DUAS ERGONOMIAS: A CORRENTE AMERICANA E A CORRENTE

 


INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO DE ANGOLA

 ISTA

CURSO DE PSICOLOGIA

 

 

 

 

 

O TRABALHO E A ERGONOMIA

 

 

 

GRUPO Nº 03

 

 

 

 

 

CAXITO-2021


INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO DE ANGOLA

 

 

 

 

 

 

 

O TRABALHO E A ERGONOMIA

 

DUAS ERGONOMIAS: A CORRENTE AMERICANA E A CORRENTE EUROPEIA, ERGONOMIA DOS COMPONENTES HUMANOS E ERGONOMIA DA ACTIVIDADE E A ANÁLISE DO TRABALHO

 

 

 

 

Trabalho científico apresentado ao professor Lino Gonzales H. Capemba, como requisito necessário para a avaliação na cadeira de Ergonomia.

 

 

 

 

 

 

 

 

CAXITO-2021



1.     INTRODUÇÃO

 

Na antiguidade, o conceito de trabalho estava muito associado a castigo, portanto, as condições de sofrimento impostas pelas actividades laborais não preocupavam muito os estudiosos, cientistas e trabalhadores. Com o advento da Revolução Industrial e após a Segunda Guerra Mundial, as condições de trabalho a que os trabalhadores eram submetidos, começou a preocupar as pessoas e surgiram os primeiros tratados de ergonomia. 

Na sua evolução, o significado histórico e etimológico do trabalho tem tido diferentes acepções ao longo do tempo. Segundo Ombredane e Faverge (1955) citado por Santos e Fialho, (1997) “Todo trabalho é um comportamento adquirido por aprendizagem e que teve de se adaptar às exigências de uma tarefa”. Trabalho é um comportamento e um constrangimento (citado por  (SANTOS & FIALHO, 1997).

Actualmente, o trabalho, para muitos estudiosos, é considerado como toda e qualquer atividade realizada pelas pessoas, seja assalariada ou não. Ainda, existe um consenso, que diz que o maior ou mais importante capital de toda organização, é o capital humano. Ao longo de toda a história, o homem tem modificado seu comportamento frente às actividades de trabalho, e estas mudanças têm sido foco da atenção de muitos estudiosos, que concluem que o trabalho ocupa um lugar muito importante na vida de todas as pessoas. Quase todo mundo trabalha, e uma grande parte do tempo de vida são passados dentro de organizações. Desta forma, o trabalho possui um importante valor na sociedade.

Para base introdutória, recorremo-nos a primeira definição conhecida de trabalho está escrita nas Sagradas Escrituras em Gênesis 3, 17-19 "Disse, pois, o Senhor Deus ao ser humano, maldita é a terra por tua causa; em fadiga comerás dela todos os dias da tua vida. Do suor do teu rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, porque dela foste tomado, pois és pó, e ao pó tornarás". Podemos deduzir, então, que o trabalho está relacionado a noção geral de sofrimento e pena  (BIBLIA, 1995).

 

 

1.1- OBJECTIVOS

1.1.1- Geral

·         A ergonomia se aplica ao projeto de postos de trabalho, máquinas, equipamentos, sistemas e tarefas, com o objectivo de melhorar a segurança, a saúde, o conforto e a eficiência do trabalho, de acordo com as habilidades, capacidades e limitações individuais;

·         Descrever a relação existente entre o trabalho e a ergonomia.

1.1.2- Objectivos específicos

·         Verificar como a ergonomia pode beneficiar a qualidade de vida de um trabalhador;

·         Compreender as duas correntes da ergonomia e seus fundamentos;

·         Analisar a ergonomia dos componentes humanos e ergonomia da actividade.

 

 

 

 

 

 

 

                                                         

 

 

 

 

 

 

2- REFERENCIAL TEÓRICO

2.1. O trabalho e a ergonomia

“Todo trabalho é um comportamento adquirido por aprendizagem e que teve de se adaptar às exigências de uma tarefa”. Trabalho é um comportamento e um constrangimento (SANTOS & FIALHO, 1997, p. 33).

Portanto, a ergonomia tem por objecto o trabalho e sua transformação (GUÉRIN et al., 2001). Derivada do grego ergon (trabalho) e nomos (regras) para designar a ciência do trabalho, a ergonomia é uma disciplina orientada para o sistema, que hoje se aplica a todos os aspectos da actividade humana (FALZON, 2007, p. 3).

