análises que
utilizam o conceito de comportamento
verbal também são abundantes; a importância do comportamento social para as
ações humanas é destacada (toda uma seção do livro.
O comportamento
de pessoas em grupo" -é dedicada ao assunto), e as questões relativas à
descrição, evolução e planejamento de culturas ocupam outra grande parte do livro. Skinner
ressalta, além do mais, a extrema complexidade desse objeto de estudo - afirmação
tantas vezes omitida por seus críticos - e sugere, para lidar com isso, a
simplificação experimental das condições envolvidas. Vale a pena notar que,
apesar de a ciência do comportamento a que Skinner se refere durante todo o
livro ser a Análise Experimental do
Comportamento, suas interpretações e comentários extrapolam grandemente o
escopo das investigações produzidas nesse âmbito.
1.8- As influências da biologia e os pontos
fundamentais da proposta skinneriana sobre a ciência e o comportamento
Podemos perceber,
ao longo do desenvolvimento da obra de Skinner, uma ampliação da sua concepção de objeto de estudo
(Micheletto, 2001). Um primeiro marco importante nesse sentido é a elaboração
do conceito de comportamento
operante, em 1937. Com este, o sentido da ação dos organismos se
amplia para englobar a operação dos organismos sobre o mundo e o efeito das suas consequências sobre as ações
futuras.
Um
segundo momento que podemos destacar é aquele em que Skinner explicita mais
claramente as diferenças entre o seu projeto de ciência e os dos outros
comportamentalismos, com a publicação do artigo "The operational analysis
of psychological terms",5 em 1945 (Tourinho, 1987). É aí
que fica bem marcada sua oposição a uma concepção de verdade por consenso
público (acatada pelo comportamentalismo metodológico). A aceitação de um
fenômeno ou de um conceito por uma ciência do comportamento não é mais
vinculada a sua acessibilidade a pelo menos duas pessoas; o fundamental passa a
ser se o cientista pode operar eficazmente com ele - trata-se de um critério
mais instrumental, pragmatista (Tourinho, 1987). A interpretação6 é postulada como um método
legítimo da ciência. É ainda naquele mesmo artigo (de 1945) que Skinner, como
uma derivação dessa sua concepção de verdade, deixa claro que os eventos privados (conjunto de
eventos e comportamentos que ocorrem sob a pele do indivíduo) incluem-se como
objetos legítimos de estudo de uma ciência do comportamento.
Um
terceiro momento significativo no processo de ampliação do seu objeto de estudo
envolve a incorporação do comportamento
verbal e da importância do ambiente social para o estudo do fazer
humano - que pode ser simbolicamente marcado pelo lançamento do livro "O
Comportamento Verbal" (Skinner, 1957/1978), mas que já se encontra
presente ao menos desde 1953 (Skinner, 1953/1970). É aí que toda uma ampla gama
de aspectos da ação humana vai ser definitivamente abarcada pelo pensamento
skinneriano: questões relativas à cultura, à moral, à dinâmica da própria
comunidade científica, etc.
Paralelamente
à expansão do objeto de estudo, vamos assistir também a uma ampliação das determinações do
comportamento alegadas por Skinner. Partindo de uma determinação
mais restrita e imediata logo no começo de sua obra (associada à sua ênfase
inicial no conceito de reflexo), passando por uma ampliação com a invenção7 do conceito de operante (já
presente em 1953), a concepção da determinação ambiental do comportamento vai
acabar sendo definida (no período pós-1953) como resultado da interação entre as história
filogenética (seleção natural), ontogenética (condicionamentos) e cultural
(evolução cultural) do indivíduo.
Tais
mudanças no modo de encarar a ação humana - expansão do objeto de estudo
pertinente a uma ciência do comportamento e ampliação de suas determinações -
podem ser entendidas como resultado de uma influência crescente da Biologia
sobre o pensamento de Skinner. Segundo Micheletto (2001):
Esse novo significado dado ao
fazer se vincula às influências das ciências biológicas, especificamente a
teoria da evolução por seleção natural, que trazem para o comportamento um novo
conjunto de pressupostos. As referências aos supostos da teoria da evolução por
seleção natural começam a aparecer a partir da distinção entre reflexos
respondentes e operantes. A vinculação com a seleção natural vai ficando cada
vez mais explícita e abrangente. Se de início Skinner busca na seleção natural
os princípios que orientam sua concepção de objeto, gradualmente esses
princípios se estendem à própria noção de causalidade (p. 38).
A
influência das ciências biológicas também se estende à noção de causalidade adotada por
Skinner após a elaboração do conceito de operante (Micheletto, 2001). A noção
de seleção pelas consequências implicou, desde o início de seu uso por Skinner,
um afastamento ainda maior de uma causalidade mecanicista do comportamento.
Pelo menos dois importantes aspectos podem ser enumerados para confirmar tal
assertiva: a seleção pelas consequências é uma forma de causalidade muito menos
visível do que aquela da Física do século XIX (e muito mais complexa), e é uma
forma de combater as noções metafísicas que se infiltraram na mecânica clássica
e que orientaram concepções mentalistas de uma mente criadora (Micheletto,
2001). Vale lembrar que essa forma de causalidade foi estendida por Skinner aos
três níveis de determinação do comportamento (filogénese, ontogênese e cultura)
- todos explicados em termos selecionistas (Tourinho, 2003).
2- METODOLOGIA
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em suma,
podemos perceber que, desde o início de sua obra, Skinner se alinha a
concepções críticas ao mecanicismo. Isso o leva a abandonar desde cedo a
necessidade de referir-se a mecanismos físicos
para dar conta da relação entre as operações do ambiente e a ação humana (suas
críticas vão dirigir-se especialmente a referências ao sistema nervoso, real ou
hipotético). Seguindo as concepções de Mach e Bridgman, a causalidade mecânica
é criticada e substituída pela busca de relações funcionais entre variáveis. Também o modo como os
conceitos são definidos é proposto de forma a evitar os problemas do
mecanicismo e a promover uma ênfase
sobre os dados empíricos. O operacionismo de
Bridgman leva Skinner a elaborar conceitos tendo sempre como base as operações
práticas envolvidas na sua mensuração.
