INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO DE ANGOLA
A ÉTICA E A PSICÁNALISE
O SENTIMENTO BE CULPA
A CASTRAÇÃO E O COMPLEXO DE ÉDIPO
Trabalho apresentado ao professor Ernesto
Nambongo Luís, como requisito necessário para a avaliação no curso de
Psicologia para a cadeira de Ética e Responsabilidade Social.
GRUPO Nº
04
3º ANO
SALA:
PERÍODO: TARDE
CAXITO
ABIRL/2022
INTEGRANTES DO GRUPO
1.
Adão João Bernardo Pedro
2.
Alberto Chicomo
3.
Cecília Francisca Bernardes Mateus
4.
Delfina da Fonseca António
5.
Ernesto Pedro Menezes
6.
Luzia Chinuque M. Bastos
DEDICATÓRIA
Dedicamos o esforço deste trabalho primeiramente aos nossos colegas,
pois sem Eles não teríamos forças para concluir este trabalho e as nossas famílias.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus e a Jesus pelas bênçãos
proporcionadas em prol deste trabalho.
Agradecemos ao Professor Gaspar Inácio, pelo
engajamento, e a orientação do tema que permitiu a análise dos conhecimentos
sobre os traços de personalidade.
Enfim, agradecemos às nossas famílias,
colegas de caminhada pelo apoio que têm dado, que juntos possamos concluir esta
jornada académica.
RESUMO
O
presente artigo pretende discutir a Ética e Psicanálise, conceito este que
necessita de uma análise singular que ultrapasse o conceito que comumente lhe
atribuímos. Segundo Cotrim (2002, p. 263), a palavra “ética (do grego ethikos,
significa costume, comportamento) ” pode ser compreendida como a disciplina
filosófica que reflete sobre os sistemas morais elaborados pelos homens e
compreende a função das normas e interdições de cada sistema. Nesse sentido,
para a Filosofia, o homem possui valores próprios que regulam a vida em
sociedade, e, como já disse Aristóteles, o homem se difere dos animais pela sua
característica humana, a de possuir o sentimento do bem e do mal, do justo e do
injusto. Este trabalho que se inscreve através de uma revisão bibliográfica
visa discorrer sobre a ética e Psicanálise, procuramos também entender os
conceitos sobre Complexo de Édipo e a Castração como aspectos atinentes constituição
do sujeito. A pesquisa trata-se de um estudo de natureza bibliográfica, com uma
abordagem qualitativa e de cunho exploratório. Compreendemos através da
pesquisa que o Complexo de Édipo assim como a castração tem sido cada vez mais
pesquisado, no entanto, o que se percebe é que muitos estudos têm abordado esta
temática sobre várias perspectivas, mas o que chama atenção é que ainda notam-se
muitas divergências quanto ao assunto. Destarte, para nós da psicanálise é
muito importante compreender esses conceitos fundamentais que foram nos
colocados não só de compreensão por meio da psicanálise e através da ideia de
Freud mais também por teóricos como Lacan que fez um retorno ao trabalho de
Freud.
Palavras-chave:
Ética. Psicanálise. Complexo de Édipo. Castração.
ÍNDICE
1.2.2- Aprenda a
lidar cem erros
1.2.3- Troque a
culpa por responsabilidade
1.3- A CASTRAÇÃO
E O COMPLEXO DE ÉDIPO
1.3.2- O papel
da castração como factor estruturante no desenvolvimento do sujeito
INTRODUÇÃO
Entender
a relação existente entre complexo de castração possibilita o entendimento a
respeito do desenvolvimento da moral no indivíduo. Visto que, esses conceitos,
segundo Freud, andam de mãos dadas durante a formação da psique humana.
A
moral é um campo da filosofia que busca identificar as razões pelas quais as
pessoas e comunidades classificam algo como “certo” e “errado”. Psicanálise e
Moral têm um vínculo estreito, especialmente quando Freud trata do Superego,
uma instância psíquica que representaria a “voz do pai”.