A ergonomia é o estudo do trabalho e da sua relação com o ambiente no qual é desempenhado (o local de trabalho) e com aqueles que o desempenham (trabalhadores). É utilizada com o objectivo de determinar a forma como o local de trabalho pode ser concebido ou adaptado ao trabalhador, de modo a prevenir diversos problemas de saúde, aumentando a sua eficácia; por outras palavras, tem como objectivo a adequação e a adaptação da tarefa ao trabalhador, em vez de forçar o trabalhador a adaptar-se à tarefa. Um exemplo simples consiste em aumentar a altura de uma mesa, de modo a que o trabalhador não tenha de se curvar desnecessariamente para poder realizar o seu trabalho (FALZON, 2007, p. 19).

Na relação com o trabalho, segundo de Moraes (in Rodrigues, 1998), parece algo ainda muito conflitivo, sendo ele, muitas vezes percebido como algo indesejado, como um fardo pesado que acabe nos impedindo de viver. Mas frequentemente ele é também percebido como algo que dá sentido à vida, eleva o status, define identidade pessoal e impulsiona o crescimento do ser humano (MORAES, 2000).

Portanto, a ergonomia é uma disciplina jovem em evolução e que vem reivindicando o status de ciência. Esta disciplina, segundo Montmollin (1990), poderia ser definida como uma “ciência do trabalho”. Entretanto, não existe unanimidade no meio cientifico quanto a uma definição para a ergonomia, pois se houvesse em muito contribuiria para estabelecer os limites do seu campo de investigação (MONTMOLLIN, 1990, p. 29).

2.2. Duas Ergonomias: a corrente americana e a corrente europeia

Historicamente, duas correntes filosóficas distintas compõem o cenário da ergonomia. Uma delas, tem sua origem em 1947, na Inglaterra, com características das ciências aplicadas. A outra surgiu na França, em meados dos anos 50, com uma preocupação mais analítica. Estas duas correntes da  ergonomia, segundo Montmollin (1990), podem ser assim caracterizadas: a primeira, a mais antiga e hoje predominante nos países anglo saxônicos, considera a ergonomia como “a utilização das ciências para melhorar as condições de trabalho humano” a segunda, mais recente e usualmente adotada nos países de língua francesa, considera a ergonomia como “o estudo específico do trabalho humano com a finalidade de  melhora-lo”,  buscando autonomia e  métodos próprios (MONTMOLLIN, 1990, p. 39).

Actualmente são conhecidas duas tendências no trabalho da ergonomia, estas possuem algumas características próprias que são apresentadas a seguir:

2.2.1- Corrente Americana

Na verdade, a corrente mais antiga e presente é a Americana, também conhecidos como Human Factors, que considera a ergonomia como a utilização das ciências para melhorar as condições de trabalho. Como forma de exemplo, podemos citar a anatomia e a fisiologia se preocupando principalmente na concepção de dispositivos técnicos adequados aos seus usuários (MONTMOLLIN, 1990).

            Nesta perspectiva, a ergonomia dos métodos e das tecnologias, contínua necessidade de adaptação da máquina ao homem. Em geral, na corrente americana, o homem é considerado como uma peça do sistema, ou seja, faz parte do próprio sistema, enquanto que na corrente francófona o homem é considerado como um ator no sistema, ou seja, interage com o sistema.

2.2.2- Corrente a Europeia

A segunda corrente e mais recente é a corrente europeia, com o estudo especifico do trabalho, com a finalidade de melhorá-lo. Como forma de exemplo, podemos citar uma maior preocupação de como é que o trabalhador faz o seu trabalho, ao contrário da corrente anterior que se preocupa mais com os aspectos fisiológicos.

Ergonomia da organização do trabalho, europeia, estudo da inter-relação entre o homem e o trabalho, como o homem “sente” e “experimenta” o trabalho. A ergonomia europeia ou Clássica vem sendo discutida desde a Revolução Industrial, onde as relações do homem com o trabalho se transformaram progressivamente porque o aumento do ritmo laboral demandou dos operários uma nova perspectiva acerca das tarefas a serem executadas, bem como maior disposição em vista de atender às metas de produtividade impostas pelo sistema industrial (ALMEIDA, 2011, pp. 115-126)

Estas duas ergonomias não são contraditórias e sim complementares, sendo a utilização racional de ambas uma forma ideal de trabalho. Assim podemos distinguir uma ergonomia centrada nas características do operador humano e uma ergonomia centrada na actividade do operador (EUGENIO, 2000, p. 23).

