O RELATIVISMO E PLURALISTA


TRABALHO ORGANIZADO POR JAY KLENDER WORSES



CENTRO EVANGÉLICO DE TEOLOGIA E MISSÃO SILOÉ

CETEMIS





TRABALHO DE TEOLOGIA




TEMA:

TRABALHO CIENTÍFICO SOBRE RELATIVISMO E PLURALISMO NA SOCIEDADE DE HOJE





ALUNO: CELESTINO CHIPINDO
DATA: 24-01-2019
LOCAL: VIDRUL – CACUACO



DOCENTE: PASTOR – MESTRE – MANZAILA ANTÓNIO AFONSO







ÍNDICE











 

1-INTRODUÇÃO


O presente trabalho científico tem como objectivo analisar a temática sobre o relativismo e pluralista na sociedade de hoje. Não existe “certo e errado” quando o assunto é relativismo cultural, pois se tratando de ética, existem vários códigos culturais e não uma verdade universal e imperativa, que demonstre objectivamente que uma cultura pode vir a ser melhor do que a outra (considerando, contudo, que há regras universais, comuns a todas as sociedades, como “não matar” e “não mentir”).

Contudo, o pluralismo não nasceu no período pós-moderno. Ele tem suas raízes já no período moderno. No começo do século XIX Schleiermacher começou a questionar a exclusivismo do cristianismo que dizia ser Jesus Cristo o único caminho para a vida. Tendo em vista que o bem-estar da própria população é um valor interno comum a todas as culturas, sugere-se fazer o seguinte questionamento quando houver dúvidas se determinada prática cultural é passível de reprovação: a prática em questão promove ou impede o bem-estar da sociedade afectada. Em um cenário mundial onde fronteiras se estreitam e oceanos de distância passam a ser relativos, é difícil acreditar que ainda possam existir classificações de “politicamente correcto ou incorrecto”, ao invés de uma aceitação cultural. A tecnologia uniu vários mundos antes desconhecidos, cabendo aos seres deste planeta fazer uso deste “encurtador de distâncias” para aprender com o diferente e não discriminá-lo.

Contudo, embora o pluralismo não tenha nascido no período pós-moderno, ele floresceu e desenvolveu-se de maneira impressionante no período pós-moderno, porque este é o período das contestações, do abandono e da rejeição dos padrões e das crenças anteriores. O pluralismo teve as suas portas destravadas no período moderno, e elas foram escancaradas no período pós-moderno.








2.ENQUADRAMENTO TEÓRICO

2.1-O Relativismo e Pluralista na sociedade

Que se relativizarmos determinados valores o resultado será a construção de valores degradados que, por exemplo, consideram aceitáveis “a imposição de um sofrimento terrível sobre as pessoas” e que justificam mortes de indivíduos em virtude de seus atributos, preferências, modos de vida ou enfermidades. Uso a expressão “vida boa” no sentido dado pelo professor John Kekes no livro The Moralityo fPluralism: uma vida que seja “tanto pessoalmente satisfatória como moralmente meritória”. Mas “vida boa”, para Kekes, não significa “vida moral”, observa o professor português José Tomaz Castello Branco. Isso porque “o primeiro (conceito) é mais amplo que o segundo na medida em que compreende elementos morais e elementos não morais”, como afirma em Pensamento Político Contemporâneo – Uma Introdução.Por isso, garantir a existência dessa “vida boa” exige aceitar “tipos de valores radicalmente diferentes, e que muitos desses valores são conflitantes e não podem ser realizados em conjunto”. O pluralismo definido por Kekes parece derrubar a defesa dos valores morais e de uma verdade que não sejam relativizados, mas o que ele faz é descrever a realidade que se manifesta na vida concreta: os valores são muitos, distintos, discordantes e não podem ser todos eles conciliados de maneira coesa.

Essa discordância entre os distintos valores morais (bem comum, amor, amizade) e não morais (beleza, carreira, aventura) podem produzir profundas mudanças morais, especialmente quando os fundamentos da moralidade sofrem ataques sistemáticos e entram em processo de desintegração. O equívoco mais comum é enfrentar esse problema radicalizando uma visão monista segundo a qual só existe um único sistema razoável de valores (morais e não morais) que funciona para todas as pessoas e ao qual todos devemos ser submetidos. As últimas décadas do século XX têm sido caracterizadas por movimentos filosófico-teológicos que romperam com tudo o que, historicamente, tem sido crido como verdade fundamental, da qual não se poderia abrir mão. Esses movimentos têm tomado vários nomes como: secularismo, relativismo, pós-modernismo e pluralismo.

O relativismo é embalado também pelo ceticismo e pelo utilitarismo, os quais só aceitam o que pode ajudar a viver num bem-estar hedonista, aqui e agora. Há uma verdadeira aversão ao sacrifício e à renúncia. Infelizmente, esse perigoso relativismo religioso, que tudo destrói, penetrou sorrateiramente também na Igreja, especialmente nos seminários e na teologia. Isso levou o Papa João Paulo II a alertar aos bispos na Encíclica Veritatis Spendor, de 1992, sobre o perigo desse relativismo que anula a moral católica.

2.2-O relativismo e o diálogo entre culturas na actualidade

A globalização é uma das características mais marcantes dos tempos actuais, assim como o acesso rápido à informação através de redes sociais e compartilhando de vídeos e notícias move o quotidiano das pessoas. Tamanho avanço tecnológico teve um impacto cultural muito forte, já que agora qualquer pessoa pode ter acesso e conhecimento a outras culturas e tradições. O mundo sempre foi multicultural, todavia a visibilidade desse multiculturalismo foi se afirmando através dos tempos, ganhando maior notoriedade na contemporaneidade.

2.3-O relativismo no ambiente da Fé

O relativismo actual coloca a ciência como uma deusa que vai resolver todos os problemas do homem; a qual está acima da moral e da religião. O que é o relativismo moral e religioso? É uma linha de pensamento que nega haver uma “verdade absoluta e permanente” como a Revelação de Deus nas Escrituras e na Tradição da Igreja. Então, deixa por conta de cada um definir a ”sua verdade” e aquilo que lhe parece ser o seu bem, como se a verdade fosse algo a se escolher e não a se descobrir. Nessa óptica, tudo é relativo ao local, à época ou a outras circunstâncias.

3- As Diversas Formas do Pluralismo Pós-Modernista

3.1-A. Pluralismo Intelectual

As fontes do pluralismo intelectual estão claramente relacionadas com o pós-modernismo, que se evidencia numa cultura sem os seus absolutos. O modernismo capitulou diante do pós-modernismo. Com este último, houve um colapso geral da confiança no Iluminismo, no poder da razão para proporcionar os fundamentos para um conhecimento universalmente válido do mundo, incluindo Deus. A razão falha em libertar a moralidade correspondente ao mundo real no qual vivemos. E com este colapso da confiança nos critérios universais e necessários da verdade, têm florescido o relativismo e o pluralismo. Uma das ilustrações do pluralismo intelectual pode ser vista na abordagem dos textos e de sua linguagem.

