A ÉTICA E A PSICÁNALISE

 

INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO DE ANGOLA

 

 

 

 

A ÉTICA E A PSICÁNALISE

O SENTIMENTO BE CULPA

A CASTRAÇÃO E O COMPLEXO DE ÉDIPO

 

Trabalho apresentado ao professor Ernesto Nambongo Luís, como requisito necessário para a avaliação no curso de Psicologia para a cadeira de Ética e Responsabilidade Social.

 

 

 

 

 

 

GRUPO Nº 04

ANO

SALA:

PERÍODO: TARDE

 

 

 

 

 

 

 

 

CAXITO

ABIRL/2022

 

INTEGRANTES DO GRUPO

 

1.      Adão João Bernardo Pedro

2.      Alberto Chicomo

3.      Cecília Francisca Bernardes Mateus

4.      Delfina da Fonseca António

5.      Ernesto Pedro Menezes

6.      Luzia Chinuque M. Bastos

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


DEDICATÓRIA

 

Dedicamos o esforço deste trabalho primeiramente aos nossos colegas, pois sem Eles não teríamos forças para concluir este trabalho e as nossas famílias.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

AGRADECIMENTOS

 

Agradeço a Deus e a Jesus pelas bênçãos proporcionadas em prol deste trabalho. 

 

Agradecemos ao Professor Gaspar Inácio, pelo engajamento, e a orientação do tema que permitiu a análise dos conhecimentos sobre os traços de personalidade. 

 

Enfim, agradecemos às nossas famílias, colegas de caminhada pelo apoio que têm dado, que juntos possamos concluir esta jornada académica.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

RESUMO

 

O presente artigo pretende discutir a Ética e Psicanálise, conceito este que necessita de uma análise singular que ultrapasse o conceito que comumente lhe atribuímos. Segundo Cotrim (2002, p. 263), a palavra “ética (do grego ethikos, significa costume, comportamento) ” pode ser compreendida como a disciplina filosófica que reflete sobre os sistemas morais elaborados pelos homens e compreende a função das normas e interdições de cada sistema. Nesse sentido, para a Filosofia, o homem possui valores próprios que regulam a vida em sociedade, e, como já disse Aristóteles, o homem se difere dos animais pela sua característica humana, a de possuir o sentimento do bem e do mal, do justo e do injusto. Este trabalho que se inscreve através de uma revisão bibliográfica visa discorrer sobre a ética e Psicanálise, procuramos também entender os conceitos sobre Complexo de Édipo e a Castração como aspectos atinentes constituição do sujeito. A pesquisa trata-se de um estudo de natureza bibliográfica, com uma abordagem qualitativa e de cunho exploratório. Compreendemos através da pesquisa que o Complexo de Édipo assim como a castração tem sido cada vez mais pesquisado, no entanto, o que se percebe é que muitos estudos têm abordado esta temática sobre várias perspectivas, mas o que chama atenção é que ainda notam-se muitas divergências quanto ao assunto. Destarte, para nós da psicanálise é muito importante compreender esses conceitos fundamentais que foram nos colocados não só de compreensão por meio da psicanálise e através da ideia de Freud mais também por teóricos como Lacan que fez um retorno ao trabalho de Freud.

 

Palavras-chave: Ética. Psicanálise. Complexo de Édipo. Castração.

 

 

 

 

 

 

 

ÍNDICE

 

 

DEDICATÓRIA. III

AGRADECIMENTOS. IV

RESUMO.. V

INTRODUÇÃO.. 1

1.1. Formulação do problema. 1

1.2. Justificativa. 2

1.3. Objectivos. 2

1.3.1. Objectivo Geral 2

1.3.2. Objectivos Específicos. 2

1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA. 3

1.2- O SENTIMENTO BE CULPA. 5

1.2.1- O que é culpa. 5

1.2.2- Aprenda a lidar cem erros. 7

1.2.3- Troque a culpa por responsabilidade. 7

1.3- A CASTRAÇÃO E O COMPLEXO DE ÉDIPO.. 8

1.3.1- Complexo de castração. 9

1.3.2- O papel da castração como factor estruturante no desenvolvimento do sujeito. 10

3- CONCLUSÃO.. 11

BIBLIOGRAFIA. 12

 


INTRODUÇÃO

 

Entender a relação existente entre complexo de castração possibilita o entendimento a respeito do desenvolvimento da moral no indivíduo. Visto que, esses conceitos, segundo Freud, andam de mãos dadas durante a formação da psique humana.