Ora, o progresso tecnológico e a sociedade industrial criaram um ambiente favorável para o surgimento da ergonomia anglo-saxônica ou clássica, porém foi a indústria da guerra que permitiu que esse novo ramo da ciência se consolidasse (ALMEIDA, 2011).

O enfoque clássico da ergonomia encontra-se voltado para os métodos e as tecnologias. O que importa são os aspectos físicos da relação homem-máquina, os quais serão dimensionados, discriminados e controlados. A necessidade de adaptação da máquina ao homem é o centro desta corrente ergonômica. Actualmente as duas abordagens ergonômicas se complementam, pois, um mesmo ergonomista pode atuar, dependendo da problemática a ser solucionada, tanto como projetista de um equipamento, quanto como um idealizador de um sistema informatizado (MONTMOLLIN, 1990, p. 87).

Assim, os pontos positivos de uma preenchem as carências de outra, enquanto os pontos negativos de uma são superados pelas soluções diferenciadas da outra. Cabe, portanto, saber optar pela abordagem mais adequada a ser aplicada à demanda do momento. Enfim, não se pode dizer que uma abordagem seja mais ou menos adequada do que a outra. Existem diferenças notórias entre estas duas vertentes ergonômicas.

2.3. Ergonomia dos componentes humanos e Ergonomia da actividade

Entretanto, a ergonomia (ou Human Factors) é a disciplina científica que visa a compreensão fundamental das interações entre os seres humanos e os outros componentes de um sistema, e a profissão que aplica princípios teóricos, dados e métodos com o objetivo de otimizar o bem-estar das pessoas e o desempenho global dos sistemas”. Desta definição, destacam-se duas intenções fundamentais da ergonomia já destacadas por Abrahão e Pinho (1999): a produção de conhecimento científico (sobre o trabalho, condições de sua realização, a relação do homem com o trabalho) e a racionalização da ação (ou seja, formulação de recomendações e princípios capazes de orientar a ação de transformação do trabalho) (Abrahão, 1993).

Historicamente, duas abordagens ou quadros teóricos gerais compõem o cenário da ergonomia. Segundo Montmollin (1995), o primeiro corresponde à chamada ergonomia clássica (Human Factors), do contexto americano e britânico, centrada no componente humano dos sistemas Homem-Máquina. O segundo, enraizado nos países francófonos, corresponde à ergonomia da atividade, com enfoque na atividade humana contextualizada (MONTMOLLIN, 1990).

A ergonomia dos factores humanos apresenta características das ciências aplicadas. Para Montmollin (1995), os componentes humanos dos sistemas não são os homens, mas algumas das funções dos homens, que são isoladas por um processo analítico que permite respeitar as duas maiores exigências de todo o procedimento científico: a generalização e a medida quantitativa (MONTMOLLIN, 1990, p. 104).

Assim, segundo o mesmo autor, o trabalhador é descrito nas suas relações com o ambiente de trabalho “segundo as funções elementares que partilha com a grande família humana à qual pertence” (p. 104). A ergonomia dos fatores humanos não tem necessidade de uma análise do trabalho, que é substituída pela construção de uma lista de exigências da tarefa, geralmente estabelecida por perguntas baseadas nos dados sobre as características humanas que entram em ação nas tarefas consideradas (MONTMOLLIN, 1990). Portanto, observa-se que esta vertente apresenta uma visão tecnicista do elemento humano no trabalho.

A ergonomia da actividade, por sua vez, não considera as funções de modo isolado (Montmollin, 1995), mas sim os comportamentos (gestos, olhar, palavras) e os raciocínios tal como se apresentam nas situações reais de trabalho, atuais ou a serem concebidas. (Montmollin, 1995).

Entretanto, como aponta Montmollin (1995), uma orientação nesses moldes da ergonomia permite chegar a resultados de uma grande riqueza e de uma grande pertinência para a ação, mas por vezes, com um fraco poder de generalização. Assim, o autor coloca que as duas abordagens podem ser consideradas como complementares (Montmollin, 1995).

