QUALIDADE DE VIDA E MOTIVAÇÃO NO
TRABALHO
RESUMO
Qualidade
de Vida no Trabalho é um tema ainda não devidamente explorada na gestão de
recursos humanos. Entretanto, não há como abordar este sem mencionar a
motivação e a satisfação das necessidades dos funcionários de uma empresa, como
aspectos preponderantes para a qualidade de vida dos profissionais no ambiente
de trabalho.
Diante
de tantas turbulências, mudanças e incertezas que caracterizam as organizações
no contexto atual, o que nos e resta é o desafio da sobrevivência das empresas
que estiverem conscientes de que a competitividade requer produtividade com
qualidade, o que não significa apenas investir em tecnologias, mas também nas
pessoas que trabalham na organização.
Esta
terá mais chance de sobreviver neste competitivo mercado. Em decorrência do exposto
nunca foi tão importante conhecer, identificar as necessidades e os anseios das
pessoas e compatibilizá-los com sua atuação no trabalho.
Verifica-se,
ao longo deste artigo, que conhecer o que motiva as pessoas é fundamental para
o sucesso de qualquer organização. Dessa forma a Qualidade de Vida no Trabalho
pode contribuir para a criação de condições que motivem os profissionais,
através de um ambiente de trabalho saudável, identificando as necessidades e
anseios das pessoas, reconhecendo as pessoas pelo bom desempenho profissional,
dando oportunidade para que elas participem das decisões da empresa,
facilitando o desenvolvimento pessoal, garantindo meios para o feedback
positivo, proporcionando desafios, projetando trabalho de modo a torná-lo atraente,
implantando um sistema de recompensas, concedendo benefícios e salários
compatíveis com a função.
Palavras
– chaves: Qualidade, vida, motivação.
INTRODUÇÃO
Diante
da globalização, mudança intensa, clientes cada vez mais exigentes, busca
intensa pela qualidade e produtividade, grande volume de informações, inovações
tecnológicas e competitividade acirrada terão mais chances de sobreviver
aquelas organizações que forem capazes de vislumbrar os seus recursos humanos
como seres únicos, ímpares, dotados de diferenças e com necessidades diversas.
Na era do conhecimento que passou a constituir a principal vantagem estratégica
competitiva, as empresas de vanguarda focam suas atenções nas pessoas, aquelas
que realmente fazem a diferença e que detêm o conhecimento.
O
sistema tradicional de gestão de pessoas não responde mais adequadamente às
necessidades impostas às organizações do século XXI e nem aos anseios e
expectativas do profissional do terceiro milênio, por isso a utilização de
tecnologias, métodos e ferramentas de trabalho que atendam a nova demanda
faz-se de vital importância para o sucesso das organizações na atualidade.
A
área de RH tem um papel vital nesse processo, pois ela é responsável por criar
programas que mantenham os colaboradores energizados o tempo todo.
O
presente artigo tem como objetivo enfocar a importância da tecnologia da
qualidade de vida no trabalho como fundamental no processo de motivação das
pessoas dentro das organizações.
Terão
mais chances de sobreviver as empresas que se proporem a atender aos anseios,
expectativas e objetivos dos funcionários, compatibilizando-os com o alcance de
resultados favoráveis para estas.
Cada
vez mais as empresas se perguntam: como é possível manter pessoas motivadas?
Segundo Hoffman: “É importante tratar outros seres humanos exatamente como você
gostaria que eles o tratassem.” Hoffman era muito conhecido e respeitado como
executivo, e sua habilidade para motivar pessoas tornou-se lendária nos
círculos empresariais. Portanto, a Qualidade de Vida no Trabalho aliada aos
aspectos motivacionais, constitui importante ferramenta na busca da satisfação
das necessidades das pessoas e é sobre este assunto que se tratará no presente
artigo.
2 QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO E
MOTIVAÇÃO
2.1 Breve Histórico sobre a Qualidade de
Vida no Trabalho
Segundo
Santos e Fialho apud Merino (2000, p. 13) “o trabalho é uma forma de atividade
própria do homem, enquanto ser social”. O trabalho se relaciona diretamente com
algum tipo de retorno, preferencialmente de ordem material ou monetária. O
trabalho constitui a aplicação de forças e faculdades para atingir um objetivo.
O trabalho sempre ocupou um lugar muito importante na vida de todas as pessoas,
pois grande parte dela se passa dentro das organizações, assim ele possui um
grande valor em nossa sociedade, pois desperta o homem a busca de conduções
para melhorar sua qualidade de vida, como disse Amador Aguiar: “Só o trabalho
produz riqueza.”