3.2- Pluralismo Religioso

O pluralismo religioso vigente na sociedade contemporânea ocidental teve a sua origem em outros ismos filosófico-teológicos nestas últimas décadas. Ele tem a ver intimamente com o relativismo e com um pós-racionalismo do Iluminismo, que é o chamado pós-modernismo, além das influências do orientalismo religioso. Os pluralistas cristãos têm recebido profundas influências das religiões orientais, especialmente do Budismo. Para justificar suas ideias, os pluralistas cristãos usam uma parábola contada pelos budistas sobre seis homens cegos e um elefante. Os pluralistas cristãos têm usado esse tipo de parábola para ilustrar a relação que tem havido entre o cristianismo e as outras religiões não-cristãs.

3.3- Pluralismo Teológico

Em virtude da "mega-mudança" havida no pós-modernismo em relação ao cristianismo pré-moderno, vários pressupostos teológicos foram modificados no cristianismo pluralista. Eles são evidentes nos vários ramos da teologia cristã, mas especialmente na cristologia e na soteriológica (doutrina da salvação):

3.4- Na Soteriologia

O Deus do cristianismo, na soteriológica pluralista, é um Deus de amor, e não poderia excluir da salvação os não-cristãos pelo simples fato de eles não serem cristãos. O particularismo soteriológico dos cristãos durante séculos tem sido questionado, porque agora tem sido ensinado que a graça de Deus está disponível em todas as culturas que não foram evangelizadas à moda antiga. A salvação vem através de outras formas reveladoras de Deus, além daquela que veio em Cristo.

3.5-Pluralismo Ético-Moral

Este aspecto do pluralismo é o resultado de todos os outros. A ética é a prática da teologia. E o pluralismo do pós-modernismo não evita os tropeços dos anteriores. As últimas consequências do pluralismo recaem sobre a ética.Um dos maiores expoentes do pós-modernismo intelectual de nossos tempos é Michel Foucault. Seu pós-modernismo é refletido nas suas concepções éticas. Para Michel Foucault a "verdade" do pré-modernismo e do modernismo sempre vem em favor do poderoso. A "verdade" dá suporte aos sistemas de repressão por identificar os padrões aos quais as pessoas podem ser forçadas a se conformar.

3.6- Ética Sexual

A homossexualidade não tem sido mais concebida como um problema psicológico-moral; a homofobia, sim.15 Convencidos de que não há uma verdade objetiva, os pós-modernistas ensinam que os valores devem ser criados pelas próprias pessoas. Dessa forma, os princípios éticos pós-modernistas passam a seguir a "norma" estabelecida pelo líder do conjunto de Rock "SexPistols," Johnny Rotten: "Se nada é verdadeiro, tudo é possível." Onde não há as leis básicas de Deus, os homens entram numa situação anárquica ética e moralmente. Por essa razão, Dostoievsky disse: "Se Deus está morto, tudo é permitido."

3.7- O Abandono da Arrogância Cultural e Teológica

A primeira grande pressuposição é que, segundo a abordagem pluralista, todas as religiões têm que abandonar a sua arrogância teológica. Nenhum grupo religioso pode jactar-se de ser superior ao outro em termos de verdade, porque a religião está associada à cultura. E não existe uma cultura superior à outra. Todas são igualmente boas.

3.8-Pluralista na sociedade de hoje

A cultura ocidental tem passado por muitas mudanças. Uma cosmovisão depois da outra tem aparecido. A cosmovisão bíblica, isto é, a ideia de mundo, de criação, de Deus, de homem, etc., através das lentes da Escritura, tem atravessado todos os períodos da civilização ocidental. Com o advento dos tempos modernos, a cultura ocidental foi invadida pela cosmovisão romântica e de um cientificíssimo materialista, do século XIX. No século XX, ela foi invadida pelo marxismo, fascismo, positivismo e existencialismo.

4-CONCLUSÃO

O domínio e a consequente sofisticação das tecnologias resultaram numa exacerbação de diferentes culturas no meio internacional, o que significa, em termos gerais, uma evolução. Infelizmente, a visibilidade de culturas tão distintas fez com que o preconceito velado virasse público. Consequentemente, a questão da diversidade cultural passou a ser amplamente debatida em nível mundial; afinal, cada cultura possui determinadas práticas e tradições que, muitas vezes, são julgadas por outras culturas. Toda esta movimentação faz com que seja necessário um diálogo cultural, que nada mais é do que umas das premissas a serem compreendidas quando se fala em relativismo cultural.

Nesse sentido, o discurso do relativismo cultural defende que todos os povos, grupos ou comunidades expressem sua cultura de maneira distinta, sendo todas igualmente válidas. Nesse raciocínio, portanto, não existe um padrão pré-existente que julgue uma cultura como certa ou errada. Todavia, não raro ocorrem choques entre culturas, como resultado de reações e pré-julgamentos ao que é diferente.