A moral é um campo da filosofia que busca identificar as razões pelas quais as pessoas e comunidades classificam algo como “certo” e “errado”. Psicanálise e Moral têm um vínculo estreito, especialmente quando Freud trata do Superego, uma instância psíquica que representaria a “voz do pai”.

Para se entender a questão da ética na psicanálise, entretanto, é importante entendê-la na sociedade. Com as descobertas do mundo moderno, a humanidade passou por diversas mudanças. Muitas das ciências levaram o homem a diferenças concepções sobre si mesmo e sobre as suas crenças.

Sobre a Ética na Psicanálise, Lacan (1997, pp.373-374), nos ensina que ela “consiste essencialmente num juízo sobre nossa ação” e mais, “se há uma ética da psicanálise é na medida em que, de alguma maneira, por menos que seja, a análise fornece algo que se coloca como medida de nossa acção ou simplesmente pretende isso”. Ele diz que para medir a eficácia terapêutica é preciso observar o efeito da análise sobre o gozo obtido pelo sintoma e a construção de um saber pelo próprio sujeito a partir da análise.

1.1. Formulação do problema

Este estudo é pertinente, tendo em vista inúmeros factores que impactam a vida e bem-estar da sociedade. Dessa forma, a moral é um campo da filosofia que busca identificar as razões pelas quais as pessoas e comunidades classificam algo como “certo” e “errado”. Psicanálise e Moral têm um vínculo estreito, especialmente quando Freud trata do Superego, uma instância psíquica que representaria a “voz do pai”.

Nesse sentido, Para se entender a questão da ética na psicanálise, entretanto, é importante entendê-la na sociedade. Com as descobertas do mundo moderno, a humanidade passou por diversas mudanças. Muitas das ciências levaram o homem a diferenças concepções sobre si mesmo e sobre as suas crenças. Surge então a seguinte questão: Quais são os factores os factores que implicam na relação entre ética e a psicanalise?

1.2. Justificativa

Para entender o estudo sobre a ética e a psicanálise, procurou-se fazer um desdobramento sobre a história e conceitos desses dois elementos que são de extrema importância. Este trabalho é de suma importância, porque ao se reflectir sobre a ética e a psicanalise nos leva a analise daquilo que os princípios morais e o estudo da psique humana, revendo sua relação.

Neste sentido, as instituições devem envidar esforços em prol da qualidade de vida, bem-estar e olhar pelo homem como um ser capaz de aprender os conceitos que o mundo globalizado oferece.

1.3. Objectivos

O presente trabalho tem por objectivos:

1.3.1. Objectivo Geral

ü  Compreender a ética e a psicanalise.

 

1.3.2. Objectivos Específicos

ü  Explicar os factores que implicam na relação entre ética e a psicanalise;

ü  Identificar os conceitos que norteiam o sentimento be culpa;

ü  Avaliar as atitudes de culpa de um sujeito;

ü  Explicar o processo de castração e o complexo de édipo;

ü  Descrever o papel da castração como factor estruturante no desenvolvimento do sujeito.

 

 

 

 

 

 

 

1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1.1. A Ética e Psicanálise

Estamos diante de uma relação que pede ser abordada de duas formas: Uma primeira maneira seria de uma Ética Profissional, da mesma forma que falamos de uma ética das outras profissões podemos falar de uma Ética da Psicanálise; Outra forma de abordar o assunto seria pensar às implicações éticas do surgimento da Psicanálise no Ocidente. (LUÍS, 2022, p. 28).

Entretanto, falar sobre a ética da Psicanálise é precisamente dar lugar de uma proteção aos clientes que estão submetidos a uma intervenção psicanalítica. Esse cuidado com o analisando protege-os de eventuais abusos proporcionados pelos analistas ao ocuparem uma posição privilegiada em função do amor de transferência. Dentro deste mesmo enunciado ainda teríamos uma ética implicada na formação institucional, a qual diz respeito às condições da transmissão do saber psicanalítico. (LUÍS, 2022, p. 28).

O fazer em Psicanálise tem uma ética própria, que no início deve ser sustentada pelo analista e que ao final de uma análise deve alcançar também o analisando. A responsabilidade pelo desejo inconsciente que age em cada um de nós, o respeito pelas diferenças do outro e a capacidade de enfrentar as dificuldades da vida, com certo grau de senso de humor, são alguns exemplos de atitudes éticas que a Psicanálise pode ajudar a conquistar. (KEHL, 2002, p. 26).