O
comportamento não é algo estático e imutável. Na concepção behaviorista
radical, o comportamento é apenas uma parcela da actividade total de um
organismo. Outra definição possível, de acordo com essa ciência, é que o
comportamento é a interação do organismo com o meio, modificando-o, e por sua
vez, sendo modificado. Sugere-se, ainda, que o comportamento é fruto da
interrelação de três níveis de seleção: filogenético, ontológico e cultural
(SKINNER, 1974; 1984).
Além dos
princípios da análise funcional e do operacionismo, é também fundamental para o
seu recorte básico de abordagem à realidade, desde o início de sua obra, a
adoção do externalismo.
Para Skinner, as variáveis que deveriam ser consideradas nas relações
funcionais envolvidas na ação humana seriam aquelas externas ao organismo em
estudo, aquelas relativas a seu ambiente, variáveis essas que também deveriam
ser passíveis de descrição pelas ciências naturais.
O objecto
de estudo para o qual esse modo de investigação se volta - o comportamento ou a
ação humana é visto de modo cada vez mais complexo ao longo da obra de Skinner.
Começando com estudos restritos aos reflexos e associados a uma causalidade
limitada aos eventos anteriores mais imediatos, Skinner passa a investigar o
comportamento operante, o comportamento verbal e social e mesmo práticas
culturais mais amplas, baseando-se numa perspectiva selecionista e na multideterminada
do humano. Em última instância, o objecto a que Skinner atribui a sua ciência
do comportamento pode ser entendido como o resultado da inter-relação de processos seletivos operando em três
níveis: filogenético (relativo à espécie), ontogenético (relativo ao
indivíduo) e cultural (relativo à sociedade), um objecto que, dessa forma, só
pode ser devidamente compreendido na sua singularidade e levando-se em
consideração suas diversas relações e níveis de determinação.
Dada a
extrema complexidade do comportamento humano, uma ciência que se volte para ele
deve, segundo Skinner, valer-se de algumas "ferramentas" que lhe
facilite o contato com esse objecto. Nesse sentido, seriam importantes para a
sua investigação:
•
Uma busca pelo controlo e simplificação das condições envolvidas (que
poderia ser entendida como uma preferência pela experimentação);
•
Uma busca por descrições quantitativas das relações funcionais, especialmente
em termos de frequência e probabilidade;
•
Atitudes de honestidade intelectuais e cautela no estabelecimento de conclusões;
•
A adoção da previsão e do controle como critérios últimos de validação do
conhecimento.
Um último
(e fundamental) ponto no que se refere à ciência do comportamento proposta por
Skinner parece estritamente relacionado a um dos dilemas mais prementes de
nossos dias: o da ética da
investigação e da prática científica. Skinner sempre justificou (e
lutou) por uma ciência do comportamento com base na crença de que ela poderia
ajudar na resolução da maioria dos grandes problemas com que nossa cultura convive.
Para ele, o sentido último do empreendimento de uma análise do comportamento
não era teórico, mas prático: o objetivo final dessa ciência seria o de
promover a sobrevivência da cultura
(Dittrich, 2004). Os analistas do comportamento, assim, deveriam voltar-se
sempre para o desenvolvimento de uma ciência e de uma profissão voltados para
tal fim.
Assim,
para os behavioristas radicais, o comportamento está intimamente ligado ao que
a cerca, são passiveis de modificar e serem modificados ao longo de sua história
enquanto espécie e depende de múltiplos fatores.
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DEDICATÓRIA
AGRADECIMENTOS
EPIGRAFE
RESUMO
Actualmente,
não se pode pensar no estudo do comportamento humano sem considerar a abordagem
científica a este objecto: o campo da Psicologia científica. Esse campo é
disputado por diversos enfoques teóricos que divergem quanto ao modo como
definem ciência e comportamento humano. A abordagem de B. F. Skinner foi
bastante proeminente no século XX, mas ainda continua a ser mal-entendida.
Partindo do desenvolvimento histórico de sua obra, o presente texto visa a
iluminar alguns aspectos relacionados às noções de ciência e comportamento
humano desse autor e ressaltar as transformações por que passaram. Analisam-se
três tópicos da obra de Skinner: seu período inicial (de 1930 a cerca de 1938),
a obra "Ciência e Comportamento Humano" de 1953, e as influências da
Biologia. São enfatizados aspectos relevantes da sua teorização sobre o tema:
busca por relações funcionais, ênfase nos dados empíricos, operacionismo,
externalismo, multideterminada do comportamento, experimentalismo, previsão e
controle, ética.
Palavras-chave:
Skinner, B. F., Comportamentalismo, Ciência, Comportamento.
SUMÁRIO
1.1- As
transformações do pensamento de Skinner
1.2- 1930-1938:
o período inicial e as influências da física
1.4- Percy
Bridgman (1882-1961)
1.5- Os
primeiros trabalhos de Skinner
1.6- 1953:
"ciência e comportamento humano"
1.7- O estudo
científico do comportamento humano
INTRODUÇÃO
O presente trabalho apresenta uma discussão teórica
da análise do comportamento na perspectiva behaviorista radical de Skinner.
Para tal objectivo, serão expostas algumas das possíveis contribuições do
behaviorismo radical no que tange a definição, como esse repertório
comportamental é desenvolvido, sua funcionalidade e importância para o
indivíduo. A consciência em Skinner.
Antes de iniciar qualquer discussão a respeito do
conceito de consciência no behaviorismo radical, é necessário apresentar alguns
princípios dessa filosofia analítico comportamental. Primeiramente, deve-se
esclarecer que o behaviorismo radical tem por objecto de estudo o comportamento
dos organismos e parte de uma perspectiva em que considera o indivíduo um ser
monista, ou seja, o organismo e mente ou qualquer objecto metafísico, como a
alma, encontram-se na mesma esfera de existência na qual não existem divisões
(SKINNER, 1974; 1977).