O ALAMBAMENTO


Alambamento e o casamento tradicional angolano
Mais importante do que o casamento civil ou religioso, o alembamento tem o peso da tradição. Em Angola, é visto como uma cerimónia fundamental, alembamento é a entrega dos dotes exigidos pela família da noiva à família do noivo.
Panos africanos, carta de pedido, dote e presentes simbólicos definem o casamento tradicional africano. Em Angola, o alembamento  vai muito além de anel no dedo, muito além de um joelho dobrado apoiado no chão. É um enlace de grande importância, uma vez que enaltece a família e é visto como o ‘pilar’ da felicidade.
Alembamento é um costume tradicional ou casamento tradicional que consiste na celebração de uma cerimónia em que o homem se torna esposo da mulher, mediante rituais, tendo em conta os costumes regionais", diz Melo Mendes, aluno do mestrado em Direito Constitucional, na Universidade Autónoma de Lisboa.
Hoje, há certas mudanças neste casamento típico angolano, o que leva muitas vezes a confundir alembamento com pedido de casamento. Jobe José, bancário de 36 anos, explica essa diferença: "Alembamento é uma exigência que os familiares fazem. Existe uma lista da família da noiva, onde são exigidas certas coisas como fatos, bebidas, calçado, até mesmo galinhas, se for preciso. O pedido consiste numa apresentação, onde se pede consentimento para casar.
Melo Mendes, embora muito jovem, encontra-se já no terceiro alembamento. "A primeira vez, teve mesmo que ser. A rapariga engravidou e fui obrigado a fazer alembamento, porque a tradição assim o exige…" ‘Pular à janela’ é o termo que se usa quando a rapariga engravida antes do casamento. Nestes casos, é atribuída uma multa por parte da família da jovem à família do rapaz. Em Angola, em 90 por cento dos casos de gravidez é exigido alembamento.
O PEDIDO
Ramos, 34 anos, licenciado em Psicologia Organizacional, deu recentemente este passo. Actualmente vive em Lisboa com Rui Marcelina Ramos, de 28 anos, licenciada em Ciência Política e Relações Internacionais e recentemente mestre em Globalização e Ambiente.
Sendo africano, tinha que preencher todos os requisitos que tem o casamento como ponto mais alto da vida, neste caso o pedido”, diz Rui Ramos. O psicólogo reforça a ideia de alembamento de forma bastante coerente: "O alembamento é, acima de tudo, respeitar a tradição para abençoar a união. Alembamento é a raiz e o pedido é o caule. Normalmente, nos centros urbanos, não há grande aceitação ou tolerância para com o que é tradicional. Tudo que é tradicional tem por origem e como origem o interior, o que é rural, tem o seu ícone nos sobas. Para mim, alembamento é uma manifestação social e rural. Mesmo no alembamento, há características que encontramos no pedido.
Daí considerar que o pedido é uma extensão moderna do alembamento. Pedido é algo urbano, algo dos centros, das pessoas que viajam, das pessoas que têm acesso a outros mundos.
Rui e Celma, como é conhecida a noiva, encontraram alguns obstáculos para a concretização do alembamento, uma vez que ambos vivem em Portugal e a maioria dos familiares em Angola. "A família queria que tudo se realizasse em Luanda só que, para nós, não convinha, porque chegámos a Lisboa em tenra idade. As nossas raízes, em termos de identificação, companheirismo, pessoas mais chegadas, estão aqui. O que temos em Angola é só mesmo o respeito pelo conceito da palavra ‘família’. O pedido, por uma questão tradicional e de respeito, é uma comemoração para a família, os noivos não têm voz, não têm ideias, não têm vontades, tudo é como eles querem. Fez todo sentido que o pedido fosse em Luanda e o casamento em Lisboa.
Rui e Celma são de regiões diferentes. Rui é da parte Sul de Angola e Celma do Norte, região bacongo. Para o noivo, era uma situação inédita, com muita novidade à mistura. Os dias aproximavam-se e os nervos tomavam conta dele. Houve necessidade de uma reunião, a fim de conhecer melhor todos os pormenores, para que nada corresse mal. Como em todos os "pedidos", existe uma conversa prévia com os familiares de ambos. Por norma, os tios mais velhos servem de intermediários. É nesta altura que surge a carta do pedido.
A CARTA
A carta é feita recorrendo a uma "carta modelo" vendida em Angola, na qual se resumem as intenções do noivo. É com esta que se inicia o procedimento da conversa em reunião. A carta deve ser envolvida num lenço branco e fechada com um alfinete, registando assim a sua pureza. Geralmente, é feita e assinada pelo representante ou o tio mais velho do noivo.
Rui Ramos ressalta que, "no caso específico bacongo, é uma grande falta de respeito ser assinada pelo noivo, porque não é o noivo que se dirige ao tio da noiva, o representante é que tem que assinar a carta". Por falta de "conhecimento ", já que ambos são de regiões diferentes de Angola, a família do noivo procedeu de forma "errada". A carta em questão foi assinada pelo noivo. Erros como este são considerados inadmissíveis para as famílias bacongo e, quando tal acontece, é atribuída uma multa de valor simbólico aos familiares.
Foi pedida compreensão por parte dos meus familiares. Foi uma falha por falta de conhecimento, eles entenderam, mas houve uma multa no valor de 35 €. A carta foi aceite e corrigida na altura. Quando se aceita a carta já é um prenúncio bastante positivo, desde que se cumpra com o resto, com o que está escrito na carta.


A carta é sempre acompanhada de uma lista de pedidos e de um valor monetário Jobe José revela:  "Foi algo muito simples. Meti mil dólares na carta, já que não é estipulado um valor, depende muito do valor que o homem dá pela noiva. É uma forma de agradecimento e respeito pela família que a criou. Normalmente, esse dinheiro também é partilhado com os tios pelos serviços prestados, já que servem de intermediários."
A lista de pedidos (ou a factura) é uma exigência da família da noiva. Consiste numa lista elaborada pelos tios, na qual consta uma relação de coisas que o noivo deve comprar para a família da noiva. Entre os elementos fundamentais da lista contam-se volumes de cigarros, caixas de fósforos, panos holandeses (devido à sua qualidade), dinheiro, fatos, calçado e bebidas.
O ATO DE ALAMBAMENTO
São estendidos panos africanos (panos do kongo) no local da cerimónia para a receção do noivo, uma espécie de passadeira. Antes da sua entrada, são depositados valores em dinheiro (geralmente notas) pela família do noivo.
Ao entrar, o noivo é cercado pelas tias da noiva, que fazem um serviço de preparação, como se de um rei se tratasse. Limpam-lhe os sapatos, arranjam-lhe o fato, limpam-lhe o suor da testa e carregam-no ao colo (um ritual especialmente desempenhado em famílias bacongo).
Já na sala de reunião, do lado direito, a família do noivo; do lado esquerdo, a família da noiva. Em frente e ao centro, numa espécie de altar, duas cadeiras para os noivos. Inicia-se a cerimónia com base na carta do pedido.
O moderador da família da noiva inicia a cerimónia, apresentando todos os familiares que o acompanham. De seguida, dá a palavra ao orador da parte do jovem, que também procede à apresentação de quem o acompanha.
Durante todo este processo a noiva nunca está presente, só aparece se as famílias chegarem a acordo. Estando todos de acordo, é analisada a lista para averiguar se tudo o que foi pedido está correto. Tudo o que foi pedido deve ser envolvido em panos africanos.
Posto isto, passamos para o próximo passo: o local e data de casamento. Este momento é caracterizado por pânico, ansiedade, não pode ser algo muito informal…", explica Rui. É altura do noivo "exigir” a noiva. Mesmo neste momento, ainda são "cobrados” alguns valores, como o transporte ou algum "agrado” para a tia que traz a noiva. Quando esta aparece, vem toda envolta num pano.
Há situações em que vêm duas ou mais raparigas para o noivo descobrir qual delas é a futura esposa. Se errar, paga multa. Depois desse processo, os oradores dão as bênçãos aos noivos e apresenta-se a aliança." Depois do protocolo de cumprimentos, dá-se início à festa comemorativa.
A realização da festa varia de região para região mas, apesar de diferentes, formam um só costume. A crença faz com que grande parte do povo angolano prossiga com a tradição, apesar de algumas mudanças. Melo Mendes explica que "é muito raro casar sem alembamento. O casamento pode não durar, há casos até mesmo de morte dos filhos, caso não se faça". Sendo assim, o povo crente prefere não arriscar e cumpre a tradição. Até mesmo quando não se prossegue com o casamento, optam pela devolução dos bens pedidos em alembamento.
A sociedade angolana (e, em especial, Comunicação.
Em Moçambique é lobolo. Em Angola, é alambamento Fui a Chókwe, no interior da província de Gaza, para acompanhar um lobolo tradicional. Aqui na cidade, resume-se à entrega de dinheiro e ao pagamento da comida da festa. “Perdeu-se muito do sentido”, diz o André, que nos acompanhou na visita. Também farei uma versão para a TV Brasil. Por enquanto, saiba o que é um lobolo ou um alambamento – tradicionalíssimo, lendo a reportagem da Agência Brasil. Em Angola, o ritual chama-se alambamento. Ele é o tema deste comercial aqui embaixo que você vai entender melhor se assistir depois de ler o texto.
Eduardo Castro
Correspondente da EBC para a África Chókwe (Moçambique) – O novo código que regula as relação familiares em Angola deve incorporar, pela primeira vez, uma regulamentação para o casamento tradicional africano, chamado pelos angolanos de alambamento. Em entrevista ao Jornal de Angola, a diretora da Família e Promoção da Mulher no Huambo, Maria do Rosário Amadeu, afirmou que o fato de o alambamento não ser reconhecido juridicamente tem causado muitos transtornos à sociedade. Segundo ela, a nova legislação também deve levar em conta os casos de mulheres que têm filhos com homens casados que se recusam a reconhecer as crianças.
No alambamento não há certidões, assinaturas e nem rituais religiosos para consagrar o casamento. O homem presenteia os pais da mulher com base em um rol de pedidos, elaborado para confirmar seu interesse em fazer parte da família. Tradicionalmente, quando essas condições são aceitas, a mulher passa a ser tratada pela sociedade como esposa, mesmo que, do ponto de vista formal, não haja casamento. Essa espécie de aprovação familiar é levada a sério em muitos países africanos.
Em Moçambique, a prática é muito parecida e recebe o nome de lobolo. O casamento propriamente dito, registrado em cartório (ou na conservatória, como se diz nos países africanos lusófonos), é considerado menos importante sob ponto de vista social, sobretudo nas pequenas comunidades no interior. Mas ele dá a proteção jurídica à esposa e aos filhos que o alambamento e o lobolo não alcançam.