Assim, podemos também inserir na Psicanálise como pensamento e prática questionadora dos pressupostos éticos tradicionais. Temos na contemporaneidade a cura do sofrimento como eliminação de angústia e de todo mal-estar. Alinhado com o Eudemonismo temos um discurso utilitarista, o qual acredita que o psiquismo pode se libertar da acção do inconsciente e servir a uma completa e total Inflação de um eu imaginário e soberano, feliz e pragmático. Dito isto, não é difícil de perceber que a finalidade é o ajustamento sujeitos em uma cultura cio individualismo e do narcisismo. (LUÍS, 2022, p. 28).

Ora, os psicanalistas fazem duras críticas à ética cristã fundada no apelo ao amor: “Amarás o próximo como a ti mesmo.” Esse discurso não se sustentaria, pois a entrada do outro em nossa vida desperta como primeiro afecto o ódio, e não o amor, Esse outro sempre será o meu rival e do qual eu dependo para ser reconhecido. Freud (1930) defende em O mal na civilização que se esse amor ao próximo fosse uma coisa possível ele não precisaria ser estabelecido por lei. Dessa forma, o discurso cristão não serviria como uma forma de prática que aplacaria a indizível angústia do nosso tempo de alguma forma. (LUÍS, 2022, p. 28).

Em relação à toda essa demanda a Psicanálise vem responder com a Ética do Desejo, a qual tem como propósito fazer com que os sujeitos assumam o que desejam e ao identificarem-se com o seu sintoma consigam fazer uma melhor gestão do seu mal-estar. Ela já parte de uma visão de sujeito onde o mesmo é cingido e atravessado por forças que o invadem. (LUÍS, 2022, p. 28).

Diferentemente do Utilitarismo que impera e tenta buscar uma “felicidade” comum para todas as pessoas, a Psicanálise se propõe a escutar o desejo de cada sujeito fazendo com que a felicidade tão proclamada pelos veículos de massa sela um discurso construído por cada analisando e não algo em uma esfera de medida onde todos devem buscar o mesmo discurso e ficarem se balizando por este algo ideal. (LUÍS, 2022, p. 28).

Ao se colocar no lugar de uma escuta, Psicanálise trata da verdade de cada sujeito: o seu desejo inconsciente. E mister salientar que não podemos dizer que o desejo é ético ou tampouco antiético. O desejo “é”, isso sendo indiferente às razões éticas. [1]O inconsciente desconhece o bem e o mal fazendo com que a medida dada para a sua forma de escoamento seja a significação atribuída aos seus derivados pela cultura. Na introdução com o outro, analista, esse sujeito dará voz ao seu desejo fazendo com que possa transitar no mundo de forma mais criativa e dinâmica, diferentemente de como transitava antes na banalidade da repetição sintomática. (LUÍS, 2022, p. 29).

Esta corrente psicológica pode contribuir para a produção de uma ética condizente com as condições das sociedades contemporâneas já que considera o sujeito em suas esferas de conflito e liberdade, solidão, enfim: condições existenciais humanas. À própria clínica psicanalítica se fundamenta nessas questões e as mesmas balizam a travessia do fantasma do analisando mediada pelo analista, contribuindo assim para outras manifestações de subjectividade. (LUÍS, 2022, p. 29).

Lacan (1997) cita que, a ética na psicanálise “consiste essencialmente num juízo sobre nossa ação” e completa, “se há uma ética da psicanálise é na medida em que, de alguma maneira, por menos que seja, a análise fornece algo que se coloca como medida de nossa acção ou simplesmente pretende isso”. E enfatiza que “para medir a eficácia terapêutica é preciso observar o efeito da análise sobre o gozo obtido pelo sintoma e a construção de um saber pelo próprio sujeito a partir da análise”.

Este “juízo sobre nossa ação” citado por Lacan, talvez implique em considerar, semanticamente, para psicanálise, também muito apropriada a palavra responsabilidade.

Ainda que a psicanálise possa não ser considerada uma ciência, para muitos, nem por isso, ela é menos. Isso porque a análise e o método psicanalista ajudam o indivíduo a descobrir a si mesmo. Seus medos, seus traumas e receios, seus recalques. E assim, a psicanálise, auxilia o indivíduo a lidar com seus sintomas. Dessa forma, compreendemos a função da ética na psicanálise. Além disso, podemos ver que ela pode ser situada no campo da ética e não no campo da ciência. Como quisera seu próprio fundador. Não sendo por isso menos importante para a humanidade.

