A VIOLENCIA DOMESTICA E SUAS CONCEQUENCIA NO GERAL


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INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO DE ANGOLA
(ISTA)


DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAS E HUMANAS


METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA








A VIOLENCIA DOMESTICA E SUAS CONCEQUENCIA NO GERAL 









Autora: Ana Francisco Panzo
1º Ano
Período: Tarde
Sala: 01
Orientador: Prof. MSc. Nanikutonda M. L. dos Santos













LUANDA, 2017













DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SÓCIAS E HUMANAS


METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA






A VIOLENCIA DOMESTICA E SUAS CONCEQUENCIA NO GERAL










Autora: Ana Francisco Panzo
Orientador: Prof. MSc. Nanikutonda M. L. dos Santos


















LUANDA, 2017


















TERMO DE APROVAÇÃO









Ana Francisco Panzo
Estudo sobre  a violencia domestica e suas concequencia no geral 









Júri
Presidente___________________________            : Assinatura______________________________
1º Vogal ____________________________: Assinatura______________________________
2º Vogal: Prof. MSc. Nanikutonda M.L. Santos: Assinatura___________________________
 Secretario: ___________________________: Assinatura ____________________________







CLASSIFICAÇÃO: __________________________________________________________
DATA DA DE DEFESA_____________/_____________________/____________________














DEDICATÓRIA

Dedico a todos que me apoiaram, que aceitaram apoiar-me ao longo do tempo, e facilitam a concretização dos meus objectivos pretendidos, que aceitaram o diálogo sobre as suas experiências de vida.
Especialmente aos meus Pais, pelo apoio directo que têm prestado em mim. E particularmente pela paciência e o poio dos meus colegas, por colaborarem comigo no processo da formulação deste trabalho de investigação. Sem a compreensão nos momentos de ausência familiar, sem os seus alentos nas horas de perplexidade e de indecisão não seria possível traçar estas linhas que agora vêm á luz.























AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos os que directa ou indirectamente contribuíram para que esta trabalho se tornasse realidade, quer pessoalmente, quer profissionalmente, quer academicamente.
Pessoalmente à minha família e amigos, em especial à minha Mãe por me ter incentivado e apoiado a estudar. Academicamente a todos os colegas e professores do curso de Psicologia do ISTA, pela generosidade e amizade que têm demonstrado em mim ao longo desta caminha científica.




















RESUMO

Na temática deste trabalho abordaremos intrinsecamente sobre a violência doméstica que por sua vez abarca comportamentos utilizados num relacionamento, por uma das partes, sobretudo para controlar a outra. As pessoas envolvidas podem ser casada ou não, ser do mesmo sexo ou não, viver juntas, separadas ou namorados. Todos podemos ser vítimas de violência doméstica. As vítimas podem ser ricas ou pobres, de qualquer idade, sexo, religião, cultura, grupo étnico, orientação sexual, formação ou estado civil. No entanto ao desenvolvimento do conteúdo poderemos explicar as razões e algumas determinações sobre a violência doméstica. A violência doméstica é um problema universal que atinge milhares de pessoas, em grande número de vezes de forma silenciosa e dissimuladamente. Trata-se de um problema que atinge ambos os sexos e não costuma obedecer nenhum nível social, económico, religioso ou cultural específico. Este tipo de problema é complexo e seu enfrentamento necessita a composição de serviços de naturezas diversas, demandando um grande esforço de trabalho em rede. A integração entre os serviços dirigidos ao problema, entretanto, é difícil e pouco conhecida, ficando afastada ou diminuta em cidades.
Palavras-chaves: Conceito família, parentesco, violência doméstica, adolescência, maltrato, violações, agentes de socialização.




















































Sumário













INTRODUÇÃO

A história actual das sociedades regista um fenómeno social que já conquistou o seu espaço no centro das preocupações das Instituições sociais dos Estados como também das sociedades em si, como as Igrejas, as organizações não governamentais, as associações, etc. A violência doméstica não é de facto um elemento novo na história das sociedades, enquanto acontecimento que resulta do desentendimento intra-conjugal.
Porque em toda e em qualquer sociedade admite-se potencialmente algum conflito, dado que cada indivíduo exprime nas suas acções a sua idiossincrasia. E, neste sentido, haverá algum momento em que os interesses das pessoas não coincidem e então surge o conflito. Um conflito que pode terminar simplesmente em divórcio, no caso de pessoas casadas. Mas o conflito familiar que se assiste em Angola como no mundo em geral torna-se novo na maneira como se apresenta. Ora, este facto suscita em qualquer investigador inquietação para melhor compreensão das causas acrescentadas aos factores antes vividos.
Assim, o presente trabalho de investigação se orienta para uma pesquisa sociológica e psicológica no sentido de se examinar as possíveis causas e factores sociais intrínsecos a este fenómeno.
Essa pesquisa abarca todas as facetas que envolvem o ser humano enquanto ser social, inserido num contexto histórico-cultural. E a pesquisa a realizar vai se orientar para a preocupação de compreender o fenómeno violência doméstica. Assim, o que se propõe é fazer uma investigação de carácter científico que contribua não só para a tomada de medidas pelas autoridades competentes para atenuar o problema, mas também que seja útil para estudos posteriores no âmbito da pesquisa psicológica.
Em Angola, assim como em outros países do Mundo, têm demonstrado um número elevado de casos de violência doméstica. Os crimes de violência, só têm penas mais severas quando são de maior gravidade, como no caso de assassinato, tentativa de homicídio ou estupro, mas em geral.

FORMULAÇÃO DO PROBLEMA

·         O que é a violência doméstica?
·         Quais são as suas causas?
·         Que consequências trás a violência doméstica para a sociedade?
·         O que é a violência contra a mulher?
·         Porquê muitas mulheres sofrem caladas?

HIPÓTESES

A violência doméstica está presente em todos os meios sociais, manifestando-se de várias maneiras. Existe na sociedade uma cultura machista, onde o homem manda na mulher, ela é vista como um objecto, ou seja, ainda temos uma cultura da dominação do home sobre a mulher. É verdade que algumas drogas podem desencadear noutras reacções violentas ou comportamentos agressivos nalguns indivíduos.
Acreditar que as mulheres vítimas de violência são masoquistas é ignorar que o problema é muito complexo para ser reduzido a tal conclusão. Entre as dinâmicas próprias do casal e as dificuldades sociais com que se debatem as mulheres vítimas quando decidem a ruptura conjugal, muitas razões para a sua permanência na relação podem ser encontradas, dependendo de caso para caso. se uma pessoa consome drogas sabendo que podem tornar-se violentas ou que podem, por isso, vir a agredir o(a) companheiro(a), então trata-se de violência doméstica e a pessoa é responsável pelas suas acções. Ameaças, perseguições, agressões físicas e sexuais constituem crime.

OBJECTIVOS

Geral

O objectivo geral deste trabalho é explicar a violência doméstica e verificar porque existe um elevado número de casos a nível mundial, identificando os elementos propiciadores desse facto.

Específicos

1.      Reconhecer e descrever as principais causas que tem levado ao aumento dessa violência.
2.      Mostrar as consequências e possíveis soluções da violência doméstica.
3.      Comparar a cidade de Angola a outros Estado, mostrando e buscando entender porque existe diferença na quantidade de casos.

IMPORTÂNCIA DO ESTUDO

Diante destes factos percebe-se a necessidade de pesquisas e estudos sobre a deficiência deste sector a nível global.

DELIMITAÇÃO DO PROBLEMA

A violência doméstica não pode ser vista como um destino que um individuo tem que aceitar passivamente. O destino sobre a sua própria vida pertence-lhe, deve ser ele a decidi-lo, sem ter que aceitar resignadamente a violência que não a realiza enquanto pessoa.

RELEVÂNCIA DO ESTUDO

 O trabalho apresenta definições e conceitos que serão utilizados no desenvolver do estudo com o intuito de clarear o assunto tratado.

ESTRUTURA DO TRABALHO

Este trabalho de pesquisa está estruturado em 3 (três) capítulos:
O primeiro capítulo - família e violência, trato a primeira questão, para o que entendo ser conveniente dividir, concepção de família, parentesco e linhagem, conceito de violência doméstica, tipos de violência doméstica e diversos, para começarmos a ter noção daquilo que pretendemos tratar.
Em seguida, no capítulo II – visemos menção do papel dos agentes de socialização ante a violência doméstica: noção de agentes de socialização, o lugar da família e da escola, família e protecção social.
E por fim, no capítulo III – falei da metodologia e a natureza da pesquisa, onde mencionei o método da investigação e a natureza da pesquisa. Mas para finalizar o trabalho, achei conveniente deixar a minha sugestão.

CAPITULO I - FAMÍLIA E VIOLÊNCIA

1.1– Concepção de Família

O conceito, a estrutura e a função de família não é idêntica para todos os povos e culturas. Pois, “a diversidade de modelos familiares, ao longo dos tempos e nas diferentes culturas, torna difícil atingirmos um consenso de definição única da família, mesmo que, intuitivamente, todos tenhamos em mente uma concepção e até uma atitude básica em relação a ela. Na verdade, o conceito de família não é um conceito unívoco para todas as épocas e culturas, pelo que podemos apreciar substanciais diferenças transculturais entre os membros da família que sentem parte dela, assim, como nos papéis e funções esperados de cada um e da família no seu todo.
Em Angola, como é em geral em África, a família, sobretudo entre os povos bantos, é considerada ponto de referência de todas as relações entre as pessoas em todas as dimensões da vida. O sistema de parentesco neste continente (sobretudo entre os povos banto) estende-se para além da consanguinidade e da afinidade. E portanto, a rede de parentesco é muito extensa. O banto não pode viver sem família nem clã, os dois grupos primários, fundamentais e vitais que dão sentido e consistência á sua vida. Não se pode conceber nem explicar o indivíduo banto isolado de uma comunidade.
Mas, olhando para os vários postulados expostos por diferentes autores, considerasse que, em sentido lato, a família compreende todas as pessoas ligadas por vínculos de casamento, parentesco, afinidade e adopção. E em sentido restrito, a família engloba o pai, a mãe, e os filhos. È a família nuclear que, normalmente é constituída pela família conjugal. Num sentido intermédio, a família é o grupo de pessoas que vivem debaixo do mesmo tecto, é a família lar.

1.1.1 – Parentesco e Linhagem

Parentesco é o conjunto de relações entre pessoas que se consideram aparentadas por consanguinidade real, fictícia ou putativa. No caso africano em geral, e angolano em particular, o parentesco é muito mais amplo e estende-se para além da consanguinidade, pois em Angola são aparentadas não só as pessoas que se unem pelo sangue mas também através do casamento. Porque “o banto goza de uma comunidade muito ampla que lhe proporciona o deleite de viver sempre em família. As diversas famílias alargadas formam uma densa rede totalizante que á base de comunidades e solidariedades, estrutura a sociedade que se compraz em ser essencialmente comunitária”. Desta feita, todos elementos da comunidade relacionam-se como parentes. Tratam-se indefinidamente como Avós, pais, filhos, irmãos, tios, sem muitas vezes atenderem ao grau de proximidade deste parentesco. Trata-se da atitude eivada de grande consideração pelo familiarismo, resultante de pressupostos da dependência colectiva e de grande sociabilidade próprios da cultura africana bantu.