Para
se entender a questão da ética na psicanálise, entretanto, é importante entendê-la
na sociedade. Com as descobertas do mundo moderno, a humanidade passou por
diversas mudanças. Muitas das ciências levaram o homem a diferenças concepções
sobre si mesmo e sobre as suas crenças.
Sobre
a Ética na Psicanálise, Lacan (1997, pp.373-374), nos ensina que ela “consiste
essencialmente num juízo sobre nossa ação” e mais, “se há uma ética da
psicanálise é na medida em que, de alguma maneira, por menos que seja, a
análise fornece algo que se coloca como medida de nossa acção ou simplesmente
pretende isso”. Ele diz que para medir a eficácia terapêutica é preciso
observar o efeito da análise sobre o gozo obtido pelo sintoma e a construção de
um saber pelo próprio sujeito a partir da análise.
1.1. Formulação do problema
Este estudo é
pertinente, tendo em vista inúmeros factores que impactam a vida e bem-estar da
sociedade. Dessa forma, a moral é um campo da filosofia que busca identificar
as razões pelas quais as pessoas e comunidades classificam algo como “certo” e
“errado”. Psicanálise e Moral têm um vínculo estreito, especialmente quando
Freud trata do Superego, uma instância psíquica que representaria a “voz do
pai”.
Nesse sentido, Para se
entender a questão da ética na psicanálise, entretanto, é importante entendê-la
na sociedade. Com as descobertas do mundo moderno, a humanidade passou por
diversas mudanças. Muitas das ciências levaram o homem a diferenças concepções
sobre si mesmo e sobre as suas crenças. Surge então a seguinte questão: Quais são os factores os factores que
implicam na relação entre ética e a psicanalise?
1.2. Justificativa
Para entender o estudo
sobre a ética e a psicanálise, procurou-se fazer um desdobramento sobre a
história e conceitos desses dois elementos que são de extrema importância. Este
trabalho é de suma importância, porque ao se reflectir sobre a ética e a
psicanalise nos leva a analise daquilo que os princípios morais e o estudo da
psique humana, revendo sua relação.
Neste sentido, as
instituições devem envidar esforços em prol da qualidade de vida, bem-estar e
olhar pelo homem como um ser capaz de aprender os conceitos que o mundo
globalizado oferece.
1.3. Objectivos
O
presente trabalho tem por objectivos:
1.3.1. Objectivo Geral
ü Compreender a ética e a psicanalise.
1.3.2. Objectivos Específicos
ü Explicar
os factores que implicam na relação entre ética e a psicanalise;
ü Identificar
os conceitos que norteiam o sentimento be culpa;
ü Avaliar
as atitudes de culpa de um sujeito;
ü Explicar
o processo de castração e o complexo de édipo;
ü Descrever
o papel da castração como factor estruturante no desenvolvimento do sujeito.
1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
1.1. A Ética e
Psicanálise
Estamos
diante de uma relação que pede ser abordada de duas formas: Uma primeira
maneira seria de uma Ética Profissional, da mesma forma que falamos de uma
ética das outras profissões podemos falar de uma Ética da Psicanálise; Outra
forma de abordar o assunto seria pensar às implicações éticas do surgimento da
Psicanálise no Ocidente.
Entretanto,
falar sobre a ética da Psicanálise é precisamente dar lugar de uma proteção aos
clientes que estão submetidos a uma intervenção psicanalítica. Esse cuidado com
o analisando protege-os de eventuais abusos proporcionados pelos analistas ao
ocuparem uma posição privilegiada em função do amor de transferência. Dentro
deste mesmo enunciado ainda teríamos uma ética implicada na formação
institucional, a qual diz respeito às condições da transmissão do saber
psicanalítico.
O
fazer em Psicanálise tem uma ética própria, que no início deve ser sustentada
pelo analista e que ao final de uma análise deve alcançar também o analisando.
A responsabilidade pelo desejo inconsciente que age em cada um de nós, o
respeito pelas diferenças do outro e a capacidade de enfrentar as dificuldades
da vida, com certo grau de senso de humor, são alguns exemplos de atitudes
éticas que a Psicanálise pode ajudar a conquistar.