O casamento tradicional pode ocorrer antes ou depois da união de fato do casal. Entretanto, é comum às mulheres dizer que só se sentem seguras depois da cerimônia tradicional. “Depois de 18 anos finalmente fui lobolada. Esperei tanto por este momento. Estou muito feliz”, diz Milagrosa Sitóe, de 33 anos, ainda vestida de branco, no quintal da casa dela, no vilarejo de Guijá, província de Gaza, interior de Moçambique. Ao lado dela, o marido, Arlindo Mulhoi, também não disfarçava a alegria. “Agora sou um mukonwana, genro de verdade, afirmou.
Antes de lobolar Milagrosa, Arlindo era apenas mukwaxi, palavra da língua xangana que indica que o companheiro de uma mulher ainda não cumpriu totalmente sua obrigação tradicional. O tempo que estão juntos (18 anos) e os quatro filhos não fazem diferença. “Agora, sim, o sangue dos filhos pertence a ambos. Se o homem não faz lobolo, não é genro legítimo. Enquanto não lobolou, os filhos não são seus”, explicou Alexandre Sidomi, tio de Milagrosa, que acompanha o lobolo. “Genro é aquele que lobolou a sua mulher. Aquele que não lobola e que tem filhos, esses filhos não lhe pertencem, fazem parte só da família da noiva, confirmou outro tio, Armenio Saia.
Quando a mulher casada morre sem ser lobolada, o marido viúvo não pode sequer enterrar o corpo. Antes precisa cumprir sua obrigação, sob pena de ser reprovado por toda a comunidade. Os dois tios de Milagrosa aprovaram o lobolo da sobrinha. Eles eram parte de uma espécie de “comissão de parentes” – a madoda – que confere se os pedidos feitos para o noivo foram efetivamente atendidos. A conferência é parte da cerimônia, que foi integralmente acompanhada pela Agência Brasil.
O ritual do lobolo
A tradição começou com um chá, servido para as visitas no pátio que serve de sala de estar do casal. Arlindo estava sozinho; desde a véspera, Milagrosa havia ido para a antiga casa onde morou e onde atualmente vivem suas irmãs solteiras e algumas tias e primas. Tanto a mãe quanto o pai dela já morreram, mas os tios se encarregaram de fazer os pedidos e Arlindo, de cumpri-los. O noivo mostrou aos parentes quais foram as exigências da família de Milagrosa para o lobolo: um terno com sapatos e camisa para o tio da noiva, capulanas, mukume e vemba (tecidos floridos tradicionais) para as tias, 12 litros de vinho, quatro caixas de refrigerante e cerveja, uma esteira de palha (a cama do casal), 8,5 mil meticais (MT – moeda moçambicana) em dinheiro (cerca de R$ 400, equivalente a 3,5 salários mínimos moçambicanos), além de uma vaca, cujo preço na região fica entre MT 8 mil e MT 12 mil, dependendo do peso e da idade do animal. Três pequenos potes de rapé completavam o rol de solicitações.
Arlindo, que é alfaiate no vilarejo, demorou quase dois anos para recolher tudo. Sem ordenado fixo, estima que seus ganhos variem entre MT 3,5 mil e 4,5 mil por mês. Queria ter feito antes. “Agora tenho como cumprir a tradição. É uma forma de agradecer aos pais dela por tê-la guardado bem e me confiado sua filha”, diz ele. Em um canto o quintal, Madalena, a segunda esposa de Arlindo, acompanha à distância. Ela também não foi lobolada, mas terá de esperar sua vez.
A primeira esposa deve ser lobolada antes. Arlindo tem dois filhos com Madalena, que é mais jovem que Milagrosa. Não há limite para casamentos tradicionais. Um homem pode ter tantas esposas quanto puder manter. Tradicionalmente, mulher que é lobolada fica casada para sempre. Se o marido quiser outra esposa, costuma levá-la junto. Nas cidades, a lei (que proíbe a poligamia) e as regras cristãs da Igreja Católica – trazida pelos portugueses para Moçambique – e das denominações evangélicas que cresceram muito nos últimos ano têm feito com que a maioria dos homens tenha apenas uma mulher. Entretanto, o adultério é prática comum. As campanhas anti-aids (a doença é muito disseminada no país) costumam tratar do tema em peças publicitárias e até no material didático usado pelos estudantes de escolas públicas.
Na hora marcada, 9 da manhã, os parentes seguiram a pé até a casa da família da noiva, carregando o lobolo, a vaca inclusive, e cantando pelas vias de terra. Bem vestidos, recebem o carinho da vizinhança, que sempre se alegra em dia de lobolo. O nkulunguana, grito de alegria, de influência árabe, é ouvido em todo bairro. O noivo não acompanhou; só irá para a casa da noiva se tudo correr bem e o lobolo for aceito.
Sempre cantando, as famílias se encontraram na frente da casa de Milagrosa, que não tem portão ou grade – apenas um portal de madeira simples, enfeitado com flores para a ocasião. Um tronco na frente da passagem é retirado por uma das tias, em meio à cantoria, para mostrar que a visita é bem aceita. Cerca de 100 parentes se aglomeram no terreno. Estão com roupa de festa: mulheres de vestidos longos, homens de camisa e paletó, mesmo com o calor de 30 graus Celsius. Ao lado, jovens depenam galinhas que foram mortas ali mesmo, havia poucos minutos. Rapazes retiram o couro de um cabrito pendurado em uma árvore – um dos três que serão servidos para os convidados. Também há xima (tradicional purê de farinha de milho), arroz e batata frita. Tudo cozido à lenha, em fogueiras montadas no quintal.
A madoda confere os itens longe dos convidados e dos noivos. Depois de um tempo, se junta aos demais em uma roda no quintal. Senhoras com capulanas coloridas sentam-se no chão, sobre esteiras de palha. Aos mais velhos são oferecidas cadeiras. As mulheres cantam o tempo todo em xangana, a língua materna da maioria. As letras recomendam paciência (tiyisela) e avisam à família visitante que, apesar das exigências, eles querem paz (kurhula).
A noiva sai de seu quarto acompanhada das irmãs. Apreensiva, ouve as considerações dos parentes sobre o lobolo e o noivo. O ancião da vila (nduna) passa a palavra a quem queira se manifestar. Ao fim de quase uma hora, é dado o veredito da comunidade: o lobolo foi aceito. O noivo é, então, recebido com festa. As tias e primas trazem os presentes da noiva: colheres de pau, tachos de madeira, uma enxada, capulanas coloridas. E também um galão de plástico, para buscar água para casa na única fonte do lugar. Começa o almoço, que se estenderá até o fim da tarde, quando o sol for embora. Sem a interferência de um juiz de paz ou de qualquer líder religioso, Arlindo, Milagrosa e os quatro filhos passam agora a ser, pelas regras tradicionais africanas, uma família.