1.2- Conceito De Violência Doméstica

O conceito de violência pode reportar-se a qualquer facto, seja ele uma actuação (facto humano e voluntário), um mero facto humano (facto humano involuntário) ou um facto natural (não humano). Com efeito, é tão possível afirmar que uma tempestade é violenta, como é possível afirmar que o comportamento de determinada pessoa é violento, independentemente de tal pessoa o praticar consciente e voluntariamente ou não.
Em todo o caso, o conceito de violência que releva para esta dissertação é a praticada consciente e voluntariamente pelo ser humano contra outro ser humano. Por este motivo, restringe-se desde já o conceito de violência nestes termos, ressalvando-se que o comportamento violento pode ter carácter activo ou omissivo.
A violência caracteriza-se por implicar uma ofensa à saúde daquele que dela for alvo, entendendo-se saúde como o complexo de bem-estar físico, mental e social. Por conseguinte, qualquer atitude de que possa razoavelmente esperar-se um prejuízo para a saúde de outra pessoa pode integrar o conceito de violência.
A violência doméstica é um fenómeno que tem assumido, por todo o mundo, proporções bastante elevadas e que só foi denunciado a partir dos anos 60/70 pelos movimentos feministas. Considera-se violência doméstica “qualquer acto, conduta ou omissão que sirva para infligir, reiteradamente e com intensidade, sofrimentos físicos, sexuais, mentais ou económicos, de modo directo ou indirecto (por meio de ameaças, enganos, coacção ou qualquer outro meio) a qualquer pessoa que habite no mesmo agregado doméstico privado (pessoas crianças, jovens, mulheres adultas, homens adultos ou idosos a viver em alojamento comum) ou que, não habitando no mesmo agregado doméstico privado que o agente da violência, seja cônjuge ou companheiro marital ou ex-cônjuge ou ex-companheiro marital”.
É um fenómeno bastante complexo e composto por diversos factores, sejam eles, “sociais, culturais, psicológicos, ideológicos, económicos, etc. Ao contrário daquilo que se possa pensar, este flagelo social é já de longa data. De acordo com o Plano Nacional Contra a Violência Doméstica, esta prática atravessa os tempos e tem características similares em países cultural e geograficamente distintos e, com diferentes graus de desenvolvimento.
Assim, considera-se um fenómeno antigo, mas só recentemente se tornou um problema social. Isto, porque há actualmente uma maior sensibilidade e intolerância social face à violência. Depois, também porque algumas organizações governamentais e não governamentais, intervieram no sentido de conferir maior visibilidade ao problema; a comunicação social também tem centrado a sua atenção nesta divulgação. Infelizmente, a violência doméstica faz parte da experiência de muitos lares.

1.2.1- Tipos De Violência Doméstica

A violência doméstica abrange múltiplas formas de violência que atingem os cônjuges ou companheiros.
Existem vários tipos de violência doméstica:
Ø  Violência física (bofetadas, pontapés, murros, empurrões, arranques de cabelo, lançamento de objectos contundentes, estrangulamento, fustigarão com cintos ou correias, produção de impedimentos temporários de respiração);
Ø  Violência psíquica (humilhações, provocações, molestações, ameaças, insultos, injúrias, condutas vexatórias, comportamentos possessivos, isolamento, privação de convívio com familiares e amigos, destruição de objectos pessoais);
Ø  Violência económica (negação de acesso ao dinheiro, negação do direito de trabalhar, negação de frequentar cursos e de ter acesso à educação em geral); Violência espiritual (negação de valores e crenças culturais ou religiosas ou obrigação de aceitação de determinadas crenças ou valores de ordem religiosa ou cultural);
Violência estrutural (referida à generalizada desigualdade de poder entre os sexos sustentada nas diferenças biológicas existentes entre homens e mulheres e no seu reflexo quer ao nível familiar - na exigência, por exemplo, de esforço desmedido e desigual nas lides domésticas, quer ao nível social - no plano laboral, por exemplo, quanto à desigualdade de oportunidades, ou no plano comunicacional, por exemplo, quanto à promoção e perpetuação de papéis estereotipados atribuídos a uns e outras).
Face ao exposto, e para efeitos deste trabalho, a violência doméstica configura-se como a adopção por uma pessoa de comportamentos violentos contra outra pessoa, com quem mantém ou manteve uma relação de maior intimidade ou proximidade. Tais comportamentos têm de traduzir-se numa afectação ou num perigo de afectação da saúde do seu destinatário, entendido o conceito de saúde em qualquer das suas vertentes, e na constituição ou manutenção para a vítima de uma situação de dependência face ao agressor.
Apesar deste enquadramento, impõe-se mencionar alguns aspectos, reveladores de alguma complacência do legislador penal de 1852 relativamente à violência ocorrida entre cônjuges, especialmente a exercida pelo homem sobre a sua mulher. De facto, eram despenalizados, nalguns casos, o homicídio ou as ofensas corporais, se fossem praticados contra o cônjuge apanhado em adultério, contra o adúltero ou contra ambos. De igual modo, e no que concerne ao crime de estupro ou violação, além de não serem considerados ilícitos, mas antes normais, quando praticados pelo marido sobre a mulher, também não seriam puníveis se o homem que os praticasse casasse com a vítima.
E no que tange aos tipos de violência doméstica mais frequentes são os seguintes crimes: ofensas corporais, onde as mulheres e crianças são as principais vítimas; crimes passionais; casos de feitiçaria; Incestos, geralmente de padrastos para enteadas e de filho para a mãe; agressões físicas; abuso sexual com as crianças como as principais vítimas; trabalho infantil; privação das crianças do direito a assistência; abandono de menores; a fuga a paternidade; atentado ao pudor; comportamentos negativos (ex. sobas que se casam com menores de idade, por imposição).

1.2.2- As Formas de Violência Doméstica

A violência doméstica toma várias formas em função das motivações, interesses da pessoa que a provoca e ainda em função do nível das pessoas vítimas de violência. Assim, partindo deste pressuposto, pode-se falar de várias formas de violência doméstica (tendo em conta a extensão do conceito) como a violência contra os irmãos, contra os pais, etc., mas, para esta investigação aborda-se a violência mais vulgar e mais visível e, em função das vítimas designa-se: violência sobre as crianças, violência intra-conjugal e violência sobre os idosos.
Na verdade, a violência no contexto familiar faz parte integrante da experiência de muitos lares, o que tem levado vários autores desta temática a considerarem que a casa é na realidade um dos lugares mais perigosos das sociedades modernas. E nesta perspectiva, os mais atingidos por esta violência têm sido as crianças, as mulheres e os idosos, dadas as situações de grande fragilidade e vulnerabilidade social em que se têm encontrado. Na realidade, estas camadas da sociedade, sobretudo em Benguela, estão mais expostas aos actos de violência não só porque quase sempre estão desprovidas de recursos próprios para a satisfação das suas necessidades básicas, mas também porque a sua condição física é volúvel e permanentemente carecem de protecção dos seus dependentes.
Por isso se pode dizer que, a violência doméstica é múltipla no sentido em que atinge vários elementos da família. Muitas vezes, o pai agride a mãe e os/as filhos/as; a mãe, por sua vez, por vezes, é também agressora dos filhos (as); entre si, os irmãos agridem-se com frequência, etc. No caso de Benguela, são assustadores os níveis de violência contra as crianças, contra os idosos e contra a própria mulher, o que tem preocupado as autoridades e a própria sociedade, sendo que todos têm sido levados a se interrogar para encontrar as possíveis explicações sobre tal fenómeno.

1.2.3- Formas De Violência Contra A Mulher

Quanto às formas de violência contra a mulher, as mais comuns são a física, que é o acto de provocar lesões corporais possivelmente diagnosticáveis, tais como cutâneas, neurológicas, oculares e ósseas, provocadas por queimaduras, mordidas, tapas, espancamentos, ou qualquer acção que ponha em risco a integridade física da mulher. Outra forma de violência praticada contra a mulher é a sexual, que corresponde a qualquer forma de actividade e prática sexual sem seu consentimento, com uso de força, intimidações, chantagens, manipulações, ameaças ou qualquer outro mecanismo que anule ou limite a vontade pessoal, como, por exemplo, forçar a prática de actos sexuais que lhe desagradem ou criticar seu desempenho sexual, e até obrigá-la a ter relações sexuais com outras pessoas.
A violência emocional ou psicológica é evidenciada pelo prejuízo à competência emocional da mulher, expresso através da tentativa de controlar suas acções, crenças e decisões, por meio de intimidação, manipulação, ameaças dirigidas a ela ou a seus filhos, humilhação, isolamento, rejeição, exploração e agressão verbal. Sendo assim, é considerado violento todo ato que cause danos à saúde psicológica, à autodeterminação ou ao desenvolvimento pessoal, como por exemplo, negar carinho, impedi-la de trabalhar, ter amizades ou sair de casa. São actos de hostilidade e agressividade que podem influenciar na motivação, na auto-imagem e na auto-estima feminina.
Outro tipo de violência é a patrimonial, que resulta em danos, perdas, subtracção ou retenção de objectos, documentos pessoais, bens e valores da mulher. Esta forma de violência pode ser visualizada através de situações como quebrar móveis ou eletro domésticos, rasgar roupas e documentos, ferir ou matar animais de estimação, tomar imóveis e dinheiro, ou, até, não pagar pensão alimentícia.
No que se refere à violência psicológica, o isolamento é uma de suas principais formas de manifestação. Nesta prática, o homem busca, através de acções que enfraqueçam sua rede de apoio, afastar a mulher de seu convívio social, proibindo-a de manter relacionamentos com familiares e amigos, trabalhar ou estudar. O objectivo primário do isolamento social é o controlo absoluto da mulher, já que, ao restringir seu contacto com o mundo externo, ela dependerá ainda mais de seu parceiro, tornando-se submissa a ele.
As primeiras tentativas do homem para efectuar o isolamento da mulher se dão por meio da manipulação, arranjando situações como, por exemplo, marcar outros compromissos para impedi-la de ir a reuniões familiares ou de amigos, ou por meio de acusações de não estar cuidando bem da casa ou dos filhos. Quando a manipulação não funciona, o agressor recorre ao despotismo, dando ordens expressas do que ela deve ou não fazer e, por fim, apela para a intimidação, ameaçando espancá-la, quebrar seus pertences ou matá-la.
Os períodos em que estão longe do marido são aqueles considerados de maior tranquilidade para a mulher, e são proporcionados, geralmente, por seu emprego, ou quando ele sai para trabalhar. O trabalho, para muitas mulheres, constitui-se em uma válvula de escape. Nele ela se sente importante e respeitada. Para aquelas que exercem apenas a função de dona-de-casa, a saída do parceiro representa momentos de liberdade, nos quais ela poderá assistir a seus programas preferidos, falar com amigos ao telefone e fazer suas actividades sem maiores cobranças. Esta tranquilidade, no entanto, acaba antes mesmo do marido retornar, já que a tensão se inicia até mesmo com a lembrança, com a expectativa de sua chegada. A partir do momento de sua chegada, a casa passa a girar em torno das vontades dele.
Quando há uma dependência financeira da mulher em relação ao homem, seja pelo fato de ter se submetido à proibição de trabalhar imposta por ele, ou mesmo pela dificuldade ou comodidade de não ter um emprego, esta se torna obrigada a recorrer ao marido, sempre que necessitar de dinheiro, situação que favorece a violência, pois, em muitos casos, o homem utiliza seu poder económico como forma de ameaçá-la e humilhá-la. Ressalta-se que a violência psicológica, através de ameaças, é dirigida tanto à mulher como a outros membros da família, fazendo-se por meio de promessas de agressões e gestos intimidativos. Uma característica comum àqueles que praticam este tipo de violência é a habilidade de encontrar o ponto fraco da mulher, que, em muitos casos, são os filhos, utilizando-os como alvo todas as vezes que desejar feri-la.
A violência física, em toda sua enormidade e horror, não é mais um segredo. Porém, a psicológica, em função de não envolver danos físicos ou ferimentos corporais, ainda se mantém num canto escuro do armário, para onde poucos querem olhar. Apenas muito recentemente, nota-se um movimento em direcção à conscientização e reacção por parte de algumas mulheres, confrontando esta modalidade sutil de violência perpetrada pelos homens com a conivência da sociedade machista.
É fundamental destacar que todo ato de agressão física é precedida de um histórico de violência psicológica que, por expressar-se de maneira menos perceptível, acaba não sendo facilmente identificada pelas mulheres. Muitas vezes, inicia-se com uma pequena reclamação, mas, repentinamente, esta é substituída por ofensas, inchamentos, atingindo seu ápice com as agressões físicas.