Isto é corroborado por Lima (2000), em sua afirmação de que não se tratam de duas abordagens diferentes na ergonomia, mas de abordagens mais ou menos superficiais, mais ou menos parciais e que, em algum momento, devem ser aglutinadas em um todo mais global e coerente. Dessa forma, pode-se dizer que a ergonomia dos fatores humanos permite estabelecer normas e conceber dispositivos adaptados às “características e limites” do homem, e a ergonomia da atividade considera e insere estes conhecimentos nos contextos específicos (Lima, 2000, p. 99).

2.4. Análise do trabalho

A relação homem e o trabalho: a questão dos critérios da ergonomia está relacionada a uma discussão dos paradigmas à luz dos quais se estuda o trabalho. A ergonomia classicamente leva em conta um duplo critério o da saúde dos trabalhadores e o da eficácia econômica sobre o qual exige a construção de compromissos que são influenciados por diversos fatores externos. Além disso, tem-se o enigma das relações entre tarefa e actividade, o trabalho prescrito e o trabalho real, os limites da adaptação humana, os modelos do homem e suas dimensões, os modelos da sociedade e da mudança social.

2.4.1. O que é análise do trabalho

Foi a partir de 1955, após a publicação do livro de Faverge e Ombredane sobre a análise do trabalho, a actuação  de diversos outros pesquisadores expoentes na área fez com que a ergonomia centrada na análise da actividade fosse desenvolvida ao longo do tempo, tendo suas bases teóricas aprofundadas, seus métodos enriquecidos e suas aplicações às transformações das condições de trabalho mais elaboradas (Montmollin, 1995).

Portanto, entende-se a análise do trabalho um processo que busca compreender quais são as tarefas importantes de um trabalho, como elas são realizadas e que atributos humanos são necessários para a realização exitosa deste trabalho. O resultado de uma análise do trabalho é um documento com a descrição sumarizada dessas informações, refere-se à análise do trabalho como um processo e como um resultado. Configura-se em uma tentativa de se desenvolver uma teoria do comportamento humano do trabalho sob análise. “Esta teoria inclui expectativas de desempenho (características do trabalho no contexto das expectativas da organização na qual o trabalho é realizado), assim como as habilidades, conhecimentos, experiência e características pessoais necessários para que essas expectativas possam ser alcançadas”  (Landy & Conte, 2010, p. 199).

A análise do trabalho foi originalmente denominada “análise do cargo” ou “análise de função” e renomeada para análise do trabalho na década de 1990. Influenciou a mudança de nome o facto de a análise de função não ter sido capaz de responder à natureza dinâmica e mutável do trabalho na contemporaneidade (Morgeson & Dierdorff, 2011).

Considera-se, portanto, que o termo análise do trabalho reflita melhor a natureza do trabalho sem fronteiras que os sujeitos realizam em organizações e fora delas (Sanchez & Levine, 2012, pp. 63, 397- 425).

 2.4.2. Usos da análise do trabalho em organizações

A análise do trabalho é utilizada para apoiar decisões em gestão de pessoas, para o treinamento e o desenvolvimento e para a organização do trabalho (Wilson, 2012) citado por Brannick et al. (2007) apresentam uma lista não exaustiva de usos da análise do trabalho: descrição, classificação, avaliação e delineamento de cargos, requerimentos e especificações em gestão de pessoas, avaliação de desempenho, treinamento, mobilidade do trabalhador, planejamento de recursos humanos, eficiência, segurança e requerimentos legais (Brannick, 2007).

Também citam usos sociais da análise do trabalho, como o aconselhamento de carreira, em que o conhecimento sobre o trabalho pode auxiliar pessoas a encontrar ocupações alinhadas com seus interesses e atitudes. Quando da realização de uma análise do trabalho, a primeira decisão a ser tomada é o seu objectivo. A informação da análise do trabalho será utilizada, por exemplo, para o planejamento de um sistema de seleção ou para ajudar a identificar necessidades de treinamento e desenvolvimento. Powell, Woodhouse e Guenole (2012) ressaltam que diferentes objectivos requerem o uso de métodos diferentes (Powell, Woodhouse, & Guenole, 2012, pp. 23 - 29).

No entanto, segundo Guerin (2001), a actividade de trabalho está longe de ser um conjunto de regras conhecidas previamente; trata-se de um conjunto de regulações contextualizadas, no qual se considera, entre outros fatores, a variabilidade do ambiente e a variabilidade própria do trabalhador (GUERIN, 2001, p. 421).