Assim, podemos também
inserir na Psicanálise como pensamento e prática questionadora dos pressupostos
éticos tradicionais. Temos na contemporaneidade a cura do sofrimento como
eliminação de angústia e de todo mal-estar. Alinhado com o Eudemonismo temos um
discurso utilitarista, o qual acredita que o psiquismo pode se libertar da
acção do inconsciente e servir a uma completa e total Inflação de um eu
imaginário e soberano, feliz e pragmático. Dito isto, não é difícil de perceber
que a finalidade é o ajustamento sujeitos em uma cultura cio individualismo e
do narcisismo.
Ora,
os psicanalistas fazem duras críticas à ética cristã fundada no apelo ao amor:
“Amarás o próximo como a ti mesmo.” Esse discurso não se sustentaria, pois a
entrada do outro em nossa vida desperta como primeiro afecto o ódio, e não o
amor, Esse outro sempre será o meu rival e do qual eu dependo para ser reconhecido.
Freud (1930) defende em O mal na civilização que se esse amor ao próximo fosse
uma coisa possível ele não precisaria ser estabelecido por lei. Dessa forma, o
discurso cristão não serviria como uma forma de prática que aplacaria a indizível
angústia do nosso tempo de alguma forma.
Em
relação à toda essa demanda a Psicanálise vem responder com a Ética do Desejo,
a qual tem como propósito fazer com que os sujeitos assumam o que desejam e ao
identificarem-se com o seu sintoma consigam fazer uma melhor gestão do seu
mal-estar. Ela já parte de uma visão de sujeito onde o mesmo é cingido e
atravessado por forças que o invadem.
Diferentemente
do Utilitarismo que impera e tenta buscar uma “felicidade” comum para todas as
pessoas, a Psicanálise se propõe a escutar o desejo de cada sujeito fazendo com
que a felicidade tão proclamada pelos veículos de massa sela um discurso
construído por cada analisando e não algo em uma esfera de medida onde todos
devem buscar o mesmo discurso e ficarem se balizando por este algo ideal.
Ao
se colocar no lugar de uma escuta, Psicanálise trata da verdade de cada
sujeito: o seu desejo inconsciente. E mister salientar que não podemos dizer
que o desejo é ético ou tampouco antiético. O desejo “é”, isso sendo
indiferente às razões éticas. [1]O
inconsciente desconhece o bem e o mal fazendo com que a medida dada para a sua
forma de escoamento seja a significação atribuída aos seus derivados pela
cultura. Na introdução com o outro, analista, esse sujeito dará voz ao seu
desejo fazendo com que possa transitar no mundo de forma mais criativa e dinâmica,
diferentemente de como transitava antes na banalidade da repetição sintomática.
Esta
corrente psicológica pode contribuir para a produção de uma ética condizente
com as condições das sociedades contemporâneas já que considera o sujeito em
suas esferas de conflito e liberdade, solidão, enfim: condições existenciais
humanas. À própria clínica psicanalítica se fundamenta nessas questões e as
mesmas balizam a travessia do fantasma do analisando mediada pelo analista,
contribuindo assim para outras manifestações de subjectividade.
Lacan
(1997) cita que, a ética na psicanálise “consiste essencialmente num juízo
sobre nossa ação” e completa, “se há uma ética da psicanálise é na medida em
que, de alguma maneira, por menos que seja, a análise fornece algo que se
coloca como medida de nossa acção ou simplesmente pretende isso”. E enfatiza
que “para medir a eficácia terapêutica é preciso observar o efeito da análise
sobre o gozo obtido pelo sintoma e a construção de um saber pelo próprio
sujeito a partir da análise”.
Este
“juízo sobre nossa ação” citado por Lacan, talvez implique em considerar,
semanticamente, para psicanálise, também muito apropriada a palavra
responsabilidade.