O comportamento não é algo estático e imutável. Na
concepção behaviorista radical, o comportamento é apenas uma parcela da
actividade total de um organismo (SKINNER, 1938). Outra definição possível, de
acordo com essa ciência, é que o comportamento é a interação do organismo com o
meio, modificando-o, e por sua vez, sendo modificado (SKINNER, 2003).
Sugere-se, ainda, que o comportamento é fruto da interrelação de três níveis de
seleção: filogenético, ontológico e cultural (SKINNER, 1974; 1984).
Assim, para os behavioristas radicais, o
comportamento está intimamente ligado ao que a cerca, são passiveis de
modificar e serem modificados ao longo de sua história enquanto espécie e
depende de múltiplos factores. O primeiro nível de seleção refere-se aos
processos evolutivos, no qual alterações das características hereditárias nos
grupos de organismos, que favoreceram a adaptação da espécie, são selecionados
e transmitidos em nível genético. Em relação ao segundo nível, o ontológico,
refere-se ao histórico do repertório comportamental de um indivíduo,
estabelecido ou não por seu histórico de reforçamento. Para Skinner (2003), o
reforço é apresentado de duas maneiras: positivo, quando o evento sucede a
apresentação do estímulo (afago, comida ou água, por exemplo), e negativo, que
consiste na retirada de um estímulo aversivo/desagradável (remoção de um
choque, luz ou som muito forte, dentre outros). Os comportamentos são
selecionados de modo operante, de acordo com sua experiência que, por sua vez,
aumenta ou diminui a probabilidade de determinado comportamento voltar a
ocorrer. (SKINNER, 1957).
Todo comportamento é, inicialmente, não-racional e
inconsciente, ele sendo efetivo ou não, e tem probabilidades em tornar-se
consciente sem se tornar racional, considerando que as contingências
responsáveis por ele não foram investigadas, como por exemplo: um indivíduo
pode saber o que está fazendo sem necessariamente saber o porquê (SKINNER,
1974).
Os comportamentos em geral, são determinados pelas
relações entre os eventos, que no behaviorismo radical é compreendido como
contingências de reforço. E é influenciado pelos três níveis de seleção pelas
consequências (filogenético, ontogenético e cultural), destacando que o
comportamento não está na ação e sim na relação entre eventos, como por
exemplo: (a) estímulo; (b) resposta; e (c) consequência. O que pode afetar
diretamente o modo em que vivenciamos e relatamos determinados eventos. Portanto,
Skinner (1974) destaca que a consciência e o autoconhecimento, para o
behaviorismo radical, são passíveis de distorção e a natureza do que é sentido
ou observado deve ser questionado. (SKINNER, 1974).
Contudo, em grande parte do tempo, o comportamento
é inconsciente, porém não menos efetivo, devido a limitações em “nos observar e
descrever sempre que nos comportamos, e também porque as contingências de
reforço a que estamos submetidos continuam sendo efetivas mesmo quando não
temos conhecimento delas’’ (ROSE et al., 2012, p. 205).
PROBLEMA
Objecto de estudo
JUSTIFICATIVA
Objectivos
Formulação de Hipóteses
1- ENQUADRAMENTO DO TEMA
"O
comportamentalismo, com acentuação no "ismo", não é o estudo
científico do comportamento, mas uma filosofia da ciência preocupada com o tema
e métodos da psicologia." (Skinner, 1980, p.339).
Similarmente,
a análise experimental do comportamento não é uma área da psicologia, mas uma
maneira de estudar o objecto da psicologia. Este trabalho é uma tentativa de
esclarecer os significados dos termos "behaviorismo", "análise
experimental do comportamento" e "psicologia", e uma tentativa
baseada principalmente nas contribuições de B.F. Skinner e de Harzem e Miles
(1978).
A análise
do comportamento, que não se limita à análise experimental do comportamento,
como veremos a seguir, origina-se de uma posição behaviorista assumida por
Skinner por motivos mais históricos que puramente lógicos. Skinner parte da
constatação de que há ordem e regularidade no comportamento. Um vago senso de
ordem emerge da simples observação mais cuidadosa do comportamento humano.
O termo
"behaviorismo" tem sido utilizado de diversas maneiras e de tal modo
que se pode afirmar que há muitas variedades de significado para ele. Desde o
manifesto de Watson, muitas características foram atribuídas ao termo. Muitas
delas perderam-se no tempo ante críticas irrespondíveis, outras permanecem.
Para Harzem e Miles, a palavra behaviorismo tem uma "família de
significados", e por isso, além de desnecessário, é um equívoco esperar-se
encontrar o seu "verdadeiro" significado. Portanto, a menos que se
faça a distinção entre as diversas variedades de significado, não é útil
proclamar-se "a favor" ou "contra" o behaviorismo.
As noções
de comportamento humano e de ciência, enfim, tornaram-se praticamente
indissociáveis, e é justamente a partir desse momento que diversos projectos de
conhecer cientificamente o
comportamento humano começam a competir e que o que se entende por ciência e/ou
como aplicá-la devidamente a esse campo passa a ser alvo de disputas dentro da
nascente Psicologia científica.
Um
momento fundamental nessa disputa pelo projeto dominante de Psicologia
científica é a proposição, por Burrhus Frederic Skinner, do seu Comportamentalismo Radical. Chegando
a ser considerado o psicólogo mais eminente do século XX (Haggbloom et al.,
2002), Skinner marcou profundamente toda a Psicologia americana (e, em
conseqüência, a Psicologia mundial) do século passado e continua ainda hoje a
ser amplamente estudado, discutido e a ter suas proposições ampliadas e
revisadas (por ex. Glenn, 1988; Malagodi, 1986 e Malott, 1988). Afora sua
importância para a construção da Psicologia como a conhecemos hoje, um
conhecimento mais aprofundado do discurso de Skinner é também fundamental para
evitar (ou buscar remediar) um conjunto de mal-entendidos que cercam seu
pensamento. É para os fundamentos filosóficos do comportamentalismo radical,
assim, que este trabalho se voltará.