O
trabalho e a qualidade de vida têm sido uma preocupação constante do homem desde
o início de sua existência. Inicialmente com os economistas liberais como Adam
Smith, que foi um dos grandes incentivadores da racionalização da produção,
através da especialização das etapas da
produção,
como meio para a maior destreza do trabalhador e a minimização do tempo de
produção, passando pela administração científica com destaque para o nome de
Frederick Taylor, que surgiu em parte pela necessidade de aumentar a
produtividade principalmente nos Estados Unidos onde a
oferta
de mão-de-obra qualificada era insuficiente no início do século XX, sendo
necessário descobrir maneiras de aumentar a eficiência dos operários, e a
Escola de Relações Humanas que teve na figura de Elton Mayo e seus companheiros
da Universidade de Harvard os pioneiros da aplicação do método científico em
seus estudos das pessoas no ambiente de trabalho, lançando a idéia do
"homem social" motivado pela vontade de estabelecer relações com os
outros, fez Elton Mayo conduzir uma pesquisa que ficou mundialmente conhecida como
“Experiência de Hawthorne,” cujos resultados gerou as seguintes conclusões: a)
O nível de produção é resultante da interação social do trabalhador; b) O
comportamento do empregado se apóia totalmente no grupo; c) O comportamento dos
trabalhadores está condicionado a normas e padrões sociais, etc.
Segundo
Stoner (1982) pesquisadores posteriores foram treinados com mais rigor nas
ciências sociais (psicologia, sociologia e antropologia) e empregaram métodos
de pesquisa mais sofisticados, sendo considerados "cientistas do
comportamento" como Argyris, Maslow e Mc Gregor. Para eles o conceito de
"homem que se auto-realiza" explicaria com maior exatidão as
motivações humanas. A década de 70 assistiu a uma mudança no enfoque do
gerenciamento organizacional, incentivada principalmente pelo sucesso
industrial japonês, quando surgiram os primeiros movimentos e aplicações
estruturadas, sistematizado no interior da organização, utilizando a Qualidade
de Vida no Trabalho. A partir dos anos 80, o crescente avanço tecnológico e a conseqüente
modernização do parque industrial, o aumento das interconexões, a rapidez no
fluxo de informações e um ambiente altamente turbulento e instável, em
conseqüência das constantes mudanças, trazem à tona a
tecnologia
da qualidade de vida no trabalho (QVT) como uma alternativa, ainda não
devidamente explorada na gestão de Recursos Humanos, mas preponderante para o
sucesso organizacional.
2.2 Conceito de Qualidade de Vida no
Trabalho
Antes
de se focar a Qualidade de Vida no Trabalho, faz-se necessário um entendimento
do conceito do que seja Qualidade de Vida.
Segundo
Milioni (2003) a expressão qualidade de vida tem livre interpretação, sem uma
regra geral, porquanto dependente da tônica que a ela se queira dar, conforme
os valores, filosofia e propósitos das pessoas e entidades que a queiram usar
como referência para o trabalho que desenvolvem na busca da felicidade do ser
humano.
Qualidade
de vida é uma questão intersetorial, isto é, para que alguém tenha qualidade de
vida, necessita satisfazer muitos aspectos ligados a diversas áreas da vida
cotidiana.Para Limongi-França (2004) qualidade de vida é a sensação bem-estar,
proporcionada pelo atendimento das necessidades individuais, do ambiente social
e econômico e das expectativas de vida.
A
qualidade de vida, refere-se portanto, a uma condição de vida favorável ou
desfavorável, considerando aspectos como: alimentação, habitação, transporte,
educação, saúde, trabalho, lazer, saneamento.
A
qualidade de vida tem um cunho holístico por enfocar o ser humano em todas as
suas dimensões, quais sejam, mental, social, física, emocional e espiritual.
Nas empresas, a qualidade de vida tem sido um dos maiores objetivos da gestão
estratégica de pessoas, por via de ações de
melhoria
do ambiente e condições de trabalho, emprego de técnicas de ginástica laboral,
sessões de relaxamento, atividades lúdicas e muitos outros recursos ortodoxos e
criativos.