Ainda
que a psicanálise possa não ser considerada uma ciência, para muitos, nem por
isso, ela é menos. Isso porque a análise e o método psicanalista ajudam o
indivíduo a descobrir a si mesmo. Seus medos, seus traumas e receios, seus
recalques. E assim, a psicanálise, auxilia o indivíduo a lidar com seus
sintomas. Dessa forma, compreendemos a função da ética na psicanálise. Além
disso, podemos ver que ela pode ser situada no campo da ética e não no campo da
ciência. Como quisera seu próprio fundador. Não sendo por isso menos importante
para a humanidade.
1.2- O SENTIMENTO BE CULPA
1.2.1- O que é culpa
Segundo
Lewis (1971) diz que o sentimento de culpa é quando nos julgamos negativamente
ao acreditarmos que não conseguimos viver de acordo com os nossos próprios
padrões ou padrões impostos pela sociedade. Outras vezes, em vez de vir o
sentimento de vergonha ou junto a ele aparece aquela sensação de raiva de si
mesmo e/ou da situação, junto com pensamentos do tipo: “Por que eu fiz isso?”. Assim
como as diferentes emoções que sentimos, a culpa tem uma função adaptativa, ou
seja, ela é própria da natureza humana. Há uma região no nosso cérebro chamada
Sistema Límbico que é responsável por todos os nossos julgamentos morais e
também pela sensação de culpa e vergonha.
É
quando sentimos aquele misto de preocupação e remorso que faz com que
repensemos sobre as nossas atitudes depois que elas foram tomadas. Os
psicopatas, por exemplo – que também são conhecidos como sociopatas não sentem
o remorso de ter feito algo ruim para um outro por não ter empatia. Há
pesquisas que mostram que há uma certa disfunção na região límbica dessas
pessoas que não é ativado o sentimento de culpa.
Ao
contrário, eles consideram-se como os juízes deles mesmos, não levando em conta
o julgamento do outro ou sentimento de vergonha por alguma atitude que tomou. Portanto,
se você sente culpa por algo que fez ou deixou de fazer, pense pelo lado
positivo: você está no grupo da maior parte dos seres humanos! Saiba que quem
sente culpa tem maior capacidade de empatia e conexão com o outro.
Considerando-se
seres humanos com um desenvolvimento psicológico saudável, é natural que
tenhamos esses sentimentos, muitas vezes seguidos por remorso, raiva e
vergonha, pois eles nos direcionam para a nossa própria evolução pessoal. E
também é importante que eles permaneçam em nós pelo tempo que for necessário
para que possam nos servir como um aprendizado.
A
pesquisadora Brené Brown (2012) descreve que a culpa é considerada saudável
quando nos move em direção a pensamentos e comportamentos positivos. Com ela,
podemos criar novas alternativas e saídas para sair daquela situação
desconfortável que já aconteceu – e na grande maioria das vezes, não temos
controlo pois está no passado.
Ao
cometer um erro, ao invés de pensar “Me desculpe, eu cometi um erro”, a culpa
tóxica nos leva a dizer “Me desculpe, eu sou um erro” (Brown, 2012). É aí que o
alerta vermelho aparece. Deste modo, o comportamento e a iniciativa são
factores relevantes neste conflito intrapsíquico, mus o que realmente difere
nos culpados é o quanto estas pessoas se sentem merecedoras. Pessoas que
carregam culpa e não se sentem merecedoras, inconscientemente destroem tudo em
suas vidas.
O
sentimento de culpa é um dos piores que pode afetar o ser humano, uma vez que
mantém o indivíduo preso ao passado. No decurso da nossa infância, aprendemos
que devemos sentir culpa e vergonha ao cometer um erro. Esse aprendizado
persiste até a vida adulta, e cada erro traz mais sofrimento e culpa.
Este
sentimento de culpa traz uma carga negativa de crenças, afetando todos os
pensamentos do indivíduo c influenciando como ele pensa a respeito de si mesmo.
Ao invés de buscar alternativas e possibilidades, a culpa faz com que você
fique apenas se lamentando e se sentindo mal. Como consequência, o indivíduo
não aprende com seus erros e fica apenas repetindo as mesmas atitudes.