De
início, "Pode-se dizer que as bases fundamentais que norteiam a obra de
Skinner estão vinculadas a sua pretensão de fazer da Psicologia uma ciência e,
para compreender essas bases filosóficas, precisamos identificar os modelos de
ciência que ele adota." (Micheletto, 2001, p. 31). É assim que, para nos
aproximarmos da abordagem comportamentalista radical definida pelo próprio
Skinner (1974/1995), inclusive, como a de uma filosofia da ciência buscaremos empreender uma análise da
sua concepção de ciência,
pilar essencial para a fundamentação de qualquer modo dito científico de
encarar o homem e o seu comportamento. Indissociável desse objetivo, aparece
como essencial também a discussão da sua concepção de comportamento humano. Dessa forma, buscaremos
assinalar algumas influências e transformações por que passaram tais concepções
(e outras relacionadas: causalidade, explicação, etc.) no desenvolvimento da
obra de Skinner.
1.1- As transformações do pensamento de Skinner
Desde
suas primeiras publicações, em 1930, até "Can Psychology be a science of
mind?"2 (Skinner, 1990), artigo completado
na véspera de sua morte, Skinner desenvolveu uma verdadeira visão de mundo (Michael, 1980),
que aborda as mais diversas questões (ética, educação, organização social,
cultura etc.) de um ponto de vista muito particular. Essa extensa obra, como qualquer
outra de seu porte, é perpassada por aspectos unificadores, mas também por
transformações.
Por um
lado, pode-se afirmar que toda a sua obra é marcada por alguns pontos gerais
que parecem permanecer inalterados:
·
O estabelecimento do objecto de estudo - o
comportamento; a suposição do comportamento como determinado; a pretensão de
fazer uma análise científica do comportamento a partir da noção de ciência
proposta pela ciência natural; o estudo realizado a partir do dado empírico; o
afastamento de toda metafísica do saber científico; a proposta de previsão e
controle (Micheletto, 2001, p. 30).
Essas
marcas, por outro lado, além de muito genéricas, tiveram seu sentido alterado
ao longo da obra de Skinner. Como esperamos demonstrar no decorrer deste texto,
ao menos dois grandes momentos podem ser distinguidos nesse processo. Por um
lado, um período inicial englobando aproximadamente os anos de 1930-38, em que
o autor, como ele próprio admitiria depois (Skinner, 1989/1995b, p. 176), ainda
"estava comprometido em demasia com o `reflexo'" em termos da sua
noção de comportamento (apesar de as suas investigações o terem conduzido à
formulação do conceito de operante ainda em 1937) e onde a influência de uma
concepção de ciência adotada pela Física era proeminente.
Por outro lado, em um período posterior, em
que seu foco de interesse recai mais sobre o comportamento operante, suas
concepções vão gradualmente amadurecendo e sua noção de ciência passa a ser
mais marcadamente influenciada pelas noções da Biologia. Esses dois momentos,
entretanto, se imbricam no desenvolvimento da obra skinneriana: pode-se
perceber a presença de certas concepções do período inicial nos escritos
posteriores de Skinner e interpretar algumas mudanças de concepção como um
desenvolvimento do próprio pensamento do autor. Essas alterações, em alguns dos
fundamentos filosóficos da sua visão de mundo, podem ser responsáveis, porém,
por parte das interpretações errôneas do comportamentalismo radical. É para uma
breve análise dessas transformações no pensamento de Skinner que agora nos
voltamos.
1.2- 1930-1938: o período inicial e as influências
da física
A adesão
de Skinner ao comportamentalismo e seu consequente ingresso na pós-graduação em
Psicologia de Harvard (em 1928) podem ser atribuídos, em grande parte, a sua
leitura do livro "Behaviorism", de John B. Watson (Skinner,
1989/1995b). De fato, podemos admitir, com o próprio Skinner, que, desde o
início, a sua concepção de Psicologia, de estudo do comportamento, era muito
semelhante àquela proposta por Watson em seu famoso artigo de 1913:
"Segundo o ponto de vista comportamentalista, a Psicologia é um ramo
puramente objetivo e experimental da ciência natural. Seu objetivo teórico é a
predição e o controle do comportamento" (citada por Skinner, 1989/1995b,
p. 165). Foram as aspirações de uma ciência do comportamento voltada para a
previsão e o controle que o motivaram a ingressar na Psicologia. Assim, desde o
princípio, Skinner pretendia levar a cabo uma análise científica do
comportamento a partir de uma noção de ciência fortemente inspirada nas
ciências naturais (Micheletto, 2001). Cabe assinalar, entretanto, quais seriam,
mais especificamente, as principais influências que convergiram para moldar a
forma como ele empreenderia essa aspiração.
O modelo
de ciência que inicialmente vai influenciar Skinner é aquele associado às
transformações por que a Física passava no final do século XIX e início do
século XX e às críticas que, nessa época, se levantavam contra o modelo
mecanicista fundado na Física newtoniana (Micheletto, 2001). O modelo
mecanicista explicava os eventos do mundo em termos da ação causal de forças
diversas, no tempo e no espaço, sobre a matéria. Cada coisa se moveria devido à
interação mecânica com outras coisas, todas sujeitas a um conjunto de forças.
Nesse modelo, além disso, considerava-se que a realidade possuísse existência
independente do sujeito que a experiencia e o princípio de explicação dessa
realidade deveria ser sempre baseado em um mecanismo.
1.3- Ernst Mach (1838-1916)
Para
Ernst Mach, o avanço da Física dependia do afastamento de concepções
metafísicas pressupostas na elaboração de muitos dos conceitos dessa disciplina
(Micheletto, 2001). O caminho para tanto seria a construção de um conhecimento
firmemente baseado em observações empíricas. Segundo ele, a suposição da
existência de um mundo "real", externo ao sujeito, não poderia ser
sustentada, já que só teríamos acesso às nossas sensações - seria a partir da análise apenas dessas sensações, assim,
que construiríamos nosso conhecimento do mundo. Essas noções colocam a questão
da existência real das coisas (tão fundamental para o modelo mecanicista)
simplesmente como algo sem significado - já que não passível de ser resolvida
em definitivo. "Mach torna sem significado tudo o que não produza
resultado que possa referir-se à sensibilidade" (Micheletto, 2001, p. 32).