1.2.3.1- Características Da Violência Doméstica Contra A Mulher

A violência psicológica se caracteriza por comportamentos sistemáticos que seguem um padrão específico, objectivando obter, manter e exercer controlo sobre a mulher. Tem início com as tensões normais dos relacionamentos, provocadas pelos empregos, preocupações financeiras, hábitos irritantes e meras diferenças de opinião. Nestes tipos de relacionamentos, as tensões aumentam, começando então uma série de agressões psicológicas, até chegarem às vias de fato. Em contrapartida, nos relacionamentos não violentos, as pessoas discutem sobre as tensões ou as ignoram, e estas tendem a diminuir.
A autora citada considera que as interacções violentas de um casal estão vinculadas ao aumento de tensão nas relações de poder estabelecidas e que a relação de dominação e subordinação necessita ser confirmada. A situação de violência pode ser, então, uma tentativa de restaurar o poder perdido ou nunca alcançado, ou ainda confirmação da identidade.
Azevedo (1985) apoia-se em Gregori para enunciar dois grandes factores responsáveis por tais condições de violência: constituem o primeiro o factores condicionantes, que se referem à opressão perpetrada pelo sistema capitalista, pelo machismo e pela educação diferenciada; o segundo factor é formado pelos precipitantes como álcool e drogas ingeridos pelos agentes nos episódios de violência, além do estresse e cansaço, que podem desencadear o descontrole emocional e os actos agressivos.
Segundo Miller (1999), por mais que a sociedade estabeleça estereótipos para o homem agressivo – como rude, de classe social inferior, grosseiro, valentão na aparência e nas atitudes – não há um perfil único. Assim, um homem que em sociedade pode parecer acima de qualquer suspeita, pode, muito bem, ser um agressor na relação conjugal.
Miller (1999) cita ainda a lista de características que os distinguem, elaborada por Boyd e Klingbeil, que incluem, dentre outras, pessoas com fraco controlo do impulso, apresentando necessidade de satisfação imediata e insaciáveis necessidades do ego; dependência emocional; frequentes quadros de estresse, mas, geralmente, bem dissimulados; baixa auto-estima; ciúmes excessivos, que os levam a uma vigilância demasiada da parceira e repetidas promessas de mudança.
Estas constantes promessas de mudança dão à violência um carácter cíclico, traduzidos por momentos intercalados de agressões e amor, fato que contribui para que a mulher permaneça durante anos vivenciando uma relação violenta. Por esta razão, é importante que a mulher conheça as especificidades do ciclo em que está envolvida, a fim de encontrar meios de sair da situação (MILLER, 1999).
Walker (1979 apud AGUIAR, 2002) aponta três fases distintas, constituintes do ciclo da violência, as quais variam tanto em intensidade como no tempo, para o mesmo casal e entre diferentes casais, não aparecendo, necessariamente, em todos os relacionamentos. A primeira fase é de construção, em que ocorrem incidentes verbais e espancamentos em menor escala, como chutem e empurrões. Nesse momento, as vítimas, usualmente, tentam acalmar o agressor, aceitando a responsabilidade pelos problemas dele, esperando, com isso, ganhar algum controle sobre a situação e mudar seu comportamento. A segunda fase é caracterizada por uma incontrolável descarga de tensão, sendo a mulher espancada, independente de seu comportamento diante do homem, que utiliza armas e objectos para agredi-la. Já a terceira fase corresponde a uma temporária reconciliação, que é marcada por um extremo amor e comportamento gentil do agressor, que tem consciência de ter exagerado em suas acções e, subsumindo-se no arrependimento, pede perdão, prometendo controlar sua raiva e não feri-la novamente.

1.2.4- Violência Doméstica E Justiça: A Ausência De Tradição Legal

Histórica e legalmente aos homens foi conferido o direito de controlar e exercer poder sobre as mulheres e as crianças. Encaradas como propriedade ou como fonte de trabalho e rendimento para a família, a lei via-as como categorias sociais dependentes, desprovidas de direitos. Esta herança cultural e legal, assente em séculos de dominação sócio-económica e ideológica, não só assegurou a prevalência do poder masculino no lar, como afectou dramaticamente a posição das mulheres e das crianças na sociedade, na lei e nas instituições legais (Micklow, 1988:408). As referências ao papel submisso das mulheres são de longa data e encontram-se, por exemplo, na literatura grega (a mulher deve ser discreta, não deve discutir com o homem, nem falar primeiro) e na própria lei romana que tolerava o homicídio conjugal no caso de elas serem adúlteras, alcoólicas ou na presença de outros comportamentos inapropriados (Steinmetz, 1987:726; Dias, 2004a:68).
A violência contra as mulheres é um aspecto comum no casamento, desde os tempos medievais. A doutrina de cobertura influenciou profundamente o seu estatuto, considerando as mulheres casadas como sendo legalmente inexistentes. De acordo com tal princípio, através do casamento, as mulheres perdiam a sua identidade legal individual, passando a constituir, juntamente com os maridos, uma entidade legal única, cujo representante era o homem. O referido princípio conduziu a inúmeras anomalias legais, fazendo com que os homens fossem responsáveis pelas condutas e os actos das mulheres e legitimando o direito deles as punirem e violentarem (Micklow, 1988:408).
Tradicionalmente a lei também isenta os homens do crime de violação no contexto da conjugalidade. A noção de que o contrato de casamento legitima todo o tipo de actos sexuais, inclusive os que são violentos e fisicamente forçados, ainda continua a estar presente no universo representacional e legal dos nossos dias. Não só é verdade que ao casar o homem obtém uma espécie de imunidade à acusação de violação, como também parece ser verdade que as pessoas têm menos tendência para condenar os comportamentos sexualmente violentos se eles forem praticados contra a mulher com quem se está casado e não contra outra mulher qualquer.

1.2.5- Violência Contra os Idosos

Na cultura africana, as pessoas de terceira idade foram sempre acariciadas pelos seus familiares mais próximos como, os filhos, os netos, e outros. Nunca tiveram um outro destino senão o lar familiar. Os velhos em África são tidos como o baluarte da sabedoria, os exímios conselheiros porque são os conservadores das experiências do passado que permitem melhor viver o presente e perspectivar o futuro.
 Numa altura em que o hospital ainda não era uma realidade em África, por exemplo são eles que indicavam as receitas terapêuticas. Por isso, em alguns círculos são considerados as «bibliotecas vivas. Deste modo, em África quando morre um velho, desaparece uma biblioteca. Ademais, o poder dos velhos se localizava em três razões essenciais: as razões políticas e religiosos, económicas e socioculturais. A nível político, os mais velhos eram a fonte de legitimidade do poder político por causa da sua ligação aos antepassados. Só para recordar que em África, tradicionalmente, o poder é de tipo hereditário.
Por outro lado, também os mais velhos têm poder na dimensão religiosa, porque são eles que estabelecem o elo de ligação entre os vivos e os mortos. Em casos de doenças complicadas da família, são chamados para intervirem como intercessores aos espíritos dos antepassados. Porque existe em África a crença de ligação entre os vivos e os mortos. O lugar dos velhos é também determinado pelas soluções económicas que eles podem proporcionar. Em caso por exemplo de uma catástrofe natural, como seca ou outras, é o mais velho capaz de identificar os parentes de localidades longínquas que se pode solidarizar com esta comunidade. Só o velho conhece esses parentes, os aliados com possibilidades de solucionar problemas desta natureza.