Qualidade
de vida significa, portanto, entender e procurar atender a pessoa em suas
necessidades integrais relacionadas às dimensões mental, física, social,
emocional e espiritual. Sendo assim a definição de qualidade de vida é tão
ampla quanto a dimensão do ser humano, uma vez que perseguir qualidade de vida
significa entender e procura atender a pessoa em suas
necessidades
integrais. E, nas organizações, a preocupação constante com a competitividade,
que requer produtividade com qualidade, tem levado-as a aumentar o nível de
satisfação dos empregados no desenvolver de suas atividades profissionais,
buscando neles permanentes aliados na corrida pela
sobrevivência,
pois profissionais desmotivados e insatisfeitos com certeza não produzirão
produtos e serviços de qualidade e, conseqüentemente, comprometerão as chances
de sobrevivência da organização.
Como
cita Fernandes (apud DESCHAMPS, 1997), homens mobilizados e satisfeitos fazem a
diferença, portanto somente sobreviverão às empresas que souberem utilizar seus
recursos humanos tão bem como sua tecnologia e seu capital. Para que a
organização tenha profissionais trabalhando com níveis elevados de satisfação e
motivação, é preciso haver real oportunidade de participação destes, pois a
efetiva participação
constitui
meio importante para que as pessoas apresentem o comprometimento necessário com
as propostas da empresa, viabilizando o alcance dos resultados a serem
atingidos por ela e, conseqüentemente, tornando-a mais competitiva no mercado.
É salutar que a organização possa ser um espaço onde o indivíduo concretize
seus objetivos pessoais em consonância com os objetivos organizacionais. Para
Fernandes (1996, p. 37) “[...]
somente
atendendo às necessidades das pessoas e as desenvolvendo, maximizando as suas
potencialidades, é que a empresa também se desenvolverá atingindo suas metas”.
Neste
contexto, surge importante tecnologia voltada à satisfação das necessidades das
pessoas, trata-se da qualidade de vida no trabalho.
Segundo
Rodrigues (1994) a Qualidade de Vida do Trabalho tem diferentes conotações,
sendo a mais objetiva e clara, facilitar e satisfazer as necessidades dos
trabalhadores no desenvolver
de
suas atividades. A expressão qualidade de vida no trabalho relaciona-se ao
alcance dos objetivos individuais, participação, oportunidades educacionais,
oportunidades econômicas, oportunidades sociais, boas condições físicas e de
instalações, redução da jornada de trabalho e etc.
De
acordo com Hackman e Suttle (apud BÚRIGO, 1997, p. 19):
a
qualidade de vida no trabalho refere-se à satisfação das necessidades da
pessoa. Ela afeta atitudes pessoais e comportamentais, tais como criatividade, vontade
de inovar ou aceitar mudanças, capacidade de adaptar-se a mudanças no ambiente
de trabalho e o grau de motivação interna para o trabalho, que são fatores
importantes para a produtividade do indivíduo.
Pensando
nas abordagens contempladas num Programa de Qualidade de Vida dentro de uma
empresa, foca-se resumidamente em alguns aspectos: qualidade e produtividade,
segurança e saúde no trabalho e considerando os conteúdos relacionados aos
recursos humanos, capacitação, motivação e desenvolvimento pessoal.
Segundo
Bergeron (1992) qualidade de vida no trabalho consiste na aplicação concreta de
uma filosofia humanista pela introdução de métodos participativos, visando
modificar vários aspectos do meio ambiente de trabalho, a fim de criar uma nova
situação, mais favorável à situação dos empregados da empresa.
A
qualidade de vida no trabalho está ligada às condições favoráveis ou
desfavoráveis de um ambiente de trabalho para os funcionários.
Para Walton, Westley, Davis e
Werther, Nadler e Lawler, Huse e Cummings (apud RODRIGUES,
1994, p. 21):
A
Qualidade de Vida no trabalho é resultante direta da combinação de diversas
dimensões
básicas da tarefa e de outras dimensões não dependentes diretamente da tarefa,
capazes de produzir motivação e satisfação em diferentes níveis, além de
resultar em diferentes tipos de atividade e condutas dos indivíduos
pertencentes a uma organização.
Por
outro lado, como conseqüência da insatisfação dos profissionais, há um aumento
do absenteísmo, o turnover se eleva, ocorre diminuição do rendimento,
reclamações e greves que produzem efeitos na saúde física e mental dos
profissionais e, em decorrência, na qualidade e rentabilidade empresarial.
Conforme Limongi-França (2004) a qualidade de vida no trabalho traduz
atividades e atitudes que levam à percepção de bem-estar por meio de recursos
disponíveis para satisfação das necessidades pessoais e de grupos.