O alambamento na tradição Bakongo Etiquetas: Usos e costumes da Damba Estudos de casos de alembamentos realizados em famílias oriundas da Damba e de Maquela do Zombo fixadas em Luanda a partir de 1980, O presente artigo, que tem como tema o Alembamento na Tradição Bakongo, é resultado de um estudo sociológico realizado ao longo de um ano que serviu como tema de dissertação de fim de curso na área de Sociologia na Faculdade de Letras e Ciências Sociais.
Pretendemos com esta publicação, primeiramente, levar ao conhecimento do leitor determinados aspectos reais ligados a este ritual que não é exclusivo dos Bakongo, mas que é também praticado, de uma maneira ou de outra, por todos povos de Angola bem como em toda região Bantu (como nos explica Pe. ALTUNA). De seguida queremos com isso despertar a sociedade angolana fazendo-a recordar-se de uma das muitas raízes culturais que existem neste país. Em terceiro lugar, analisar as possíveis influências de factores como o passar do “tempo” e a mudança de “espaço” (localização geográfica) neste ritual.
Como se sabe, nenhuma sociedade se encontra desprovida de hábitos, de usos e costumes, de conhecimentos, ritos e tradições que lhes são peculiares. Por essa razão, estes elementos culturais que variam no tempo e no espaço exercem profundas influências sobre os indivíduos e regulam não só os modos de união conjugal, mas também os requisitos e as normas de casamento (indissociáveis dos saberes e/ou dos mitos que fazem parte da vida de cada povo). Por exemplo, em algumas sociedades (como em muitos países ocidentais), o acto de oferecer um anel com uma pedra de brilhante significa as intenções matrimoniais de quem faz a dádiva (prática que também já vem sendo utilizada em substituição do alembamento por algumas famílias angolanas). Já noutras sociedades (como acontece em muitas regiões da África) as intenções matrimoniais não consistem meramente na oferta de um anel, pelo contrário, prescrevem uma série de requisitos materiais e simbólicos “que estão ligados aos saberes dos indivíduos e grupos” daquela sociedade.
Por isso, neste grupo e em quase toda África, como afirma RadcliffeBrown “um casamento engloba o pagamento de uma prestação do noivo ou pelos seus parentes ao pai ou ao representante da noiva” [Radcliffe-Brown & Forde 1982: 66], pois o pagamento da prestação em bens (dados pelo noivo aos parentes da noiva) constitui a parte essencial para o estabelecimento da legalidade do matrimónio. Em Angola, devido à diversidade cultural, cada comunidade ou grupo etnolinguístico possui as suas próprias estratégias matrimoniais. E mesmo entre povos do mesmo grupo podemos encontrar algumas diferenças, por isso, nos apegámos apenas a dois municípios da província do Uige: Damba e Maquela do Zombo, sem esquecer de mencionar os estudos que foram feitos junto dos Bakongo provenientes destas áreas que vivem em Luanda há mais de vinte anos.


O alembamento pode ser entendido como uma forma tradicional de união conjugal existente nalgumas regiões de África, principalmente entre os povos Bantu. Este refere-se a um conjunto de preparativos e entregas que a família do noivo faz à da noiva, com o intento de legitimar o casamento e estabelecer novos laços de parentesco (também chamados laços de afinidade ou aliança). Consiste na entrega de certas quantias em dinheiro, roupas, calçados, bebidas, animais e determinados objectos, Porquê o alembamento na tradição Bakongo
A escolha deste tema devese principalmente por duas razões. Primeiro, pela vontade de compreender este ritual que para muitos parece ser estranho, até mesmo os jovens descendestes do grupo Bakongo. Em segundo, porque é um tema que suscita muitas dúvidas
e levanta muitos debates por parte daquelas pessoas que só ouvem falar ou daquelas que presenciaram, mas por alguma razão o não entenderam correctamente. Por meio de algumas entrevistas, os mais velhos nos contaram que o alembamento começou há muitos e muitos anos, antes da chegada dos colonizadores, alguns mais ousados atrevem-se a dizer que este ritual existiu desde sempre. Disseram ainda que surgiu da necessidade de se valorizar a mulher por ser ela a procriadora dos filhos, e a sua família que a educa até que esta sáia de casa para ir viver com o seu marido.
Um mais velho natural do Kibokolo (Maquela do Zombo) de 75 anos de idade, conta que na sua época não eram os jovens quem escolhiam as noivas, mas sim a sua família. Assim, o pai de um rapaz escolhia uma jovem de boa família para ser mulher do seu filho e segundo os parentes de ambos, o pai do rapaz levava um garrafão de maruvo ao pai da rapariga dizendo: “eu venho entregar este garrafão de maruvo, para terem conhecimento de que a vossa filha será a futura mulher do meu filho e mais ninguém pode ocupá-la. O alembamento era feito por meio da entrega de alguns garrafões de maruvo, de outras bebidas caseiras e mais alguns artigos simbólicos.
Com a chegada dos portugueses, com o colonialismo, a urbanização e a mistura de diversas culturas (quer dos portugueses como as que já existiam) as coisas começaram a mudar de rumo.
Compartir este post Alambamento hoje em dia, cultura ou extorsão e oportunismo Até pouco depois dos anos 80, o pedido ou alambamento consistia apenas em pedir a mão da namorada à família, mais propriamente ao tio, que tem um papel fundamental para que o casamento de concretize. Pedia-se geralmente uma muda de pano para a mãe ou tia da rapariga, um garrafão de vinho para os pais e os tios e alguns valores na carta do pedido. Nos dias de hoje, o alambamento é uma “fortuna”. Algumas famílias exigem ao noivo valores exorbitantes. O alambamento é um ritual praticado em dois terços dos países africanos e alguns asiáticos, em que na maior parte dos países, é mais importante que o casamento civil ou religioso.