1.2.6- Violência sobre a Criança

A violência contra as crianças não é um dado novo para a história da humanidade. No passado, praticaram-se actos que no contexto do juízo moral daquelas sociedades era considerado uma atitude aceitável, mas que á luz dos conhecimentos actuais e na visão moral das sociedades hodiernas são considerados actos violentos.
Assim, por exemplo, na antiga Grécia o infanticídio foi um recurso socialmente aceite para resolver o problema dos recém-nascidos portadores de defeitos físicos que a sociedade não tolerava, de tal forma valorizava a força física e a perfeição do corpo humano. (Da Silva, 2001:286) Deste modo, pode-se afirmar que existe, pois, uma tradição histórica de violência, ainda que não generalizada, sobre as crianças e de tolerância sociocultural relativamente a ela. Esta tolerância da sociedade foi, em parte, responsável pelo prolongamento do sofrimento das crianças, e pelo reconhecimento e descoberta dos abusos infligidos a crianças.
E, esta tradição de violência contra a criança perdurou algum período de tempo, de modo que, de acordo com Isabel Dias só em 1962, com a publicação do artigo «The Battered Child Syndrome» de C. Henry Kempe e seus colaboradores, é que os abusos cometidos sobre as crianças pelos seus próprios pais foram reconhecidos como um problema social quer pela comunidade científica, quer pelo público em geral.
Por outro lado, a violência sobre as crianças durante muito tempo ficou unicamente associada a agressão física. Entretanto, nos últimos tempos costuma classificar-se as formas de violência sobre a criança fundamentalmente em violência por omissão e por acção. Estas formas integram manifestações de violência designadamente: abuso sexual, o incesto, negligência, abuso emocional ou psicológico e o próprio abuso físico, que normalmente resulta de castigos que os adultos impõem as crianças, como compensação de uma falta á norma no seu comportamento. São estas entre outras, as formas de violência sobre as crianças mais visíveis na sociedade angolana.
O castigo físico é uma prática regular entre as famílias Benguelenses, pois, os pais acreditam que por este meio pode-se tornar e manter a criança disciplinada. Assim, os pais batem as crianças com a intenção de educar, mas o desconhecimento das zonas vitais no corpo da criança, faz com que frequentemente estes castigos terminem em tragédia. Para além de que, estas agressões podem deixar lesões muito graves na criança que podem fazê-la deficiente. Tudo isto sugere concluir que a agressão física não é o melhor método pedagógico. Mas, pode adoptar-se como melhor método, o diálogo, e quanto muito, a privação da criança àquilo que lhe é de maior interesse e que mais lhe agrada. Pois, o castigo físico apesar de, do ponto de vista histórico parecer normal, mas não é o método mais aconselhado pelos pedagogos, já que não só, não raras vezes tem terminado em tragédia e provocado lesões indeléveis na criança, como também, pode tornar a criança reincidente, tornando-se deste modo indiferente ao castigo físico. Entretanto, este acto, o castigo físico, foi sempre tido como uma medida disciplinar e não como um acto de violência.
Na verdade, olhando para o passado da cultura de Benguela, a criança sempre foi considerada uma pérola. Como em África um casal sem filhos é tido como vivendo uma maldição, então o filho é tido como o melhor sinal de sucesso de um matrimónio. “O homem e a mulher só adquirem plenitude social e religiosa pela sua fecundidade, já que isso lhes outorga um novo estatuto e prova a maturidade pessoal e a benevolência dos antepassados.

1.2.7- Adolescência

Estudos evidenciam que a adolescência corresponde a um fenómeno cujo elemento psicológico do processo é constantemente determinado, modificado e influenciado pela sociedade (KALINA, 1999). Ela corresponde a um período de descobertas dos próprios limites, de questionamentos dos valores e normas familiares e de intensa adesão aos costumes do grupo de amigos. É um tempo de rupturas e aprendizados, uma etapa caracterizada pela necessidade de integração social, pela busca da auto-afirmação e da independência individual e pela definição da identidade sexual.
Apesar de a adolescência ser considerada por muitos como um fenómeno universal, ou seja, que acontece em todos os povos e em todos os lugares, o início e a duração deste período evolutivo variam de acordo com a sociedade, a cultura e as épocas, ou seja, esta fase evolutiva apresenta características específicas dependendo do ambiente sociocultural e económico no qual o indivíduo está inserido.
Entretanto, o conceito de adolescência, tal como conhecemos hoje, é uma construção recente do ponto de vista sócio-histórico. Admite-se, em geral, que essa fase do desenvolvimento humano tem início a partir das mudanças físicas que ocorrem com os indivíduos no começo da puberdade. Neste sentido, torna-se importante pontuar que puberdade e adolescência, apesar de estarem directamente relacionadas, correspondem a dois fenómenos específicos, ou seja, enquanto a puberdade envolve transformações biológicas inevitáveis, a adolescência refere-se aos componentes psicológicos e sociais que estão directamente relacionados aos processos de mudança física gerados neste período.
É necessário ressaltar ainda que o processo de adolescência não afecta apenas os indivíduos que estão passando por este período, mas também as pessoas que convivem directamente com os mesmos, principalmente a família. Isso porque a adolescência dos filhos tem influência directa no funcionamento familiar, constituindo-se, portanto, como um processo difícil e doloroso tanto para os adolescentes quanto para seus pais, uma vez que a família não é constituída pela simples soma de seus membros, mas um sistema formado pelo conjunto de relações interdependentes no qual a modificação de um elemento induz a do restante, transformando todo o sistema, que passa de um estado para outro.

1.2.7.1- Dos maus-tratos físicos e psicológicos sofridos pelo menor ou jovem

Os maus-tratos físicos são aqueles infligidos aos menores, e em que as lesões geradas pelos mesmos foram, ou são, causadas com a clara intenção de os magoar, a partir de uma acção ou omissão dos progenitores e/ou responsáveis que possuam a guarda do menor, não se coibindo de as maltratar.
Por outro lado, e relativamente aos maus-tratos psicológicos, três diferentes modos de actuação por parte dos pais ou tutores, relativamente aos menores, no que se refere a esta problemática familiar, a saber:
            1) Deixam-nos estarrecidos, agredindo-os oralmente, oprimindo-os e atemorizando-os, gerando-lhes a crença de que o mundo é demasiado perigoso;
            2) Sujeitam-nos a viver em meios perniciosos;
3) Submetem-nos a modelos e papéis negativos e limitadores, fomentadores de uma personalidade rígida, auto-destruidora, violenta e anti-social.
Distingue entre maus-tratos emocionais e psicológicos, defendendo que os abusos emocionais causam um fraco desenvolvimento emocional e mental na criança e os psicológicos afectam capacidades cognitivas como a memória, a inteligência e a capacidade de concentração.
Neste sentido, não nos restam dúvidas de que os abusos emocionais e psicológicos que as crianças/jovens sofrem ao longo das suas vidas, principalmente no seio familiar, provocam traumas que influenciam negativamente a sua auto-estima e o modo como estes lidarão com terceiros em sociedade. Como já referimos, as ofensas são fomentadas pelos pais ou responsáveis quando, ao invés de prestarem os cuidados necessários às crianças, usam uma linguagem hostil, baseada no medo e na intenção de expor o menor/jovem ao ridículo e ao abandono, demonstrando uma ausência de valores que satisfaçam as reais carências pessoais e emocionais dos menores/jovens.

1.3- Os Dois Grandes Dilemas Do Homem

Para compreender as acções de violência implica decifrar o que pensa, o que significa e, principalmente, como a sociedade representa a violência. As representações sociais permitem que o sujeito se oriente em seu quotidiano e, de certo modo, realize suas acções e verbalizações.
Conforme apontado nas primeiras páginas deste capítulo, a violência enquanto fenómeno sócio histórico e cultural, de certo modo, reveste-se, no senso comum, de uma falsa percepção e naturalização das acções agressivas e violentas. É preciso mudar representações sociais para que se possam transformar práticas e concepções pessoais. Entretanto, qualquer mudança social depende de mudanças pessoais, evidenciando a dinâmica individual e social, isto é, a relação dialéctica que se estabelece na formação do pensamento, destacando como as relações dinâmicas do quotidiano e das interacções sociais, de modo significativo e activo, formam pensamentos e configuram representações sociais de cada indivíduo.
Acções, por vezes violentas, de pais ou de outros familiares dirigidas às crianças e adolescentes, antigamente, em geral, eram justificadas como medida disciplinar, como forma de garantir a obediência e o respeito a adultos e a autoridade paterna. A construção de um novo saber sobre a Violência infanto-juvenil! Se evidencia recentemente.
Identifica-se a mudança na compreensão do conceito de violência, infância e a magnitude de suas consequências no quotidiano das famílias e no desenvolvimento de crianças e adolescentes. É central a questão de que o surgimento da psicologia, da pedagogia e melhor capacitação de legisladores e da medicina foi crucial para um novo despertar para o problema, provocando a ampliação da visão sobre o tema.
Surge a importância da capacitação de profissionais que se envolvem com o tema para uma melhor compreensão e o conhecimento da magnitude do problema, evidenciando a vontade de mudança de prática e o como fazer a partir dos novos conhecimentos construídos, assim como a relevância de assumir a perspectiva multiplicadora e um novo olhar sobre a prática profissional.
Novos sentimentos são evocados no processo de capacitação dos atores da Violência Infanto-Juvenil; nessa categoria, evidencia-se a perspectiva afectiva e a atitude com relação ao tema - aspecto fundamental para se provocar a mudança de representações pessoais e sociais.
As representações sociais actuam sob três dimensões: do discurso da prática e da atitude que envolve a dimensão afectiva emocional, conforme compreendido em Moscovici (1978), salienta as três dimensões que explicam o carácter social das representações. A atitude versa sobre a orientação, favorável ou desfavorável, frente ao objecto da representação Social, é a tomada de posição. Permite o destaque da representação. A Informação (dimensão ou conceito) se refere à organização dos conhecimentos que o grupo tem acerca do objecto social ou fenómeno, o conhecimento prévio. E, por fim, o campo de representação ou a imagem. Essa dimensão remete à ideia de imagem, de modelo social, objecto de representação.
Na última categoria identificada nos dados, percebe-se a importância do processo de capacitação na mudança de comportamento. No contexto da aprendizagem sistematizada sobre a temática, cada pessoa pode apreender novas informações e, mais que tudo, como se trata de um processo de relações interpessoais, é possível identificar o que precisa ser mudado, como e porque, identificando representações sociais evocadas de estereótipos e normas culturais que ferem os direitos humanos.
Quanto ao processo de capacitação, fica clara a importância do reconhecimento dos factores que envolvem a temática da violência contra crianças e adolescentes, bem como um momento de reflexão e marco para a mudança. Considerando dados identificados e a discussão realizada, é preciso salientar que, na construção das representações sociais, o sujeito não faz uma cópia da realidade, mas sim uma reconstrução dessa realidade, em função do seu conteúdo interno, elaborado historicamente.
Sendo assim, para as mudanças sociais, principalmente as que se referem à questão da violência, é fundamental o desenvolvimento de políticas de capacitação de profissionais que actuam directamente com as famílias, com crianças e adolescentes, na área da educação ou da saúde. Para uma acção de intervenção na erradicação da violência e, principalmente, da Violência Infanto-Juvenil, é importante identificar sua origem, as consequências no quotidiano das famílias, das crianças, dos estudantes; é preciso identificar as representações sociais, pois estas podem ser um valioso instrumento de diagnóstico psicossocial e das relações inter-grupais.
A violência doméstica constitui um grave problema em Angola, com vastas implicações sociais, educacionais, económicas e psicológicas. Na verdade, e como teremos oportunidade de verificar mais adiante, as situações de violência doméstica e maus-tratos no seio da família conduzem frequentemente ao abandono dos menores da casa dos pais ou dos tios, tornando-os especialmente vulneráveis à influência de terceiros já pertencentes ao mundo da delinquência. Além disso, a necessidade premente de sobreviver torna o ingresso destes no mundo do crime uma solução fácil para a satisfação das suas necessidades imediatas.
Legitimada ora por dogmas religiosos e políticos, ora pela ideologia patriarcal, a violência doméstica é um fenómeno de longa data, que faz parte integrante da história da família das sociedades ocidentais e de muitas outras do globo (Gelles, 1993:1). Nestas sociedades, em diversas épocas histórico-sociais, as crianças têm sido vítimas de maus tratos e de inúmeras agressões. Tais práticas encontram-se imbuídas, na maior parte das vezes, no pressuposto de que são métodos indispensáveis para a sua educação. A tolerância sociocultural relativamente à violência infligida sobre as crianças está na origem do seu reconhecimento tardio como objecto de investigação e de intervenção legal. O caso de Mary Ellen, em 1874, criança adoptada que sofreu graves abusos pela família de acolhimento, marcou o despertar da consciência pública e do sistema legal para as inúmeras agressões que as crianças são vítimas em contexto familiar.
O despertar dos profissionais e da comunidade científica e pública em geral, para este fenómeno, veio beneficiar, no final da década de 60 e início dos anos 70, do século passado, o processo de reconhecimento de outras formas de violência na família, nomeadamente a que é praticada contra as mulheres. A identificação da “síndroma da mulher batida”; a publicação em 1974, em Inglaterra, da obra de Erin Pizzey, Scream quitly or the neighbors will hear; a acção do movimento feminista, a par de tantas outras iniciativas, chamou a atenção para as inúmeras formas de violência e opressão vividas pelas mulheres nos seus próprios lares. Nos anos 80, o interesse público, legislativo, científico e profissional, volta-se para o abuso de idosos. Apesar da crença de que existia uma espécie de Golden Age para a terceira idade nas nossas sociedades, o mau trato físico, psicológico, verbal, emocional, financeiro e a negligência a que os idosos podem estar sujeitos, fez com que rapidamente os profissionais de saúde e das agências legais e de serviço social se apropriassem deste fenómeno (Dias, 2004a).