As
concepções de Ernst Mach têm sido analisadas (de ângulos por vezes um pouco
distintos) por diversos comportamentalistas contemporâneos. Baum (1999, cap.
2), por exemplo, ao tratar Mach como um pragmatista, ressalta que a amizade desse autor com William
James seria a responsável pela influência do pragmatismo sobre o
comportamentalismo radical. Segundo Baum (1999, cap. 2), a noção de ciência de
Skinner (não só no período inicial de sua obra) e do comportamentalismo radical
como um todo seria a mesma de Mach e James: a busca por descrições econômicas,
eficientes e as mais abrangentes possíveis da experiência humana com o mundo
natural.
Mach, por
outro lado, pode ser interpretado como um positivista influenciado pelo pensamento darwinista se
ressaltarmos como, para ele, a ciência seria um discurso privilegiado sobre a
realidade (Tourinho, 2003). Apesar da continuidade entre o conhecimento comum e
o da ciência - que Mach destaca - esta última ainda incorporaria de maneira
mais eficiente um princípio de economia, organizando, de modo mais produtivo, a
experiência. Sua noção de verdade, entretanto, o distanciaria um pouco da
tradição positivista. Para Mach, a "verdade era uma questão de promoção da
adaptação de um indivíduo ou da espécie ao ambiente circundante" (Smith,
1989, p. 272, apud Tourinho,
2003, p. 33), o que descarta qualquer concepção de universalidade das afirmações
científicas.
1.4- Percy Bridgman (1882-1961)
Bridgman
também parte de uma crítica às noções mecanicistas de realidade e de
causalidade para desenvolver seus conceitos sobre a prática científica. Esse
autor, na obra que será citada por Skinner em seus trabalhos (Bridgman, 1928),
critica o modo como Newton definia conceitos como os de tempo, massa e
comprimento a partir de propriedades não-naturais, não verificáveis
empiricamente (Tourinho, 1987). Para Bridgman, os conceitos deveriam resumir-se à descrição dos tipos de
procedimento (operações) que foram utilizados para o estudo do fenômeno a que
se referem (Micheleto, 2001). O conceito de comprimento, por exemplo, não
deveria ser entendido como uma propriedade intrínseca das coisas, mas como
sinônimo do conjunto de acções realizadas para chegar-se ao número que chamamos
de comprimento das coisas. Essas noções, associadas ao movimento operacionista,
tiveram uma grande influência sobre os psicólogos de Harvard por volta dos anos
trinta, aí incluído Skinner - que, já em 1930, na sua tese de doutorado,
tentava aplicá-las à análise do conceito de reflexo.
1.5- Os primeiros trabalhos de Skinner
Na sua
tese de doutorado, defendida em 19303, e em
alguns trabalhos posteriores (ao menos até 1937), Skinner busca realizar uma
análise científica do comportamento a partir do conceito de reflexo - um objecto
de estudo que lhe permitia observar e controlar as variáveis ambientais que o
determinavam e elaborar previsões (Micheletto, 2001). Na sua tese, Skinner
empreende uma revisão histórica do conceito (como já haviam feito Mach e
Bridgman com os conceitos da Física) e acaba por defini-lo (operacionalmente,
como advogado por Bridgman) como uma
correlação observada entre um estímulo e uma resposta. O modo como,
em sua tese e nesse período inicial, Skinner busca estabelecer sua ciência do
comportamento o aproxima bastante das transformações que vinham ocorrendo na
Física da época. Como Micheletto (2001) ressalta:
No conceito de reflexo de Skinner: Essa delimitação da correlação a
eventos observados nos extremos da série estímulo e resposta afasta a análise
do comportamento do interesse pela mediação de estruturas localizadas no
sistema nervoso. A crítica de Mach e Bridgman aos supostos mecanicistas de um
meio necessário à propagação ou condução de efeitos causais pode ser
relacionada à não consideração de estruturas mediadoras na análise do
comportamento (p. 33).
Skinner
também se aproxima das propostas críticas ao mecanicismo na Física no que tange
a: 1) sua definição operacional do conceito de reflexo; 2) uma noção de
explicação que a iguala à de descrição, e 3) o abandono da noção de causalidade mecânica e a ênfase
sobre o estabelecimento de relações
funcionais entre eventos observados. Como o próprio Skinner
afirmou, referindo-se ao início de sua carreira: "meu compromisso era com
o empiricíssimo de Ernst Mach" (Skinner, 1989/1995c, p.149).
A noção
de ciência que parece guiar os primeiros trabalhos de Skinner, assim, deve
muito a Mach e a Bridgman. A ênfase sobre o empírico e sobre as experiências
concretas vivenciadas pelo cientista, a afirmação da indissociabilidade entre
as operações empregadas na investigação e o conhecimento obtido e a sustentação
da ciência como discurso mais eficiente: todas essas noções presentes no
pensamento skinneriano devem muito à influência dos dois físicos. Nesse período
inicial, também devem ser ressaltados ao menos dois aspectos do pensamento
skinneriano que viriam a ser bastante modificados (Micheletto, 2001). Em primeiro
lugar, Skinner ainda supõe que, na análise do comportamento, deve-se buscar
estabelecer uma relação do comportamento com algum evento anterior que provocaria aquela
determinada resposta. Isso parece estar associado, ainda, a um demasiado
comprometimento com o conceito de reflexo (reconhecido, mais tarde, pelo próprio
Skinner (Skinner, 1989/1995). Em segundo lugar, o pensamento de Skinner
aparece, nessa época, ainda fortemente associado a um "suposto
atomizador".
É
fundamental notar, ainda, que muitas concepções ou foram abandonadas ou
sofreram alterações já durante o
decorrer desse período. Em 1935, por exemplo, Skinner abandona a
hipótese de que o questionamento da relação entre o conhecimento e o real seria
sem sentido (o que o afasta de Mach e Bridgman) (Micheletto, 2001). Skinner
passa a entender o processo do conhecer como fruto da relação entre uma
realidade independente e um sujeito ativo que opera sobre ela a partir dos seus
procedimentos de investigação (com seus respectivos limites e possibilidades).