Portanto,
a qualidade de vida no trabalho é um conceito amplo que abrange tanto
necessidades e expectativas pessoais como fatores situacionais ligados à
tecnologia, condições de trabalho, plano de carreira, cargos e salários,
sistema de recompensa, implantação de benefícios, avaliação de desempenho e do
potencial do profissional entre outros, mas não é possível implantar programas
de qualidade, sem que as pessoas estejam motivadas e engajadas no trabalho.
Rodrigues
(1994, p.150) afirma que a ”Qualidade de Vida no Trabalho tem como base para
sua mensuração a motivação e a satisfação em diferentes níveis". Assim
fica evidente a ligação do tema com a motivação dos funcionários, ou seja,
quais aspectos da qualidade de vida no trabalho constituem motivos para ação? A
resposta a esta pergunta constitui importante diretriz às empresas que almejam
sucesso.
Para
que haja mudanças eficazes, é fundamental um diagnóstico da qualidade de vida
no trabalho relacionado à motivação e à satisfação dos funcionários que compõem
a empresa.
De
acordo com Chiavenato (1994, p. 99) "a motivação constitui um importante
campo da natureza humana e da explicação do comportamento humano", sobre o
qual se trata a seguir.
2.3 Conceito de Motivação e Breve
Histórico sobre as Teorias Motivacionais.
“A
palavra motivação deriva do latim motivus, movere que significa mover. Em seu
sentido original, a palavra indica o processo pelo qual o comportamento humano
é, estimulado, estimulado ou energizado por algum tipo de motivo ou razão.
Motivo, motor e emoção são palavras que têm a mesma raiz.” (Maximiano (2004, p.
268)
Para
Kurt Lewin “O comportamento é produto de um campo de determinantes
interdependentes (conhecido como “espaço de vida” ou “campos social”). As
características estruturais desse campo são representadas por conceitos
extraídos da topologia e da teoria de conjuntos e as características dinâmicas
são representadas através de conceitos de forças psicológicas e sociais”
(Zander, 1967).
Para
Chiavenato (1992) a motivação é algo que está contido dentro das próprias
pessoas,mas pode ser amplamente influenciada por fatores externos ao indivíduo
ou pelo seu próprio trabalho na empresa. A motivação intrínseca e a motivação
extrínseca devem se complementar através do trabalho gerencial.
Katz
e Rosenzwerg (apud CHIAVENATO, 1994, p. 99) definem motivo como “ tudo aquilo
que impulsiona a pessoa a agir de determinada forma ou, pelo menos, que dá
origem a um comportamento específico”.
Sendo
assim os motivos variam de acordo com valores, expectativas e anseios de cada
pessoa, pois estas realizam atividades, trabalhos por interesses distintos e
possuem comportamentos específicos.
Chiavenato
(1994) salienta ainda que esse impulso à ação pode ser provocado por um
estímulo externo (provindo do ambiente) e pode também ser gerado internamente
nos processos mentais do indivíduo.
Steers
e Porter (apud BERGAMINI, 1997, p. 31) "propõem que a motivação seja uma
cadeia de eventos baseada no desejo de reduzir um estado interno de
desequilíbrio, tendo como base a crença de que certos propósitos deveriam
servir a esse propósito”. Os autores comentam sobre a motivação como uma
sucessão de situações que buscam atender às necessidades intrínsecas do ser
humano. Para Gooch e McDowell (apud BERGAMINI, 1997, p. 82) “ a motivação é uma
força que se encontra no interior de cada pessoa e que pode estar ligada a um
desejo. Uma pessoa não consegue jamais motivar alguém; o que ela pode fazer é
estimular a outra pessoa ”.
Os
autores acreditam que ninguém motiva ninguém, isto é, o máximo que se pode
fazer é contribuir para que a pessoa não fique desmotivada, pois segundo eles a
motivação é uma força que se encontra no interior de cada pessoa e que está
ligada à satisfação de um desejo, expectativa.
Segundo
Chiavenato (1994, 101) "as necessidades ou motivos não são estáticos; ao
contrário são forças dinâmicas e persistentes que provocam
comportamentos". São muitos os aspectos da vida que fazem com que as
necessidades ou motivos pelos quais as pessoas têm determinado
comportamento
variem ao longo da sua existência. Para o autor, por ser a motivação humana
orientada pelas diferentes necessidades, ela é cíclica, pois a satisfação de
algumas necessidades é temporal e passageira.