1.4- Principais Causas Da Violência Doméstica em Angola

Em Angola, são vários os factores que presidem ao fenómeno da violência doméstica: a pobreza; a falta de diálogo no seio familiar; o consumo de álcool e de drogas, que frequentemente provém da violência doméstica ou nela resulta; e a violência transferida pelos ex-combatentes para o seio familiar, frequentemente num quadro de stress pós-traumático, associado a importantes dificuldades de integração na sociedade do pós-guerra.

Com efeito, segundo Meitjes (2002:4), citado por Gabriela das Dores Tyimboto , a evidência confirma que a violência de género que as mulheres vivem em tempos de guerra aumenta quando o conflito termina. Com efeito, a realidade do conflito bélico era a única que muitos antigos combatentes conheciam. Ora, encontrando-se o país pacificado há apenas 13 anos, e dadas as profundas sequelas sociais, psicológicas e económicas resultantes da guerra, ainda bem patentes na sociedade angolana, facilmente podemos observá-las sob a forma de violência doméstica.
Avelino Walile (2012) acrescenta outras razões para fenómeno, quase endémico na sociedade angolana: a desagregação da família tradicional, desestruturação socioeconómica das famílias, a desorientação cultural e axiológica - deturpação da escala de valores, factores que diz serem consequência do conflito armado que o país viveu durante cerca de três décadas. O investigador identifica ainda outros factores resultantes da dinâmica social como, a modernização da vida social, a emancipação da mulher - sua promoção social e profissional, a influência dos meios de comunicação social e o intercâmbio cultural com vários povos de outras culturas, e ainda outros, como os desajustes de carácter educacional que afecta o pensar e o carácter das novas gerações.
Ciente do problema, o Estado angolano parece estar investido na criação de mecanismos tendentes à sua atenuação. Aliás, segundo o Jornal de Angola, todos os dias decorrem em Angola acções que visam mobilizarem as comunidades contra a violência doméstica.

1.5- Os Direitos E Os Violadores

Actualmente há um forte aparato jurídico a nível mundial para assegurar o direito das crianças e dos adolescentes. O Estatuto da Criança e do Adolescente é um importante instrumento para garantia da exigibilidade desses direitos, além de que a UNICEF trouxe um grande avanço: abriu um espaço para denúncia e ressarcimento dos factos que violam os direitos de criança e adolescentes.

1.5.1- As Principais Violações

Movimentos que colocavam a criança como sujeitam de direito, de acordo com a doutrina de protecção integral, desenvolvida pela ONU. Logo passam a eclodir mobilizações da sociedade e de alguns sectores do Estado que levaram à Assembleia Constituinte de 1987 uma proposta que considerava a criança e o adolescente como sujeitos de direitos. Esses direitos vão ser efectivamente legalizados na década de 90, com a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei 8.069 de 13 de Julho de 1990.

Apesar de toda legislação jurídica para garantia dos direitos da criança e do adolescente, estes ainda sofrem bastante com a violência. Esta chega de diversas formas para essa parcela populacional. Nesse sentido o UNICEF (1998) caracteriza essas formas. Entre estas está a v/Y/mação (quando a criança ou adolescente é alvo das desigualdades da estrutura social, como: desregulamentação dos direitos à educação, moradia, saúde) e vitimização (quando são alvo de violência directa, com danos imediatos como violência física; sexual).

1.5.2- Género, Dominação E Poder

Produto de uma construção histórica, a violência contra a mulher relaciona-se estritamente às discussões sobre gênero, relações de poder, classes, etnias, e vem, ao longo dos anos, diante das transformações sociais, mondando-se às experiências vividas por cada geração. Para Nascimento1, as relações pautadas na subordinação, exploração e dominação têm base manifestamente cultural e ocorrem nas mais variadas esferas de relacionamento, é possível percebê-las através das nuances históricas peia exploração dos negros e índios pelos brancos, subordinação da classe operária em face da classe dominante, bem como da dominação dos homens sobre as mulheres.
 Ante essas relações de poder que punham a figura feminina em uma situação de vulnerabilidade e inferioridade, é que iniciaram os primeiros movimentos em defesa da mulher, mais precisamente nos anos 80, do século XX, quando surgiram as noções teóricas iniciais sobre desigualdade de gênero. Os constantes estudos desenvolvidos nas academias e peia Militância Feminista da época enfatizavam que não eram as diferenças biológicas entre mulheres e homens que fomentavam a violência de gênero contra a mulher, mas os papéis que cada um deles ocupava em uma sociedade de cultura essencialmente patriarcal.
As diferenças que acarretam a violência de gênero têm sua concepção no arcabouço da história da humanidade, em que os homens detinham o poder sobre vida e morte dos membros de sua família, e a autoridade das mulheres era comparada à das crianças. Perpassando peia idade Média, Moderna e Contemporânea não se concretizou qualquer deslinde para o fim do monopólio masculino sobre a mulher, a qual continuava a ser responsabilizada pelas grandes tragédias da história e, por esse motivo, tinha a obrigação morai de permanecer obediente e submissa aos desejos daqueles que detinham, inclusive, a sua posse. A mulher não passava de uma propriedade, e, nem mesmo os efervescentes ideais de Liberdade, igualdade e Fraternidade da Revolução Francesa foram capazes de desmistificar esse estigma.
Desde a infância, enquanto os meninos são educados para o uso da força física, valorização da agressividade, acções de dominação e realização, ainda precoce, de sua vida sexual, as meninas são conduzidas peio caminho da submissão, passividade e sentimentalismo, a sua valorização está directamente ligada à feminilidade, dependência e capacidade de sedução. Por ser acontecimento corriqueiro e já banalizado por grande parte da sociedade, a frequência das práticas de violência de gênero ganhou significativa proporção, isto porque aqueles que não a praticam entendem-na como acontecimento trivial e admissível.

1.5.3- Violência E Desigualdade De Género

A identidade de gênero forma-se a partir do sentimento e convicção que se tem de pertencer a um sexo, sendo, pois, uma construção social feita a partir do biológico. Neste processo, o sexo e os aspectos biológicos ganham significados sociais decorrentes das possibilidades físicas e sociais de homens e mulheres, delimitando suas características e espaços onde podem actuar. Assim, são estabelecidas as desigualdades entre os sexos, sendo vistas como normais e fruto da natureza de cada um deles.
É a partir deste processo sociocultural de construção da identidade, tanto masculina, quanto feminina, que ao menino é ensinado a não maternal, não exteriorizar seus sentimentos, fraquezas e sensibilidade, a ser diferente da mãe e espelhar-se no pai, provedor, seguro e justiceiro; em contrapartida, à menina acontece o oposto, ela deve identificar-se com a mãe e com as características definidas como femininas: docilidade, dependência, insegurança, entre outras (PASSOS, 1999).
Em função desta prática, tem sido reservado à mulher o espaço doméstico, sob a justificativa de sua capacidade natural de ser mãe. Assim, o fenómeno da maternidade sofre uma elaboração social, favorecendo a crença de que cabe à mulher o cuidado e a socialização dos filhos. A delegação desta função a outra pessoa só é verdadeiramente legitimada quando a mulher precisar garantir o sustento da casa ou complementar o salário do marido.
Nas classes dominantes, a delegação desta função não carece da legitimação da necessidade de trabalhar, porém, mesmo nesta condição, a mulher não está isenta da responsabilidade de orientar os filhos e supervisionar o trabalho doméstico. Assim, tais papéis vão se inscrevendo na natureza feminina. Deste modo, o labor profissional, realizado em concomitância com o doméstico, impõe às mulheres uma dupla e injusta jornada de trabalho.
As situações de violência contra a mulher resultam, principalmente, da relação hierárquica estabelecida entre os sexos, sacramentada ao longo da história pela diferença de papéis instituídos socialmente a homens e mulheres, fruto da educação diferenciada. Assim, o processo de fabricação de machos e fêmeas, desenvolve-se por meio da escola, família, igreja, amigos, vizinhança e veículos de comunicação em massa. Sendo assim, aos homens, de maneira geral, são atribuídas qualidades referentes ao espaço público, domínio e agressividade. Já às mulheres foi dada a insígnia de sexo frágil, pelo fato de serem mais expressivas (afectivas, sensíveis), traços que se contrapõem aos masculinos e, por isso mesmo, não são tão valorizados na sociedade (AZEVEDO, 1985).
As relações estabelecidas entre homens e mulheres são, quase sempre, de poder deles sobre elas, pois a ideologia dominante tem papel de difundir e reafirmar a supremacia masculina, em detrimento à correlata inferioridade feminina. Desta forma, quando a mulher, em geral, é o pólo dominado desta relação, não aceita como natural o lugar e o papel a ela impostos pela sociedade, os homens recorrem a artifícios mais ou menos sutil como a violência simbólica (moral e ou psicológica) para fazer valer suas vontades, e a violência física se manifesta nos espaços lacunares, em que a idealização da violência simbólica não se faz garantir.
Cabe, neste momento, salientar a importância da compreensão do processo de codificação da mulher como resultante, inclusive, do modelo tradicional de família patriarcal, formado a partir de uma hierarquização de relações intersectais e interoperacionais, que exige a submissão e obediência da mulher à figura masculina, de quem é propriedade1 com direito de exclusividade. O sistema familiar patriarcal é, portanto, uma versão institucionalizada da ideologia machista enquanto ideologia de sexo. A identidade de uma mulher vítima de violência doméstica é, comummente, fruto deste padrão familiar de subordinação e não questionamento das imposições masculinas. Apesar de constatarmos, actualmente, profundas transformações na estrutura e dinâmica da família, prevalece ainda um modelo familiar caracterizado pela autoridade paterna e, portanto, pela submissão dos filhos e da mulher a essa autoridade.
Principalmente na classe trabalhadora, o respeito (ou medo) ao marido é um valor cultural sedimentado. Questionar essa realidade parece ir contra uma estrutura de pensamento de conteúdo religioso, moral, económico, psicológico e social. Discutir sobre a submissão da mulher em relação ao homem, significa desarticular uma estrutura que embasa crenças e conceitos antigos de dominação.
Segundo Cardoso (1997 apud MENEZES, 2000), estar inserido em um ambiente familiar no qual, constantemente, os pais são agressivos entre si, ou mesmo com os filhos, favorece a uma concepção naturalizada da violência. São mulheres que cresceram vendo o pai bater na mãe, esta bater nos filhos, o irmão mais velho bater nos mais novos, estes nos colegas, reproduzindo um ciclo constante de violência. Desta forma, o apanhar passa a não simbolizar desamor, mas sim uma forma de se estruturar como pessoa, em que o subjugar-se ao outro é um modelo de relação aprendido na infância.
Para Cardoso (1997 apud MENEZES, 2000, p.128): Sofrer violência na infância torna as pessoas inseguras, com baixa auto-estima, com ausência de senso crítico sobre a violência e dificuldades de estabelecer relações positivas. Essas consequências repercutem na escolha que a mulher fará de seu futuro marido, bem como na sua reacção frente à violência. Os historiadores relatam que, desde a antiguidade, a mulher, enquanto criança, era propriedade do pai; depois de casada, passava a pertencer ao marido (OMENA, 1989).