E como se formou a palavra alambamento entre os angolanos Alambamento é um neologismo que os angolanos criaram para preencher a lacuna verificada na língua portuguesa para designar ovilombo (pedido de casamento) em umbundu; ovilombo vem do verbo umbundu okulomba (pedir).  Há quem refira ainda que alambamento vem da palavra umbundu okulemba (alegrar para consolar), por isso alguns pronunciam alembamento em vez de alambamento, porque a retirada da filha para o seu novo lar pode causar alguma tristeza aos pais, e há que consolá-los (com um presente) explicam assim, alguns filólogos a etimologia da palavra alambamento.
Mas, acima de tudo, o alambamento é visto pelos africanos como um prémio à noiva pelo seu bom comportamento pessoal e pelo de seus pais que a criaram, porque não é muito fácil educar uma filha em virtudes, dadas as muitas tentações na vida que a espreitam. O bom comportamento dela pressupõe o bom comportamento dos seus pais, pelo que todos devem ser premiados: a filha e os seus pais! Esse prémio é que é o alambamento.
COMO ACONTECE O ALAMBAMENTO
Quando o jovem casal de namorados decide casar, é necessário ter a autorização da família da noiva e isso só é possível se, durante o pedido, toda a gente estiver de acordo em que o casamento se concretize. O jovem casal solicita o dia do pedido, mas a data é marcada pelos tios da noiva, pois é necessário reunir toda a família. É entregue uma lista contendo o que o noivo tem de conseguir reunir até ao dia do pedido. Depois da marcação do dia do alambamento o noivo parte em busca de todo o material para que no dia não falte nada.
Quando chega o dia, a família do noivo vai a casa da noiva e o tio da mesma, como se de um juiz se tratasse, apresenta todos e informa de que se vai dar início ao pedido de casamento. O tio dá início à leitura do pedido apresentado pelo noivo. Se o pai da noiva concordar com o pedido, o noivo terá de ir buscar o alambamento, ou seja, aquela lista de coisas que reuniu. O alambamento é apresentado e se tudo for cumprido é feita uma reunião para acertar a data do casamento e outros detalhes de natureza logística. Posto isto tudo, canta-se e dança-se. A partir deste dia, se tudo correr bem, o casal de namorados passam a ser marido e mulher.
Há casos em que o noivo é colocado diante de três mulheres totalmente forradas de panos para descobrir quem é a sua mulher, se errar vai pagando valor monetários ate que acerte. O alambamento não é mais do que o pagamento da mão da noiva. O papel dos tios é tanto ou mais importante do que o dos pais, pois os tios são também responsáveis pela educação da noiva. Actualmente esta tradição está em declínio, mas ainda há famílias conservadoras que fazem cumprir a tradição e não cedem a mão da filha sem que seja tudo cumprido à risca. Há também aquelas que se aproveitam do ritual para tirar vantagem e fazer exigências imperceptíveis pela mão de sua filha. Há cartas de pedidos que exigem gerador, pacote de parabólica televisiva, terrenos com medidas exactas, motas e outros itens absurdos que fazem do ritual um vandalismo.
A nossa tradição é a nossa identidade. É ela que nos define, por isso deve ser cumprida inquestionavelmente e passada de geração em geração. Só não vale usar este facto como argumento para fazer exigências exorbitantes e no fim de tudo o ritual perder o seu real significado e valor.
Post Pagin O alambamento: casamento tradicional nalgumas culturas de Angola O alambamento Pretendemos, com o presente trabalho, falar sobre o alambamento, apresentar a sua etimologia, seu conceito, bem como destacar algumas marcas que o fazem distinguir do casamento “convencional”, aspectos exigidos para que haja um alambamento, comparações entre o alambamento realizado no passado e o que se verifica actualmente.
O alambamento
Etimologia
A esse respeito, parece não haver consenso entre diversos estudiosos quanto à origem do lexema “alambamento”. Vamos, abaixo, apresentar estas controvérsias, Segundo  Barroso e Cunha (s.d., p. 1), o alambamento tem origem na língua kimbundu e, mais tarde, foi aportuguesado para “alembamento. De acordo com Mbambi (2014, p. 2), «o alambamento é um neologismo criado pelos angolanos para preencher a lacuna verificada na língua portuguesa para designar ovilombo (pedido de casamento) em umbundu. Segundo ainda ele, «o termo ovilombo surge do verbo okulombaque que significa pedir em português.
O primeiro, como vimos, diz-nos que o lexema alambamento surgiu na língua kimbundu, mas o segundo sugere que se trata de um lexema novo criado pelos angolanos para colmatar o vazio deixado pela lexicologia portuguesa, pelo simples facto de não possuir um lexema que reflectisse aquela realidade cultural. As versões sobre o alambamento são várias. Uns, vêem-no como um casamento tradicional; outros, porém, chegam a vê-lo como um pedido para a ligação matrimonial, tal como nos diz Santos (2017, p. 8):
Outra questão a ser evidenciada refere-se à diversidade de versões sobre que consiste associação do termo alambamento. Há indícios que em determinada época o termo alambamento referiu-se à cerimônia de casamento, tendo assim reconhecimento e  legitimidade social. Em outras versões, refere-se apenas ao pedido para o enlace matrimonial, o que não atesta aos nubentes os direitos sociais e legais enquanto esposo e esposa. A esse respeito, Mbambe conscientiza-nos de que «uma portaria do então Governo-Geral da República de Angola, de 22 de Dezembro de 1948, caracterizou o alambamento como prova do casamento.