Como
a motivação está ligada ao proces so de compreensão do comportamento humano e
por serem as pessoas diferentes, a motivação varia de indivíduo para indivíduo,
as necessidades e expectativas variam, produzindo diferentes padrões de
comportamento, valores sociais, expectativas e o que é mais complexo e que
estes variam na mesma pessoa ao longo do tempo. Segundo Bergamini (1997, 71) a
noção de necessidades permeia a maior parte dos conceitos no campo da motivação.
Sendo considerada como ponto de partida do comportamento motivacional, a
necessidade, usada com o sentido de estado de carência, está presente em um bom
número de teorias.
As
teorias mais conhecidas sobre a motivação estão relacionadas com as
necessidades humanas. É o caso da teoria de Maslow sobre a hierarquia das
necessidades humanas. Para Maslow (apud CHIAVENATO, 1994) os indivíduos são
motivados a satisfazer uma hierarquia de necessidades, à medida que o homem
satisfaz suas necessidades básicas, outras mais
elevadas
tomam o predomínio do seu comportamento, estando a necessidade de
auto-realização no nível mais alto e a satisfação das necessidades fisiológicas
no nível mais baixo da pirâmide representativa da hierarquia das necessidades
humanas. Na realidade, os principais estudiosos salientam que as necessidades
do homem são distintas e escalonadas desde as mais básicas até as mais
complexas. O ser humano procura
satisfazer
primeiramente as necessidades de sobrevivência como comida, sexo, sono e à
medida que estas estão satisfeitas, busca a satisfação das necessidades sociais
ligadas à afiliação, associação, isto é, almeja construir relações duradouras e
sólidas com outras pessoas e somente então parte para o alcance das
necessidades mais complexas relacionadas à realização.
Outra
teoria de importância sobre motivação, relacionada com a satisfação das necessidades
humanas, foi a de Herzberg (apud CHIAVENATO, 1994) que verificou a existência
de dois fatores distintos na satisfação do cargo: fatores higiênicos e fatores
motivacionais. Os fatores higiênicos seriam aqueles relacionados ao ambiente
externo, ao contexto do trabalho, por exemplo, condições de trabalho e
segurança dentre outros, e os fatores motivacionais seriam aqueles relacionados
ao conteúdo do trabalho e que correspondem às necessidades mais elevadas da hierarquia
de Maslow, são eles: realização, reconhecimento, responsabilidade, crescimento,
o trabalho em si e etc.
Segundo
Chiavenato (1994, p.105) “enquanto Maslow fundamenta sua teoria da motivação nas
diferentes necessidades humanas (abordagem intra-orientada), Herzberg alicerça
sua teoria no ambiente externo e no trabalho do indivíduo (abordagem
extra-orientada)” .
As
abordagens de Maslow e Herzberg estariam inseridas no que Stoner (1982)
denominou de teorias do conteúdo, pois se concentram no “objeto” da motivação.
De acordo com o autor, existem ainda as teorias de processo que tratam de
“como” se manifesta a motivação e as teorias de reforço que enfatizam as formas
pelas quis se aprende o comportamento.
2.4 Correlação entre Qualidade de Vida
no Trabalho e Motivação Humana
De
acordo com Porter e Miles (apud STONER, 1982) uma perspectiva sistêmica da motivação
é de grande utilidade, pois segundo os autores para que a motivação do
empregado possa ser adequadamente compreendida deve ser levado em consideração
um conjunto de forças que atuam sobre ele, são elas: as características
individuais (interesses, atitudes, expectativas e necessidades) que as pessoas
trazem para o ambiente de trabalho, as características do trabalho que são os
atributos das tarefas do empregado e as características da situação do
trabalho, que são as políticas de pessoal e de recompensa da organização, o
clima organizacional e as atitudes e os atos dos colegas e dos chefes.
Por
ser um fenômeno contínuo, a motivação nunca está definitivamente resolvida para
cada indivíduo, cada momento motivacional é ímpar para cada pessoa, quando a
pessoa satisfaz uma necessidade, imediatamente se volta para buscar a
satisfação de outra.
Segundo
Deci (apud BERGAMINI, 1997, p. 33) “a maneira mais fundamental e útil de pensar
a respeito desse assunto envolve a aceitação do conceito de motivação
intrínseca, que se refere ao processo de desenvolver uma atividade pela recompensa
inerente a essa mesma atividade”.