Tomando por base a ergonomia centrada na actividade, Guerin et al. (2001) citado por (FALZON, 2007), afirmam que transformar o trabalho é a finalidade primordial da ação ergonômica, e o ergonomista deve transformá-lo de maneira a implementar a concepção de situações de trabalho que não alterem a saúde dos trabalhadores e nas quais estes possam exercer suas competências e desta forma alcançar os objectivos econômicos estabelecidos pela empresa (FALZON, 2007, p. 321).

2.4.3. Como realizar uma análise do trabalho

Os métodos de análise do trabalho, mesmo com objectivos distintos, possuem algumas similaridades. Em todos os métodos, por exemplo, precisam ser tomadas decisões relacionadas aos tipos de informações a serem coletados; às fontes de informação a serem contatadas; aos métodos específicos de coleta de informações; e à forma de sintetizar e apresentar os resultados da análise do trabalho (VIDAL, 1997 , p. 376 ).

Para Santos e Fialho (1997), os três aspectos fundamentais de uma Análise Ergonômica do Trabalho são: o “metaconhecimento”, dados coletados e o processamento e análise desses dados. Para tal, a Análise Ergonômica do Trabalho deve comportar 3 fases: analise da demanda, analise da tarefa e análise das atividades, que devem seguir uma ordem cronológica a fim de se obter uma coerência metodológica. Na prática, elas podem ocorrer de forma simultânea sem prejudicar a metodologia (SANTOS & FIALHO, 1997, pp. 321-211).

2.4.4. O analista do trabalho

O analista do trabalho pode ser útil como fonte de informação objetiva e válida em função de sua educação, experiência e pelo fato de não ser um funcionário do quadro da organização (quando for o caso). Por já ter realizado análises do trabalho em diferentes organizações, o analista do trabalho é capaz de trazer perspectiva a questões relacionadas ao contexto do trabalho, especialmente aquelas relacionadas com os riscos ocupacionais (Guder, 2012, p. 31).

Por exemplo, trabalhadores têm uma percepção “absoluta” do nível de barulho a que são submetidos no trabalho e podem considerá-lo alto ou baixo. O analista do trabalho poderá comparar esse nível percebido pelos trabalhadores com o nível real de barulho para, a seguir, averiguar os limites estabelecidos em lei, trazendo uma contribuição objetiva e válida ao processo (Guder, 2012, p. 40).

Para concluir essa apresentação da análise ergonômica do trabalho, os alguns autores colocam que sua compreensão é um meio que permite: Conhecer        melhor e explicar melhor as relações entre as condições de realização da produção e a saúde dos trabalhadores.

 

 

 

 

 

3. CONCLUSÃO

 

Desta feita, a análise ergonômica do trabalho, é um modelo metodológico de intervenção que possibilita a compreensão dos determinantes das situações de trabalho. Para tanto, tem como pressuposto básico, a distinção entre o trabalho prescrito, comumente denominado de tarefa e o trabalho real, que é aquele efectivamente realizado pelo trabalhador, inserido em um contexto específico, para atingir os objectivos prescritos pela tarefa.  (MÁSCULO, 2008).

            Esta análise é permeada por várias fases, e tem como fio condutor a dialética entre análise da demanda e análise da actividade. Seu ponto de partida é uma demanda inicial que reflete um problema, buscando esclarecer esta demanda, com vistas a propor formas de intervenção. Embora seja uma prescrição exterior ao operador, que determina e constrange a sua actividade, a definição da tarefa visa reduzir o trabalho improdutivo, otimizar ao máximo o trabalho produtivo além de ser um quadro indispensável para que o operador possa trabalhar, pois ao determinar a sua actividade, ela o autoriza (GUERIN, 2001).

Já a actividade é o trabalho real, o que o operador realmente faz para cumprir a tarefa. Segundo Falzon (2007), a atividade é finalizada pelo objectivo que o sujeito fixa para si a partir do objectivo da tarefa, e ela inclui não só a parte observável da actividade (o comportamento) como também a parte inobservável (aspectos intelectuais ou mentais).

Em outras perspectivas, uma das questões que ajuda a explicar a diferença entre o trabalho prescrito e o trabalho real é que na actividade de trabalho sempre existem numerosas fontes de variabilidade que levam a distanciamentos em relação às situações previstas segundo (Daniellou, 2002). Assim, o segundo pressuposto importante para a ergonomia é o da variabilidade  (DANIELLOU, 2002, p. 54).