Conceitos do alambamento
Para os primeiros autores referenciados acima, o alambamento «consiste num conjunto de mercadorias e de presentes que o noivo dá por contrato, sendo visto como símbolo de casamento, prêmio aos familiares da nubente como indenização pelos gastos feitos com ela desde o seu nascimento até ao dia do casamento, uma vez que foi essa família que a gestou e criou. Para o livro didáctico de Língua Portuguesa da 8.ª classe  (2008, p. 54),  o alambamento é o «conjunto de preparativos e entregas que preparam e legitimam o casamento. Uma família junta a qualidade de bens necessários para que um membro seu receba uma mulher de outro grupo, que enriquecerá o grupo com os filhos e o trabalho agrícola; a outra família  condivide os bens necessários».
Santos (2017, p. 11) define o alambamento como sendo «um conjunto de preparativos e entregas que a família do noivo faz  a parentesco. Consiste na entrega de quantias em dinheiro, roupas, calçados, bebidas, animais e determinados objetos, que são comumente solicitados pelas tias da noiva».
A nosso ver, o alambamento consiste numa espécie de casamento tradicional,  no qual uma família reúne os bens necessários exigidos por outra (família),  para que, entretanto, possa receber em troca um membro de uma outra família, no caso de uma mulher. Tal como o ocidente tem o seu casamento, na cultura bantu o alambamento assemelha-se ao casamento convencional, aquele que acontece na igreja e na conservatória, o que o torna mais importante em relação ao casamento formal. Em muitas etnias bantu, o alambambento ou casamento tradicional é o mais importante, pois concede ao marido a categoria de genro. É com o alambambento que se adquire os poderes de marido sobre uma mulher e de pai sobre os filhos, os quais por sua vez são criados dentro da moral cívica das suas culturas (Santos, 2017, p. 12).
  Há, em relação a isso, alguns aspectos característicos do casamento bantu que, no entanto, o faz distinguir-se do casamento ocidental, como é o caso da «carta de pedido», na qual se faz presente os requisitos indispensáveis a serem dados por uma família, no caso a do homem, para que então a cerimónia  aconteça. Segundo ainda Santos (2017, p. 12), referindo-se ao alambamento na perspectiva bakongo, diz-nos que «um casamento só se realiza com o acordo dos pais, principalmente do chefe do clã ou família materno chamado Nkulubundu e dificilmente se trata com os noivos, mas sim com os mais velhos destes com a presença das testemunhas chamadas Ntetembua,  representados pelos sábios e aciãos da comunidade».
Para Santos (idem), a carta de pedido, muitas vezes elaborada pelos pais ou tios da noiva, consiste em uma lista de pedidos de bebidas e objectos simbólicos para aquele grupo social. O cumprimento e entrega desses elementos representa a firmação desse compromisso perante a sociedade, a qual presencia como forma de testemunho ocular do contrato social.

É nesta perspectiva que Barroso e Cunha (s.d., para. 1) vão dizer que o alambamento «passou a considerar-se como garantia do contrato de casamento,  ou como caução  impeditiva da sua rescisão. É tido como caução impeditiva porque em caso de divórcio a família da noiva é obrigada a devolver os bens recebidos.
Se olharmos para a componente sociocultural, veremos que há, deveras, razões suficientes para que tenhamos nas nossas sociedades algo do género, pois permite uma ligação, por exemplo, entre grupos étnicos diferentes, aos quais se vão interagindo e, consequentemente, partilhar os hábitos e custumes que se lhes são peculiares, fazendo com que uma família conheça as particularidades culturais da outra, e assim vice-versa, uma vez que, segundo Mbambi, o alembamento se constitui numa cerimônia muito ritualizada, sendo o primeiro encontro formal da família do noivo e da noiva, onde são entregues os presentes, e apresentados os noivos às duas famílias».
Reforçando o que acima dissemos, Barroso e Cunha (s.d., para 2) asseguram-nos que: Essa cerimônia é de grande importância cultural em Angola, pela própria manutenção dos hábitos e costumes que identificam determinado povo, bem como pela valorização da mulher e da família que a criou, uma vez que o alembamento se traduz num estímulo às virtudes no seio das famílias angolanas, estando em jogo não apenas a formação de uma nova família, mas acima de tudo o estabelecimento de uma aliança pública entre as duas famílias.
Embora se registe uma «troca» de bens materiais e humano, para os bantu isso não equivale à noção de «compra» e «venda», como muitas vezes se faz perceber. Este costume aparece tão difundido que se especifica o casamento «negro-africano», tal como «nenhum banto dá a entender que o alambamento seja uma compra mediante pagamento. Se aparece esta cambiante ou se verifica esta triste realidade, é devido a abusos ou à corrupção dos custumes. (Manual de Língua Portuguesa da 8.ª classe, 2008, p. 54)
Em oposição ao que muito se afirma, Angola é, indubitavelmente, um conjunto de muitas nações, e não somente de uma. Não a sendo, cada nação tem os seus custumes e hábitos culturais que se lhes são próprios, dos quais algumas nações se aproximam, e outras, porém, distanciam-se. Com isso, é nossa pretensão  dizer que, tal como é a cultura, os bens que se exigem para que um casamento tradicional ocorra variam de cultura a cultura, relação cultural, aspectos socioeconómicos.
Sobre os elementos culturais presentes na cerimônia de casamento ou alambamento, identifica-se uma  variação desses elementos no tempo e no espaço. Todavia, tais variações não modificam sua importância na sociedade uma vez que exercem profundas influências sobre os indivíduos, assim como norteiam não só os modos de união conjugal, mas também os requisitos, as normas e papéis sociais a serem cumpridos de acordo com os saberes, valores, costumes que os identificam. (Santos, 2017, p. 8)

Valoriza-se, no alambamento, a mulher bonita, que sabe fazer em condições os trabalhos domésticos, tais como lavar, passar a ferro, cozinhar e, por último, que tenha um grau de letramento considerável. Para uma mulher que reúne aqueles itens, é possível que os bens exigidos possam ser avultados em relação àquela mulher que não reúne, na totalidade, aquelas condições.
Normalmente, os bens exigidos, isso a depender do grupo etnolinguístico, podem ser constituídos de/por objectos, alimentos, vestuários, álcool, animais, utensílios domésticos ou de agricultura, dinheiro, etc. De acordo com Barroso e Cunha (s.d., para 2),
Nos dias de hoje, os bens ofertados são constituídos  basicamente por: dois panos, um para a mãe da noiva e outro para a tia (trata-se da tia paterna); um terno completo (calça, camisa, colete, gravata, paletó, sapato) para o pai da noiva, alguns engradados de refrigerante e/ou cerveja (que variam de 7 a 14 engradados), dois lenços de cabeça para cada uma das avós, um petromax (tipo de lamparina), um sobretudo (chamado “casacão”) para o tio materno, Podem ainda ser ofertados uma garrafa de maruvo (vinho de palma), vinho comum, galinhas, noz cola3, algumas garrafas de whisky e perfume para a mãe da noiva. É entregue ainda uma soma em dinheiro que é definida em função do estatuto social, das famílias dentro da comunidade.  A lista dos bens é entregue aos emissários, que a fazem chegar aos restantes membros da família, sendo esses bens levados na altura da cerimônia, se salientado que o não cumprimento pode acarretar no rompimento do acordo firmado.
Em relação ao que se regista hodiernamente, parece haver, nas sociedades modernas angolanas, um exagero de requisitos em comparação ao que no passado se exigia. Com o passar do tempo, algumas culturas passaram a exigir mais do que nas épocas pretéritas e, com isso, alguns vêem veem a mulher como uma «mercadoria» que deve ser comprada. Todavia, segundo o livro didáctico de Língua Portuguesa da 8.ª classe (2008, p. 55), «O alembamento, segundo o seu significado original, converte-se no mais comum instrumento de aliança e amizade entre os grupos sociais bantos. Torna-os solidários, já que estreita laços físicos e espirituais.
No fundo, o que se pretende com o alambamento é, deveras, o estreitamento dos laços familiares, união familiar, a extensão do grupo, etc.