A
perspectiva sistêmica da motivação, apontada anteriormente, ressalta um
conjunto de forças (características individuais, as características do trabalho
e as características da situação do trabalho) que atuam sobre o empregado.
Dentro
desta abordagem, as pessoas também seriam estimuladas pelo reconhecimento, desafios,
novas oportunidades, feedback, recompensas, participação, benefícios e
condições de trabalho adequadas. A ausência destes fatores, denominados extrínsecos,
é causa de desmotivação. Por exemplo um bom salário, por si só, não é causa
exclusiva de motivação, mas a falta dele é um forte elemento de desmotivação.
Dinheiro pode não ser tudo, mas pesa muito para dar sustentação aos outros
fatores de motivação (lazer, habitação, educação, alimentação, saúde...).
Bergamini
(1997, p. 11) tem sido radicalmente contra esta abordagem quando afirma que “não
tem sido fácil transmitir de forma mais convincente que a fonte de energia
motivacional vem do interior de cada pessoa e não dos fatores encontradiços no
ambiente que as cerca”.
As
teorias motivacionais acusam dois enfoques diferentes a respeito do
comportamento humano, o primeiro tende a considerar o ser humano como sendo
possível aos estímulos do meio ambiente, sendo conhecido como enfoque
behaviorista e o segundo enfoque explora a energização e a direção do
comportamento humano, sendo fundamentalmente uma questão de satisfação das necessidades
internas.
Não
há um consenso entre os autores se a motivação é intrínseca ou extrínseca e não
é objeto deste estudo enfatizar esta questão. O foco deste trabalho é a
importância da QVT como uma das importantes tecnologias que contribuem com a
motivação e satisfação dos funcionários nas empresas.
Independentemente
das várias correntes que dispõem sobre o assunto motivação, a tarefa do administrador
é cooperar para que as pessoas não fiquem desmotivadas através de condições de trabalho
(características da situação de trabalho) satisfatórias, tais como: ambiente
adequado, boas instalações, iluminação, ventilação, bom refeitório, clima
organizacional de confiança e lealdade, benefícios, sistema de recompensa e
etc, das características do trabalho em si, inerentes às tarefas que o
funcionário desenvolve, oportunidades, novos desafios, participação nas
decisões da empresa, utilidade do trabalho e satisfação das necessidades,
expectativas e objetivos de vida, dentro e através da própria organização, a
partir de um esforço contínuo de compatibilizar objetivos pessoais e objetivos
empresariais.
Neste
sentido a abordagem da qualidade de vida no trabalho pode contribuir com o que Lopes
(1980, VII) salientou: “a motivação precisa ser positivamente estimulada, a fim
de liberar todo o potencial das pessoas que compõem a organização e, em conseqüência,
maximizar a eficácia daquelas e desta”. Até porque como resultado de “um imenso
descompasso entre progresso tecnológico e progresso social em termos de
qualidade de vida” (MOSCOVICI apud FERNANDES, 1994, p. 21) é que surgiu o
interesse para o estudo da Qualidade de Vida no Trabalho. Com todas estas
incertezas, turbulência ambiental, mudanças o homem nunca precisou tanto da
motivação, para o que nos parece ser o grande desafio que é o de sobreviver, de
acordo com Bergamini (1997, p. 13):
muitos
precisam aceitar qualquer tipo de emprego para sobreviver. Já não está sendo mais
possível questionar se ele atende ou não as expectativas motivacionais de cada pessoa,
pois o trabalho parece estar perdendo a centralidade da vida das pessoas como
referencial de auto-estima.
No
Brasil tem-se 10% de pessoas desempregadas, isto é, sem condições de satisfazer
as suas necessidades básicas, portanto torna-se difícil questionar se o
trabalho atende ou não as expectativas motivacionais, pois esta constitui uma
etapa posterior para as pessoas que estão colocadas no mercado de trabalho.
Segundo
Rifkin (apud BERGAMINI, 1994) o emprego, que antes representava um referencial
de valorização pessoal, já não oferece os antigos parâmetros de
auto-merecimento, pois a ameaça constante da perda do emprego faz com que as
pessoas enfrentem problemas que são de difícil resolução.
Entendendo
a importância do momento, pois se vive "em tempos difíceis", é que se
lança mão da Qualidade de Vida no Trabalho como uma importante aliada na tentativa
de se resgatar a auto-estima e em última instância a motivação humana,
fundamentais para um ambiente de trabalho saudável, eficaz e produtivo.