Em 1937, além disso, com a elaboração do conceito de operante, ele descarta a necessidade
de, para qualquer acção, identificar-se um evento antecedente que a provoque. Como o próprio Skinner coloca:
A acção de um estímulo em `eliciar' uma resposta era um bom exemplo de controlo,
e vários comportamentalistas permaneceram comprometidos com alguma versão do
esquema estímulo-resposta por muitos anos; mas, de acordo com meus
experimentos, o que acontecia depois que
um organismo se comportava desempenhava um papel muito mais importante do que o
que acontecia antes (Skinner, 1989/1995, p. 176).
Por fim,
vale ressaltar que, apesar da influência da Biologia sobre suas concepções de
ciência e comportamento só aparecer mais marcadamente no período final de sua
obra, desde essa época Skinner se refere à importância dessa disciplina na sua
formação intelectual. (p. 164).
1.6- 1953: "ciência e comportamento
humano"
Seguindo
o desenvolvimento da obra de Skinner, cabe questionar se, em 1953, com a
publicação de Ciência e
Comportamento Humano, suas concepções de ciência e comportamento humano
teriam -se diferenciado das de seu período inicial. Outras influências sobre o
seu pensamento podem ser vislumbradas? Que outras concepções próprias podem ser
aí destacadas?
Logo nas
primeiras páginas do livro, na "Apresentação da edição brasileira",
Skinner enfatiza a necessidade de o conhecimento ser útil e ter um significado
prático. Para ele, a ciência poderia e deveria ser um "corretivo"
para os problemas humanos (Skinner, 1953/1970, cap. I). Esse argumento é uma
constante em toda a obra de Skinner.
1.6.1- Sobre ciência
Inicialmente,
já no primeiro capítulo da obra, Skinner afirma que a ciência seria uma
tentativa de descobrir ordem no mundo, de relacionar ordenadamente alguns
acontecimentos com outros. A busca de ordem, porém, não seria apenas o objetivo
da ciência, seria também um pressuposto seu. Para se buscar relacionar
ordenadamente acontecimentos do mundo, tem-se que, primeiro, supor que esses
acontecimentos já sejam, de alguma forma, ordenadamente relacionados entre si. Os
objectivos da ciência seriam, assim, a descrição, a previsão e o controle.
Note-se que Skinner não menciona a explicação como um dos objetivos da ciência
- como muitos autores o fazem. Podemos atribuir essa atitude à noção machiana
da equivalência entre descrição e explicação.
No
segundo capítulo do livro ("Uma ciência do comportamento"), Skinner
passa a discutir, de modo mais prolongado, as características da ciência como
ele a entende. Logo no início, por exemplo, o autor comenta: "Como apontou
George Sarton, a ciência é única ao mostrar um progresso acumulativo" (Skinner, 1953/1970, p.15, grifo
nosso), isto é, para Skinner, os "resultados tangíveis e imediatos"
da ciência poderiam ser comparados de modo a se mostrar, por exemplo, que a
eficácia da ciência moderna é muito superior à da ciência grega.
Em
seguida, Skinner comenta que a ciência produz "acumulações organizadas de
informação". O que lemos, quando estudamos física, química ou biologia, seriam
bons exemplos de tais "acumulações". Ele ressalta, no entanto, que
não podemos tomar a presença desses resultados específicos
da ciência (conceitos, leis e teorias da Física, da Química ou da Biologia) em
outros campos do saber como indicadores fidedignos de que também aí se utilizou
o mesmo processo científico
de investigação. "Essas acumulações não são a ciência mesma, mas os
produtos da ciência" (Skinner, 1953/1970, p. 15), isto é, se a ciência
deve visar, sim, à produção de tais acumulações organizadas de informação - o
que também nos remete à noção de economia conceitual de Mach - a importação de
conceitos de outras disciplinas científicas não pode ser tomada como garantia
de cientificidade.
Logo a
seguir, o autor cita alguns outros aspectos comuns a diversas ciências e
importantes para a prática científica, mas que não poderiam ser tomados como
características definidoras,
essenciais, da ciência: a medida exata, o cálculo matemático e uso de
instrumentos (aparelhos de pesquisa ou instrumentos matemáticos).
Desses
comentários, podemos começar a construir uma imagem da prática científica como
um empreendimento singular, acumulativo e capaz de dar conta de todos os
fenômenos naturais a partir da mesma abordagem. Essa última ideia - a de que
uma mesma abordagem pode dar conta da totalidade dos fenômenos naturais -
porém, não deve ser entendida como uma recomendação para o uso dos mesmos
métodos - e muito menos dos mesmos conceitos - em todas as disciplinas. As
características essenciais da ciência para Skinner, e que deveriam, estas sim,
ser adotadas para o estudo de qualquer assunto, não são determinados conceitos,
instrumentos ou métodos rígidos, mas, sim, atitudes. Como o próprio Skinner (1953/1970) comenta: "A
ciência é, antes de tudo, um conjunto de atitudes" (p. 15). Estas poderiam
ser resumidas nas três seguintes:
•
A ênfase nos fatos, nos dados, no empírico - o que
deveria levar à rejeição da autoridade e dos desejos do pesquisador quando
estes interferem no contato com a natureza;
•
A honestidade intelectual - ressaltada também por
Bridgman (que Skinner cita neste ponto);
•
E o afastamento de conclusões prematuras. Mais à
frente, em outros capítulos, o autor continua a enumerar outras características
da sua concepção de ciência. Skinner cita o abandono do conceito de
"relação de causa e efeito" em favor do de "relação
funcional". Para ele, a ciência estudaria mudanças nas variáveis
independentes e dependentes. Os novos termos, continua, não sugerem como uma causa produz um efeito.
Nesse ponto, parece novamente clara a influência de Mach.
1.7- O estudo científico do comportamento humano
Uma
compreensão mais clara da noção de ciência desenvolvida por Skinner nessa obra
pode ser obtida a partir das suas concepções sobre o estudo (científico) do
comportamento humano. Ao tratar do tema, Skinner começa enfatizando a extrema complexidade desse
objeto de estudo. Ressalta que essa é uma das objeções normalmente levantadas
contra a possibilidade de uma ciência do comportamento e descarta-a por
considerar que: 1) "da complexidade não se segue a autodeterminação"
2) nada se pode afirmar sobre os limites das investigações desse objecto até
que tenhamos tentado, e, mais importante, 3) pode-se simplificar as condições
em laboratório ou através de análises estatísticas. (Skinner, 1953/1970, p.