Conclusão
Consoante o que foi aqui apresentado, chegámos a concluir que, do ponto de vista etimológico, há uma controvérsia no que diz respeito à origem do lexema alambamento: há evidências de que tal lexema tenha origem em kimbundu e em umbundu, mas há ainda autores que acreditam que «alembamento» em vez de «alambamento» é um caso de aportuguesamento da variante kimbundu «alambamento».
Sobre a sua concepção e utilidade sociocultural, entendemos que se trata de um encontro entre duas famílias, cujo objectivo principal é o de unir e estreitar os laços familiares, bem como juntar dois grupos etnolinguísticos diferentes. Ainda assim, o vimos como sendo uma prática sociocultural angolana em que se regista uma entrega de bens exigidos por parte da família da noiva, a fim de receber, como «troca», um membro de uma outra família. Os bens e os rituais, entretanto, variam de região a região.
Em relação ao tempo, concluímos que nos actos actuais se verificam um certo exagero no que diz respeito aos bens pedidos por parte da família da noiva. Em certas regiões, vê-se o alambamento como sendo um acto simbólico em que quase nada de material se pede. Noutras, ao contrário, sem a reunião necessária dos bens exigidos, o alambamento, uma aliança sociocultural, não ocorre.
Alambamento
 O antropólogo Afonso Teca disse:
Por João Carlos Carranca - Junho 22, 2010       
Até aos anos 80,o alembamento resumia-se a uma celebração para as famílias dos futuros casais e as coisas impostas pela família da noiva resumiam-se a uma pequena “cesta básica”. Uma muda de pano para a mãe ou tia da rapariga, um garrafão de vinho para os pais e os tios. Mas no Norte de Angola, o alembamento sempre teve um dote mais pesado.
Nos dias de hoje, o alembamento é uma “fortuna”. Algumas famílias exigem ao noivo valores exorbitantes. Zambrotta dos Santos sabia de antemão que tinha de pagar uma multa, pelo facto da rapariga com quem pretendia casar se encontrar grávida: “como namorámos dez anos, achei que a multa não seria exigida”, disse, considerando-se felizardo pelo facto da família da mulher não ter feito grandes exigências no alembamento: “foi uma cerimónia informal, porque as famílias já se conheciam. Mas como eu engravidei a moça antes do pedido e na região do pai dela se exigia este ritual, então só tive de cumprir o que já estava estabelecido para não quebrar as regras”, explicou.

O alembamento é a oficialização do casamento tradicional entre duas pessoas. O antropólogo Afonso Teca disse que a sua concretização só é possível depois da resposta dos familiares da noiva, após uma carta do rapaz. A carta, por exemplo, na região da Damba, província do Uíge, deve fazer-se acompanhar de uma garrafa de whisky e 250 dólares. O whisky é uma bebida importada e o dólar uma moeda estrangeira, mas há quem chame a isto “tradicional”.
Afonso Teca diz que “só depois da resposta é que o rapaz e a família se apresentam em casa da moça com os bens exigidos para a realização do acto”, disse.
O dote também pode incluir um garrafão de maruvu, cola Na Damba são exigidos 450 a 500 dólares para o dote, dois fatos, duas peças de pano do Congo, dois garrafões de vinho, dez grades de cerveja (importada) igual número de grades de gasosas, dois pares de sapatos, dois pares de chinelas, duas garrafas de whisky. Tudo muito tradicional.
e gengibre, duas galinhas, um petromax e dois lenços de cabeça e de bolso. Este alembamento pode também variar de família para família. Neste caso particular as galinhas simbolizam a fertilidade da mulher.
Na região de Sanza Pombo, província do Uíge, na lista podem constar caixas de fósforos, armas de caça, porcos, cabritos e outros bens. Neste município, diz o antropólogo, as famílias são mais exigentes.
Exagero na cerveja
Algumas famílias muitas das vezes exageram na formalização da lista dos bens para o alembamento. Afonso Teca disse que muitas famílias optaram em juntar os costumes da região da rapariga ou do rapaz, o que torna a lista maior. “Recentemente acompanhei um pedido em que ao rapaz foram exigidas 30 grades de cerveja. Isso é um exagero”. Esta família, argumentou o rapaz, é Bakongo e na sua região as exigências são mais pesadas do que noutras zonas: “neste caso particular, a família da moça juntou o essencial da sua cultura e adicionou alguns bens da cultura do homem. Isso nunca aconteceu em localidade nenhum”, afirmou.
Quanto ao dote, cada família estipula o que lhe interessa: “existem famílias que chegam a pedir mil dólares e o valor pode estar relacionado com as qualidades da noiva”. Este negócio das listas faz pensar que os pais estão a vender a filha. Mas Afonso Teca descansa os mais preocupados com o negócio: “o alembamento é uma simbologia que exprime respeito e admiração e quando o homem não oficializa a sua relação com o alembamento nem sempre a mulher é respeitada dentro de sua casa”.
Afonso Teca revela uma boa notícia: “Hoje muitas famílias já não pedem nada ao moço, o que não quer dizer que o rapaz perca admiração diante da família da mulher”.


O dólar na carta
A exigência do dólar na carta do alembamento deve-se à desvalorização da moeda nacional, que pelos vistos prejudica a tradição. O antropólogo Afonso Teca disse que em muitos pedidos, nem sempre o rapaz paga o dote por completo para permitir que a família da rapariga se desloque à casa do rapaz para analisar as condições sociais em que vive a sua filha.
Dado o tempo que pode levar até à gravidez, se a moeda for o kwanza pode nessa altura ser um valor baixo. Daí a opção pelo dólar, que até à era Mardoff tinha sempre muito valor. “Tradicionalmente o dote não era pago por completo, isto para permitir que a família da moça se deslocasse à casa do rapaz e visse as condições em que a filha vivia e a recepção que lhe era oferecida”, disse. Afonso Teca afirmou ainda que os bens exigidos ao noivo são “símbolos culturais”.
Alembamento em Luanda
Na província de Luanda o pedido depende exclusivamente da rapariga. Para a composição da lista ela também participa na discussão da família. Francisca Pinha tem 69 anos, é natural de Luanda e contou ao Jornal de Angola, que a tradição de Luanda é mais simples do que nas outras províncias.
Francisca Pinha conta que antigamente apesar do pedido ser um acto de valorização da mulher, muitas famílias acabavam por rejeitar o acto. “Havia homens que desrespeitavam e batiam na mulher. E quando a mulher reivindicava ele obrigava os pais da moça a devolver as coisas”, disse.
Esta situação fez com que muitas famílias deixassem de realizar o acto de pedido com bens: “na minha família durante muito tempo nós não realizávamos pedido devido a estes abusos”, explicou.
Na tradição de Luanda, ao homem são exigidos três pares de panos, dez grades de cerveja e gasosa, um garrafão de vinho, um fato para o pai da moça, um par de sapatos, uma camisa branca com gravata, whisky, amarula, aguardente, martini, chinelas ou sandálias para a mãe, dois lenços, o anel de noivado e um dote no valor de 500 dólares.
Francisca Pinha disse que a não realização do pedido nunca representou maldição para o casal, uma vez que o acto em si depende exclusivamente do futuro casal. “Embora seja tradição, se os jovens não quiserem não podem ser obrigados, nós desejamos a felicidade dos nossos filhos”, concluiu