1.2- O SENTIMENTO BE CULPA

1.2.1- O que é culpa

Segundo Lewis (1971) diz que o sentimento de culpa é quando nos julgamos negativamente ao acreditarmos que não conseguimos viver de acordo com os nossos próprios padrões ou padrões impostos pela sociedade. Outras vezes, em vez de vir o sentimento de vergonha ou junto a ele aparece aquela sensação de raiva de si mesmo e/ou da situação, junto com pensamentos do tipo: “Por que eu fiz isso?”. Assim como as diferentes emoções que sentimos, a culpa tem uma função adaptativa, ou seja, ela é própria da natureza humana. Há uma região no nosso cérebro chamada Sistema Límbico que é responsável por todos os nossos julgamentos morais e também pela sensação de culpa e vergonha. (Lewis, 1971, p. 56).

É quando sentimos aquele misto de preocupação e remorso que faz com que repensemos sobre as nossas atitudes depois que elas foram tomadas. Os psicopatas, por exemplo – que também são conhecidos como sociopatas não sentem o remorso de ter feito algo ruim para um outro por não ter empatia. Há pesquisas que mostram que há uma certa disfunção na região límbica dessas pessoas que não é ativado o sentimento de culpa. (Lewis, 1971).

Ao contrário, eles consideram-se como os juízes deles mesmos, não levando em conta o julgamento do outro ou sentimento de vergonha por alguma atitude que tomou. Portanto, se você sente culpa por algo que fez ou deixou de fazer, pense pelo lado positivo: você está no grupo da maior parte dos seres humanos! Saiba que quem sente culpa tem maior capacidade de empatia e conexão com o outro. (KEHL, 2002).

Considerando-se seres humanos com um desenvolvimento psicológico saudável, é natural que tenhamos esses sentimentos, muitas vezes seguidos por remorso, raiva e vergonha, pois eles nos direcionam para a nossa própria evolução pessoal. E também é importante que eles permaneçam em nós pelo tempo que for necessário para que possam nos servir como um aprendizado.

A pesquisadora Brené Brown (2012) descreve que a culpa é considerada saudável quando nos move em direção a pensamentos e comportamentos positivos. Com ela, podemos criar novas alternativas e saídas para sair daquela situação desconfortável que já aconteceu – e na grande maioria das vezes, não temos controlo pois está no passado.

Ao cometer um erro, ao invés de pensar “Me desculpe, eu cometi um erro”, a culpa tóxica nos leva a dizer “Me desculpe, eu sou um erro” (Brown, 2012). É aí que o alerta vermelho aparece. Deste modo, o comportamento e a iniciativa são factores relevantes neste conflito intrapsíquico, mus o que realmente difere nos culpados é o quanto estas pessoas se sentem merecedoras. Pessoas que carregam culpa e não se sentem merecedoras, inconscientemente destroem tudo em suas vidas. (LUÍS, 2022, p. 29).

O sentimento de culpa é um dos piores que pode afetar o ser humano, uma vez que mantém o indivíduo preso ao passado. No decurso da nossa infância, aprendemos que devemos sentir culpa e vergonha ao cometer um erro. Esse aprendizado persiste até a vida adulta, e cada erro traz mais sofrimento e culpa. (LUÍS, 2022, p. 29).

Este sentimento de culpa traz uma carga negativa de crenças, afetando todos os pensamentos do indivíduo c influenciando como ele pensa a respeito de si mesmo. Ao invés de buscar alternativas e possibilidades, a culpa faz com que você fique apenas se lamentando e se sentindo mal. Como consequência, o indivíduo não aprende com seus erros e fica apenas repetindo as mesmas atitudes. (LUÍS, 2022, p. 29).

A culpa tem a sua origem durante a gestação, a mãe sente todas as emoções de forma alternada e desproporcional, variando entre medo, tristeza, raiva, ansiedade e solidão. O bebê também sente e registra todos esses sentimentos e emoções, passando a sentir culpa por causar dor à sua mãe. Dessa forma, a culpa se toma uma ligação entre mãe e -filho. As experiências de vida podem intensificar esse sentimento, gerando ainda mais culpa e dor. (LUÍS, 2022, p. 29).