20).
A
importância das técnicas experimentais e matemáticas para o estudo do
comportamento (mesmo sem serem consideradas essenciais), aqui novamente
ressaltadas pelo autor, deve ser marcada como uma das características do seu pensamento.
O estabelecimento de relações quantitativas entre
as variáveis em estudo, obtidas após um adequado controle das condições
experimentais, parece ser a via privilegiada de descrição científica para
Skinner. No estudo das variáveis que controlam o modo como os organismos se
comportam, assim, "qualquer condição ou evento que tenha algum efeito
demonstrável sobre o comportamento deve ser considerada" Essas condições
(ou eventos) deveriam ser descobertas e analisadas, preferencialmente, de forma
quantitativa. (Skinner, 1953/1970, p. 21).
Tendo
delimitado o tipo de análise que a ciência deveria empreender, o autor passa a
especificar mais claramente quais seriam as variáveis das quais o comportamento é função. As variáveis a
serem consideradas deveriam ser aquelas ao alcance de uma análise científica,
aquelas que estão fora do organismo, em seu ambiente imediato e em sua história
ambiental. [Aquelas que] Possuem um status físico
para o qual as técnicas usuais da ciência são adequadas e permitem uma explicação
do comportamento nos moldes da de outros objetos explicados pelas respectivas
ciências (Skinner, 1953/1970, p. 26, grifo do autor).
Em suma,
em Ciência e Comportamento
Humano, delineia-se uma concepção mais completa de ciência, que
apresenta diversas continuidades com as noções do período inicial. A adesão a
definições operacionais e a uma concepção de explicação que a iguala à de
descrição de relações funcionais entre variáveis permanece como uma herança já
daquele período. Skinner também parece manter uma concepção da ciência como um
modo de produção de conhecimento que não se restringiria a alguns objetos de
estudo, que abarcaria tanto a Física quanto a Biologia e a Psicologia, por
exemplo.
Aqui,
Skinner também aborda mais especificamente o comportamento humano, e aí podemos ver todo um
campo de discussão que, pelo menos, não era explícito no início da sua
carreira. Um conjunto de concepções próprias utilizadas na abordagem desse
objeto torna-se aqui de grande importância: o conceito de comportamento operante é
amplamente utilizado e chega a ser predominante no livro; as análises que
utilizam o conceito de comportamento
verbal também são abundantes; a importância do comportamento social para as
ações humanas é destacada (toda uma seção do livro.
O comportamento
de pessoas em grupo" -é dedicada ao assunto), e as questões relativas à
descrição, evolução e planejamento de culturas ocupam outra grande parte do livro. Skinner
ressalta, além do mais, a extrema complexidade desse objeto de estudo - afirmação
tantas vezes omitida por seus críticos - e sugere, para lidar com isso, a
simplificação experimental das condições envolvidas. Vale a pena notar que,
apesar de a ciência do comportamento a que Skinner se refere durante todo o
livro ser a Análise Experimental do
Comportamento, suas interpretações e comentários extrapolam grandemente o
escopo das investigações produzidas nesse âmbito.
1.8- As influências da biologia e os pontos
fundamentais da proposta skinneriana sobre a ciência e o comportamento
Podemos perceber,
ao longo do desenvolvimento da obra de Skinner, uma ampliação da sua concepção de objeto de estudo
(Micheletto, 2001). Um primeiro marco importante nesse sentido é a elaboração
do conceito de comportamento
operante, em 1937. Com este, o sentido da ação dos organismos se
amplia para englobar a operação dos organismos sobre o mundo e o efeito das suas consequências sobre as ações
futuras.
Um
segundo momento que podemos destacar é aquele em que Skinner explicita mais
claramente as diferenças entre o seu projeto de ciência e os dos outros
comportamentalismos, com a publicação do artigo "The operational analysis
of psychological terms",5 em 1945 (Tourinho, 1987). É aí
que fica bem marcada sua oposição a uma concepção de verdade por consenso
público (acatada pelo comportamentalismo metodológico). A aceitação de um
fenômeno ou de um conceito por uma ciência do comportamento não é mais
vinculada a sua acessibilidade a pelo menos duas pessoas; o fundamental passa a
ser se o cientista pode operar eficazmente com ele - trata-se de um critério
mais instrumental, pragmatista (Tourinho, 1987). A interpretação6 é postulada como um método
legítimo da ciência. É ainda naquele mesmo artigo (de 1945) que Skinner, como
uma derivação dessa sua concepção de verdade, deixa claro que os eventos privados (conjunto de
eventos e comportamentos que ocorrem sob a pele do indivíduo) incluem-se como
objetos legítimos de estudo de uma ciência do comportamento.
Um
terceiro momento significativo no processo de ampliação do seu objeto de estudo
envolve a incorporação do comportamento
verbal e da importância do ambiente social para o estudo do fazer
humano - que pode ser simbolicamente marcado pelo lançamento do livro "O
Comportamento Verbal" (Skinner, 1957/1978), mas que já se encontra
presente ao menos desde 1953 (Skinner, 1953/1970). É aí que toda uma ampla gama
de aspectos da ação humana vai ser definitivamente abarcada pelo pensamento
skinneriano: questões relativas à cultura, à moral, à dinâmica da própria
comunidade científica, etc.
Paralelamente
à expansão do objeto de estudo, vamos assistir também a uma ampliação das determinações do
comportamento alegadas por Skinner. Partindo de uma determinação
mais restrita e imediata logo no começo de sua obra (associada à sua ênfase
inicial no conceito de reflexo), passando por uma ampliação com a invenção7 do conceito de operante (já
presente em 1953), a concepção da determinação ambiental do comportamento vai
acabar sendo definida (no período pós-1953) como resultado da interação entre as história
filogenética (seleção natural), ontogenética (condicionamentos) e cultural
(evolução cultural) do indivíduo.