Assim, o entendimento aprofundado da situação de trabalho alcançado através da ergonomia da actividade está ligado aos seus três fundamentos principais que estão inter-relacionados e podem ser sumarizados de acordo com Tersac e Maggi (2004) como: a diferença entre tarefa e actividade; a variabilidade dos contextos e dos indivíduos; e a actividade de regulação (representação e competência) (TERSSAC, pp. 5-9).

REFERÊNCIAS

 

·        Abrahão, J. (1993). Ergonomia: modelo, métodos e técnicas. Trabalho apresentado no segundo Congresso Latino Americano e Sexto Seminário Brasileiro de Ergonomia. Florianópolis.

·         ALMEIDA, R. (2011). “A Ergonomia sob a Ótica Anglo-Saxônica e a Ótica Francesa” (Vols. 13, n. 1). Campos dos Goytacazes/Rio de Janeiro: Vértices.

·         BIBLIA. ( 1995). Sagradas Escrituras em Gênesis.

·         Brannick, M. T. (2007). Job and work analysis. . Em &. F. Morgeson, & L. E. L., Methods, research, and applications for human resource management. Los Angeles: Sage.

·         DANIELLOU, F. (2002). Le travail des prescriptions. In: Actes du 37ème Congrès de la SELF, “Les évolutions de la prescription” (Conférence inaugural), p. 54. Fonte: http:/ /www.ergonomie-self.org/self2002/ daniellou.pdf

·         EUGENIO, M. (2000). Ergonomia e Estudos sobres as correntes: Americana e a Euripeia . Rio de Janeiro.

·         FALZON, P. (2007). Natureza, objetivos e conhecimentos da ergonomia: elementos de uma análise cognitiva da prática. Em P. FALZON, Ergonomia (pp. 3-19). São Paulo: Edgard Blucher.

·         Guder, E. J. (2012). Identifying appropriate sources of work information. Em J. W. In M. A. Wilson, The handbook of work analysis. Methods, systems, applications and science of work measurement in organizations (pp. 31-40). New York: Routledge .

·         GUERIN, F. (2001). Compreender o trabalho para transformá-lo. São Paulo: Editora Edgard Blücher.

·         Landy, F. J., & Conte, J. M. (2010). Work in the 21st century. An introduction to industrial and organizational psychology ( 3rd ed. ed.). (J. Wiley, Ed.) New York.

·         Lima, F. P. (2000). A ergonomia como instrumento de segurança e melhoria das condições de trabalho. Simpósio Brasileiro sobre Ergonomia e Segurança do Trabalho Florestal e Agrícola.

·         MÁSCULO, F. S. (2008). Ergonomia, higiene e segurança do trabalho. Em M. O. BATALHA, Introdução à engenharia de produção. Rio de Janeiro: Elsevier.

·         Montmollin, M. (1995). A ergonomia. Lisboa: Instituto Piaget.

·         MONTMOLLIN, M. d. (1990). A ergonomia. (J. N. Gil, Trad.) Éditions La Découverte.

·         MORAES, A. M. (2000). Ergodesign para trabalho em terminais informatizados. Rio de Janeiro: 2 AB.

·         Morgeson, F. P., & Dierdorff, E. C. (2011). Work analysis: From technique to theory. Em I. S. Org, APA handbook of industrial and organizational psychology. Washington: DC: APA.

·         Powell, T., Woodhouse, M., & Guenole, N. (2012). The handbook of work analysis. Methods, systems, applications and science of work measurement in organizations. Em J. W. In M. A. Wilson, Selling Work Analysis (pp. 23 - 29). New York: Routledge.

·         Sanchez, J. I., & Levine, E. L. (2012). The Rise and Fall of Job Analysis and the Future of Work Analysis. Em Annual Review of Psychology, (pp. 63, 397- 425).

·         SANTOS, N. d., & FIALHO, F. (1997). Manual de análise ergonômica no trabalho. Curitiba: Gênesis.

·         TERSSAC, G. (. (s.d.). Le travail organisé: Faut-il repenser le travail ? Em Biarritz, Actes du XXX Congrès de la Société d’Ergonomie de Langue Française. 5-9, France.

·         VIDAL, M. (1997 ). A materialidade da organização do trabalho como objeto da intervenção ergonômica. Em J. In: SILVA FILHO, & S. JARDIM, A danação do trabalho: organização do trabalho e sofrimento psíquico (p. 376). Rio de Janeiro: Te Corá Editora.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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