Para parar de se culpar tanto o sujeito deve optar pelas seguintes atitudes:

1.2.2- Aprenda a lidar cem erros

Aprenda a lidar com erros e aceite que você é imperfeito. Você deixa de amar alguém apenas porque essa pessoa errou? Tenha em mente que você não é mais aquela criança que tinha que ser perfeita e não podia errar para ser amada: todas as pessoas erram, e nenhum erro é intencional.

·         Sinta-se merecedor - Quantas vezes você duvidou de um elogio que recebeu, não se sentiu merecedor de um presente ou até mesmo do amor de alguém? Saiba acreditar, receber e agradecer por cada coisa que chega até você, se conectando cada vez mais com a energia do merecimento.

1.2.3- Troque a culpa por responsabilidade

Perceba a diferença entre ser culpado e ser responsável. A responsabilidade é uma escolha que traz emoções positivas, faz com que você se perceba como potente, activo e motivado. A culpa, por sua vez, é uma emoção negativa que paralisa e faz com que você fique voltado para o passado.

Ora, o sentimento de culpa é o sofrimento obtido após reavaliação de um comportamento passado tido como reprovável por si mesmo. A base deste sentimento, do ponto de vista psicanalítico, é a frustração causada pela distância entre o que não fomos e a imagem criada pelo superego daquilo que achamos que deveríamos ter sido. Há também outra definição para "sentimento de culpa", quando se viola a consciência moral pessoal (ou seja, quando pecamos e erramos), surge o sentimento de culpa.

Para o psiquiatra Paulo Sérgio Guedes, o primeiro passo para enfrentar o problema é identificar o sentimento de grandeza. Depois, a pessoa deve saber que a vida não é controlável e que o ser humano pode errar. Segundo ele. É preciso entender a diferença entre responsabilidade e culpa. Culpa é o sentimento originado da ideia de que as coisas têm que acontecer como a pessoa quer, responsabilidade é assumir que você é responsável por suas atitudes, explicou.

 

 

 

 

1.3- A CASTRAÇÃO E O COMPLEXO DE ÉDIPO

A castração representa o declínio do édipo no menino, na menina promove a sua possibilidade de entrada no drama edípico. “Enquanto nos meninos, o complexo de Édipo é destituído pelo complexo de castração, nas meninas ele faz possível e é introduzido através áo complexo de castração” (FREUD, 1974. p. 318). Segundo o entendimento freudiano, não existe uma força que possibilite o efetivo declínio do complexo de édipo na menina. O superego é o resultado final do complexo de édipo. Na menina, há uma estruturação frágil no que tange a moralidade.

“Estando assim excluído, na menina, o temor da castração, caí também um motivo poderoso para o estabelecimento de um superego” (FREUD, 1974, p.223). A castração tem um papel fundamental A primazia do falo em períodos anteriores ao complexo de édipo permite ambos (menino e menina) temerem, neste momento de castração.

Segundo Pellegrino (1987) faz referência ao problema da relação do ser humano com a lei: Não há dúvidas de que a lei, para ser respeitada precisa ser temida. (PELLEGRINO, 1987, p. 2).

Neste sentido, para a resolução do Édipo, é necessário o temor à castração, segundo a concepção freudiana. Uma lei que não seja temida - que não tenha potência de interdição e punição - é uma lei fajuta. No entanto, o temor à lei, sendo necessário, é absolutamente insuficiente para fundar a relação do ser humano com a lei (PELLEGRINO, 1987, p. 2).

Sigmund Freud usa o termo Complexo de Édipo na sua teoria de estágios psicossexuais do desenvolvimento para descrever os sentimentos da criança de desejo pela mãe e ciúme em relação ao pai, essencialmente o “menino”, uma vez que este se sente em concorrência com o pai por posse da sua mãe, o menino ver o pai como rival para as atenções e afeto da mãe. Na Teoria Psicanalítica, o Complexo de Édipo se refere ao desejo amoroso da criança pelo pai do sexo oposto, Freud sugeriu que o Complexo de Édipo desempenha um papel importante na fase fálica do desenvolvimento psicossexual.

Em contribuição a isso, também se faz necessário frisar que a conclusão dessa etapa envolve a identificação com o pai do mesmo sexo, o que acabaria por levar ao desenvolvimento de uma identidade sexual madura.