1.6 – A violência Doméstica, um paradoxo da Família Moderna

A violência doméstica constitui um paradoxo na família moderna, porque coexistem na família a dimensão afectiva e a dimensão conflitual. O que se pretende demonstrar aqui é a coexistência destas duas dimensões, um contra-senso que surpreende a grosso modo a sociedade, mas com a qual as famílias convivem, o que não seria de esperar, pois o amor é sempre oposição de ódio. O paradoxo reside, então, numa família moderna que dá de si a imagem de um lugar de sujeição e de exercício da violência sobre os seus membros, nomeadamente sobre as crianças, as mulheres, os idosos e, inclusive, os homens. Apesar de a violência na família ter existido também na família tradicional mas na sociedade moderna assume características específicas. Trata-se de um fenómeno que, paradoxalmente, se alimenta, entre outros factores, da natureza privada e íntima da família moderna. Assim, a família, ao resguardar-se do olhar da comunidade criou, simultaneamente para casal se comportar romanticamente e para a emergência de situações de opressão e de violência. Esta constitui uma das suas maiores contradições, na medida em que, ao emergir como lugar de autenticidade, é também na família que, efectivamente, as crianças, as mulheres e os idosos são vítimas preferenciais de violência”.
Na realidade, os elementos integrantes das famílias estão unidos por amor. Todas as suas reacções e acções, espera-se estarem envolvidos deste sentimento. Mas, o que é facto é que “a violência na família pode ocorrer entre qualquer dos seus membros, nomeadamente entre os cônjuges, entre pais e filhos, entre avós e netos, entre irmãos, entre filhos adultos e pais idosos. Todas essas pessoas estão ligadas por laços de intimidade e de grande proximidade. Partilham vários aspectos e sentem-se muito próximos um do outro. (Dias, 2010: 56) E, neste sentido, as mulheres correm mais risco de violência por parte de homens com quem têm relações familiares e íntimas do que por parte de estranhos. (Giddens, 2010: 197) Deste modo, a família “para além de ser um espaço de intimidade, de afectividade, de autenticidade e de solidariedade, ela pode igualmente, constituir um espaço de opressão, de obrigação, de egoísmo, gerando, assim, violência entre os seus membros
Refúgio da intimidade e da privacidade, o lar é também um espaço particular de agressividade e violência (Pais, 2010: 86). Uma das coisas que mais surpreende neste tema é essa contradição de amor e violência que coexiste na vida de quem é maltratado. Várias mulheres, inclusive se convertem em defensoras de seus carrascos. (Núñez, 2010:21) E a contradição continua porque mesmo a nível dos sentimentos, aceita-se que, quem ama constrói e não destrói. Quem ama acolhe e protege sem prejudicar. Quem ama respeita sem exigir nada em troca. Quem ama aceita que o outro pense sem reservas. Quem ama entende que não é completo sem o outro.

1.6.1- Consequências Físicas E Psicológicas Da Violência Doméstica Para A Saúde Da Mulher

A Organização Mundial de Saúde (OMS) reconhece a violência doméstica contra a mulher como uma questão de saúde pública, que afecta negativamente a integridade física e emocional da vítima, seu senso de segurança, configurada por círculo vicioso de idas e vindas aos serviços de saúde e o consequente aumento com os gastos neste âmbito.
Cada tipo de violência gera, segundo Kashani e Allan (1998), prejuízos nas esferas do desenvolvimento físico, cognitivo, social, moral, emocional ou afetivo. As manifestações físicas da violência podem ser agudas, como as inflamações, contusões, hematomas, ou crônicas, deixando seqüelas para toda a vida, como as limitações no movimento motor, traumatismos, a instalação de deficiências físicas, entre outras.
Os sintomas psicológicos frequentemente encontrados em vítimas de violência doméstica são: insónia, pesadelos, falta de concentração, irritabilidade, falta de apetite, e até o aparecimento de sérios problemas mentais como a depressão, ansiedade, síndrome do pânico, estresse pós-traumático, além de comportamentos auto-destrutivos, como o uso de álcool e drogas, ou mesmo tentativas de suicídio. Objectivando compreender a interface entre tais aspectos teóricos e sua realidade no âmbito social, iniciou-se a segunda etapa desta pesquisa, caracterizada pela realização de 25 entrevistas com mulheres vítimas de violência doméstica, de faixa etária entre 18 e 55 anos. Quanto à escolaridade destas mulheres, 84% não chegaram a concluir o Ensino Médio. No tocante à situação conjugal, 72% já estavam separadas de seus parceiros no momento da pesquisa.
Um percentual de 96% das entrevistadas relataram sofrer algum tipo de consequência decorrente da situação de violência. Dentre estas, o aumento da pressão arterial, dores no corpo, principalmente de cabeça, e dificuldades para dormir, foram os sintomas físicos mais relatados, correspondendo a um total de 66,6%. Em alguns casos, a presença de algum, ou até mais de um, desses sintomas contribuiu para a procura de acompanhamento médico. Um grande número de mulheres, que corresponde a um total de 41,6%, relatou como principal consequência psicológica decorrente da violência sofrida, o sentimento de tristeza, que influencia no cumprimento de suas actividades. Muitas afirmaram sentir menos vontade de exercer seus afazeres diários, desejo de chorar frequentemente, além de querer consumir bebidas alcoólicas mais do que o habitual. Vivo triste, não me dá vontade de fazer nada. Antes eu vivia arrumada. Estou em ponto de ter um derrame, tenho mais vontade de beber. (38 anos, 7ª série, 2 anos de convivência, separada).
Estados de ansiedade, estresse e agressividade também foram mencionados por 16,6% das entrevistadas, que admitiram estar mais nervosas e impacientes com amigos, familiares e até mesmo com os filhos. Fiquei mais agressiva com meus colegas de trabalho, com meus irmãos, com meus pais, porque eu achava que todos iam agir igual. (25 anos, 2º incompleto, 9 anos de convivência, separada). A insegurança foi uma característica encontrada nas falas de 12,5% das vítimas, uma vez que sentiam-se indefesas e acusadas, em função de não terem a quem recorrer para obter um apoio nesta situação.
A violência psicológica compromete a saúde mental, ao interferir na crença que a mulher possui sobre sua competência, isto é, sobre a habilidade de utilizar adequadamente seus recursos para o cumprimento das tarefas relevantes em sua vida. A mulher pode apresentar distúrbios na habilidade de se comunicar com os outros, de reconhecer e comprometer-se, de forma realista, com os desafios encontrados, além de desenvolver sentimento de insegurança concernente às decisões a serem tomadas. Ocorrências expressivas de alterações psíquicas podem surgir em função do trauma, entre elas, o estado de choque, que ocorre imediatamente após a agressão, permanecendo por várias horas ou dias.
Para tentar suportar essa realidade, a mulher precisa deixar não somente de seus sentimentos, mas também de sua vontade. Com isso, ela passa a desenvolver uma auto-percepção de incapacidade, inutilidade e baixa auto-estima pela perda da valorização de si mesma e do amor-próprio. Viver em um estado de constante medo foi uma experiência relatada por 12,5% das mulheres entrevistadas, que, constantemente, imaginam o momento em que seu parceiro poderá voltar a agredi-la, deixando, até mesmo, de desfrutar de seus instantes de lazer, como sair com amigos e receber familiares, pois tudo isto pode soar como provocação e consequente retorno às agressões.

