Índice
Introdução
Logo
após a descoberta progressiva da África, no século XV, as línguas africanas
começaram a atrair a atenção dos europeus. A necessidade de estabelecer ocontato
com os africanos fez os exploradores constatarem as diferenças entre osidiomas
falados nos locais onde aportavam e obrigou-os à utilização de
estratégiasdiversas para comunicar-se.
Dessa
forma, empiricamente, foi descoberta a grandediversidade de línguas faladas no
continente africano. A partir do século XVI, a motivação prática foi cedendo
espaço para o desejo de conhecer cientificamente essaslínguas.
Os
conceitos de língua forma padrão de um conjunto de variedades, idiomade uma
nação, com muitos falantes, ininteligível para falantes de outras línguas edialetos formas intercompreensíveis não
padrão de uma língua, utilizados numalocalidade, com poucos falantesnem sempre
auxiliam a análise, qualquer queseja o universo linguístico estudado.
Por
isso, muitos autores preferem adotar, nasituação africana, a designação de
variedades linguísticas para referir-se a casosem que não está suficientemente
clara a distinção entre língua e dialeto (Heine eNurse, 2000: 2). Nesta obra,
utilizaremos as designações de língua ou variedadeslinguísticas para todas as
formas de expressão identificadas, reservando o termodialeto para os casos em
que a análise linguística constatou a relação de proximidade deste com a forma
mais geral a língua.
As
línguas da África foram (são) muitas vezes identificadas, de forma
genérica,como dialetos, talvez em razão de se julgar que sejam utilizadas por
pequenos grupos de indivíduos, por não serem escritas ou até por preconceito. É
com a intençãode dissipar qualquer mal-entendido que o uso da designação
“línguas” possa aindaprovocar, e para que não se julgue impossível estudar
esses “falares” porque elesnão dispõem de escrita são “ágrafos” que se busca
esclarecer logo de início,mesmo que de forma sucinta, a compreensão que se tem
hoje dos conceitos de língua,dialeto, oralidade e escrita, tendo como
referência principal o continente africano.
Para
que fosse possível um estudo mais aprofundado de tamanha variedade, os
pesquisadores R. G. Gordon Jr. e J. Greenberg dividiram as línguas africanas em
quatro grandes grupos linguísticos: línguas afro-asiáticas, línguas khoisan,
línguas nilo-saarianas e línguas nigero-congolesas. Lembrando que neste caso as
línguas de origem européias e o árabe, que também estão presentes nos países
africanos, não estão inclusas, sendo consideradas apenas as línguas originárias
do continente.
O
primeiro grupo, de línguas afro-asiáticas, também conhecidas como
camito-semíticas, abriga aproximadamente 240 línguas e 285 milhões de falantes.
A região de abrangência de tal grupo vai do norte da África (região do Magreb)
passando pelo Sahel e pelo leste da África, extrapolando as fronteiras do
continente até o sudoeste da Ásia.
O
segundo grupo linguístico é formado pelas línguas khoisan. Notório pelo uso de
“cliques” como fonemas e um extenso uso de consoantes, é considerado o menor
grupo dos quatro, contando apenas com cinco ramificações. Entre os seus
falantes estão os bosquímanos, um dos primeiros grupos habitantes do planeta,
hoje localizados no sudoeste da África, na região do deserto de Kalahari, nos
países Botsuana, Namíbia e África do Sul; e pequenos territórios de Angola e
Zâmbia.
O
terceiro grupo é composto pelas línguas nilo-saarianas, que nascem no deserto
do Saara, no vale do rio Nilo e na região dos Grandes Lagos. O surgimento
dessas línguas é anterior ao processo de desertificação do Saara, que quando
acontece, provoca grandes modificações e consequentes ramificações das línguas
do grupo. No oeste africano, a maior ramificação é a songai (que abrange
diferentes línguas), com mais de três milhões de falantes, presente na Argélia,
Benim, Burkina Faso, Mali, Níger e Nigéria. No leste africano, os Maassai, que
hoje habitam entre o Quênia e a Tanzânia, representam a ramificação de nome
homônimo.
Por
fim, o quarto grupoé o das línguas nigero-congolesas, considerado o maior tanto
por conta do número de falantes e de línguas, quanto à área geográfica que
abrange. As línguas actuais desse grupo são conhecidas pelos sistemas tonais,
com diferentes níveis contrastantes de entoação. Abrangem grande parte da
África ao sul do Saara, e têm o bantu entre suas numerosas famílias
linguísticas.
Em
suma, hoje o estudo das línguas africanas está bastante avançado e
encontra-seconsolidado numa área de pesquisa específica, a Linguística
Africana. É vasta abibliografia produzida, publicada em inglês, francês,
alemão, russo, japonês, entreoutros idiomas.
Por fim, em
termos linguísticos, a África é um continente muito rico, em todo seu
território são falados mais de dois mil idiomas, que corresponde a 30% dos
idiomas de todo o planeta, (Afreaka) é possível mesmo em áreas onde haja a
prevalência de um idioma, pois ali também é possível a ocorrência de regiões
onde se fale outro idioma ou dialeto. Até mesmo grupos vizinhos podem falar
línguas distintas
CALVET, Louis
Jean. 2007. As políticas linguísticas.(Na ponta da língua, 17) São
Paulo:Parábola, IPOL.
DIAGNE, P. 2010.
História e linguística. In KI-ZERBO (ed.): 247-281.
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