O Édipo na menina é construído a partir da transformação do objeto libidinal da mãe para o pai. À menina só entra no complexo de Édipo no momento que ama o pai e desisti desse amor complexo de Elecíra. A partir da castração, a menina busca o ideal do ego (eu), ou seja, o outro-narcísico demarcado pela castração. A vontade de se isolar é comum quando a pessoa sente remorso.

1.3.1- Complexo de castração

Em psicanálise, o conceito de "castração" não corresponde à aceção habitual de mutilação dos órgãos sexuais masculinos, mas designa uma experiência psíquica completa, inconscientemente vivida pela criança por volta dos 5 anos de idade, e decisiva para a realização da sua futura identidade sexual. O complexo de castração não se reduz a um simples momento cronológico na sexualidade infantil. Pelo contrário, a experiência inconsciente da castração é incessantemente renovada ao longo de toda a existência e particularmente em jogo na cura analítica do paciente adulto.

O complexo de castração compõe, juntamente com o complexo de Édipo, a base onde a estrutura dos desejos que funda e institui o sujeito na sua relação com o mundo opera a sua subjetividade. Reconhecer que os limites do corpo estão aquém dos seus desejos é admitir a quebra de um certo sentimento de omnipotência que o eu insiste em sustentar, na nossa relação imaginária com o outro.

Portanto, constituir-se sujeito desejante, na sua origem, através da ameaça da castração para o menino e da inveja do pénis para a menina é fincar os pés na existência tendo-a marcada pelo trauma que recalca o desejo incestuoso do objeto para sempre perdido, a mãe (função materna). É o peso do processo civilizacional, a atuar através da estrutura edípica, que impõe ao sujeito humano o recalque das suas pulsões, constituindo-o como sujeito.

O complexo de castração, tal como o de Édipo, opera nas escolhas objetais até o fim da nossa existência. É através da fantasia inconsciente de castração que o complexo encontra a sua principal via para estruturar o sujeito. É no terror da angústia inconsciente de castração que habita a génese das manifestações neuróticas. Medos, fobias e sintomas diversos, que surgem no plano consciente, são apenas mecanismos de defesa contra a emergência desta angústia que nos é insuportável. Freud constatou que a criança ao observar a mãe nua, ao invés de ver ali os órgãos sexuais da mulher, interpreta a vagina como falta. A mãe é vista como castrada. MOREIRA & BORGES, (2010, p. 71-81).

Portanto, os sexos diferenciam-se segundo a perceção da presença ou ausência do pénis. Assim, o sexo feminino é interpretado com sendo castrado. Freud conclui, então, que na relação mãe-filho, o complexo de Édipo faz intervir um terceiro termo, que ele denomina de função paterna. Esta está intimamente relacionada à lei. Logo, perceber a mãe como castrada significa reconhecer a castração do outro. Significa reconhecer que ela é um ser limitado, ou seja, um ser submetido à lei.

O menino, por conta da ameaça da castração, e, por medo de perder o seu pénis, o que implicaria numa perda da integridade narcísica, terá que renunciar à mãe. No que diz respeito à menina, o reconhecimento de que à mãe falta o pénis, isto é, de que ela é privada do phalo, faz com que a menina entre no Édipo e, assim, volte-se para o pai.

Ambos, portanto, menina e menino, ao reconhecerem a falta na mãe passam a ter a falta inscrita no seu próprio ser. Reconhecer a castração significa situar-se em relação à própria ordem simbólica, da qual o phalo é a pedra fundamental. Do ponto de vista da psicanálise, no entanto, para que se possa desejar é necessário que haja falta. Assim, poder-se-á afirmar que só há desejo se houver castração.

1.3.2- O papel da castração como factor estruturante no desenvolvimento do sujeito

Para compreendermos sobre o conceito de castração se necessário voltarmos um pouco no tempo, uma vez que foi em 1908 que Freud trata pela primeira vez sobre o complexo de castração nos meninos. Vale destacar que o complexo de castração foi descoberto/percebido por Freud com base na análise de um caso de fobia de um menino de 5 anos, o “Pequeno Hans”. Na concepção de Freud esse processo psíquico acontece em quatro momentos e/ou tempos, até a sua resolução. Do outro lado temos o complexo de castração na menina, endossado por vários pontos em comum com o do menino. Um exemplo dessa similaridade é que a garota também parte da premissa de que todos têm um pênis. 