Na
realidade, desde o início da sua existência, o homem tem se preocupado com a
qualidade de vida no trabalho.
Qualidade
de Vida no trabalho possui um conceito amplo, o qual inclui fatores pessoais
que são entendidos como necessidades, valores, crenças e expectativas dos
trabalhadores e fatores situacionais como tecnologia, sistema de ambiente de
trabalho e estado geral da economia, sendo comum a todos os autores que abordam
o tema, a conciliação dos interesses dos trabalhadores e da organização no
sentido de humanizar as situações de trabalho. Segundo Búrigo (1997, p. 15): a
QVT busca humanizar as relações de trabalho na organização, mantendo uma relação
estreita com a produtividade e principalmente com a satisfação do trabalhador
no seu ambiente de trabalho. Constitui-se, ainda, em condição de vida no trabalho,
associada ao bem-estar, à saúde e à segurança do trabalhador . Como a Qualidade
de Vida no Trabalho se constitui num ponto vital, não só para realização do
homem no trabalho, mas também em toda a sua existência, Rodrigues (1994)
salienta que pode a QVT constituir uma importante tecnologia para que as pessoas
enfrentem problemas que são realmente de difícil resolução durante a busca da
sua satisfação motivacional.
E
atualmente tudo o que se tem pensado ou dito a respeito de sucessos ou
fracassos organizacionais vem sendo
interpretado à luz de uma possível influência nos níveis de satisfação motivacional
no trabalho, pois embora a motivação seja considerada como algo um tanto
complexo, por abranger um número grande de variáveis que devem ser analisadas
em profundidade, conhecendo o sentido que as pessoas atribuem àquilo que fazem
e admitindo ser o trabalho o referencial que liga o homem ao mundo real , é
possível disciplinar talentos e aguardar o momento oportuno para chegar a
recompensadora satisfação emocional.
Para
que a QVT possa de fato contribuir com os aspectos motivacionais que cercam cada
pessoa no seu ambiente de trabalho, administradores devem estimular seus
funcionários para que sejam ativos, apreciem seu trabalho, trabalhem de forma
cooperativa em equipes, desenvolvam novas competências, alcancem metas
ambiciosas, sejam mais reconhecidos, considerando desejos, necessidades e
expectativas individuais e procurando uma convergência entre estes e os
objetivos organizacionais.
É
preciso que a QVT, que busca humanizar as relações de trabalho na organização, resgate
o senso de valorização das pessoas (auto-estima) hoje tão abalado pela
necessidade desobrevivência, fazendo com que muitos se sujeitem a salários
indignos e a condições sub-humanas
ou
desumanas de trabalho. É preciso que os administradores, diretores, gerentes de
empresas reflitam que nenhum outro tipo de atividade é tão amplamente motivador
ou tem a mesma importância psicológica que o trabalho. Neste sentido, a QVT
constitui importante passo para aquelas organizações que desejarem sucesso organizacional.
Rodrigues
(1994, 95) admite "que a QVT é um ponto vital, não só para realização do homem
no trabalho, mas também em toda a sua existência". Em tempos difíceis, é
vital que a QVT constitua mola propulsora na busca de uma energia motivacional
por ora comprometida, estimulando as pessoas não apenas a uma série de tarefas
satisfatórias, mas a fatores contextuais nos quais estas tarefas estão
incorporadas, que despertem emoções positivas e energizantes em cada
funcionário da empresa.
Na
realidade, o estudo da motivação humana se refere à descoberta do porque as
pessoas se movimentam e qual a fonte de energia que estão usando para tanto
(BERGAMINI, 1994).
O
grande desafio da QVT na busca de profissionais mais motivados é, portanto, descobrir
por que as pessoas agem de determinadas maneiras, como a motivação varia de
pessoa para pessoa, elas não fazem as coisas pelas mesmas razões, assim é
importante que num estudo visando a qualidade de vida no trabalho, leve-se em
consideração não somente os objetivos que cada um procura atingir, mas também
que fontes de energia são responsáveis por disparar esse diferentes tipos de
comportamento. Se identificadas as fontes de energia, a tecnologia da QVT terá maiores
chances de ter profissionais mais participativos, satisfeitos e, porque não
dizer, motivados.
A
QVT, como uma tentativa séria de humanizar o trabalho, de resgatar a
auto-estima através da motivação e satisfação dos trabalhadores e o senso de
valorização dos mesmos, considera o que James (apud SPITZER, 1997) salienta
como princípio mais profundo da natureza humana: o anseio de valorização.