1.6.2- Factores Que Contribuem Para A Permanência Da Mulher Em Uma Relação Violenta

É comum o questionamento acerca das razões que levam uma mulher a permanecer em uma relação violenta. Alguns estudos realizados, dentre eles o do Ministério da Saúde (BRASIL, 2001), demonstram não haver uma causa única, mas sim múltiplos factores que corroboram esta situação. É imprescindível, entretanto, a tentativa de identificação dos principais aspectos envolvidos neste processo, no intuito de compreender a dinâmica de uma relação marcada pela violência.
Uma mulher pode permanecer durante anos vivenciando uma relação que lhe traz dor e sofrimento, sem nunca prestar queixa das agressões sofridas, ou mesmo, quando decide fazê-la, em alguns casos, é convencida ou até mesmo coagida a desistir de levar seu intento adiante. No que se refere a este aspecto, nesta pesquisa de campo, constatou-se que as vítimas permaneceram em média de 2 a 5 anos no relacionamento. Observou-se também que a violência acaba sendo protegida como um segredo, em que agressor e agredida fazem um pacto de silêncio que o livra da punição. A mulher, então, passa a ser cúmplice das agressões praticadas contra si mesma, como observa Dias (2006).
Em face de tal realidade, desenvolvem-se concepções populares de que as mulheres gostam de apanhar, ou ainda de que algo fizeram para merecerem isto. Esta ideia nega a complexidade do problema e atribui à violência um carácter individual, oriundo de aspectos específicos da personalidade feminina. Segundo Dias (2006) vários são os motivos pelos quais a primeira agressão sofrida, geralmente, não é denunciada: a mulher pode vivenciar um conflito, por não desejar separar-se do companheiro ou, mesmo que ele seja preso, apenas pretende que cessem as agressões, procurando socorro, somente quando já está cansada de apanhar e se sente impotente. Frequentemente, as mulheres procuram justificar as atitudes do vitimizados, através de argumentos como o ciúme e a protecção, que acreditam ser demonstrações de amor. Atribuem ainda a factores externos, como o estresse, decorrente principalmente do trabalho, das dificuldades financeiras e do cansaço. Também o álcool é um motivo alegado pela grande maioria das vítimas, para explicar o comportamento agressivo de seus parceiros.
 Gregori (1993) argumenta que o álcool estimula este tipo de comportamento dos homens, mas age apenas como um catalisador de uma vontade pré-existente, havendo, portanto, uma intenção em ferir a integridade física da mulher. Quando há o desejo de se separar do marido, esta ideia vem sempre acompanhada por Sentimentos de culpa e vergonha pela situação em que vive, por medo, impotência, debilidade, além dos mitos sociais que afirmam o prazer da mulher em apanhar. A partir dos depoimentos colectados, verificou-se que todas as mulheres, após tomada esta decisão, ainda enfrentavam uma situação de instabilidade ocasionada por ameaças de perder a casa, a guarda dos filhos e a realidade de sobreviver sozinha. Desta maneira, elas só tomam a decisão quando não têm mais alternativas e não suportam a dor. Ainda assim, muitas se mantêm em uma relação de dor para não verem a família destruída, como relata Cardoso.
Outro elemento que impede a separação entre vítima e agressor e contribui para o aumento do índice de violência é a falta de apoio social, reflectido pelo escasso número de pessoas (parentes, amigos ou vizinhos) ou entidades (igreja, instituições), aos quais a mulher pode confiar o suficiente para relatar as agressões e acreditar que algo será feito para evitar sua incidência. Quando a mulher tem uma boa relação com familiares e amigos, permitindo-se contar-lhes sobre sua vida conjugal, suas casas passam a ser uma possibilidade de refúgio. No entanto, quando isto não é possível, devido à situação de isolamento provocada por seu parceiro, a única possibilidade encontrada é recorrer às casas-abrigo, que funcionam para acolher mulheres em situação de violência, mas que representam, para muitas, enfrentar um futuro desconhecido (MILLER, 1999).

De acordo com as entrevistas realizadas, o factor financeiro foi o mais destacado por 56% das mulheres, ao afirmarem depender economicamente do companheiro. Algumas, pelo facto de estarem desempregadas e terem medo de não conseguir sustentar a si mesmas e/ou a seus filhos; outras, por receio de perderem suas residências, como confirmam o depoimento seguinte:
O que me faz permanecer nesta situação é que a casa é minha. Eu trabalho para sustentar meu filho e a casa. Eu não posso sair da minha casa com minhas filhas e viver de aluguer, ou então viver na rua para deixar a casa para ele. Agora, deixar minha casa para ele, eu não vou deixar, porque eu não tenho condições de viver de aluguer. (36 anos, 4ª série, 9 anos de convivência, casada).
Como referido anteriormente, o carácter cíclico da violência, caracterizado através de momentos alternados de agressões e afectos, nutre uma esperança nas mulheres de que seu companheiro possa vir a se arrepender de suas atitudes e restabelecer um ambiente familiar harmónico. Isto foi evidenciado na fala de 16% das entrevistadas, que relataram continuar no relacionamento por acreditarem em mudanças no comportamento do cônjuge.
Consoante Miller (1999), as ameaças de morte têm sido outro artifício bastante utilizados pelos homens, como meio de aprisionar suas companheiras. Eles utilizam-se do medo para impedir a desvinculação da mulher a ele, e, sobretudo, o estabelecimento de um novo relacionamento afectivo. O depoimento a seguir exemplifica o teor dos motivos alegados por 12% das entrevistadas. O que me fez permanecer nesta situação foi porque gostava dele e tinha medo, pois ele me vigiava. Chegava bêbado e me ameaçava, dizendo que se eu não ficasse com ele também não ficaria com ninguém. (27 anos, 5ª série, 13 anos de convivência, separada).
Uma das entrevistadas afirmou não saber o motivo pelo qual permaneceu no relacionamento. O que é coerente com o pensamento de Miller (1999), ao afirmar que algumas mulheres sentem dificuldades em identificar os motivos que as fazem permanecer em uma relação violenta. É comum que as vítimas levem algum tempo para tomar consciência desta situação e consigam perceber que os comportamentos violentos do companheiro não são casos isolados de mal humor. O padrão do comportamento violento cria um estilo de vida, em que a mulher, em meio a tantas agressões diárias, não consegue mais distinguir um momento específico em que sofreu violência.
No caso da violência não explícita, ou seja, que não deixa marcas, um dos factores que dificultam seu encaminhamento legal reside no fato de não haver provas materiais, quiçá testemunhais, que possam validar a situação, pois esta ocorre no espaço do lar, onde não há presença de outras pessoas. Ademais, quando ocorre a agressão física, os agressores procuram atingir regiões que não deixam marcas visíveis.
Objectiva criar mecanismos para coibir e punir a violência doméstica, através de medidas como: proibir acordos, eliminar a aplicação de cestas básicas como pena, além de criar Juízos Especiais com competência Civil e Criminal. Desta forma, o juiz deverá adoptar medidas que façam cessar a violência, afastando o agressor da vítima e, quando necessário, encaminhando a mulher e os filhos a abrigos seguros, além de poder anular a venda de bens comuns. A violência doméstica contra a mulher constitui um grave problema que carece ser reconhecido e enfrentado, tanto pela sociedade como pelos órgãos governamentais, através da criação de políticas públicas que contemplem sua prevenção e combate, assim como o fortalecimento da rede de apoio à vítima. É imperioso que este fenómeno não seja compreendido em nível individual e privado, mas sim como uma questão de direitos humanos, pois, além de afrontar a dignidade da pessoa humana, impede o desenvolvimento pleno da cidadania da mulher.
Questionar a forma como a sociedade é estruturada e organizada, através de relações desiguais de poder entre homens e mulheres, significa desarticular os pilares de sustentação da violência contra a mulher. A construção de papéis diferenciados é baseada em normas sociais e valores morais arraigados no tempo, que atribuem à mulher uma posição de inferioridade perante o homem, que utiliza-se da violência como recurso maior para fazer valer sua supremacia. Salienta-se que o mito da mulher ser a única prejudicada pela cultura machista deve ser revisto à luz da Psicologia. Caso contrário, esta visão poderá conduzir a interpretações unilaterais e simplistas, atribuindo à mulher a condição de única vítima da cultura. É imprescindível considerar o facto de que o homem também sofre as consequências da rigidez destes papéis, na medida em que é privado de viver mais plenamente suas potencialidades.
Daí a necessidade de buscar novas relações sociais, não mais regidas pelo poder e dominação, e sim pela reciprocidade entre os sexos, ratificando a igualdade da condição humana de ambos. As mulheres que decidem romper um relacionamento violento também estão rompendo com uma série de sonhos e expectativas em relação ao casamento e à família. Há perdas e ganhos frente a esta decisão, que não devem ser ignorados pelos profissionais de saúde. Reconhecê-las, implica poder trabalhá-las e, assim, fortalecer a mulher no redireccionamento e estabelecimento de novos projectos de vida.

 


CAPÍTULO II - O PAPEL DOS AGENTES DE SOCIALIZAÇÃO ANTE A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

2.1 - Noção De Agentes De Socialização

A pessoa ao nascer ainda não é capaz de comportamentos que lhe identifiquem com uma cultura. Ao longo do tempo, a partir das experiências familiares e o do meio envolvente começa a ganhar hábitos, costumes, formas de pensar, modos de ser, enfim padrões de comportamentos próprios da cultura em que nasceu. Eis o que se chama de socialização.
Quando nasce, a criança é apenas um organismo biológico, preocupada com seu bem-estar físico. Apesar de já trazer os genes necessários ao ser humano, a criança ao nascer é um ser culturalmente em branco. À medida que toma contacto com o ambiente grupal que o rodeia, a criança torna-se, rapidamente, num ser cultural. Efectivamente, a criança vai tomando consciência do que lhe é exterior, repetindo e imitando atitudes e comportamentos que descobre nos outros indivíduos, inicialmente aos seus familiares.
Gradualmente, a criança vai assimilando valores e normas, adoptando atitudes e comportamentos, apreendendo técnicas e práticas, ultrapassando a sua fase biológica. Desta feita, “a Socialização é um processo através do qual o indivíduo interioriza as normas do seu meio sociocultural, se integra e adapta á sociedade convertendo-se num membro da mesma e sendo capaz de desempenhar funções que satisfaçam as suas expectativas. Portanto, é através da socialização que o indivíduo se integra de forma harmoniosa no ambiente cultural de uma sociedade, através de actividades, da imitação enfim, de outras acções de permitam a assimilação e interiorização dos elementos materiais e espirituais da cultura de uma determinada sociedade. Assim, pode-se dizer que o comportamento do homem ganha o carácter cultural na relação com os outros homens em sociedade. “O homem não se compreende sem os outros, sem a dimensão social que humaniza e entre todos os possíveis, os que estão mais próximos, que mais permanecem á sua volta, e que são também os que mais contribuem normalmente para o seu próprio desenvolvimento e satisfação pessoal”.
As instituições sociais que são responsáveis pela incalculável da cultura no indivíduo, e por consequente que facilitam a socialização da pessoa chamam-se, agentes de socialização. Pois, permitem o desenvolvimento do processo de socialização. Entre eles, os mais importantes são: a família, a escola, e os meios de comunicação social. (cf. Oliveira; Pais A estes pode-se acrescentar a Igreja, os grupos desportivos, o grupo de amigos, enfim, todas aquelas colectividades e instituições sociais que permitem a socialização e a interiorização de valores culturais de uma determinada sociedade.