Igualmente, a mãe ocupa um papel importante na sua vida, é ponto central de todo o seu amor. Contudo, o processo segue um caminho dissemelhante. Importa saber que o conceito de castração na psicanálise, não representa à aceção habitual de mutilação dos órgãos sexuais masculinos, entretanto indica uma experiência psíquica completa, de maneira inconsciente vivida pela criança em torno dos 5 anos de idade, e determinante para a efetivação da sua futura identidade sexual. É importante entender que o complexo de castração não se restringe a um mero momento cronológico na sexualidade infantil.

 

3- CONCLUSÃO

 

Para concluir, retomo a pergunta ingênua com a qual começamos: a psicanálise é contra a ética? Agora podemos então dizer que é evidente que não. Vimos a complexidade da questão na medida em que o que é mais desejado cujo modelo é o incesto com a mãe é o mais proibido, um Bem que se transforma num Mal em função da Lei. Mesmo assim, a tarefa da psicanálise é tornar consciente este desejo para o analisando, o que não é o mesmo que liberá-lo para a franca atuação e realização no mundo externo.

A aparente contradição entre tornar conscientes os desejos reprimidos e não os liberar para a ação fica bem mostrado em O mal-estar na civilização. Ali diz Freud que para tornar possível a vida em comum é imprescindível a repressão dos impulsos sexuais e agressivos, caso contrário se estabeleceria um estado de luta permanente de todos contra todos, levando a humanidade à extinção.

Na psicanálise é essencial ser absolutamente transparente em não fazer promessas de cura absoluta; pois não garante respostas as demandas do paciente uma vez que este o paciente deverá, numa terapia psicanalítica ética e responsável, tornar-se capaz de reconhecer suas dores (sintomas), seus desejos; o que o levará a escolhas no caminhar de sua vida de acordo com a “batalha” travada no continente do consciente para onde emergem os conteúdos outrora reprimidos. (LACAN, 1997).

Segundo Lacan (1967) esclarece: “então é o analista com sua oferta que cria uma demanda de saber. Mas, eis o ponto ético na clínica, ele cria a demanda de saber e não responde à demanda do cliente, para mostrar que o verdadeiro sujeito suposto saber não é ele, é o analisante, que tem de escutar o que seu ego não quer nem saber. (NETTO, 2014).

A psicanalise visa fazer cada um encontrar seu próprio desejo, o desentranhá-lo da alienação no Outro, seja este Outro a mãe, o pai ou, mais remotamente, o passado familiar com suas histórias cheias de vergonhas, humilhações e segredos, transmitidas pelos mecanismos transgeracionais, essa é a tarefa ética que temos realizado em nosso trabalho com nossos analisandos individuais ou com famílias. A clínica psicanalítica nos mostra que todos os atos maus condenados pela ética podem ser referidos à persistência de traços mais arcaicos presentes na constituição do sujeito. (NETTO, 2014)

 

BIBLIOGRAFIA

 

·        KEHL, M. R. ( 2002). Sobre ética e psicanálise. São Paulo: : Companhia das Letras.

·         LACAN, J. (1997). O seminário, livro 7: a ética em psicanálise. (J. A. Miller., Ed.) Rio de Janeiro: : J. Zahar.

·         Lewis, H. B. (1971). Vergonha e culpa na neurose . Nova York: International Universities Press.

·         LUÍS, E. N. (2022). Material de Apoio ao estudante de ética e responsabilidade social. Psicologia 3° ano. Caxito, Bengo, Angola: ISTA.

·         (MOREIRA, J. O.; BORGES, A. A. P. (2010). A castração e seus destinos na construção da paternidade.  Psicologia Clínica, v. 22, n. 2, p. 71-81.

·         Freud, S. (1900). A interpretação dos sonhos – Obras completas, Imago, Rio de Janeiro 1972, volume V, p. 658.

·         NETTO, G. A. (2014). A ética da psicanálise; in publicações “Associação livre: ensino continuado de psicanálise”. . Campinas/SP, .

·         J. E. Milmaniene - “Ética e moral na atualidade” – Revista Brasileira de Psicanálise, Vol. 46, 1, 27-38 – 2012.

 

 

 

 

 



[1] ROSA, M. I. P. D; ROSA, A. C. A Ética na psicanálise. Akrópolis, Umuarama, v. 17, n. 1, p. 41-44, jan./mar. 2009.

Sem comentários:

Enviar um comentário