Pode-se
dizer que o comportamento motivacional é como uma fonte de energia, praticamente
em estado de ebulição dentro de cada um de nós e que a qualidade de vida no
trabalho por buscar satisfazer as necessidades pessoais importantes, através da
empresa em que as pessoas atuam, constitui importante fonte de energia
motivacional e imprescindível para os dias atuais, lembrando Vianna (apud
MERINO, 2000) “não há organizações estrategicamente vencedoras sem trabalhadores
estrategicamente vencedores”.
CONSIDERACÕES FINAIS
Na
década inicial deste século, o maior objetivo era a elevação da produtividade e
consequentemente maiores ganhos aos detentos do capital, nas três décadas
subsequentes, a preocupação básica foi o estudo do comportamento do indivíduo e
sua satisfação, na década de 50 surgem as primeiras teorias que associavam
estes dois elementos e finalmente na década de 70 com a mudança do enfoque de
gerenciamento organizacional surgem os primeiros movimentos associados à
qualidade de vida no trabalho.
A
tecnologia da QVT refere-se a esforços no sentido de melhorar ou humanizar a
situação de trabalho, orientados por soluções mais adequadas em pesquisas e
estudos que visem a reformulação e condições negativas dos cargos, tornando-os
mais produtivos em termos de empresa e mais satisfatórios para os executores.
Na realidade pelos imensos avanços no campo tecnológico, o redesenho de um
grande número de cargos impõem-se como condição de sobrevivência das
organizações.
A
ambigüidade, as incertezas e mudanças aceleradas deixam atônitas as pessoas e
as organizações, constrangidas em conjunto a viver sob a pressão da procura de
alguma estratégia que lhes permita dominar esses novos desafios, pois tudo está
em movimento ininterrupto. Isto faz com que novamente as pessoas dentro das
organizações voltem à cena como algo mais problemático do que qualquer outro
insumo.
Diante
deste cenário, a QVT constitui estratégia fundamental, pois constitui a grande esperança
das organizações para atingirem altos níveis de produtividade, sem esquecer a
motivação e a satisfação do indivíduo. Como a motivação é preconizada por
alguns autores como sendo uma dinâmica de caráter eminentemente interior, um
importante ponto de partida é entender o sentido que as pessoas atribuem àquilo
que fazem.
Assim
constituiu o grande desafio da QVT não só entender o sentido que as pessoas atribuem
àquilo que fazem, mas resgatar o trabalho como referencial que reata o homem ao
mundo da realidade, fornecendo referências das quais necessita para conhecer
quais expectativas, concepções ou ideais fazem ou não sentido para cada um
(MACCOBY apud BERGAMINI, 1994).
Em
circunstâncias nas quais as pessoas se sentem realmente motivadas, a projeção
da autoestima elevada faz da situação do trabalho um caminho para se chegar a
níveis mais altos de satisfação e realização pessoal, assim a QVT deve buscar
entre outros aspectos a valorização profissional e consequentemente a melhoria
da auto-imagem de cada indivíduo.
REFERÊNCIAS
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Cecília Whitaker. Motivação nas organizações. 4 ed. São Paulo: Atlas, 1997.
Universidade
Federal de Santa Catarina. 1997. 144 f. Dissertação (Mestrado em Administração)
–
Curso
de Pós-Graduação em Administração, Universidade Federal de Santa Catarina,
Florianópolis.
CHIAVENATO,
Idalberto. Recursos humanos na empresa: pessoas, organizações e sistemas. 3
ed.
São Paulo: Atlas, 1994.
______.
Gerenciando pessoas: O passo decisivo para administração participativa. São
Paulo:
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Books, 1992.
DESCHAMPS,
Adriana Schmitt. Qualidade de vida no trabalho. 1997. 31 f. Resenha Crítica
(Especialização
em Gestão Estratégica das Organizações e do Desempenho Humano) - Centro de
Ciências
da Administração, Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis.
FERNANDES,
Eda. Qualidade de vida no trabalho: como medir para melhorar. Salvador: Casa
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sociedade
pós-industrial. São Paulo: Atlas, 2004.
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Tomas Vilanova Monteiro. Motivação no trabalho. Rio de Janeiro: Fundação
Getúlio
Vargas,
1980.
MERINO,
Eugênio. Qualidade de Vida no trabalho. Programa de Pós-Graduação em Engenharia
de
Produção. Universidade Federal de Santa Catarina, 2000.
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