2.2 – O Lugar Da Família E Da Escola

A família é a base de formação do carácter de qualquer indivíduo. È a instituição social que molda na primeira fase da vida o comportamento de qualquer indivíduo. Grande parte da influência de comportamentos que a pessoa manifesta recebeu da família. Pois, o indivíduo enquanto criança “vai aprendendo apenas aquilo que os seus familiares realizam, no momento em que se encontra mais permeável á aquisição da cultura. Esta permeabilidade ou abertura á aprendizagem e assimilação de novos conhecimentos nos primeiros anos de vida da criança, deve-se ao facto de a socialização se fazer por via afectiva, revestida, pois, de forte componente emocional, sem que a criança tome consciência dela.
Assim, a família é uma instituição social básica, formada por um grupo de parentesco bilateral. Ela constitui a célula, a estrutura da sociedade. Por esta razão, não há sociedade sem famílias. Ademais, ela é a escola das virtudes. Porque “ é no lar onde se aprende a aceitar e a perdoar, a confiar em si mesmo, a interessar-se e a respeitar a vida, a partilhar e a agir como um ser social e sociável. É na família que se aprende a ter civismo, a ser um cidadão moralmente livre, mas que respeita a si e ao próximo.
Portanto, se tivermos boas famílias teremos consequentemente boa sociedade. O que quer dizer que, por um lado, os comportamentos violentos podem ser forjados na família ou por outro lado, que a família pode contribuir com a sua influência positiva para a formação de indivíduos com um carácter afável, que facilite a harmonia social. Pois, “ é a família quem desenvolve na pessoa um sistema de valores, atitudes, crenças, reportados aos aspectos mais importantes da vida: trabalho, família, humanidade, sociedade, cultura, amizade, natureza, transcendência; de forma definitiva é ela quem contribui decisivamente para criar um modo de perceber a realidade física e social e um modo de se entender a si mesma.

Na verdade, a influência da família na personalidade da criança é tão determinante, de tal sorte que, por exemplo, uma criança que assiste diariamente a sua mãe ou outro familiar a ser maltratado ou agredido terá mais probabilidade de no futuro ser um potencial agressor. Por esta razão, os pais têm uma grande responsabilidade de serem os ideais modelos para os seus filhos. Assim, definitivamente se pode dizer que “ a família é um espaço onde se forjam os primeiros e definitivos projectos de vida, onde se transmite um conhecimento que, mais do que informação ou ciência, é sabedoria, porque nela se transferem conhecimentos que pertencem às questões fundamentais da vida, entrelaçando o cognitivo e o emocional, e sendo um produto genuíno da experiência vivida pelos mais velhos.

Desta forma, o ser humano condiciona o seu desenvolvimento ao meio social, a criança humaniza-se no meio social em contacto e interacção com os restantes, em contacto com os mais próximos e, em especial, com os da família de origem, sendo com estes que o indivíduo desenvolve os primeiros vínculos afectivos, dos quais dependerá em grande parte o desenvolvimento adulto, quer afectivo, quer cognitivo ou social.

Assim, a família pode e deve através dos seus mecanismos culturais, ao voltar a reconquistar o seu próprio espaço na educação e preparação para a formação de novas famílias. Aqui o papel da família é relevante não só no princípio da formação das famílias mas também ao longo do seu desenvolvimento, desempenhando o papel de intermediária e de conselheira perante as vicissitudes por onde as famílias podem passar. Mas na situação actual, as famílias em Benguela nem sempre têm cumprido com esse papel. Porque em primeiro lugar, os momentos de diálogo com os jovens são muito escassos.
Os pais têm perdido maior parte do seu tempo em ocupações profissionais e não raras vezes em actividades propriamente de satisfação das suas necessidades e interesses pondo as preocupações e tarefas do lar em segundo plano. Em segundo lugar, os pais renunciaram o papel de provedores sociais para os seus filhos, entregando essa tarefa a televisão, através das novelas, aos filmes, a imitação da rua, enfim, abandonando a orientação moral e social dos filhos a sorte do acaso. Em terceiro lugar, os próprios filhos perderam a consideração e valorização da educação familiar, vista por estes como um momento de opressão, de limitação da sua liberdade e a orientação para os valores culturais como um retrocesso, um atraso na execução dos seus projectos de vida

CAPÍTULO III – METODOLOGIA E A NATUREZA DA PESQUISA

3.1- Método

A metodologia que foi adoptada neste trabalho de investigação científica classifico como bibliográfico, uma pesquisa bibliográfico é aquela que os conteúdos são adquiridos a partir de manuais ou livros que relatam sobre o assunto a ser investigada.
Não obstante a situação, embora de mínima dimensão, foi feito levantamentos de dados através do método de entrevista, que me permitiu fazer um enquadramento do tema a realidade vivida por diversas pessoas.

3.2. Natureza da pesquisa

O presente trabalho foi desenvolvido por meio de levantamento bibliográfico ou livros e em entrevista, no que concerne a conceituação a constatação de actos de violência no território nacional.
O meu objectivo é trazer ao público conhecimentos mais profundos já investigados por diversos autores mas que era de desconhecimento de muitos. É preciso frisar que este trabalho é composto grandemente com conteúdos encontrados em livros e com uma minoria adquirida a partir de entrevista que levou-me a fazer uma pesquisa de campo.

CONCLUSÃO

Para finalizar este trabalho conclui-se que a violência infligida na família sobre os seus membros coloca inúmeros desafios aos diversos sistemas sociais, em particular, ao sistema jurídico-legal e judicial. Apesar de se bater com um conjunto de mitos e pré-noções presentes no imaginário colectivo, de forma geral, nas leis e nos tribunais, de forma particular, a violência doméstica, tem obrigado os diversos profissionais a enveredar por avenidas menos convencionais. Não é mais possível ignorar os processos de mudança da família nas sociedades pós-industriais, nem o reconhecimento das crianças, mulheres e idosos como cidadãos de pleno direito.
Homens e mulheres estão massivamente inseridos no mercado de trabalho e procuram incessantemente a felicidade em várias relações (monogamia serial). O casamento é menos durável e as crianças nascem com frequência em famílias de facto e recompostas. São inúmeras as formas de organização da vida em comum, o que reflecte, na nossa opinião, não a crise da família, mas a vitalidade desta instituição fundamental. A insistência nos estereótipos de género e no carácter mistificado da família moderna, isenta de violência, impede-nos precisamente de dar resposta aos desafios e exigências por ela colocados no presente século.
Independentemente das limitações do conceito, principalmente porque enfatiza uma perspectiva vitimista, é inegável que através dele foi possível fazer entrar em linha de conta outros argumentos na análise da violência doméstica, que não apenas os exclusivamente legais, tal como vimos no caso da figura jurídica da legítima defesa (Shuller, 1994). No que concerne aos conceitos de “síndroma da criança batida e de síndroma do idoso batido”, a sua utilização foi fundamental para alertar a consciência pública para a gravidade do problema e desencadear um conjunto de medidas legais e de política social.
Nos nossos dias, o desafio coloca-se ao nível da elaboração de programas de prevenção (primária e secundária) e tratamento das vítimas e dos maltratantes, que tenham em consideração os seus diferentes contextos socioculturais. Coloca-se, ainda, no domínio da intervenção nas famílias onde os abusos são praticados. Estes poderão ser dois dos reptos mais exigentes para o sistema jurídico-legal e judicial ao longo do nosso século devido, quer à diversidade dos contextos étnicos e socioeconómicos de existência destas famílias, quer ao carácter persistente da ideologia familialista nas sociedades ocidentais (Micklow, 1988).
De qualquer forma, uma sociedade que insiste em tolerar o sofrimento infligido às crianças, mulheres, idosos e homens na família mina o seu futuro. A intervenção é, por isso, essencial, sem contudo violar e comprometer os direitos fundamentais.


SUGESTÕES

Com efeito, e atendendo a esta relação entre o agressor e a vítima, que é essência da violência doméstica, a gravidade da conduta e a censurabilidade do seu praticante resultam claramente agravadas. Não se tem uma mera agressão, mas uma fulgurante violação dos laços de afecto e traição da confiança da vítima. Não se tem uma mera ofensa a algum bem, mas uma intolerável ameaça de destruição (quando não de destruição efectiva) da dignidade da vítima, colocada numa situação de dependência difícil de combater.
Sugiro eu, que para uma mais adequada tomada de decisão sobre o apoio a fornecer às vítimas é fundamental proceder a uma avaliação do impacto/danos (físicos, psicológicos, sexuais, sociais, etc) causados pela violência doméstica continuada, dos recursos e das capacidades que a vítima tem para tomar decisões e concretizar autonomamente projectos alternativos à relação abusiva.

Postura na conversação

É através da conversação que geralmente manifestamos o que somos e como somos. Numa simples conversação é fácil detectar os defeitos e ausência ou insuficiência de valores cívicos ou morais. Por isso, é de suma importância cuidar da postura na conversação, daí a harmoniosa expressão: para um bom entendedor, meia palavra basta. A palavra conjugada com a acção completa o ser.
Neste sentido, existem coisas a serem evitadas na conversação e coisas a valorizar e praticar:
Atenção - Uma conversa resume-se em falar e ouvir. É necessário saber ouvir com atenção o que os outros dizem. Educar as crianças a estarem atentas é cultivar uma das mais importantes virtudes para a vida da mesma, pois a atenção é um dos grandes factores de aprendizagem. Para a criança reter bem uma informação para posterior interpretação e armazenamento na memória, por longo tempo, é importante e fundamenta! o processo da atenção. Quem é distraído raramente percebe o que se diz, tanto na saia, como em conversa com amigos.
Monopólio da palavra - Não é correcto monopolizar a palavra, pois há aqueles que não deixam outros falar, porque querem contar tudo o que lhe ocorre.
Telemóvel - O telemóvel é um objecto pessoal e privado. Não deve ser considerado como comum, pois isso tem trazido muitos problemas entre casais. O telemóvel deve ser considerado na classe da roupa interior, sapatos, etc, que são estritamente pessoais. Não se intrometa em conversas telefónicas de outras pessoas e mantenha suas conversas privadas, evitando conversar com a voz alta, de modo que todos se apercebam do que se está a conversar.

BIBLIOGRAFIA


(2004a), Violência na Família. Uma abordagem Sociológica, Porto, Edições Afrontamento.
 (2004b), “A violência sobre as mulheres e os idosos”, Psychologica.
FEIJÓ, M. C.; ASSIS, S. G.. O contexto de exclusão social e de vulnerabilidades de jovens infractores e de suas famílias. Estudos de Psicologia, 2004.
VALENTE, J., 1964, art: OLIVEIRA, A. E., Educação tradicional em Angola, 2000, Leiria.
Bell, J. (2008). Como realizar um Projecto de Investigação. (4 ª edição). Lisboa: Gradiva.
(Original publicado em 1993) Da silva, L. P. (2001). Acção social na área da Família. Lisboa: Universidade aberta.
Dias, I. (2010). Violência na família. Uma abordagem sociológica. Porto: Edições afrontamento.
SEGAGALEN, Martine (1999), Sociologia da Família, Lisboa, Terramar.


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