A
culpa tem a sua origem durante a gestação, a mãe sente todas as emoções de
forma alternada e desproporcional, variando entre medo, tristeza, raiva,
ansiedade e solidão. O bebê também sente e registra todos esses sentimentos e
emoções, passando a sentir culpa por causar dor à sua mãe. Dessa forma, a culpa
se toma uma ligação entre mãe e -filho. As experiências de vida podem
intensificar esse sentimento, gerando ainda mais culpa e dor.
Para
parar de se culpar tanto o sujeito deve optar pelas seguintes atitudes:
1.2.2- Aprenda a lidar cem erros
Aprenda
a lidar com erros e aceite que você é imperfeito. Você deixa de amar alguém
apenas porque essa pessoa errou? Tenha em mente que você não é mais aquela
criança que tinha que ser perfeita e não podia errar para ser amada: todas as
pessoas erram, e nenhum erro é intencional.
·
Sinta-se
merecedor - Quantas vezes você duvidou de um elogio
que recebeu, não se sentiu merecedor de um presente ou até mesmo do amor de
alguém? Saiba acreditar, receber e agradecer por cada coisa que chega até você,
se conectando cada vez mais com a energia do merecimento.
1.2.3- Troque a culpa por
responsabilidade
Perceba
a diferença entre ser culpado e ser responsável. A responsabilidade é uma
escolha que traz emoções positivas, faz com que você se perceba como potente,
activo e motivado. A culpa, por sua vez, é uma emoção negativa que paralisa e
faz com que você fique voltado para o passado.
Ora,
o sentimento de culpa é o sofrimento obtido após reavaliação de um
comportamento passado tido como reprovável por si mesmo. A base deste
sentimento, do ponto de vista psicanalítico, é a frustração causada pela
distância entre o que não fomos e a imagem criada pelo superego daquilo que
achamos que deveríamos ter sido. Há também outra definição para
"sentimento de culpa", quando se viola a consciência moral pessoal
(ou seja, quando pecamos e erramos), surge o sentimento de culpa.
Para
o psiquiatra Paulo Sérgio Guedes, o primeiro passo para enfrentar o problema é
identificar o sentimento de grandeza. Depois, a pessoa deve saber que a vida
não é controlável e que o ser humano pode errar. Segundo ele. É preciso
entender a diferença entre responsabilidade e culpa. Culpa é o sentimento
originado da ideia de que as coisas têm que acontecer como a pessoa quer,
responsabilidade é assumir que você é responsável por suas atitudes, explicou.
1.3- A CASTRAÇÃO E O COMPLEXO DE
ÉDIPO
A
castração representa o declínio do édipo no menino, na menina promove a sua
possibilidade de entrada no drama edípico. “Enquanto nos meninos, o complexo de
Édipo é destituído pelo complexo de castração, nas meninas ele faz possível e é
introduzido através áo complexo de castração” (FREUD, 1974. p. 318). Segundo o
entendimento freudiano, não existe uma força que possibilite o efetivo declínio
do complexo de édipo na menina. O superego é o resultado final do complexo de
édipo. Na menina, há uma estruturação frágil no que tange a moralidade.
“Estando
assim excluído, na menina, o temor da castração, caí também um motivo poderoso
para o estabelecimento de um superego” (FREUD, 1974, p.223). A castração tem um
papel fundamental A primazia do falo em períodos anteriores ao complexo de
édipo permite ambos (menino e menina) temerem, neste momento de castração.
Segundo
Pellegrino (1987) faz referência ao problema da relação do ser humano com a
lei: Não há dúvidas de que a lei, para ser respeitada precisa ser temida.
(PELLEGRINO, 1987, p. 2).
Neste
sentido, para a resolução do Édipo, é necessário o temor à castração, segundo a
concepção freudiana. Uma lei que não seja temida - que não tenha potência de
interdição e punição - é uma lei fajuta. No entanto, o temor à lei, sendo
necessário, é absolutamente insuficiente para fundar a relação do ser humano
com a lei (PELLEGRINO, 1987, p. 2).