Tais
mudanças no modo de encarar a ação humana - expansão do objeto de estudo
pertinente a uma ciência do comportamento e ampliação de suas determinações -
podem ser entendidas como resultado de uma influência crescente da Biologia
sobre o pensamento de Skinner. Segundo Micheletto (2001):
Esse novo significado dado ao
fazer se vincula às influências das ciências biológicas, especificamente a
teoria da evolução por seleção natural, que trazem para o comportamento um novo
conjunto de pressupostos. As referências aos supostos da teoria da evolução por
seleção natural começam a aparecer a partir da distinção entre reflexos
respondentes e operantes. A vinculação com a seleção natural vai ficando cada
vez mais explícita e abrangente. Se de início Skinner busca na seleção natural
os princípios que orientam sua concepção de objeto, gradualmente esses
princípios se estendem à própria noção de causalidade (p. 38).
A
influência das ciências biológicas também se estende à noção de causalidade adotada por
Skinner após a elaboração do conceito de operante (Micheletto, 2001). A noção
de seleção pelas consequências implicou, desde o início de seu uso por Skinner,
um afastamento ainda maior de uma causalidade mecanicista do comportamento.
Pelo menos dois importantes aspectos podem ser enumerados para confirmar tal
assertiva: a seleção pelas consequências é uma forma de causalidade muito menos
visível do que aquela da Física do século XIX (e muito mais complexa), e é uma
forma de combater as noções metafísicas que se infiltraram na mecânica clássica
e que orientaram concepções mentalistas de uma mente criadora (Micheletto,
2001). Vale lembrar que essa forma de causalidade foi estendida por Skinner aos
três níveis de determinação do comportamento (filogénese, ontogênese e cultura)
- todos explicados em termos selecionistas (Tourinho, 2003).
2- METODOLOGIA
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em suma,
podemos perceber que, desde o início de sua obra, Skinner se alinha a
concepções críticas ao mecanicismo. Isso o leva a abandonar desde cedo a
necessidade de referir-se a mecanismos físicos
para dar conta da relação entre as operações do ambiente e a ação humana (suas
críticas vão dirigir-se especialmente a referências ao sistema nervoso, real ou
hipotético). Seguindo as concepções de Mach e Bridgman, a causalidade mecânica
é criticada e substituída pela busca de relações funcionais entre variáveis. Também o modo como os
conceitos são definidos é proposto de forma a evitar os problemas do
mecanicismo e a promover uma ênfase
sobre os dados empíricos. O operacionismo de
Bridgman leva Skinner a elaborar conceitos tendo sempre como base as operações
práticas envolvidas na sua mensuração.
O
comportamento não é algo estático e imutável. Na concepção behaviorista
radical, o comportamento é apenas uma parcela da actividade total de um
organismo. Outra definição possível, de acordo com essa ciência, é que o
comportamento é a interação do organismo com o meio, modificando-o, e por sua
vez, sendo modificado. Sugere-se, ainda, que o comportamento é fruto da
interrelação de três níveis de seleção: filogenético, ontológico e cultural
(SKINNER, 1974; 1984).
Além dos
princípios da análise funcional e do operacionismo, é também fundamental para o
seu recorte básico de abordagem à realidade, desde o início de sua obra, a
adoção do externalismo.
Para Skinner, as variáveis que deveriam ser consideradas nas relações
funcionais envolvidas na ação humana seriam aquelas externas ao organismo em
estudo, aquelas relativas a seu ambiente, variáveis essas que também deveriam
ser passíveis de descrição pelas ciências naturais.
O objecto
de estudo para o qual esse modo de investigação se volta - o comportamento ou a
ação humana é visto de modo cada vez mais complexo ao longo da obra de Skinner.
Começando com estudos restritos aos reflexos e associados a uma causalidade
limitada aos eventos anteriores mais imediatos, Skinner passa a investigar o
comportamento operante, o comportamento verbal e social e mesmo práticas
culturais mais amplas, baseando-se numa perspectiva selecionista e na multideterminada
do humano. Em última instância, o objecto a que Skinner atribui a sua ciência
do comportamento pode ser entendido como o resultado da inter-relação de processos seletivos operando em três
níveis: filogenético (relativo à espécie), ontogenético (relativo ao
indivíduo) e cultural (relativo à sociedade), um objecto que, dessa forma, só
pode ser devidamente compreendido na sua singularidade e levando-se em
consideração suas diversas relações e níveis de determinação.
Dada a
extrema complexidade do comportamento humano, uma ciência que se volte para ele
deve, segundo Skinner, valer-se de algumas "ferramentas" que lhe
facilite o contato com esse objecto. Nesse sentido, seriam importantes para a
sua investigação:
•
Uma busca pelo controlo e simplificação das condições envolvidas (que
poderia ser entendida como uma preferência pela experimentação);
•
Uma busca por descrições quantitativas das relações funcionais, especialmente
em termos de frequência e probabilidade;
•
Atitudes de honestidade intelectuais e cautela no estabelecimento de conclusões;
•
A adoção da previsão e do controle como critérios últimos de validação do
conhecimento.
Um último
(e fundamental) ponto no que se refere à ciência do comportamento proposta por
Skinner parece estritamente relacionado a um dos dilemas mais prementes de
nossos dias: o da ética da
investigação e da prática científica. Skinner sempre justificou (e
lutou) por uma ciência do comportamento com base na crença de que ela poderia
ajudar na resolução da maioria dos grandes problemas com que nossa cultura convive.
Para ele, o sentido último do empreendimento de uma análise do comportamento
não era teórico, mas prático: o objetivo final dessa ciência seria o de
promover a sobrevivência da cultura
(Dittrich, 2004). Os analistas do comportamento, assim, deveriam voltar-se
sempre para o desenvolvimento de uma ciência e de uma profissão voltados para
tal fim.
Assim,
para os behavioristas radicais, o comportamento está intimamente ligado ao que
a cerca, são passiveis de modificar e serem modificados ao longo de sua história
enquanto espécie e depende de múltiplos fatores.
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