Sigmund
Freud usa o termo Complexo de Édipo na sua teoria de estágios psicossexuais do
desenvolvimento para descrever os sentimentos da criança de desejo pela mãe e
ciúme em relação ao pai, essencialmente o “menino”, uma vez que este se sente
em concorrência com o pai por posse da sua mãe, o menino ver o pai como rival
para as atenções e afeto da mãe. Na Teoria Psicanalítica, o Complexo de Édipo
se refere ao desejo amoroso da criança pelo pai do sexo oposto, Freud sugeriu
que o Complexo de Édipo desempenha um papel importante na fase fálica do
desenvolvimento psicossexual.
Em
contribuição a isso, também se faz necessário frisar que a conclusão dessa
etapa envolve a identificação com o pai do mesmo sexo, o que acabaria por levar
ao desenvolvimento de uma identidade sexual madura.
O
Édipo na menina é construído a partir da transformação do objeto libidinal da
mãe para o pai. À menina só entra no complexo de Édipo no momento que ama o pai
e desisti desse amor complexo de Elecíra. A partir da castração, a menina busca
o ideal do ego (eu), ou seja, o outro-narcísico demarcado pela castração. A
vontade de se isolar é comum quando a pessoa sente remorso.
1.3.1- Complexo de castração
Em
psicanálise, o conceito de "castração" não corresponde à aceção
habitual de mutilação dos órgãos sexuais masculinos, mas designa uma
experiência psíquica completa, inconscientemente vivida pela criança por volta
dos 5 anos de idade, e decisiva para a realização da sua futura identidade
sexual. O complexo de castração não se reduz a um simples momento cronológico
na sexualidade infantil. Pelo contrário, a experiência inconsciente da castração
é incessantemente renovada ao longo de toda a existência e particularmente em
jogo na cura analítica do paciente adulto.
O
complexo de castração compõe, juntamente com o complexo de Édipo, a base onde a
estrutura dos desejos que funda e institui o sujeito na sua relação com o mundo
opera a sua subjetividade. Reconhecer que os limites do corpo estão aquém dos
seus desejos é admitir a quebra de um certo sentimento de omnipotência que o eu
insiste em sustentar, na nossa relação imaginária com o outro.
Portanto,
constituir-se sujeito desejante, na sua origem, através da ameaça da castração
para o menino e da inveja do pénis para a menina é fincar os pés na existência
tendo-a marcada pelo trauma que recalca o desejo incestuoso do objeto para
sempre perdido, a mãe (função materna). É o peso do processo civilizacional, a
atuar através da estrutura edípica, que impõe ao sujeito humano o recalque das
suas pulsões, constituindo-o como sujeito.
O
complexo de castração, tal como o de Édipo, opera nas escolhas objetais até o
fim da nossa existência. É através da fantasia inconsciente de castração que o
complexo encontra a sua principal via para estruturar o sujeito. É no terror da
angústia inconsciente de castração que habita a génese das manifestações
neuróticas. Medos, fobias e sintomas diversos, que surgem no plano consciente,
são apenas mecanismos de defesa contra a emergência desta angústia que nos é
insuportável. Freud constatou que a criança ao observar a mãe nua, ao invés de
ver ali os órgãos sexuais da mulher, interpreta a vagina como falta. A mãe é
vista como castrada. MOREIRA & BORGES, (2010, p. 71-81).
Portanto,
os sexos diferenciam-se segundo a perceção da presença ou ausência do pénis.
Assim, o sexo feminino é interpretado com sendo castrado. Freud conclui, então,
que na relação mãe-filho, o complexo de Édipo faz intervir um terceiro termo,
que ele denomina de função paterna. Esta está intimamente relacionada à lei.
Logo, perceber a mãe como castrada significa reconhecer a castração do outro. Significa
reconhecer que ela é um ser limitado, ou seja, um ser submetido à lei.
O
menino, por conta da ameaça da castração, e, por medo de perder o seu pénis, o
que implicaria numa perda da integridade narcísica, terá que renunciar à mãe.
No que diz respeito à menina, o reconhecimento de que à mãe falta o pénis, isto
é, de que ela é privada do phalo, faz com que a menina entre no Édipo e, assim,
volte-se para o pai.
Ambos,
portanto, menina e menino, ao reconhecerem a falta na mãe passam a ter a falta
inscrita no seu próprio ser. Reconhecer a castração significa situar-se em
relação à própria ordem simbólica, da qual o phalo é a pedra fundamental. Do
ponto de vista da psicanálise, no entanto, para que se possa desejar é
necessário que haja falta. Assim, poder-se-á afirmar que só há desejo se houver
castração.
1.3.2- O papel da castração como factor
estruturante no desenvolvimento do sujeito
Para
compreendermos sobre o conceito de castração se necessário voltarmos um pouco
no tempo, uma vez que foi em 1908 que Freud trata pela primeira vez sobre o
complexo de castração nos meninos. Vale destacar que o complexo de castração
foi descoberto/percebido por Freud com base na análise de um caso de fobia de
um menino de 5 anos, o “Pequeno Hans”. Na concepção de Freud esse processo
psíquico acontece em quatro momentos e/ou tempos, até a sua resolução. Do outro
lado temos o complexo de castração na menina, endossado por vários pontos em
comum com o do menino. Um exemplo dessa similaridade é que a garota também
parte da premissa de que todos têm um pênis.
Igualmente,
a mãe ocupa um papel importante na sua vida, é ponto central de todo o seu
amor. Contudo, o processo segue um caminho dissemelhante. Importa saber que o
conceito de castração na psicanálise, não representa à aceção habitual de
mutilação dos órgãos sexuais masculinos, entretanto indica uma experiência
psíquica completa, de maneira inconsciente vivida pela criança em torno dos 5
anos de idade, e determinante para a efetivação da sua futura identidade
sexual. É importante entender que o complexo de castração não se restringe a um
mero momento cronológico na sexualidade infantil.
3- CONCLUSÃO
Para
concluir, retomo a pergunta ingênua com a qual começamos: a psicanálise é
contra a ética? Agora podemos então dizer que é evidente que não. Vimos a
complexidade da questão na medida em que o que é mais desejado cujo modelo é o
incesto com a mãe é o mais proibido, um Bem que se transforma num Mal em função
da Lei. Mesmo assim, a tarefa da psicanálise é tornar consciente este desejo
para o analisando, o que não é o mesmo que liberá-lo para a franca atuação e
realização no mundo externo.
A
aparente contradição entre tornar conscientes os desejos reprimidos e não os
liberar para a ação fica bem mostrado em O mal-estar na civilização. Ali diz
Freud que para tornar possível a vida em comum é imprescindível a repressão dos
impulsos sexuais e agressivos, caso contrário se estabeleceria um estado de
luta permanente de todos contra todos, levando a humanidade à extinção.
Na
psicanálise é essencial ser absolutamente transparente em não fazer promessas
de cura absoluta; pois não garante respostas as demandas do paciente uma vez
que este o paciente deverá, numa terapia psicanalítica ética e responsável,
tornar-se capaz de reconhecer suas dores (sintomas), seus desejos; o que o
levará a escolhas no caminhar de sua vida de acordo com a “batalha” travada no
continente do consciente para onde emergem os conteúdos outrora reprimidos.
Segundo
Lacan (1967) esclarece: “então é o analista com sua oferta que cria uma demanda
de saber. Mas, eis o ponto ético na clínica, ele cria a demanda de saber e não
responde à demanda do cliente, para mostrar que o verdadeiro sujeito suposto
saber não é ele, é o analisante, que tem de escutar o que seu ego não quer nem
saber.
A
psicanalise visa fazer cada um encontrar seu próprio desejo, o desentranhá-lo
da alienação no Outro, seja este Outro a mãe, o pai ou, mais remotamente, o
passado familiar com suas histórias cheias de vergonhas, humilhações e
segredos, transmitidas pelos mecanismos transgeracionais, essa é a tarefa ética
que temos realizado em nosso trabalho com nossos analisandos individuais ou com
famílias. A clínica psicanalítica nos mostra que todos os atos maus condenados
pela ética podem ser referidos à persistência de traços mais arcaicos presentes
na constituição do sujeito.
BIBLIOGRAFIA
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